sábado, setembro 17, 2016

HORACIO QUIROGA, CHAUÍ, CATHERINE RIBEIRO, ANTONIO CÂNDIDO, CARALOTTA IKEDA, ANDERS ZORN, MAUREEN BISILLIAT & TUNICK


ENTRE TOPADAS E ESCORREGÕES, EU INSISTO, PERSISTO, RESISTO E ATÉ PERSEVERO - Sempre rio de mim e de tudo, brinco. Sisudez é para engravatados e donos da razão. Eu, não, reles saltimbanco, mambembe. Não sou importante nem assim me vejo e assim sorrio da minha desimportância um tanto dionisíaca, irresponsável. Pra falar a verdade, nunca levei nada tão a sério: paletó e gravata não são pra mim, teimo. A vida é linda demais pra perder tempo com seriedade extrema. Desastres? Ora, muitos! Sou suscetível ao karma (e adoro Carma, Dona Carminha, minha avó de todos os afetos), sem bússola ou reló6gio, à deriva: bicho solto que só teve janelas gradeadas: da minha mãe, do casório, o tio prest’atenção – sobrou o ouvido na música de todos os tons, os olhos nos livros de todas as aventuras. Para quem queria fazer profissão no teatro, represento histrião, o melhor que pude: o gravador, a máquina de escrever, rascunhos, versos e gritos, depoimentos na barreira das derrotas, a cabeça ao muro, arranhões quase escoriações, arame farpado entre avelós. Quando eu ia pescar já tinham passado a rede de arrastão: nada no anzol. Caçar, não, nunca tive pontaria; jogo, também não, nenhum, conservo-me perna-de-pau pra qualquer tipo de jogada – só umas arriscadas beócias com peões, rainha, torres, bispos, rei e cavalos. Problemas? Muitos, quando alguns, sexo e mulheres. Para onde? Parte alguma, barata tonta, piolho no alheio, encruzilhada à frente. Minha vida: cabeça de água nas nuvens, pés no céu da Terra. E tudo de pernas pro ar, de cabeça pra baixo. Se levasse tudo tão a sério não resistiria em meio tantas hostilidades, sacrifícios, mendacidades, fracassos, traições. A vida é assim mesmo: nunca sai como se espera. Os tempos eram outros, não mais, tudo um saco! Quase se perde a esperança, às topadas, a vida pendurada na pele crua, tudo segurado à unha, dentes cerrados e rangentes, no peito e na raça, quase não sobrar nada de mim. Insisto, persisto, resisto e até persevero: saio juntando cacos, trapos, retalhos e retraços de planejamentos destroçados, previsões pras cucuias. Projetos? Muitos; farei quando puder. O que tenho a dizer, pouco importa, faço da minha insular existência como se resumida a este dia, todo dia, o último dia. Por tudo isso, só me resta continuar sonhando para não sucumbir, pois só me resta rir da minha tolice. Principalmente num momento como este em que não se tem lá muito o quê comemorar. Só minha gratidão procê! Obrigado, um milhão de beijabrações procê. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

UMA MÚSICA

Curtindo Chansons de légende (Alby Music, 1997), da cantora e performer francesa Catherine Ribeiro.

PESQUISA: A POESIA BRASILEIRA - [...] No nível estrutural, já foram sugeridas tensões que alicerçam os significados e se organizam em torno da contradição maior, prazer-dor, tornada coerente pelo sadismo, que consiste justamente na sua combinação. Em torno deste eixo é construído o poema, com a sua sonoridade forte, o seu verso inicial que situa o leitor em pleno universo da poesia, com um poder que transcende o nível apenas lógico. [...] Na poesia brasileira (penso no que dizem os versos, não no comportamento dos poetas), é visível a vertente dos desvios da norma: sadismo em Bernardo Guimarães, masoquismo em Casimiro de Abreu, erotismo solitário em Álvares de Azevedo, voyeurismo em Bilac, necrofilia em Alberto de Oliveira, senso da decomposição em Augusto dos Anjos, angústia do impulso sexual irregular em Mário de Andrade, autocastração punitiva em Drummond. Mas enquanto em quase todos esses casos o traço é extraído pela análise do critico, no soneto de Fontoura Xavier há um tratamento intencional e declarado por parte do poeta, que assume conscientemente a representação da crueldade sexual transgressiva. Trechos extraídos da obra O discurso e a cidade (Duas Cidades, 2004), do sociólogo, literato e professor Antonio Cândido, reunindo ensaios em que analisa autores que com sua literatura se preocupam em construir a impressão de verdade por meio de narrativas aderentes ao real, com uma fidelidade aos dados externos que as faz parecerem documentários. Veja mais aqui.

UM LIVRO: 
[...] Quase ao mesmo tempo, entraram na sala a mãe e Eglé. Vendo Eglé, Rohán sentiu por ela uma imensa ternura. Ternura de marido, não de namorado, algo de intimo agradecimento e muito de intensa proteção, sentimento que conhecem os casados, um dia depois, de fazer para a esposa uma injustiça.
Trecho do romance História de um louco amor (Mercado Aberto), do escritor uruguaio Horacio Quiroga (1879-1937).

PENSAMENTO DO DIA: O OLHAR - [...] Mas o que é ver? Por que Aristóteles escreve esti idein? Da raiz indo-europeia weid, ver é olhar para tomar conhecimento e para ter conhecimento. Este laço entre ver e conhecer, de um olhar que se torna cognoscente e não apenas espectador desalento, é o que o verbo grego eidô exprime: eidô – ver, observar, examinar, fazer ver, instruir, instruir-se, informar, informar-se, conhecer, saber -, e no latim, da mesma raiz, vídeo, ver olhar, perceber e viso – visar, ir olhar, ir ver, examinar, observar [...]. Aquele que diz: eidô (eu vejo), o que vê? Vê e sabe o Eidos: forma das coisas exteriores e das coisas interiores, forma própria de uma coisa (o que ela é em si mesma, essência), a ideia. Quem vê o eidós, conhece e sabe a ideoa, tem conhecimento – eidotés – e por isto é sábio videnete-eidulius. [...]. Trecho do artigo Espelho da alma, janela do mundo, extraído da obra O olhar (Companhia das Letras, 1990), da filósofa e educadora brasileira Marilena Chauí. Veja mais aqui.

UMA IMAGEM

Extraídas do livro Xingu: Detalhes de uma Cultura (Raízes, 1978), da fotógrafa inglesa naturalizada brasileira Maureen Bisilliat.

Veja mais sobre Paixão Legendária, Psicologia Cultural, Lilith, Jerzy Milewski, Francisco Quevedo, Menandro, George Grosz, Narrativas de Uji Shui, Fernando França, Literatura Infantil, Cida Lima & Escritores Alagoanos aqui.

E mais:
As trelas do Doro, o bacharel das chapuletadas aqui.
A filharada do Zé Corninho aqui.
A greia na Fúria dos Inocentes aqui.
Fecamepa: de Pindorama à Carta de Caminha aqui.
Proezas do Biritoaldo: quando não se pensa direito, a cara sofre a maior vergonha aqui.

DESTAQUE: 
A arte da bailarina japonesa Caralotta Ikeda (1941-2014).

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
A arte do pintor sueco Anders Zorn (1860-1920).
Veja aqui e aqui.

CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na Terra: a arte do fotógrafo estadunidense Spencer Tunick.
Recital Musical Tataritaritatá - Fanpage.
Veja  aqui e aqui.