Imagem: arte de Ísis Nefelibata
AIJUNA, O MURAL DOS DESEJOS FLORESCIDOS
"A rosa: tua nudez feita graça. A fonte: Tua nudez feita água. A
estrela: Tua nudez feita alma".
(Juan Ramón Jiménez)
Luiz Alberto Machado
Aquela morena escorreita causava arrepios
nos marmanjos quando passava sorrateira pela calçada do ambulatório rumo ao seu
trabalho. Era nessa hora que ela exibia uma fatuidade rebolativa graciosamente
exuberante, num shortinho que lhe delineava as dimensões apetitosas, numa
camiseta sensualíssima pregada no corpo, denunciando-lhe os contornos que
apeteciam a gregos e troianos, ou quem fosse privilegiado de tal desfile. Que
cardan provocando sórdidas apostas entre os intrépidos paqueradores, amostrados
conquistadores, exultando aquele, entre eles, pretenso que seria escolhido a
ter, entre as suas posses, aquela magnífica figura inupta e cobiçada. Nego
pintava o sete, dava cambalhota, cavalo-de-pau, rabissaca, plantava bananeira,
se exaltava, deitava galanteios, tudo que pudesse chamar-lhe atenção.
Era ela disputada nos palitinhos, nas
cartas, nos dominós, nos baralhos, na porrinha, quem vencesse, cortejaria
exclusivamente aquela beldade, sem adversário nem obstáculo. Restava saber se
ela que se mostrara sempre receptiva acolheria o tal ganhador. Pelo que
demonstrava, ela não estava nem aí. Impune, nem, nem.
Eu mesmo que não me intrometeria em cima
de tanta areia para minha pequena carroceria, sabia. Mesmo podendo dar várias
viagens para cumprir aquela grandiosa missão, assim mesmo, ficava na minha,
tímido, cônscio de que não seria nunca, jamais para o meu bico.
Os outros, não, mais audaciosos,
adorariam ter aquele patrimônio corporal entre os seus quereres e posses.
Ah! Ela que falava manhosamente com uma
acuidade no olhar de ler-me a alma, de desnudar-me por inteiro, causando-me
furor nas entranhas, prospectando-me aos seus aposentos nas zonas remotas do
prazer extremo, um recurso utilizado pela sua caça, provendo-se do seu faro
amestrado ao preparo da vítima para a emboscada dos seus caprichos sexuais,
mais parecendo ter total conhecimento da cinegética de Xenofante.
Era, de caça ela entendia, vi-lhe muitas
vezes apalpando um livro, um volume contendo uma grande variedade com tipos de
caças, alçapões, armadilhas, tocaias, giraus, arapucas. Numa das páginas uma
foto de uma gazela, outras, um safari; uma imagem de Santo Humberto; de um
perdigueiro vigilante como um cão de corso que persegue corredores. Vi-lhe
quando escapuliu de uma de suas mãos no chão e eu, gentil cavalheiro,
devolvi-lhe daquele descuido.
- Brigada!
Agradeceu-me, como uma verdadeira onça
domesticada e ferina, carniceira, maligna, acuada, mexendo com as minhas
emoções, minha lucidez. Uma docilidade de potranca zen, uma finura de pele, um
risinho sensual no canto dos lábios.
Ainda embasbacado flagrei sua mira na
minha azagaia. Um olhar hipnótico, imantado. Viu-me modesto caçador e com isso,
todo intrometido e sem esperar, minha chuça deu sinal de vida, remexeu-se por
dentro do calção, pejado, saliência ficando à mostra. Ela notou, que luxúria,
concupiscência. Foi-se, assim sem menos. Bombardeou meus pensamentos acendendo
a minha libido a ponto de, numa tarde, dias depois daquele envolvente encontro,
procurar-lhe a presença onde quer que seja, perseguindo seus dotes,
enlouquecido, até, depois de muitas andanças sedentas e invadir o salão a
solicitar de seus serviços.
Ao chegar naquele ambiente do seu labor,
fui recepcionado com o seu riso lindo. Mandou-me sentar aguardando na fila de
espera. Lá havia muitos: mulheres, meninos e eu, todos usando do corte de
cabelos, manicura ou pedicura, uma podóloga que ainda ministrava cursos
intensivos de estética cosmológica nos dias sem movimento.
Era ela detentora de um conhecimento
profundo, realizando tratamentos especiais em tuins, unheiras, extração de
calos, das encravadas ao solado rachado, além de prescrever cremes específicos
e técnicas da reflexologia podal.
Era bom demais estar ali, vê-la
embelezando os outros, dando forma nas cabeleiras, escarnando unhas para
torná-las vistosas, modelando rostos em maquiagens finas, tudo muito bem feito
como ela mesma era, de muito bom gosto.
Para evitar o olhar à sua presença, cada
vez que ela via-me a conferir-lhe as formas, tirava a vista rapidamente
percebendo na parede uma reprodução de Jane
Avril Dansant de Toulouse-Lautrec. Ao lado uma foto reproduzindo a praia de
Boa Viagem, do Recife, numa frevança solta. Outra de um boto branco da
Amazônia. Mais abaixo uma televisão e um vídeo desligados, num rack que exibia
um aparelho de som, de onde se ouvia canções de Marina, de Adriana Calcanhoto,
de Fátima Guedes, de Gal Costa, de Joyce, de Elis, de Maysa, de Maria Bethania,
com as caixinhas dos organizadas e enfileirados.
Vez por outra suspendia o trabalho para
dirigir-se a uma bombonierezinha vitral de onde recolhia um bombom de
chocolate.
Ah! Aquela pele de caju, da cor do
pendúculo sumarento do fruto de cajueiro. Eu ficava excitado com a sua
presença.
Havia oito ou dez pessoas na minha
frente, esqueci de contar. O que mais me importava era a sua figura altaneira.
Sabia que ela se estabelecera há anos
ali, já lhe vira várias e muitas vezes no cooper manhãzinha cedo pelas ruas. Eu
morava nas imediações. Imaginava sua solidão, ninguém a dividir sua vida.
Trabalhadeira, o dia inteiro no salão.
Não lembro de tê-la visto assídua a
efemérides, exceto uma vez encontrei sua exuberante figura num baile no centro
social, numa dessas festas dos anos setenta. Ou mesmo no carnaval, quando
solta, marcava o passo certo no calçamento, com uma blusinha de seda fina e de
alça, mostrando-se os peitinhos miudinhos soltos na frevança, uma saínha
curtinha rodada de ver-se a calcinha estufando seus guardados e uma sombrinha
miúda em verde, vermelho, azul e amarelo, numa das mãos, a gestos largos,
mexendo dum lado pro outro em plena folia.
Era só tocar Vassourinhas, a famosa
levanta-defunto, hino inconteste do carnaval, ou mesmo a Evocação do Nélson, ou
sucessos do Capiba, ou qualquer outro frevo de rua, de vê-se a menina a
volteios, pulos, capoeiras, a dar tesourões, serrotes, rojões, ponta de pé e
calcanhar, folha seca, faz-que-vai-mas-não-vai, carrossel, tapiando a emoção da
gente naqueles passos exímios da liberdade.
Ela se perdia nos três dias anteriores ao
início da quaresma, emendando quinta e sexta do pré-carnaval, indo direto pela
terça-feira gorda, atravessando a quarta-feira de cinzas, atirando contra os
outros água e pós, maizena, esguichando líquidos de uma bexiga improvisada,
confetes, serpentinas e lança-perfume.
No bloco do bairro todo ano ela saía de
porta-bandeira, seminua, com uma coreografia de endoidar cristão, num bailado
de reavivar esquife, pulando o sincopado e frenético som do frevo, passista da
minha atenção que jurava, um dia, abatê-la, ela e sua máscara púnica usada para
enganar os bestas.
Um dia saía desfilando na Nação do
Maracatu de Baque Virado das Caqueiras, venerando calunga, cantando loas para
seus eguns no meio do batuque de gonguês, taróis, caixa e zabumbas.
Ou, então, quando era dia dos Caboclinhos
do Rabeca ao som dos pífanos, surdos, maracás, reco-recos e ganzás, ela vinha
toda enfeitada com um saiote, cocar na cabeça e ataca nos punhos e tornozelos,
todos de pena de pavão, um colar de dente de animal no pescoço e uma cabaça
presa na cintura, um bustiê ornado com lantejoulas, o rosto pintado todo de
vermelho e com purpurinas, a exibir sua preaca de guerreira curumim como toré
ataque de guerra de toda pajelança.
Afora o carnaval e aquele baile, vivia
recôndita, guardada em seus mistérios.
Outra que eu já tinha ciência a seu
respeito era a litispendência mantida por pendenga com o ex-marido na justiça.
Soubera que fora uma separação dolorosa e que vivia dos alimentos judiciais.
Os clientes presentes, um a um e todos
eram atendidos pela sua competência de cabeleireira notória, já noitinha, - a
noite bole com a alma - eu lá, embevecido testemunhando sua habilidade.
Aijuna! Que nome! Desde o baile que este
nome preenchia totalmente a minha cabeça. O nome e aquele rostinho de Maria
Callas quase balzaqueana. Era mais velha que eu, uns seis ou oito anos. Mas eu
não podia me adiantar pras bandas dela porque eu ainda era adolescente, perto
dos meus dezesseis anos.
Primeiro que eu não dispunha de recursos
suficientes para emplacá-la, apenas uns trocados furtados do cinzeiro do
automóvel do meu pai, que eu juntava na ânsia de poder pagá-la, querência
impotente de um púbere que ansiava virar adulto logo, com responsabilidade,
dinheiro, vitalidade, carro e muita simpatia para cima das mulheres.
- Querem beber alguma coisa? Tem ali
cerveja no freezer; vermute, gin, uísque, rum, tudo ali naquele barzinho
embaixo do rack da tv. Tem gelo no congelador, é só pegar quem quiser. Fiquem à
vontade.
Aproveitei da ocasião, eu que já me
inveterava na bebida desde que o Brasil ganhara pelo placar apertado de um a
zero para a Inglaterra, na copa do mundo de setenta, fui até o barzinho, passei
a vista, escolhi um uísque qualquer, apanhei o copo, coloquei uma dose dupla e
tasquei caubói goela adentro. Queimou minhas entranhas.
Recolhi-me no assento e folheei algumas
revistas do momento, meio que desencontrado.
Ela, vez por outra, me investigava as
intenções. Eu sabia. Era trabalhando e, de vez em quando, seu olhar repousava
no meu. Ficava eletrocutado, fugindo daquele flagra. Parece que ela simpatizara
comigo, uma aventura intuitiva que dera, ao que parece, certo. Risonha, fazia
tudo para me agradar. Aliás, agradava a todos, simpaticíssima, cordial. Não
havia nenhum mimo exclusivo para mim, mas que eu achava, achava. Podia estar
enganado, entretanto eu seguia aquela pontinha longínqua de cumplicidade. Eu já
possuía quase a certeza de que lhe caíra nas graças, dando-me um alvoroço de
sortudo, razão pela qual não arredara dali antes.
A noite seguia, restavam, ainda, duas ou
três pessoas, eu lá, já quase nove horas da noite, insistente. Ela ofereceu
coxinhas, pastéis, bombons. Mastiguei uns já que a fome me atormentava, tapiando
a barriga. Eu queria mesmo era estar ali com ela, mais nada.
Tomei outra dose do uísque, as orelhas
esquentaram, o juízo produziu milhões de ideias sem nexo na cabeça, estava
perdido, desencontrado e com medo que adivinhassem minha insegurança.
Dez e tanta da noite o penúltimo cliente
já estava sendo atendido, eu esperava, irredutível.
- Não quer vir amanhã? -, perguntou-me.
- Não, tudo bem, eu espero, preciso
cortar o cabelo, já estão pegando no meu pé em casa. -, respondi atônito.
- Tudo bem, já, já eu termino e lhe
atendo, tá? Tome um uísquezinho, tem coxinha, pastéis, são tudo de hoje e ainda
estão bons.
- Ok!
Tomei mais uma talagada boa, tonteei,
ingeri um pastel de queijo e voltei a aboletar-me na poltrona de espera.
Alguns livros estavam acomodados numa
pequena estante e fui até lá vê-los de perto: Clarice Lispector, Nélida Piñon,
Vinícius de Morais, Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade, Ascenso
Ferreira, Hermilo Borba Filho, Luiz Berto, outros poetas, alguns que nunca vira
o nome; uma coleção de educação sexual, outra de Érico Veríssimo igualzinha a
que meu pai possuía na sua biblioteca particular.
Eu já andava achegado a livros, havia
lido alguns deles nas noites compridas da minha solidão. Lia mais por
curiosidade porque achava estranho meu pai debruçado sobre eles. Desde que
aprendera a ler que eu estreitara o convívio com os livros, principalmente os
mais picantes que meu pai escondia por trás das fileiras ou as coleções de
artes plásticas que continham reproduções de mulheres nuas. Já tinha lido até
Marquês de Sade, Casanova, o Kama Sutra, a lenda de Don Juan de Marco, quanto
mais a coleção de Jorge Amado que meu pai detestava.
Nisso ela me chamara, exausta. Quase onze
horas da noite, não havia mais um pé de gente na rua.
Ela largou as sandálias sobre o tapete e
descalça veio à minha direção.
- Como é que você quer?
- Só arrumar o cabelo, não tenho
preferência.
- Tudo bem.
Saiu na pontinha do pé pelo assoalho.
Ingeriu um copo d'água, depois um gole do uísque no copo que eu bebera, bufou,
buscou forças e veio até mim, alisando meus cabelos, lavando-os depois,
passando shampoo, remexendo minha juba.
A cada toque seu eu levava um choque
ativando meus nervos, dinamizando minhas células, esquentando-me a alma. O meu
membro acordou-se com a supercondutividade que aquele contato de prazer me
assistia. Ela parou, olhou-me intrigada, sabia que o termômetro denunciaria que
eu estava febril além dos quarenta e dois graus centígrados, pegando fogo.
- Você está se sentido bem? -,
inquiriu-me.
- Bem demais. -, respondi-lhe com voz
trêmula.
- Estou achando você muito tenso!
- E você acha que é pra menos?
- Por que?
Enrubesci mais. O que dizer agora? Ela
deu-me um xeque mate. A febre era a volúpia louca. Eu escondia-lhe o meu ventre
com as duas mãos, se descoberto veria que já estava babando. Fiquei calado,
olhos baixos, sério. Ela tocou-me o braço, não sei como não foi carbonizada com
a minha alta voltagem. Levantei a vista e ela, cabeça pendendo para o lado,
interrogativa, paralisada, fitava-me atenta para descobrir-me intenções.
Assustei-me, baixei a vista, o sangue parecia que ia estourar todas as veias de
tão fervente. A testa suada, as mãos trêmulas.
- Você está se sentindo bem?
- Estou.
- Não é o que parece!
- Você está muito exausta?
- Estou cansadíssima.
- Quer que eu deixe para amanhã?
- Você que sabe!
- Eu vou-me embora!
- Não, fique, eu termino logo. É melhor,
nunca deixo para amanhã o que posso fazer hoje.
Ainda bem que ela pediu-me para ficar, eu
não poderia me levantar naquele estado.
Foi aí, meu Deus, que ela jogou a cabeça
para trás, respirou fundo e, novamente, colocou sua mão sobre o meu braço,
fitando-me implacavelmente. A frigideira do meu corpo estalou de fervura. Uma
corrente elétrica aos saltos quânticos dos eletróns, numa radiação além da frequência
possível, percorreu todas as minhas proporções, ativando meus nervos à
exaustão. Estava a ponto de uma combustão.
Ela notou que eu segurava à força meu
pênis. Foi aí que se afastou até a porta, examinando lá fora a noite,
encostando o postigo e, se dirigindo ao interruptor, apagou a luz. Tremi mais.
Percebi a sua presença pela respiração
perto da minha nuca, quase encostando o nariz. Era um estratagema. Que fazer,
meu Deus? Girou a minha volta, perscrutou todos os meus sentidos, diligenciou-me
louco cheio de fantasmas luxuriosos acercando-se da minha presença, mil
loucuras na cabeça e um rol de giros imperceptíveis de coisas invisíveis a me
atormentar naquele instante frenético.
Sabia eu lá de nada, não conseguia
pensar, sequer. Ela escorregou sua mão sedosa pelo meu braço até as mãos.
Aquele toque mágico de inebriar estadia imutável. Apertou meus dedos e a mão
dela nas minhas, com a pontinha de um de seus dedos friccionando o rego entre
os meus dedos, a minha glande rija no contato, tremulando de emoção. Percebeu
naquele movimento a rigidez oriunda do meu excessivo dilatar e depois colocou o
polegar entre a palma da minha mão e meu bastão ululante.
Respirei fundo enquanto ela encostava
seus lábios nos meus, rente aos meus, captando o eflúvio de sua pele, aquela
pele de terra fértil.
Era a empáfia de uma naja lúbrica se
transformando em minha frente, descrevendo órbitas manuais de um cometa
inatingível em meu sexo, carinho excêntrico na minha puberdade. Era a minha
condecoração.
Beijei-lhe timidamente. Era o vácuo, o
precipício, o caos. Eu usurpava o tempo, rompia convenções, liberto no meio do
abstrato dédalo sideral.
Encorajado pelo fervor fui buscar na sua
abóbada palatina as estrelas do querer ardente, chantageando meus sentidos
cauterizados pelo fogo abrasador do seu aflogístico.
No afã da captura ela deu sua investida
pelo impulso, agora com as duas mãos segurando minha lança, a ponto de
estrangulá-la. Eu desfalecia de volúpia. Lambeu devagar os meus lábios,
percorreu meu pescoço, roçou-me o tronco torácico, o umbigo e com a ponta de
sua língua assassina, rolou um bailado de cores inominadas na minha glande. Eu
arfava. Ela, magistralmente sugava, lambia, abocanhava, estourando-me o
frenesi.
Devagarzinho e sob o efeito cáustico, ela
foi lambendo minha virilha, minhas coxas, meu ventre, meu tórax, minha jugular
até encontrar meus lábios sedentos.
Puxou-me lentamente da cadeira e levou-me
até a alcatifa onde rolamos pelo apogeu desordenado de vales, abismos,
ribanceiras, alfombra, baixelas, vazantes, redemoinhos pélvicos, a pirotecnia
dos desejos estouvados, tostando os seres em dia em que os diabos se soltam,
conduzindo o gozo, o êxtase.
Deliberadamente apalpei seu flancos
dissolutos, arranquei-lhe as vestes, alcancei seu tesouro, me apoderei de sua
presa, sua peçonha e investi diligente e insano sua gruta adentro, numa
investida bruta.
Senti suas profundezas, suas latitudes, variações
altimétricas, a sua fossa Mariana, a curva hipsográfica do seu corpo e a sua
corrente de convecção no nosso abalo sísmico do prazer. E ela uivando
esganiçada, possuída, exalando seu cheiro doce de incenso, ah! Flor de açafrão,
que se contorcia mágica, flor do meu prazer, esporrando violentamente. Sôfrega,
buscou todo oxigênio do ambiente para se refazer daquela entrega mágica.
Resfolegava. Eu arriado sobre o seu tegumento. Que iniciação! Exauridos,
adormecemos.
O raio de Sol pela fresta da janela me
trouxe de volta. Ela estava sentada no chão, encostada na parede com uma
carinha n'água dum regozijo visível, lambendo os dedos, prolongando a delícia
do derradeiro vestígio naquela aventura tresloucada. Não aliviava os olhos
pidões me comendo, debochada, e eu alardeando vitória com o sabor na boca de
calda doce de amora.
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