terça-feira, janeiro 19, 2016

COBIÇA, BUDA, CERVANTES, ALEGRÍA, MONTESQUIEU, LUCRÉCIO, TAGIAFERRO, JUSSANAM & MUITO MAIS.


CRÔNICA DE AMOR POR ELA: - (Imagem: Vídeo/Arte de Meimei Corrêa) Vali-me naquele dia dos espelhos múltiplos que me vinham dos seus olhos onde nascem todas as manhãs e que me chegaram repentinamente com todos os seus ventos e redemoinhos e me dominaram e me restituíram o ânimo de percorrer os corredores largos da paixão. E tal Davi eu flagrei sua magia de Bethsabé com seus vitrais singulares me seduzindo e me levando a delirar na busca pelas escadarias dos seus esconderijos mais secretos, até o espesso enlouquecimento de todas as cobiças. Você se fez em os golpes de Eros por todas as vidraças que reluziam todas as tentações que arrepiavam e perpassavam todos os recantos escuros do meu ser mendigo, caído no fosso da miséria e que agora estava diante de um portão que se abre sem que precise ser aberto no meio das areias inexploradas do meu deserto e a deixar minha alma exposta em toda parte. Uma deusa em pele e osso sem andor, que desfila devagar pra meu encanto e eu sinto no meu peito todas as tochas acesas de sua exuberante claridade, enquanto lassa e frouxa vem a mim e me diz com seus lábios doces de todas as auroras todas as palavras perfumadas que meu coração enfeitiça e estende-me os braços firmes e seguros a me dar sua quentura tão ardente de seu sangue em minhas veias, a provar dos seus feitiços mais amantes, vítima de todo aparato de sua bruxaria benéfica, de todo arsenal de sua sedução, da munição dos seus carinhos, da artilharia dos seus afagos, das barricadas de suas entregas, a dar-me beijos que tatuam a minha alma com seu facho que arde por noites e dias infindos para o fogo do amor cozer firme no mais profundo íntimo do meu ser. E salta a minha gula ansiosa e lastimável por sua esguia forma delgada e vibrátil escultura feita pros gemidos sem disfarces que espreito impossível de mim. E que não tarda e logo envolta deusa desembaraçada com apelo erguido na trama de sua teia, enredando-me ao seu molde repleto de roseirais aromáticos que passam por meus sonhos e me leva pra onde vai no encontro do nosso longo e seguro olhar. E me enlouquece para que eu esqueça que venho de becos lamacentos a me perder nas horas desconformes ao derredor. E alumia minha vida para que não mais veja sombras no meu chão movediço e descampado, para que eu tenha, apenas e simplesmente, a loucura da cobiça do seu ser. (Luiz Alberto Machado. Veja o vídeo da canção aqui. E mais aqui e aqui.).

CONFIRA MAIS CRÔNICA DE AMOR POR ELA:













POR VOCÊ 
COBIÇA
 
PICADINHO
 
Imagem: a arte do pintor húngaro Emerico Imre Toth.


Curtindo o álbum Magda Tagliaferro Revival (Echo, 1991), da pianista Magda Tagliaferro (1893-1986). Veja mais aqui.

EPÍGRAFE – Nada sei do mistério de Deus, mas conheço alguma coisa das misérias do homem, de Siddhartha Sakya-muni Gautama que quer dizer Gautama - aquele que pertence à tribo dos Sakyas e alcançou a meta da perfeição, o Buda (563aC-483aC). Veja mais aqui, aqui e aqui.

DAS MOÇAS – No livro Do espírito das leis (1748 – Abril, 1979), do filósofo, político e escritor francês Charles-Louis de Secondat, barão de La Brède e de Montesquieu, conhecido como Montesquieu (1689-1755), encontro o capítulo IX do Livro Vigésimo Tefceiro, que trata das leis, na relação que têm com o número de habitantes, destaco o trecho Das Moças: As jovens, que só pelo casamento são levadas ao prazer e à liberdade, que têm um espírito que não ousa pensar, um coração que não ousa sentir, olhos que não ousam ver, ouvidos que não ouvir, que só se apresentam para se mostrar estúpidas, condenadas incessantemente a futilidades e a preceitos, são muito dadas ao casamento; são os rapazes que se torna necessário encorajar. Esse o pensamento ainda hoje vigente para uma substancial parcela do mundo masculino. Veja mais aqui e aqui.

A DESCONHECIDA – No conto A desconhecida (Cultrix, 1962), do premiado escritor e jornalista peruano Ciro Alegría (1909-1967), destaco os trechos: Sombria, magra, o traje gasto, ela chegou com a sombra dos álamos até a casa da lombada. O sol caía. os álamos enfileirados apontavam os seus dourados cimos, que teria um acento de écloga não fosse pela muralha pétrea das montanhas. Elas falam de lonjuras e ao mesmo tempo apertam opressivamente a inquietação viajeira dos homens. A mulher olhou a casa de parede raiada e telhado vermelho, dobrou para um lado e foi sentar-se ao pé de um quallay ramalhudo. Pôs no chão uma trouxa grande que trazia às costas e tomou a atitude de quem descansa. [...] A desconhecida acabou de comer e fitou o guaso. Ele também a fitou. Sem se terem visto nunca, reconheceram-se na memória dos tempos idos, na lembrança do seu povo, na impressão de todas as caras encontradas na vida. O homem tinha a pele queimada e os olhos penetrantes, sinais de trabalho ao sol e ante o espaço. A mulher – já a contemplamos – mostrava os traços de uma fadiga humilde e monótona. [...] O destino gritava ao guaso Tomás. E sentiu-se como se a desconhecida fosse a sua alma que se abandonava de novo aos longos e inumeráveis caminhos. Veja mais aqui.

DA NATUREZA – No livro De rerum natura (Sobre a natureza das coisas – Abril, 1980), do poeta e filósofo latino Titus Lucrécio Caro (99-55aC), destaco um trecho do Livro I - Invocação à Vênus Voluptas, do seu grandioso poema: [...] Ó mãe dos Enéadas, prazer dos homens e dos deuses, ó Vênus criadora, que por sob os astros errantes povoas o navegado mar e as terras férteis em searas, por teu intermédio se concebe todo o gênero de seres vivos e, nascendo, contempla a luz do sol: por isso de ti fogem os ventos, ó deusa; de ti, mal tu chegas, se afastam as nuvens do céu; e a ti oferece a terra diligente as suaves flores, para ti sorriem os plainos do mar e o céu em paz resplandece inundado de luz. [...] Finalmente, pelos mares e pelos montes e pelos rios impetuosos, e pelos frondosos lares das aves, e pelos campos virentes, a todos incutindo no peito o brando amor, tu consegues que desejem propagar-se no tempo, por meio da geração. [...] Faze, entretanto, que, por mares e por terras, tranquilos se aplaquem os feros trabalhos militares; só tu podes obter para os mortais a branda paz [...]. Veja mais aqui e aqui.

FARSA QUIXOTESCA – Tive oportunidade de assistir em São Paulo, no ano de 2000, a peça teatral Farsa Quixotesca, baseada no clássico Dom Quixote de La Mancha (El ingenioso Hidalgo Fon Quixote de La Mancha, 1605), do escritor espanhol Miguel de Cervantes y Saavedra (1547-1616), com direção de Hugo Possolo e o grupo Pia Fraus Teatro. Trata-se da ligação entre a loucura e o humor de Dom Quixote de la Mancha contada do ponto de vista de Dulcinéia, a sua amada. Veja mais aqui e aqui.

DULCINEIA – O filme Dulcineia (1963), dirigido elo espanhol Vicente Escrivá, conta a história da carta final de Don Quixote dirigida a sua amada Dulcinéia, levada por seu escudeiro Sancho, nas mãos de Aldonza, uma moça castelhana. A carta toca tanto a menina que, a partir daquele momento, assumiu a personalidade de Dulcinéia e vai em busca de Don Quixote, que descobre em seu leito de morte. A nova Dulcineia infundida pelo desejo de sua amada para continuar com as aventuras que ele deixou, leva às estradas que espalham o amor e a caridade para com os pobres. Embora capaz de superar todos os tipos de dificuldades agora deve enfrentar a Santa Inquisição, acusada de bruxaria. O destaque do filme é para a atriz estadunidense Millie Perkins. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
Dulcinea del Toboso (1839), do pintor inglês Charles Robert Leslie (1754-1859).

DEDICATÓRIA
A edição de hoje é dedicada à atriz e cantora carioca radicada na Islândia, Jussanan Dejah. Veja mais aqui.

TODO DIA É DIA DA MULHER
Veja as homenageadas aqui.