quarta-feira, setembro 07, 2016

SCHENBERG, STANISLAW PONTE PRETA, IVAN LINS, PLÍNIO MARCOS, MARCIA FOLETTO, MOJICA MARINS & CLAUDIA ALENDE


CANTOS DO MEU PAÍS – Sou das aves canoras das matas dessa costa atlântica aos galhos dos voos do uirapuru pela selva amazônica, das cataratas do Iguaçu ao encontro das águas do Pontal do Peba, de Imembuí do emboaba dos pampas à caeté Iangaí do donatário português, dos sertões das Minas ao pantanal matogrossense, da ilha dos manezinhos ao suor da gente do seringal acriano, da barreira do Inferno ao Salto do Itiquira de Formosa, do Taperebá do Oiapoque à Barra do Chuí até Ver-o-Peso, do Farol do Cabo Branco na Ponta do Seixas à Pedra da Gávea, do Molhe de Iemanjá à cachoeira do Teotônio, da Pedra Pintada até as Ilhas Miúdas da Ilhabela, dos aquíferos às milhas submarinas, dos xotes, baiões, modas de viola, do samba, carimbós, frevos, da cabra cabriola, do boitatá, dos dribles e firulas, do ar tropical e das funduras, das coisas bonitas e as que envergonham, o meu coração pulsa pelo chão e o meu sangue escorre pelos planaltos do cerrado ao litoral, dos agrestes nordestinos às campanhas gaúchas, e sou de mim mesmo o que me cabe dessa Terra. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais das aqui.


Aqui é o meu país nos seios da minha amada
nos olhos da perdiz, na lua na invernada
nas trilhas, estradas e veias que vão do céu ao coração
Aqui é o meu país de botas, cavalos, estórias
de yaras e sacis, violas cantando glórias
vitórias, ponteios e desafios no peito do Brasil
Aqui é o meu país dos sonhos sem cabimento
Aqui sou um passarim que as penas estão por dentro
Por isso aprendi a cantar, cantar voar, voar, voar
Me diz, me diz como ser feliz em outro lugar
Meu país, música de Ivan Lins & Vitor Martins

PESQUISA
[...] Inegavelmente a situação da universidade brasileira sob vários pontos de vista deteriorou bastante desde 69 pra cá. E para isso naturalmente contribuiu muito o tipo de reforma universitária que foi introduzida, com uma política de massificação da Universidade. Aliás, aqui no Brasil há várias incompreensões, que já tinham ocorrido no curso secundário, e que depois passaram para a Universidade. É bastante curioso ver como através das décadas vão reproduzindo-se os mesmos erros. No ensino secundário houve uma queda muito grande do nível, devido a massificação. Isso já vinha desde antes de 64, a massificação do secundário é coisa mais antiga. Aumentou em muito o número de alunos do curso secundário, e caiu muito o nível de ensino, foi deteriorando-se gravemente a situação dos professores. O governo brasileiro parece não compreender que não se pode aumentar enormemente o número de estudantes sem providenciar também um número adequado de professores. Se não houver uma boa preparação de professores, e também um número suficiente deles, acaba havendo um processo de queda do nível. [...] Com quarenta e quatro aulas por semana, já não se pode mais ser um bom professor de coisa alguma, porque se fica o tempo todo dando aula. Quando é que vai se estudar, ler? Além do mais, fica muito cansado, sobrecarregado. Conclusão: aumentou muito o número de alunos, mas houve uma decadência geral do nível do ensino secundário. [...] Por ai se vê o quanto houve de queda de nível, mesmo uma certa perda da dignidade do diploma. Diplomas sobre os quais pesa muitas vezes a dúvida de terem sido comprados, ou negociados de várias maneiras. [...] Aumentou-se enormemente o número de alunos, sem que houvesse uma preparação prévia de professores também. O professor não pode ser improvisado assim de um dia para o outro. É o tipo de homem que não se improvisa. [...] Além disso, houve outra mazela que também já tinha começado antigamente no secundário, e que agora passou para o ensino superior: o alongamento excessivo dos cursos. [...] Mas há um outro problema que considero mais básico ainda do que aquele e que começa já no primário, ou mesmo no pré-primário: o ensino todo é mal orientado; é cada vez menos uma educação e cada vez mais uma instrução. A educação tem uma preocupação formativa, ao passo que a instrução tem uma preocupação mais informativa e de treinamento. [...] E o ensino brasileiro não tem realmente uma preocupação formativa, tem uma preocupação mais informativa do que formativa. É transmitido a pessoa um certo volume de informações, que não é a mesma coisa que um volume de conhecimento. Então desde a escola primaria até a pós-graduação é a mesma coisa, a ênfase está sempre sobre a aquisição de informações ao invés de ser sobre o desenvolvimento das faculdades, digamos assim, da pessoa. [...] Essas coisas todas são completamente esquecidas e só se dá uma formação medíocre. A formação correta poderia começar no nível primário. [...] Os jovens hoje em dia falam muito mal, escrever então nem se diz. É uma situação terrível. A linguagem ficou muito pobre. Eles não sabem quase se exprimir por meio da linguagem, usam uma meia dúzia de palavras muito ambíguas. Então tudo isso exige realmente mudanças muito grandes em todo o sistema educacional brasileiro. Começando pela escola primaria é indo até a pós-graduação. [...]
(trechos de entrevista publicada na revista Trans/Form/Ação, v. 3, p. 9—62, 1980)
[...] Eu poderia ter-me tornado um artista, acho que não me tornei por causa da estupidez dos cursos de desenho. Começava pela escola primária, onde se punha um jarro de flores no fundo da sala e tínhamos de copiá-lo. Eu detestava isso, não tinha jeito nenhum para copiar aquelas coisas e me convenci de que não tinha capacidade nenhuma para desenhar. Antes gostava muito, ficava desenhando muito, mas desenhava coisa da minha imaginação. Não gostava de ficar copiando detalhes. E fiquei com esse complexo de que não era capaz de desenhar e não desenhei mais. Só muito mais tarde, já com 30 anos, voltei a desenhar e vi que não era tão sem jeito para o desenho como supunha. É que não era desenho o que ensinavam, era outra coisa, eram copias forçadas, figurativas.
(trecho de depoimento extraído da publicação Rebeldes brasileiros: homens e mulheres que desafiaram o poder – Caros Amigos).
O pensamento do físico e critico de arte Mário Schenberg (1914-1990).

LEITURA 
 [...] O ministro da Saúde —dr. Raimundo de Britto —pronunciava uma frase lapidar: “Para aliviar a despesa do Tesouro Nacional devem morrer de fome dez por cento dos funcionários públicos, nem que para isso se inclua meu filho”. Somente uma outra frase conseguiu rivalizar com esta para gáudio do Febeapá, foi aquela que pronunciou o ministro Juraci Magalhães:”O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”. [...] A prosperidade de alguns homens públicos do Brasil é uma prova evidente de que eles vêm lutando pelo progresso do nosso subdesenvolvimento.
Trechos extraídos do Festival de besteira que assola o país (Autor, 1966), de Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo usado pelo cronista, radialista e compositor Sérgio Porto (1923-1968). Veja mais aqui.

PENSAMENTO DO DIA: OS DEZ MANDAMENTOS DE PLÍNIO MARCOS

 1 Onde houve autoridade, não pode haver criatividade. 2. A arte é uma magia; a gente aprende, mas ninguém ensina. 3. Qualquer método vira logo um sistema burocrático. 4. As grandes sabedorias – a poesia, a magia e a arte – não pode habitar corações medrosos. 5. Tudo se consegue com esforço; não se chega a lugar nenhum sem caminhar. 6. A arte, de um modo geral, só faz sentido como tribuna livre, onde se possa discutir até as ultimas consequências os problemas do homem. 7. A cultura nas mãos dos poderosos constrange mais que as armas, por isso a arte e o ensino oficiais são sempre sufocantes. 8 para poder ver, é preciso esquecer a religião, a educação e a ideologia. 9. Cuidado com o papo dos velhos; geralmente o que dizem é para justificar a vida miserável que viveram. 10. Não se prenda a nada. Esses ensinamentos eu escutei pelas trilhas dos saltimbancos e mais de quarenta anos de andanças têm-me valido. Agora estou mais com vocês do que vocês imaginam. E o Bobo plin vai por aí...
O pensamento do escritor, ator, jornalista e dramaturgo Plínio Marcos (1935-1999). Veja mais aqui, aqui e aqui.

IMAGEM DO DIA: 
Crianças pobres de Belfrod Roxo (RJ), da fotojornalista Marcia Foletto – Prêmio Rei de Espanha.

Veja mais sobre Fecamepa & a independência de quem mesmo, hem?, Humberto Maturana, Anton Tchekhov, Homero, Di Cavalcanti, Marcus Viana, Salma Hayek, Madame du Barry & Viagem ao interior de um travesseiro aqui.

E mais: Por um novo dia: Intenção, Erasmo de Roterdã, Honoré de Balzac, François Truffaut, Vladislav Nagornov, Anna Netrebko, Catarina Ribeiro, Lilith & Camila Diehel, Fanny Ardant, Otto Lingner, A alienação social do trabalho & Sandra Lustosa aqui.
Por um novo dia: Remissão do Sonho, Ovídio, Machado de Assis, Francis Bacon, Oswald de Andrade, Ruy Guerra, Sônia Goulart, Drica Moraes, Sarah Bernhardt, Georges Henri Tribout, Julian Mandel, Victor de Aveyron & Célia Lamounier de Araújo aqui.
Por um novo dia: Abandono, Pietro Ubaldi, Eça de Queiroz, Molière, Bernardo Bertolucci, Joni Mitchell, Publílio Siro, Thandie Newton & Giovanni Battista Tiepolo aqui.

DESTAQUE
Cartaz e cena do filme Como consolar viúvas (1976), dirigido e produzido por José Mojica Marins, contando a história de um playboy falido que arma um plano para ganhar dinheiro, disfarçando-se de fantasma atentando contra três viúvas.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Foto da modelo Claudia Alende (Divulgação)
Veja aqui e aqui.

CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na Terra
Recital Musical Tataritaritatá - Fanpage.
Veja  aqui e aqui.