CRÔNICA
DE AMOR POR ELA: - (Imagem:
Vídeo/Arte de Meimei Corrêa) – Vali-me
naquele dia dos espelhos múltiplos que me vinham dos seus olhos onde nascem
todas as manhãs e que me chegaram repentinamente com todos os seus ventos e
redemoinhos e me dominaram e me restituíram o ânimo de percorrer os corredores
largos da paixão. E tal Davi eu flagrei sua magia de Bethsabé com seus vitrais
singulares me seduzindo e me levando a delirar na busca pelas escadarias dos
seus esconderijos mais secretos, até o espesso enlouquecimento de todas as
cobiças. Você se fez em os golpes de Eros por todas as vidraças que reluziam todas
as tentações que arrepiavam e perpassavam todos os recantos escuros do meu ser
mendigo, caído no fosso da miséria e que agora estava diante de um portão que
se abre sem que precise ser aberto no meio das areias inexploradas do meu deserto
e a deixar minha alma exposta em toda parte. Uma deusa em pele e osso sem andor,
que desfila devagar pra meu encanto e eu sinto no meu peito todas as tochas acesas
de sua exuberante claridade, enquanto lassa e frouxa vem a mim e me diz com
seus lábios doces de todas as auroras todas as palavras perfumadas que meu
coração enfeitiça e estende-me os braços firmes e seguros a me dar sua quentura
tão ardente de seu sangue em minhas veias, a provar dos seus feitiços mais
amantes, vítima de todo aparato de sua bruxaria benéfica, de todo arsenal de
sua sedução, da munição dos seus carinhos, da artilharia dos seus afagos, das
barricadas de suas entregas, a dar-me beijos que tatuam a minha alma com seu
facho que arde por noites e dias infindos para o fogo do amor cozer firme no
mais profundo íntimo do meu ser. E salta a minha gula ansiosa e lastimável por sua
esguia forma delgada e vibrátil escultura feita pros gemidos sem disfarces que
espreito impossível de mim. E que não tarda e logo envolta deusa desembaraçada
com apelo erguido na trama de sua teia, enredando-me ao seu molde repleto de
roseirais aromáticos que passam por meus sonhos e me leva pra onde vai no encontro
do nosso longo e seguro olhar. E me enlouquece para que eu esqueça que venho de
becos lamacentos a me perder nas horas desconformes ao derredor. E alumia minha
vida para que não mais veja sombras no meu chão movediço e descampado, para que
eu tenha, apenas e simplesmente, a loucura da cobiça do seu ser. (Luiz Alberto
Machado. Veja o vídeo da canção aqui. E mais aqui e aqui.).
CONFIRA MAIS CRÔNICA DE AMOR POR ELA:
POR VOCÊ
COBIÇA
PICADINHO
Imagem: a arte do pintor húngaro Emerico Imre Toth.
Curtindo o álbum Magda Tagliaferro
Revival (Echo, 1991), da pianista Magda
Tagliaferro (1893-1986). Veja mais aqui.
EPÍGRAFE
– Nada sei do mistério de Deus, mas conheço alguma coisa das
misérias do homem, de Siddhartha
Sakya-muni Gautama que quer dizer Gautama - aquele que pertence à tribo dos
Sakyas e alcançou a meta da perfeição, o Buda
(563aC-483aC). Veja mais aqui, aqui e aqui.
DAS
MOÇAS – No livro Do espírito das leis (1748 – Abril,
1979), do filósofo, político e escritor francês Charles-Louis de Secondat,
barão de La Brède e de Montesquieu, conhecido como Montesquieu
(1689-1755), encontro o capítulo IX do Livro Vigésimo Tefceiro, que trata das
leis, na relação que têm com o número de habitantes, destaco o trecho Das
Moças: As jovens, que só pelo casamento
são levadas ao prazer e à liberdade, que têm um espírito que não ousa pensar,
um coração que não ousa sentir, olhos que não ousam ver, ouvidos que não ouvir,
que só se apresentam para se mostrar estúpidas, condenadas incessantemente a
futilidades e a preceitos, são muito dadas ao casamento; são os rapazes que se
torna necessário encorajar. Esse o pensamento ainda hoje vigente para uma
substancial parcela do mundo masculino. Veja mais aqui e aqui.
A
DESCONHECIDA – No conto A desconhecida (Cultrix, 1962), do
premiado escritor e jornalista peruano Ciro
Alegría (1909-1967), destaco os trechos: Sombria, magra, o traje gasto, ela chegou com a sombra dos álamos até a
casa da lombada. O sol caía. os álamos enfileirados apontavam os seus dourados
cimos, que teria um acento de écloga não fosse pela muralha pétrea das
montanhas. Elas falam de lonjuras e ao mesmo tempo apertam opressivamente a
inquietação viajeira dos homens. A mulher olhou a casa de parede raiada e
telhado vermelho, dobrou para um lado e foi sentar-se ao pé de um quallay
ramalhudo. Pôs no chão uma trouxa grande que trazia às costas e tomou a atitude
de quem descansa. [...] A
desconhecida acabou de comer e fitou o guaso. Ele também a fitou. Sem se terem
visto nunca, reconheceram-se na memória dos tempos idos, na lembrança do seu
povo, na impressão de todas as caras encontradas na vida. O homem tinha a pele
queimada e os olhos penetrantes, sinais de trabalho ao sol e ante o espaço. A
mulher – já a contemplamos – mostrava os traços de uma fadiga humilde e
monótona. [...] O destino gritava ao
guaso Tomás. E sentiu-se como se a desconhecida fosse a sua alma que se abandonava
de novo aos longos e inumeráveis caminhos. Veja mais aqui.
DA
NATUREZA – No livro De rerum natura (Sobre a natureza das
coisas – Abril, 1980), do poeta e filósofo latino Titus Lucrécio Caro (99-55aC), destaco um trecho do Livro I -
Invocação à Vênus Voluptas, do seu grandioso poema: [...] Ó mãe dos Enéadas, prazer dos homens e dos deuses, ó Vênus criadora,
que por sob os astros errantes povoas o navegado mar e as terras férteis em
searas, por teu intermédio se concebe todo o gênero de seres vivos e, nascendo,
contempla a luz do sol: por isso de ti fogem os ventos, ó deusa; de ti, mal tu
chegas, se afastam as nuvens do céu; e a ti oferece a terra diligente as suaves
flores, para ti sorriem os plainos do mar e o céu em paz resplandece inundado
de luz. [...] Finalmente, pelos mares
e pelos montes e pelos rios impetuosos, e pelos frondosos lares das aves, e
pelos campos virentes, a todos incutindo no peito o brando amor, tu consegues
que desejem propagar-se no tempo, por meio da geração. [...] Faze, entretanto, que, por mares e por
terras, tranquilos se aplaquem os feros trabalhos militares; só tu podes obter
para os mortais a branda paz [...]. Veja mais aqui e aqui.
FARSA
QUIXOTESCA – Tive
oportunidade de assistir em São Paulo, no ano de 2000, a peça teatral Farsa
Quixotesca, baseada no clássico Dom
Quixote de La Mancha (El ingenioso Hidalgo Fon Quixote de La Mancha, 1605),
do escritor espanhol Miguel de Cervantes
y Saavedra (1547-1616), com direção de Hugo Possolo e o grupo Pia Fraus
Teatro. Trata-se da ligação entre a loucura e o humor de Dom Quixote de la
Mancha contada do ponto de vista de Dulcinéia, a sua amada. Veja mais aqui e
aqui.
DULCINEIA – O filme Dulcineia (1963), dirigido elo espanhol Vicente Escrivá, conta a
história da carta final de Don Quixote dirigida a sua amada Dulcinéia, levada
por seu escudeiro Sancho, nas mãos de Aldonza, uma moça castelhana. A carta
toca tanto a menina que, a partir daquele momento, assumiu a personalidade de
Dulcinéia e vai em busca de Don Quixote, que descobre em seu leito de morte. A
nova Dulcineia infundida pelo desejo de sua amada para continuar com as
aventuras que ele deixou, leva às estradas que espalham o amor e a caridade
para com os pobres. Embora capaz de superar todos os tipos de dificuldades
agora deve enfrentar a Santa Inquisição, acusada de bruxaria. O destaque do
filme é para a atriz estadunidense Millie
Perkins. Veja mais aqui.
IMAGEM DO DIA
Dulcinea del Toboso (1839), do pintor inglês Charles
Robert Leslie (1754-1859).
DEDICATÓRIA
A edição de hoje é dedicada à atriz e
cantora carioca radicada na Islândia, Jussanan Dejah. Veja mais aqui.
TODO
DIA É DIA DA MULHER