QUANDO NÃO É NA ENTRADA É NA SAÍDA (Imagem
recolhida do Matéria Incógnita)– A primeira impressão é a que fica. Isso se a
pessoa anda ligada nas coisas, espiando pra tudo. No caso do Zé Bilola não é
bem assim, principalmente depois que o asno caiu nas graças de meia dúzia de
pariceiros da laia dele, dando uma corda da gota pra logo o inepto se
atarantar, de modo a andar de se gabar todo cheio das pacutias, já se tratando
por eleito à vereança. Tão pabo de si que nem sacou das astúcias do Zé Peiúdo
montando das boas pra cima dele, na maior engalobação. Pois, foi. Num é que o
ardiloso tascou de golpe vezeiro pra cima do apalermado? Oxe, o negócio foi tão
bem feito que o broco nem fé disso deu até hoje. Foi assim. Com a angariada de
simpatia do povaréu pra cima do pacóvio, já que o Peiúdo não gozava de boa
reputação com ninguém da freguesia depois das sacanagens pra cima do Zé
Corninho – todos já davam conta dos maus bofes dele -, o maldizente achou de
encher a bola de outro bocó com promessas de mundos e fundos na mais exitosa
sociedade. Vendendo gato por lebre, o cavernoso encheu a cabeça e as ouças do
toleirão com uma jogada das mais vantajosas transações, quando não passava de
engodo dos brabos pra tirar proveito inescrupuloso, colocando-o como testa de
ferro na empreitada. Passou a maior lábia e ensinou tintim por tintim pra ele
dar numa promessa ruidosa de uma coisa impossível garantida por certeira pelo
sacana. Assim o abestalhado caiu no papo e foi alugar a paciência dos eleitores
com tal empreitada. Como se tratava de boa praça, logo a turma toda acreditou
em tudo apalavrado. Estava armado o circo. E logo um monte de gente
candidatou-se à compra dos terrenos num tal do lugar determinado, de ninguém
nem sequer querer saber onde é que droga que ficava a coisa. No dia aprazado a
fila de gente já se fazia estrepitosa para acertar os primeiros pagamentos da
maior valsa, de forma que o Peiúdo providenciou planta baixa do loteamento de
araque, explicando os mínimos detalhes pro parvo desenrolar tudo com os
comparecentes, enquanto ele ficava às escondidas dizendo mesmo que ajeitava os
trabalhadores para entregar tudo no certinho. No final do dia, o tonto estava
com uma bolada de dinheiro da primeira parcela e com quase todas as ofertas
praticamente fechadas. Foi ter com o sócio, mostrou tudo na prestação de conta e
o sabido rachou na base de 80 por 20, guardando a maior parte no alforje dele e
dando a menor parte pro besta do parceiro que abriu os olhos de quase saltarem
fora de tão admirado. Nunca tivera nas mãos tanto dinheiro, agradeceu e saiu
feliz da vida pra casa. – Esse Peiúdo é um cabra dos bons. Quando Ximênia soube
disso, botou as mãos no quarto e asseverou na base da mão de pilão agitada nas
fuças e pronta pra tascá-la no tantã: - Isso num tá certo, esse hômi num vale
doistõi! Bilola agoniou-se, fez careta, pantim, virou-se como pôde e a mulher lá,
irredutível e balançando a perna na espera de uma resolução ali na hora. Passou
um dia, uma semana e um mês depois lá estava o povo todo na fila pra cumprir a
segunda parcela. Tudo ajeitado na base do acertado e lá se vai Bilola feliz da
vida, mas escondendo da mulher o sucedido. – Oxe, mulé como a minha, melhor sem
saber de nadica de nada. Assim foi o terceiro, o quarto e quando chegou o
quinto mês, era hora de apresentar o loteamento pra todos e ele deu por certo
que na semana seguinte levava todos pra ver, conforme ficou definido no trato
com Peiúdo. Eis que chega a semana seguinte e nem sinal do comparsa. Bilola
coçou a cabeça e bateu os quatro cantos do mundo atrás do sócio. Nenhum sinal
dele, pista alguma. Paradeiro que era bom, nada. Foi aí que um por um dos
aquirentes começou a encher a paciência do Bilola em saber quando seria o dia
da apresentação dos terrenos. Veio outra e mais outra semana e nada de Peiúdo
aparecer, a coisa se avolumando, gente dando parte na polícia, noticiário com
conto do vigário no ar, até a convocação do Promotor de Justiça e lá se foi
Bilola dar mais explicações. Quando ele abre o jogo, todos perguntam: - Quem? E
ele: - Zé Peiúdo. Foi aí que tudo fedeu. Como todo mundo já estava vacinado das
aprontações dele e logo deram na conta que o Bilola foi a vítima do momento do
desinfeliz, botaram o coitado na roda e tome esculacho. E agora? Como é que
faz, como é que fica? Tinha de devolver o investimento feito por todos. E ele não
tinha um tostão de nada no pé da algibeira. Se vira, macho, ou pega o
pau-de-arara pra nunca mais dar as caras por ali. Foi nessa hora que caiu a
ficha e ele viu que o negócio da China havia gorado e que, por tabela, enterrou
seu sonho de ser vereador. – Bem feito -, sapecava ranzinza a gasguita da
mulher. Por conta disso, passou o resto da vida vendendo brebote e o que não
tinha para saldar a dívida que nunca acabou de quitar e até hoje está
desmoralizado, fodido e mal pago, levando grito e cuspe na cara, afora as
paneladas boas no quengo que a Ximênia não deixa por menos com um certeiro
desabafo: - Num disse, traste! E como o amor que fica é aquele, era uma vez pra
nunca mais. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui e aqui.
Curtindo o álbum Desvelo (Independente, 2015), da cantora,
pianista, compositora e arranjadora Andrea
dos Guimarães.
PESQUISA
Linguística e estilo
(Cultrix/EdUsp, 1974), de Nils Erik Enkvist, Joohn Spencer e Michael J.
Gregory, abordando sobre a definição de estilo e um enfoque ao seu estudo. Veja
mais aqui.
LEITURA
Antologia
pornográfica: de Gregorio de Matos a Glauco Mattoso (Nova Fronteira, 2004),
organizada pelo poeta, editor e tradutor Alexei
Bueno, reunindo 19 poetas de língua portuguesa, entre eles Manuel Bandeira,
Laurindo Rabelo, José Limeira, Caetano josé da Silva Souto-Maior, Antônio Lobo
de Carvalho.
PENSAMENTO DO DIA:
Só conseguimos penetrar no mistério na medida em que o
reencontramos no cotidiano, graças a uma ótica dialética que reconhece o
cotidiano como impenetrável e o impenetrável como cotidiano. Por exemplo, a a
mais apaixonada pesquisa dos fenômenos telepáticos não lançará tanta luz sobre
o fenômeno da leitura (que é um processo eminentemente telepático), nem sequer
a metade daquilo que a iluminação profana da leitura ensina a proposito dos
fenômenos telepáticos [...] a mais apaixonada investigação do fum do haxixe não
ensinará a respeito do pensamento (que um narcótico por excelência) nem sequer
a metade do que a iluminação profana do pensar ensina sobre o fumo do haxixe. O
leitor, o pensador, aquele que está à espera, o flâneur são tipos de iluminados
como o consumidor de ópio, o sonhador, o extático. E tipos mais profanos. Para
calar aquela droga mais terrível – nós mesmos – que tomamos na solidão.
Trecho de O autor como produtor (A modernidade – obras escolhidas, Assírio
& Alvim, 2006), do filosofo alemão Walter Benjamin (1892-1940). Veja
mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
IMAGEM DO DIA
Capa do
livro Wunderblogs.com (Barracuda,
2004), reunindo posts de 11 autores blogueiros escritores.
Veja mais sobre Edgar Morin, Murilo Rubião, Jean
Genet, Rainer Werner Fassbinder, Thomas Gainsborough, Alanis Morissete,
Fernando Fiorese, Hanna Schygulla & Marilyn Monroe aqui.
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Hoje é
dia da ninfa Carna – deusa Cardea ou
Carma -, aquela que preside o coração e outros órgãos na mitologia romana. Ela
habitava às margens do rio Tibre, protegendo os recém-nascidos contra os
vampiros, e por quem Janus caiu de amor e deu-lhe o poder sobre os punhos e
dobradiças das portas.
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Imagem: Obra Orbis Descriptio,
da série Fronteiriços (1995), da
artista plástica, escultora, pintora, gravadora, desenhista,
artista intermídia e professora Anna Bella Geiger .
Recital
Musical Tataritaritatá