segunda-feira, outubro 03, 2016

MONICA ALI, NIETZSCHE, JARDS MACALÉ, STIEGLER, MCLUHAN, SARAH GAVRON, ANGELA DE CASTRO GOMES, SILVANA GARCIA, KAR-WAI & MAGGIE CHEUNG, KURTZMAN & WILL, LEIBOVITZ, ARTUR BARRIO, DIMAGALHÃES, TEATRO NA RUA & QWIKI



INEDITORIAL: É PRECISO RESPEITAR AS DIFERENÇAS! - Salve, salve, gentamiga! Como ontem foi o Dia Internacional da Não Violência – coincidentemente, a gente teve votar pela escolha do governante municipal e os componentes das Câmara de Vereadores – e, por isso, passou em branco, mas, justamente por isso mesmo, trago, de cara, um trecho da minha Crença:  É preciso respeitar as diferenças e não se equiparar ao que é hostil das desavenças, lutar contra a mantença desigual que forja o algoz na força do poder irracional! Recado dado, ontem, também, foi dia do anjo da guarda – para alguns, está de férias; o meu, não, em dia e de plantão, acredito, apesar dos pesares já escapei de muitas, continuo escapando, graças! Já hoje é o Dia Mundial do Dentista, aquele que ganha com o nosso sofrimento por causa da nossa gulodice e da nossa indiscriminada forma de se alimentar – respeitando-se a higiene bucal, vixe, longe dos daquela bafo horroroso de anteontem! Contudo, vamos, então pras novidades: na edição de hoje o público e o privado na política brasileira pela historiadora Angela de Castro Gomes, a reflexão sobre a cidade de Marshal McLuhan, o pensamento do filósofo Bernard Stiegler, a música de Jards Macalé, a arte de Artur Barrio, a literatura de Monica Ali, a fotografia de Luiz Filho e Annie Leibovitz, o teatro de rua de Silvana Garcia, o cinema de Wong Kar-Wai, a Gaia Ciência de Nietzsche, as ilustrações de Harvey Kurtzman & Will Elder, a arte de Di Magalhães, a enciclopédia audiovisual Qwiki, Outubro Rosa & a croniqueta Paródia de mim mesmo. No mais, vamos aprumar a conversa & tataritaritatá. Veja mais aqui.

Veja mais sobre
Por um novo dia, Daniel Goleman, Max Ehrmann, Yes, Truman Capote, Eugène Delacroix, Annie Leibovitz, Literatura Infantil, Patrícia França & A filha do rei do céu aqui.

E mais:
Riacho Salgadinho, Dee Brown, Pablo Neruda, Nelson Rodrigues, Tatiana Parra, Philippe de Broca, Jean-François Millet, Françoise Dorléac, Harvey Kurtzman, Literatura Infantil, Direito Ambiental & Recursos Hídricos aqui.
Manoel Bentevi, Sinhô, Marshal McLuhan, Andrea Camileri, Marcelo Pereira, Mario Martone, Giulia Gam, Anna Bonaiuto Fecamepa – quando o Brasil dá uma demonstração de que deve mesmo ser levado a sério! & Parafilias aqui.
A poesia de Bocage aqui.
Proezas do Biritoaldo: Quando o Balde Tá Entupido, a Topada Leva a Merda Pro Ventilador aqui.
Ralf Waldo Emerson, Spencer Johnson, Monty Alexander, Gabriele Muccino, Nicolletta Tomas, Felipe Cerquize, História do Teatro, Nicoletta Romanoff, A escola, a sociedade e a formação humana, Onde há fumaça, há fogo & Folia Tataritaritatá aqui.
Fecamepa: o Brasil holandês aqui.

DESTAQUE: O PÚBLICO E O PRIVADO NA POLÍTICA BRASILEIRA
[...] valores atribuídos ao público e ao privado em nossa história. Sem dúvida, continua tendo curso o diagnóstico, há muito compartilhado, de que “sobra poder privado e falta poder público” no Brasil, uma sociedade domina por arranjos clientelistas e personalistas que datariam do “período colonial”. Porém, tais arranjos não se manifestariam apenas pelo “mandonismo local”, expresso nos “currais eleitorais dos coronéis” do interior e pelos viciados partidos de “notáveis”. Essa face “tradicional-privada” de nossa vida política estaria igualmente presente na atuação de um sistema partidário nacional e de massas, enraizado nos grandes centros urbanos mas considerado fraco e incapaz de representação legítima, sendo presa fácil dos sempre existentes “políticos profissionais”. Continuidades e descontinuidades, todavia sem maiores alterações no que diz respeito à fraqueza organizacional da sociedade civil, de um lado, e à sua força privatista e desagregadora, de outro. O que passa a se associar a essas postulações, tornando-as complexas mas não eliminando sua presença e trânsito, é um outro tipo de diagnóstico que inverte os termos da equação. Ele acusa os excessos do poder público, também localizados em nosso passado colonial e ibérico, de ser a raiz de nossas mais políticos. Tais “excessos de público” estariam se atualizando de forma poderosa na força e autonomia da nova tecnoburocracia, bem como na tutela estatal sobre os sindicados, entre outros exemplos. [...].
Trecho extraído de A política brasileira em busca da modernidade: na fronteira entre o público e o privado, da historiadora Angela de Castro Gomes, da obra História da vida privada no Brasil: contrastes da intimidade contemporânea (Companhia das Letras, 1998), organizado por Lilia Moritz Schwarcz e aglutinando intelectuais de diferentes campos de conhecimento por meio de relações interdisicplinares, ampliando a ressonância de pesquisas isoladas e propiciando um diálogo para investigar os contornos que o Brasil adquiriu a partir da década de 1930. Veja mais aqui.

CANTO PARÓDIA DE MIM - Há já algum tempo eu canto veias abertas, vísceras expostas, como quem morre eletrocutado por minhas emoções exaltadas, língua afiada no que não acontece por falta de inventividade na precariedade de iniciativa ou por submissão à realidade degradante da existência, quando só as repetições abundam e se misturam aos estalos dos desabamentos do que não existe mais. De algum modo eu canto como quem corta os pulsos da incompletude que me impede de virar a página do presente, investindo todas as fichas como quem morre a cada segundo e me molho na chuva torrencial sobre as terras das remembranças, como águas que esborraram o dique, como fogaréu na madeira de todas as fachadas com seus tapumes embelezados que balançam ao vento para esconder os escombros que reproduzem o patético sonho perdido. Os rumores chegam no som que trepida e canto como quem se entope do veneno da indiferença e sou alheio a tudo das caras fechadas como se fossem canhões prontos para disparar as ausências preenchidas com o que me parece algo de inquietante no ódio recolhido contra a insignificância do meu silêncio. Pelas terras de ninguém meu ritual de passagem, viajante por muitas estradas, todas, eu enveredo pelas catracas dos sisudos e pelas próteses dos que fabricam suas falhas e eu canto visionário com meus olhos de águia como quem se enforca com seus próprios versos acumulados que se avolumam para me estrangular com a arrogância dos janotas e a me degolar com as bobagens pantagruélicas dos proselitistas rasteiros metidos a besta em seus pedestais de vento e a me afogar como uma plataforma afundada com todos os sonhos que teimam ao desamparo do logro umbrático, tentando a pulso chegar à superfície. Eis que retornei antes que chegassem as surpresas e eu canto como quem prende a respiração para entoar a minha canção no barulho da insônia, como se condenado em posição de sentido carregasse minhas olheiras sobre a destruição estimulada pela tirania das horas, sem ter o direito de decidir o que me chega aos olhos ou aos ouvidos, espremido entre as aversivas antipatias e o volapuque dos afetos pisoteados. Talvez fosse melhor nem cantasse, mas eu canto assim mesmo como quem fosse atropelado pela avalanche de tudo que se dizima quando amanhece um dia maio, um dia de feira nas cinzas, pouco importando se vivo ou morro, se houvesse um mínimo sensatez seria eu abrigo pra mim mesmo e a quem chegasse abraço largo para o refrão que agora faço da canção como quem se joga pela janela para ganhar a liberdade do outro que não encontro mão amiga e ninguém presta atenção ao desfecho da tragédia negligente. E se me ignoram sigo adiante, o meu canto à viola, o meu refúgio na poesia do visinvisível e do que aprendi com meus erros e sou reincidente. Não resisto à tentação, faço, desfaço, refaço e se me ignoram, salvo engano, é porque só estamos juntos nos desapontamentos, indiferente que sou ao frenesi do consumo. E eu canto e ninguém entende muito bem o que é, como acontece com tudo de desimportante na vida. Alguma surpresa do improvável que voa como borboleta ou pica como uma abelha, a sonhar para triunfar sobre a vida – um sonho a mais, nada demais; e cantar para triunfar sobre o tempo – um canto qualquer, um canto de paz. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

UMA MÚSICA: 
Curtindo o box Jards Macalé anos 70, reunindo os quatro cds lançados na década de 1970, pelo cantor, compositor e ator Jards Macalé. Veja mais aqui

 
Imagem: Ópera do Arame, do artista plástico DiMagalhães.

UMA REFLEXÃO SOBRE A CIDADE: [...] A cidade, em si mesma, é tradicionalmente uma arma militar, um escudo ou armadura coletiva, uma extensão do castelo de nossa própria pele. Antes do amontoamento urbano, tivemos a base do caçador à cata de comida; agora, na era da eletricidade, o homem volta, psíquica e socialmente, ao estado nômade. Só que agora a fase se caracteriza pela cata de informações e pelo processamento de dados. É um estado global, que ignora e substitui a forma da cidade – que tende a se tornar obsoleta. Com a tecnologia elétrica instantânea, o próprio globo não passará de uma aldeia e a própria natureza da cidade, enquanto forma de grandes dimensões, deve inevitavelmente dissolver-se como numa fusão cinematográfica. [...] A cidade, como o navio, é uma extensão coletiva do castelo de nossa pele como a roupa é uma extensão de nossa pele individual. [...]. Trecho extraído da obra Os meios de comunicação como extensões do homem (Cultrix, 1964), do educador, filósofo e teórico da comunicação canadense Marshal McLuhan (1911-1980). Veja mais aqui e aqui.


Imagem: a enciclopédia audiovisual Qwiki.

PERNSAMENTO DO DIA: [...] a tendência não vem simplesmente de uma força organizadora que seria o homem [...] ela opera por seleção de formas numa relação do ser viver humano com a matéria que ele organiza e pela qual ele se organiza, onde nenhum dos termos desta relação tem o segredo do outro [...]. Trecho extraído da obra La technique et le temps (Galilée, 1994), do filósofo francês Bernard Stiegler.


Imagens: a arte do performático artista plástico luso-brasileiro Artur Barrio.

UMA LEITURA: UM LUGAR CHAMADO BRICK LANE – O romance Um lugar chamado Brick Lane (Rocco, 2004), da escritora britânica nascida em Bangladesh, Monica Ali, conta história de uma jovem que se muda de Bangladesh para Londres, devido casamento arranjando e que, por conta disso, inicia uma correspondência sobre a descoberta de diferentes culturas com a sua irmã no local de origem. Da obra destaco o trecho: Ela ajudou a despir-se. Sentiu que não havia nada que ela não fosse capaz de fazer. Ela o puxou para dentro de si, não com paixão mas com ferocidade como se fosse possível perder e ganhar tudo naquele único ato. Ele pôs a mão sobre a garganta dela e ela quis tudo [...] sentir a mão dele apertá-la e extingui-la, ouvir Chanu entrar e ver o que era, a esposa dele. [...]. A obra foi adaptada para o cinema em 2007, com direção de Sarah Gavron. Veja mais aqui.


Imagem: Roda de teatro de rua no Recife, do fotógrafo Luiz Filho, no IX Festival de Teatro de Rua do Recife.

TEATRO NA RUA – [...] produzir um teatro atraente que correspondesse à realidade dessas populações. Esse teatro, portanto, deveria ser popular, no sentido de uma linguagem acessível e de conteúdos que "falassem de perto" ao homem da periferia. Essa vinculação com o social descartaria o teatro como mero entretenimento e determinaria um compromisso de solidariedade do produtor com os problemas e necessidades dessas populações periféricas (compostas, de um modo geral, por operários, pequenos comerciantes, empregados do setor do comércio e do setor bancário, funcionários sem qualificação e empregadas domésticas, muitos dos quais moradores de favelas). [...] Itinerando pelos bairros, movidos pelo desejo de alcançar uma comunicação eficiente com esse público de periferia, levavam espetáculos, na maioria, precários de produção e de qualidade artística. Teatro pobre strictu sensu, apresentavam-se onde fosse possível, nas condições deficientes que a comunidade pudesse oferecer - salões adaptados, pátios de escolas, ao rés-do-chão em qualquer espaço consentido. [...] Por outro lado, vemos atualmente ressurgir o movimento de teatro universitário e uma nova modalidade de produção artística, que poderíamos chamar de "teatro comunitário": um trabalho realizado no seio de uma comunidade (bairro, quadra, casa de cultura municipal), envolvendo-a como um todo, com uma orientação mais próxima de uma proposta pedagógica de arte-na-educação do que qualquer intenção político-militante. [...]. Trecho extraído do artigo Estética e política no teatro paulista doas anos 70-80,  da professora, pesquisadora, dramaturga e escritora Silvana Garcia, autora do livro Teatro da militância (Perspectiva, 1990). 

 AMOR À FLOR DA PELE – O premiado filme Amor à flor da pele (Fa Yeung Nin Wa, 2000), dirigido e escrito por Wong Kar-Wai, é baseado numa canção de Zhou Xuan e conta a história que se passa nos anos 1960, em Hong Kong, quando um jornalista se muda com a esposa para um novo prédio, onde conhece uma bela secretária, a qual ele se aproxima depois que ambos descobrem que seus cônjuges vivem um romance. O destaque fica por conta da atuação da belíssima atriz chinesa Maggie Cheung.


Imagem: Little Annie Fanny, arte do cartunista Harvey Kurtzman (1924-1993) e do ilustrador Will Elder (1921-2008).

AGENDA: COLÓQUIO INTERNACIONAL DE FILOSOFIA E EDUCAÇÃO – Acontece de hoje até o próximo dia 07 de outubro, no Rio de Janeiro, o Oitavo Colóquio Internacional de Filosofia e Educação, desdobrado pelo Núcleo de Estudo de Filosofias e Infâncias (NEFI-UERJ), com a proposta de discutir a temática Mundos que se tecem entre nosotros: o ato de educar em uma língua ainda por ser escrita. Veja mais aqui e aqui.

A GAIA CIÊNCIA
[...] no tocante à receita de todos esses médicos de almas e sua recomendação de uma cura dura, radical, é permitido perguntar: é esta nossa vida efetivamente dolorosa e pesada o bastante, para trocá-la com vantagem por um modo de viver e uma petrificação estóicos? Não estamos passando mal o bastante para termos de passar mal à maneira estóica.
Os médicos de almas e a dor, trecho extraído do Livro IV, da obra A gaia ciência (Companhia das Letras, 2012), do filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900). Veja mais aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Imagem: a comediante Amy Schummer na arte da fotógrafa  estadunidense Annie Leibovitz.
Veja aqui e aqui.

CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na Terra
Recital Musical Tataritaritatá - Fanpage.
Veja  aqui e aqui.