quinta-feira, abril 28, 2016

EDUCAÇÃO, GIANNETTI, JEAN DELVILLE, ANDRÉ LEMOS, ROSANA LAMOSA & LYGIA COELHO


A EDUCAÇÃO NOSSA DE CADA DIA - Para todo lugar que a gente se vire, seja na esquina, nos auditórios, nos holofotes, nas fofocas, onde quer que seja, uma unanimidade: a educação é fundamental para melhorar o ser humano e a realidade no mundo em que vivemos. E isso é repetido a torto e a direito: é preciso investir maciçamente na educação para melhorar a humanidade. Por conta disso, como todo mundo fala, vou também colocar o meu bedelho no assunto. Cá pra nós, é evidente que a educação não será jamais a panaceia para todos os males da sociedade, mas indubitavelmente é o alicerce fundamental para um melhor encaminhamento da humanidade, como também para resolver um bocado de bronca oriunda de equívocos e desinformação no Brasil. Nisso todos concordamos. Principalmente quando se procura saber qual o problema da educação brasileira. Usualmente esse problema é visto de uma forma maniqueísta e, diga-se de passagem, bastante reducionista, colocando-se como apenas dois: os alunos não querem saber de pirocas nenhuma, quanto mais estudar; ou os professores estão naquela do Vampeta: fingem que ganham altos salários, fingindo que ensinam. Quer dizer, colocam a culpa do fracasso escolar ou no aluno, ou no professor. E só. Quando muito, uma visão um pouco mais esclarecida, ao que parece, grita a necessidade de maior investimento em educação. Bem, ao que se sabe, oficialmente, o Brasil investe 5,7% do Produto Interno Bruto (PIB), o que representa, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econônico (OCDE), R$ 5,5 trilhões e que está acima da média dos países mais desenvolvidos do planeta. Tá. É muito? Não, todo mundo está careca de saber que é pouco. Todavia, melhor a gente dá uma olhada mais acurada para ver se é isso mesmo o nó do problema. Analisemos friamente: o que os alunos da educação básica até o ensino superior esperam da educação são conteúdos importantes e diretamente relacionados com a sua realidade, aulas dinâmicas e preparação para a vida, pro trabalho e pra vida. Sim. O que os professores esperam da educação é uma valorização profissional, estabilidade e condições dignas de existência, estrutura adequada pro desempenho de suas funções, alunos aplicados e ambiente horizontal nas relações hierárquicas. Certo. Quanto ao investimento governamental na educação pública brasileira é uma coisa a se considerar, vez que a gente também está careca de saber que existe muita tramoia desviando a finalidade das verbas públicas em tudo quanto é área de responsabilidade governalmental. Não é à toa que o Brasil é o país da espórtula e do vamos nos arrumar. Então, vamos colocar mais gente na roda para avaliação melhor, ou seja, vamos colocar os pais, a comunidade e a sociedade nesse contexto. Os pais depositam total responsabilidade pela educação dos filhos na escola, esquecendo-se - para não dizer eximindo-se - das suas próprias responsabilidades a respeito, se livrando dos filhos como se os sacudisse em um turno ou tempo integral lá dentro, dizendo: tomem esse troço e dêem um jeito aí nessa bronca, a responsabilidade é de vocês, se virem! Esse também é o desejo da comunidade e, por tabela, de toda sociedade. Ninguém quer segurar no bico do bule para ver o quanto está fervendo, joga a responsabilidade pros outros. Por conta disso, os pais esperam que a escola faça dos seus presepeiros e indomáveis pupilos, gente quieta, obediente, direita e promissora, capazes de lhes proporcionar orgulho no futuro. Entretanto, há uma coisa a ser dita: educação não é só depósito de conteúdo, condicionamento, reforço, aperto no disciplinamento, meritocracia e religiosidade. Educação é muito mais. Já a escola com seus altos muros quase impenetráveis, fechada e sem diálogo com a comunidade, muito menos com a sociedade, precisa ser vista: é lá que estão os alunos e os professores apontados como os dois principais problemas da educação. Além de professores, a escola reúne outros tantos profissionais que fazem o corpo de gestores e administração. Muito se fala por aí na eleição direta de diretores nas escolas públicas em atendimento à gestão democrática, mas todo mundo sabe que a maior parte, principalmente nas cidades interioranas, as diretorias das escolas são ocupadas por pessoas ligadas ao prefeito ou de suas relações políticas, muitas delas, inclusive, alheias a área. Essa direção racha a escola em duas: a área pedagógica, que deve resolver as principais broncas e fim de papo; e a área administrativa, que é a dos achegados na gestão financeira. A bronca pedagógica é delegada aos coordenadores e supervisores; a bufunfa fica nas mãos de quem passa a tratar a escola pública como um negócio rentável que tem que dar certo e, se possível, lucro para o diretor e os seus, mesmo em se falando de escola pública, observe. Assim não fosse, não apareceria tantos problemas com a merenda escolar no noticiário. Epa! Mas dizem que isso é problema da secretaria de educação. Sim, se a gente olhar quem é que ocupa as secretarias municipais de educação no Brasil, constatará que em sua esmagadora maioria, também, está ocupada por pessoas ligadas ao gestor público ou de suas relações políticas e, provavelmente, de área alheia à educação, afora um quadro de pessoal descomprometido com a questão, que está ali apenas para garantir sua aposentadoria e ter o que fazer, salvo raríssimas exceções, atente pra isso. Contudo, salvo melhor juízo, o caso das broncas da merenda escolar é doutra esfera: da secretaria estadual de educação. Tá. Não precisamos perguntar quem é o secretário de educação na maioria dos estados brasileiros, que seguem a cantilena dos municípios, também ocupados por pessoas das relações políticas do governador e que, em sua grande maioria, nada tem a ver com a educação, salvo as raríssimas exceções, reitero. Todavia, esta secretaria coloca a culpa no Ministério da Educação (MEC). Sim, também, se a gente for ver quem é o Ministro dá pra sacar que o problema começa em cima, afora os gabinetólogos de bunda quadrada que em Brasília querem fazer uma educação uniforme e homogeneizada para o Brasil todo, desconsiderando a heterogeneidade regional do nosso continental país. Em suma, uma primeira conclusão: há mais interesse individual na educação pública brasileira que qualquer outra coisa. Sim, a tragédia está tanto na educação pública como na rede privada: a diferença entre elas é só a limpeza e disciplina. O resto é uma tragédia só. Isso faz com que a educação não só tenha um ou dois problemas, mas muitos como uma corda de guaiamum bastante complexa. Excetuando-se aqui, ali ou alhures alguma iniciativa louvável raríssima e pontual, da educação infantil até o ensino superior, a educação brasileira é no mínimo disfuncional, quando não contraproducente: preparam os estudantes apenas e tão somente a serem serviçais do capitalismo. Trocando em miúdos: o problema da educação começa pela negligência, descompromisso e descomprometimento dos pais com o futuro dos seus filhos, ou por uma compreensão equivocada acerca do futuro da humanidade. Das duas, uma. Não será bastante alertar que o futuro pode ser no mínimo um abrigo pros pais negligentes ou, de uma forma mais contundente, a consideração da covardia que levarão nossos filhos a nos responsabilizar por não termos a competência, a coragem e a seriedade de resolver os nossos próprios problemas a respeito, transferindo-os como uma avalanche para uma realidade mais grave e trágica no futuro. Pense nisso. E vamos aprumar a conversa & tataritaritatá! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. PS: e por falar em Educação veja mais aqui, aqui e aqui

 Imagem: a arte do pintor, escritor e ocultista belga Jean Delville (1867-1953).


Curtindo o álbum da ópera Jupyra (Biscoito Fino), do compositor Francisco Braga, com a cantora lírica Rosana Lamosa & a OSESP. Veja mais aqui.

PESQUISA
Cibercultura: tecnologia e vida social na cultura contemporânea (Sulina, 2007), do sociólogo e professor André Lemos. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

LEITURA 
A ilusão da alma: biografia de uma ideia fixa (Companhia das Letras, 2010),
o economista, sociólogo e professor Eduardo Giannetti. Veja mais aqui e aqui. 

PENSAMENTO DO DIA
 Quem se acha dono da razão, com certeza nunca teve educação. 

Veja mais Osman Lins, Adolphe Appia, Paul Éluard, Pedro Almodóvar, Alberto de Oliveira, José Malhoa, Paulo César Pinheiro, Penélope Cruz &Valéria Pisauro aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Deusa Flora, da pintora Lygia Coelho.
Veja aqui e aqui.

CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Recital Musical Tataritaritatá
Veja aqui.