terça-feira, janeiro 12, 2016

OLHAR, GABRIELA MISTRAL MOZART, RUBEM BRAGA, AUGÉ, IOLITA & MUITO MAIS!!!


CRÔNICA DE AMOR POR ELA: AH, ESSE OLHAR (Imagem: Arte de Meimei Corrêa) - Ah, esse olhar que me chega tímido postigo e logo reverbera escancarada porta aberta fraternal, para que eu seja mais que vasilha rasa na sua íntima ceia, reunindo os furores da noite e esborrando as ânsias das frestas na promessa do dia ensolarado. Esse olhar que desnuda meu corpo, afaga terna e deliciosamente minha alma e me faz renascido a todo instante em que misantropo esbarro nas agonias da vida. Esse olhar que vem com a magia de quem chega caleidoscópio lindo pelos corredores das minhas insatisfações, pelos arredores da minha solidão, pelos caminhos tortuosos das minhas teimosias, como clareira que alumia minha escuridão a derrubar muros, grades, fortalezas, arrancando algemas e segredos; que me desordenam e se fincam para longe para que eu atinja os meus ideais nos confins de sua lonjura. Esse olhar que se faz faroleiro mágico no mirante dos agoniados desejos que me atormentam para apontar qual bússola onde acende vida no seu estado de lua atávica e eu em plena temporada de caça dos mais úmidos sentimentos. Esse olhar guardião do encanto imorredouro que me leva a ver e ouvir sua altiva perspectiva dissolvida na fricção de sua voz enternecida, como conto de fada mais que real lançando labaredas concupiscentes sobre a minha latejante exacerbação. Esse olhar que entra sem bater e é bem-vindo na surpresa para se deitar nua na poesia, improvisando falas, percorrendo sensações inauditas, pendurando estrelas nos contornos do corpo amanhecido nas braçadas de céu e sonhos, até animar o colo morno do seu ventre de todos os gritos que pedem socorro no laço dos feitiços atrevidos iluminando minha obscenidade. Ah esse olhar que é como toque de mãos trêmulas tateando a luxúria do beijo que é chama ardente na pele de rio caudaloso, inundando o tempo e a fundura de mar de suas premências noturnas, a misturar pernas, seios, sexo e boca de lua na carne nua que apetece lamber arrepiando os caminhos de suas vias tortuosas para desfrutar da saborosa iniciação de tudo que é seu. Ah esse olhar tomado de traços maravilhosamente belos que ornam a terra dos meus anseios, fulguram no sabor que unta meu corpo e me fazem pronto para a vida.  (Luiz Alberto Machado. Veja o vídeo deste poema aqui e mais aqui).

VEJA MAIS CRÔNICA DE AMOR POR ELA:

PICADINHO
Imagem: A arte do pintor espanhol Francisco Ribera Gomez (1907-1990).

 Curtindo o dvd Mozart: Piano Concertos 13 & 20 (Deutsche Grammophon, 2006), com obras do compositor alemão Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), na interpretação da pianista Mitsuko Uchida & Camerata Salzburg. Veja mais aqui.

EPÍGRAFE – Vivemos num mundo que ainda não aprendemos a olhar. Temos que reaprender a pensar o espaço, recolhido do livro Não-lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade (Papirus, 1994), do etnólogo e antropólogo francês Marc Augé. Veja mais aqui.

O NÃO-LUGAR NA SUPERMODERNIDADE – No livro Não-lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade (Papirus, 1994), do etnólogo e antropólogo francês Marc Augé, encontro que [...] Um mundo onde se nasce numa clínica e se morre num hospital, onde se multiplicam, em modalidades luxuosas ou desumanas, os pontos de trânsito e as ocupações provisórias (as cadeias de hotéis e os terrenos invadidos, os clubes de férias, os acampamentos de refugiados, as favelas destinadas aos desempregados ou à perenidade que apodrece), onde se desenvolve uma rede cerrada de meios de transporte que são também espaços habitados, onde o frequentador das grandes superfícies, das máquinas automáticas e dos cartões de crédito renovados com os gestos do comercio “em surdina), um mundo prometido à individualidade solitária, à passagem, ao provisório, ao efêmero. Veja mais aqui.

A CASA DAS MULHERES – No livro 200 crônicas escolhidas (Record, 1979), do escritor Rubem Braga (1913-1990), encontro A casa das mulheres (1954): A casa das seis mulheres amanhece tarde e lenta; chegam duas tão lavadas, penteadas, com perfumes, louçãs e se olham passeando no capim, perto da piscina azul e lhes dá vontade de fotografias. Chegam mais duas de shorts coloridos; depois uma some como por encanto, mas surge outra. Na casa das seis mulheres nunca são vistas seis mulheres; duas se afastam para se dizer segredos, ou uma está lá dentro falando ao telefone, e quando vem contando uma história outra sai correndo para mudar a blusa. A vida é uma tarde de domingo; chove com energia, faz sol com prazer, há flores, vidros, luz e sombra na casa das seis mulheres. Os homens chegam se sentem bem; mas os homens são transitivos; chegam, com suas vozes grossas, bebem tilintando gelo nos copos, fumam e partem; os homens são como sombras lentas e fortes, mas apenas sombras. Podem deixar algo no coração e nos segredos de alguma das seis mulheres, mas depois mergulham no cinzento de seus quotidianos e a casa das seis mulheres continua limpa, luminosa e transparente entre árvores e flores. Talvez seja par eles que as seis mulheres estão sempre se lavando, se penteando, se pintando e cambiando saias imprevistas e trescalando fragrâncias matinais ou sensuais – entretanto elas permanecem suspensas na indolência das tardes de domingo e os homens, seres broncos, se apagam longe, são apenas ecos de telefone, fotos perdidas em álbuns fechados nas gavetas escuras. As seis mulheres continuam se lavando, se penteando na luz vesperal, e a casa das seis mulheres espera feliz entrar no bojo da noite cheia de estrelas carregando o sono e o sonho de cinco – porque sempre uma saiu, ou foi misteriosamente à sala escura, ou a um canto vigia, ou, escondida, se abandona ao pranto. Veja mais aqui, aqui e aqui.

COPLAS - Na Antologia poética (Teorema, 2002), da poeta chilena Gabriela Mistral (1889-1957), encontro o seu poema Coplas: A tudo, em minha boca, / um sabor de lágrimas se acresce; / a meu pão cotidiano, a meu canto / e até à minha prece. / Eu não tenho outro oficio, / depois do silente de amar-te, / que este oficio de lágrimas, duro, / que tu me deixaste. / Olhos apertados / de candentes lágrimas! / Boca atribulada e convulsa, / em que prece tudo se tornava! / Tenho uma vergonha / deste modo covarde de ser! / Nem vou em tua busca / nem consigo também te esquecer! / E há um remoer que me sangra / de olhar um céu / não visto por teus olhos, / de apalpar as rosas / sustentadas pela cal de teus ossos! Veja mais aqui e aqui

AS POLACAS – Tive oportunidade de assistir em 1998, no Teatro maria Della Costa, em São Paulo, ao espetáculo As polacas, da premiada dramaturga, atriz e professora Analy Alvarez, um drama musical baseado na história da prostituição de integrantes judias no Brasil, mulheres conhecidas como polacas ou francesas que ocuparam largo espaço no imaginário erótico brasileiro do passado. O destaque da peça fica para atuação das atrises Isa Kpelman, Lucia Romano, Lara Córdula e Tania Sekker. Veja mais aqui.

DISTURBING BEHAVIOR – O filme ficção científica e suspense Disturbing Behavior (Comportamento suspeito, 1998), dirigido por David Nutter, contando a história de sujeito que após o suicídio do seu irmão, se muda com sua família de Chicago para Cradle Bay, uma cidade onde todos os jovens parecem "padronizados", ele conhece os "rejeitados". A partir de então começa a luta para manter sua individualidade numa cidade em que os fita azul dominam e junto com uma moça, eles tentam descobrir o plano macabro que se esconde por trás da aparente tranquilidade do lugarejo. O destaque do filme vai para a atriz estadunidense Kate Holmes. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
Ah, que inveja! O saudoso escritor Sérgio Porto – leia-se Stanislaw Ponte Preta - na redação a TV Rio e a "certinha" Carmen Verônica. Adoraria trabalhar assim! Veja mais aqui e aqui.

DEDICATÓRIA
A edição de hoje é dedicada à professoramiga conterrânea Iolita Domingos Barbosa Campos.

TODO DIA É DIA DA MULHER
Veja as homenageadas aqui.