segunda-feira, julho 04, 2016

MARSHALL BERMAN, JOBIM & MAUCHA ADNET, ADOLFO CASAIS, MARCOS NOVAK, ALYSSA MONKS, ADRIANA GARAMBONE, BRITENBUCHER & LUCIAH LOPEZ


UMA COISA QUANDO OUTRA – O mundo vai e eu voo no agora, aqui, retendo esse momento de estar plenamente vivo, segurando o segundo, explorando-o e sabedor de mim em tudo. Eu vivo. E basta o segundo se esvair para novo surgir e eu catar a nova experiência. Uma nova revelação do que eu já sei das feridas narcísicas e crenças erodidas que promovem a desordem do que foi, do que é e do que será. E me lanço pelo buraco negro da existência, pelos espaços intersticiais que deslizam e dilatam os limites e me escancaram o horizonte das cercanias e vivências, e que me faz explorar todos os sentidos daqui, dali e dacolá. Voo pelo mar entre territórios e crio esferas – “viver é criar esferas!” -, e não busco apenas o conforto protetor da caverna original, não, não, sei do peso da aparência e a leveza do real nessa míope globalização, da qual apenas sobram a penumbra e a névoa, poeiras e espumas de pequenos espelhos que me confundem com suas reviravoltas do que era e não é mais, no instável das aparições fugidias que me fazem perambulante entre os desafios de agora e as escolhas decisivas. E por mais que tente ordenar a tudo, sempre haverá quem arrombe tudo no final da fila e processe a desconstrução, a desmontagem permanente que exige ordem para a desorganização e vice-versa na vigilância constante e o esforço perpétuo pela cambiante expressão do instante e seu maleável momento, as múltiplas faces, rizomas e platôs com a fluidez excessiva do fugaz que já se foi e escorre pelos dedos e se move além das mãos e fluem por todos os lugares que fui e não vou vazando as limitações e inundando o que nem prevejo, sei que contornam obstáculos e os dissilvem, invadem até dá de cara com as estruturas derretidas pela constatação de que tudo que é sólido se dissolveu no ar e provocou a profanação do sagrado e a sacralização do profano no eterno devir. Quem se preocupa em gastar o tempo, uns com entretenimento – prazeres de cinzas só pra ver que o ponteiro deslocou de um segundo e após outro deu na impaciência de quase chegar no minuto que vai virar hora, enfim, dias, meses, anos, sem perceber parece que foi ontem e já se passaram tantos anos de mera visualização, mera -, jogos e ardis, trapaças – sem mesmo saber a quem mesmo está enganando -, contar e recontar dinheiros e posses, reviver memórias e momentos inevitáveis e decepcionantes pra desconforto, ah quantas ocasiões desagradáveis superpondo aos quase apagados momentos felizes, ah, momentos felizes que foram e já nem são mais o que eram. O que será mesmo que as pessoas têm a oferecer, hem? Afinal de contas só restam as situações vividas, comiserações, estranhices bizarras, coisas de cada qual. Melhor nem pensar o passado que insistentemente ronda e desagrada. Onde o desconhecido? Nada, é ora lá de temeroso o que não se tem conhecimento. Abrir portas pode dar trabalho pra fechá-las. E quem não só quer a placidez etérea diante da guerra do cotidiano e logo depois de se encontrar em pleno campo inspirador não dá de cara com a chatura do tédio. Ora, bolas. O eterno confronto entre o labor e o ócio, a corda bamba. Mil coisas pra fazer, vigilância até do relaxamento, quem sabe. Deus me livre de piripaque, vai que num desse eu vou. Melhor sair lá e cá, acolá, entre a torcida das multidões e o retiro no solitário no topo da montanha. Só dá janelas pro vento frio de inverno, clausura de atmosferas viciadas, carregadas de mofo, roupas sujas, catingas de lixo. Isso sou eu e nada mais: monturo de vazios, utensílios empoeirados, teias nos recantos do teto, ou suspenso pela farra de luzes, zoadas e baforadas: o estardalhaço das badaladas onde ninguém é de ninguém e ninguém na coletividade, jogos de luzes de todos os matizes, holofotes, sinalizações de neon e o vento perigoso porta adentro com o alerta e o temor dos inimigos invisíveis e contagiosos: germes, vírus, intenções, reengenharias genéticas e o que não sei se existe e que, com certeza e todas as dúvidas, temores e suspeitas, existe, provocando infecções, pandemias, alerta geral, a contaminação das águas e comidas. Vîte! Onde isso vai dar? Sei lá, sei que tudo vai e vem, já foi e será, a ponto de me questionar qual alimento além do próprio excremento e qual água beber senão a própria com a crise de potabilidade, e o abrigo diante do nomadismo de chegadas, o desabrigo, idas e vindas da necessária migração de tempos e distâncias a percorrer, opções de caminhos além da palma da mão e roupas além da pele e do elétrico do pensamento à ponta dos dedos pra despir-se das vestes e ideias – assim como o lixo, é preciso reciclar ideias, reutilizá-las – e, afinal, surfar na onda e tobogã da noite e nos diálogos que compõem o diário de bordo e que me fazem um pacote de água gotejante e terei mesmo de beber a minha própria água. Nossa, pra onde vou é onde estou, já fui e ainda estou aqui. Apenas solilóquio, tomara diálogos. Todos pra vida e viver. E viva a vida, mesmo que não se saiba como, é a vida. E vida é vida. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais  aqui.

 Imagem: Scab, da artista plástica figurativa Alyssa Monks.


Curtindo os álbuns The Jobim Songbook (2006) & Milagre - Duo Maucha Adnet & Helio Alves (2013), da cantora Maucha Adnet.

PESQUISA
Tudo o que era sólido se desmancha no ar, tudo o que era sagrado é profanado, e as pessoas são finalmente forçadas a encarar com serenidade sua posição social e suas relações recíprocas. Trecho da obra Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade (Companhia das Letras, 1986), filósofo e escritor estadunidense Marshall Berman (1940-2013), que se configura por ser uma história crítica da modernidade, analisando criticamente vários autores, desde O Fausto de Goethe & a tragédia do desenvolvimento, Marx & Modernismo e Modernização, Baudelaire: o Modernismo nas Ruas, Petersburgo: O Modernismo do Subdesenvolvimento, A Década de 1860 — O Novo Homem na Rua e as duas tendências do Modernismo nas ruas, . Na Floresta dos Símbolos: Algumas Notas sobre o Modernismo em Nova Iorque, entre outros assuntos.

LEITURA
A poesia não é voz – é uma inflexão. Dizer, diz tudo a prosa. No verso nada se acrescente a nada, somente um jeito impalpável dá figura ao sonho de cada um, expectativa das formas por achar. No verso nasce à palavra uma verdade que não acha entre os escombros da prosa o seu caminho. E aos homens um sentido que não há nos gestos nem nas coisas: vôo sem pássaro dentro.
Poema Aurora, extraído da obra Poesias Completas (Portugália, 1969), do poeta, ensaísta, crítico literário e professor universitário português Adolfo Casais Monteiro (1908-1972). Veja mais aqui e aqui.

PENSAMENTO DO DIA:
[...] a transição do espaço real ao ciberespaço, da prosa à poesia, da realidade à ficção, do estático ao dinâmico, do passivo ao ativo, do fixo em todas as suas formas ao fluido em sua face sempre cambiante, é entendida da melhor maneira quando se analisa a atividade humana que combina ciência e arte, o mundano e o espiritual, o contingente e o permanente: a arquitetura. [...] pode ser visto como umenorme laboratório virtual para a continua produção de novas visões arquitetônicas. [...].
Trecho da obra Arquitetcturas liquidas em el ciberespacio (1991), do artista multimídia e transarquiteto Marcos Novak.

IMAGEM DO DIA: LUALMALUZ – SEMANA LUCIAH LOPEZ 
Destino embriagada no prazer da tua boca ante o espectro da dor a crucificar-me, alma e corpo vislumbro a claridade e o fulgor avermelhado que antecede o gozo. Renovando é o sangue e o corpo minando água para tua sede ___ah, essa tua boca tão primitiva tão despudorada a percorrer minha entranhas numa libertinagem que não requer o perdão e nos impede o paraíso dos puros. Eis o crepúsculo do corpo____ desvanecendo em resplendor os contornos da vida enclausurada.
Destino, poema/imagem/foto da escritora, artista visual e blogueira Luciah Lopez. Veja mais aqui.

Veja mais sobre Afélio da Terra, Pierre-Auguste Renoir, Rosalia de Souza, Thomas Nagel, Junichiro Tanizaki, Emílio de Meneses, Oduvaldo Vianna Filho, Olivier Assayas, Maggie Cheung & Suzanne Frie aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Todo dia é dia da atriz, dançarina e cantora Adriana Garambone.
Veja aqui e aqui.

CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Peace On Earth, by Renie Britenbucher.
Recital Musical Tataritaritatá - Fanpage.
Veja aqui e aqui.