domingo, setembro 04, 2016

JOHN POWELL, GILBERTO MENDONÇA, OTTO LARA, LUIZ DE AQUINO, CARMEN TYRRELL, PATRÍCIA JORDÁ & MONA GADELHA


QUEREM ME MATAR!!!!! - Duas razões incontestáveis deram ao Doro motivo suficiente para que chegasse a uma conclusão drástica e trágica na sua vida. A primeira, num chamego medonho, aos fungados no cangote e xambregado miudinho no maior rastapé com uma distinta reboladeira salão adentro, eis que, de supetão, dona Marcialita pegou-lo no flagra com tudo dele dentro da botija da moça! Um escândalo! Findou caçarolada com mãozada de pilão no quengo do rapaz, vitimado por um chute bem dado na bunda dele, de quase se desmantelar com dor no osso do mucumbu: - Ela quase me arrebenta os quibas! Sacudido à força no meio da rua, começou a desconfiar que os brucutus irmãos dela queriam desforra de arrancar sua pele fora. Coisa de louco. Ah, a segunda e não menos grave, foi que ele cheio dos quequeos inventou de recuperar sua popularidade com o eleitorado que andava minguado pras suas bandas, num comício relâmpago em cima dum tamborete, arreando a lenha na reputação do prefeito e, por extensão, esculhambando a patota das autoridades locais que viviam mancomunadas feito lambecus do chefe da administração municipal. O negócio ficou feio dele se ver aos empurrões duns brutamontes que, na verdade, queriam capá-lo por ordem superior. Pé na bunda, meu. Sem parentes nem aderentes, passou a viver na rua caçando lugar seguro pra dormir. Eram sonos sobressaltados, agonias noturnas assaltando seus sonhos, vivendo carregado de sofreguidão. Sabia que estava sendo perseguido, não conseguia identificar quem. Pra onde fosse, tinha a certeza de que alguém estava com ele em mira, seguindo todos os seus passos. Incomodava não conseguir sacar qual o inimigo, tinha sempre a percepção de que era o alvo e que, a qualquer momento, investiriam contra ele. Dia após dia nesse estado e foi se tornando a sua paranóia. Desconfiado, seguia digitígrado e espaventado pelos cantos hora que fosse do dia ou da noite, furtivamente encostado às paredes, com a bola dos olhos dum lado pro outro, ligado em tudo e se precavendo de qualquer tocaia. Que desassossego. Quase não conseguia mais dormir, assustando-se até com seu próprio ronco. Tanto é que certa noite, ele aos gritos: - Querem me matar! A cidade inteira acordou com seus berros. Deram-lhe um imprensado dele ficar completamente transtornado: - Não me mate, agora não! Oxe, o cabra estava desmiolado, todo mijado e cagado de medo. – Esse tá doido! Leva pra Tamarineira! Dia desse mesmo vi-lo passar denunciando que a Nasa queria capturá-lo por suas descobertas ocultas. Coitado, dizem que a política comeu seu juízo e agora vai ter de esperar a outra, porque nessa eleição, ele já está impugnado por antecipação: tornou-se inimputável! E ele: - Pelo menos não sou filho da outra, só tô enjeitado. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais das Trelas do Doro aqui e aqui

 Curtindo o álbum Praia Lírica, um tributo à canção cearense dos anos 70 (Brazilbizz, 2011), da cantora, compositora e jornalista Mona Gadelha.

PESQUISA:
[...] Como um jogo, a preocupação é uma maneira imatura de se lidar com as dificuldades. O preocupado geralmente entra num círculo vicioso: vai e volta várias vezes ao mesmo tema sem chegar a lugar algum (ao final, no entanto, pode desenvolver uma úlcera). Repete inutilmente seu problema; ensaia diversas alternativas sem se decidir por nenhuma; enumera todas as possíveis consequências de cada alternativa várias vezes. O preocupado talvez se sinta culpado por não fazer alguma coisa construtiva, assim ele faz alguma coisa: preocupa-se. Em termos psicológicos, a preocupação está relacionada à ansiedade que resulta de uma sobrecarga de emoções reprimidas (por exemplo, a hostilidade com ou sem qualquer ameaça externa). O preocupado crônico se sente aflito sem saber o quê o está incomodando realmente. As pressões internas de emoções reprimidas nem sempre precisam de estímulos externos para produzir essa condição de desconforto. É um dos altos preços que pagamos pela repressão emocional.
Trecho extraído da obra Por que tenho medo de lhe dizer quem sou?: insights a respeito do autoconhecimento, do crescimento pessoal e da comunicação interpessoal (Crescer, 1989), do professor e jesuíta humanista estadunidense John Powell.

LEITURA 
A minha vida foi sempre assim / me fecharam um porta / eu abria outra / me fecharam uma porta / eu abria outra / me fechavam uma porta / eu abria outra / a minha vida foi sempre assim / só abrindo as portas que não tem fim.
As portas de ouro que se vão abrindo, poema extraído da obra Hora aberta: poemas reunidos (Vozes, 2003), do poeta, advogado e professor universitário Gilberto Mendonça Teles, que tive oportunidade de entrevistar em 2003. Veja aqui, aqui e aqui.

PENSAMENTO DO DIA: 
[...] De tanto ver, a gente banaliza o olhar – vê... não vendo. Experimente ver, pela primeira vez, o que você vê todo dia, sem ver. Parece fácil, mas não é: o que nos cerca, o que nos é familiar, já não desperta curiosidade. O campo visual da nossa retina é como um vazio. Você sai todo dia, por exemplo, pela mesma porta. Se alguém lhe perguntar o que você vê no caminho, você não sabe. De tanto ver, banaliza o olhar. Sei de um profissional que passou 32 anos a fio pelo mesmo hall do prédio do seu escritório. Lá estava sempre, pontualíssimo, o porteiro. Dava-lhe bom dia e, às vezes, lhe passava um recado ou uma correspondência. Um dia o porteiro faleceu. Como era ele? Sua cara? Sua voz? Como se vestia? Não fazia a mínima ideia. Em 32 anos nunca conseguiu vê-lo. Para ser notado, o porteiro teve que morrer. Se, um dia, e, seu lugar estivesse uma girafa cumprindo o rito, pode ser, também, que ninguém desse por sua ausência. O hábito suja os olhos e baixa a voltagem. Mas há sempre o que ver: gente, coisas, bichos. E vemos? Não, não vemos. Uma criança vê o que um adulto não vê. Tem olhos atentos e limpos  para o espetáculo do mundo. O poeta é capaz de ver pela primeira vez, o que, de tão visto, ninguém vê. Há pai que raramente vê o próprio filho. Marido que nunca viu a própria mulher. Nossos olhos se gastam no dia a dia, opacos... é por aí que se instala no coração o monstro da indiferença.
Vista cansada, crônica extraída da obra Bom dia para nascer (Folha de São Paulo, 1993), do jornalista e escritor Otto Lara Resende (1922-1992), a quem o dramaturgo Nelson Rodrigues homenageou no título de uma de suas peças: Otto Lara Resende ou Bonitinha, mas ordinária. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
Cenas da peça teatral Vooyeur (Sólo puedes mirar), escrito pela atriz espanhola Patrícia Jordá, encenada pelo Teatro Infanta Isabel.

Veja mais sobre Coágulos, coágulos, Marilena Chauí, Sacha Guitry, António Nobre, Antonin Artaud, Anton Bruckner, Dominique Ingres, Pola Ribeiro, Angeli & Literatura Infantil aqui.

E mais: Matizes, Eurípedes, Jean de La Fontaine, Luís da Câmara Cascudo, Celine Imbert, Clítia, o Cartesianismo Científico, Woody Allen, Gustave Courbet, Hans Hassenteufel & A morta que virou rainha aqui.

DESTAQUE
 Há sede de sedas, / de verbos, de versos. / Bastam-nos os sons / das unhas nas sedas, / de arrulhos nos versos, / de bêbados verbos / que entornam-me o cálice, / derramam metáforas, / embebem-me o poema. / As musas que me dessedentem.
Sede e seda, poema do escritor, jornalista e professor Luiz de Aquino Alves Neto, editor do blog Pena & Poesia.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Female nude – fiogure 4, by Carmen Tyrrell.
Veja aqui e aqui.

CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na Terra
Recital Musical Tataritaritatá - Fanpage.
Veja  aqui e aqui.