quinta-feira, janeiro 28, 2016

A MULHER NO CRISTIANISMO, SABINO, MIGNONE, LECOUVREUR, PARODI, ZANETTINI, MANOELA AFONSO & MUITO MAIS!!!

TODO DIA É DIA DA MULHER: A MULHER NO CRISTIANISMO - A fase em que se procedeu ao momento transitório, entre a família romana e a cristã, se caracterizou pela manutenção da prevalência do poder patriárquico com a unidade do culto cristão. A mulher foi, então, tratada por ideias como as de Pedro, Catão, Censor e Paulo, pelas quais ela havia sido criada para benefício do homem e deveria acatá-lo em todas as coisas. A ela jamais seria dada a condição de ensinar na igreja, vez que ela como filha de Eva, foi a responsável por induzir Adão à transgressão. Os argumentos contrários à sua condução, giravam em torno de que a mulher estava perdida por não ter o que esperar do céu, vez que o Criador não lhe reconhecia a face, afora o que expressava Tertuliano diante do fato de que só a beleza natural da mulher já é, em si, uma tentação, tornando-a perigosa para todo aquele que apenas a veja para desviar-se do caminho do céu. Essa lei moral pregada estava respaldava em uma série de fatos ocorridos, como a condenação de Madalena como prostituta, a trama de Herodias e Salomé exigindo a cabeça de João Batista, bem como a forma como Dalila descobriu o segredo de Sansão e o entregou para uma humilhante morte, as heresias pagãs de Hypatia tendo por castigo de ser apedrejada em praça pública, afora ameaças com o fogo do inferno, que só o fato de ser mulher levava a uma intimidação. Por consequência disso, proibira, primeiro por decisão de Papa Sirício, depois com o Gregório VII, o casamento entre presbíteros e diáconos, instituindo o celibato sacerdotal. Tal determinação levou os alemães, por exemplo, a preferirem desistir da vida do que das esposas. A continência sexual passou a ser a tônica vez que era um elemento importante do ascetismo, tornando o celibato superior ao casamento, sob o argumento de que tudo que provinha da carne era mau. Era vigente o argumento de Severiano de que a mulher como um todo e o homem da cintura para baixo, são criações do demônio. As mulheres, por conta disso, eram vistas como fracas e frágeis, lentas de entendimento, emocionalmente instáveis, fúteis, hipócritas e totalmente indignas de confiança. Tudo isso embasado nas interpretações bíblicas de que o sexo era uma experiência da serpente e o casamento um sistema de vida repugnante e poluído. Tal condução buscava persuadir sacerdotes, celibatários ou não, para abjurarem dos pecados da carne, reprimindo que as despudoradas cortesãs que viviam em suas moradias, partilhassem da comida e se mostrassem em público em sua companhia, devendo-se subjugá-las por seus encantos, não permitindo que ela dirijam seus lares e que possam constituir rendimentos para seus bastardos. Por conta disso, despojavam a igreja da presença feminina. Para se ter ideia, Agostinho defendia que o sexo era repulsivo; Arnóbio alegava que era sujo e degradante; para Metódio, indecoroso; para Jerônimo, imundo; para Tertuliano, vergonhoso; para Ambrósio, conspurcação. Chegaram ao ponto de questionar que Deus deveria ter inventado um modo melhor de resolver o problema da procriação. Porém, acharam uma saída: a culpa não jazia com Deus, mas com Adão e Eva. Agostinho logo defendeu que a transgressão original, transmitida pela herdada concupiscência dos descendentes de Adão e Eva, persistia ainda na humanidade, o que explicava a perversidade e independência dos órgãos sexuais, a natureza intratável do impulso carnal e a vergonha geralmente suscitada pelo ato do coito: o Pecado Original. Tem-se, portanto, que com o advento do Cristianismo, diversos clérigos combatiam a aura mágica e poderosa do feminino, alegando que essa suposta superioridade da mulher era falsa e se confrontava com a ação divina, muito embora houvesse uma parcela entre eles que reafirmavam a igualdade entre homens e mulheres pelo menos espiritualmente. Quando o celibato tornou-se uma exigência, identificou-se uma desvalorização feminina face às estratégias de manutenção da organização eclesiástica que evidenciava Eva como a grande responsável pelo pecado original e, ao mesmo tempo, ocorria a santificação de Maria, mãe de Jesus, consagrando-se à maternidade e à família o papel fundamental da sociedade e da ordem religiosa. Com o desenrolar histórico, principalmente quando o Império de Constantino se aliou à igreja cristã, a mulher passou a ser usada para os propósitos religiosos, a exemplo de Clotilda de Borgonha que foi despachada para o norte com o objetivo de converter Clóvis, rei dos francos, e também Berta, que foi usada com intuito de seguir para Inglaterra, a fim de casar com Etelberto de Kent. Eram as princesas cristãs casáveis, algumas delas especialmente entre os merovíngios e carolíngios, mulheres de personalidade forte que serviam para casamentos com estrangeiros poderosos, visando atender os interesses da igreja. Ademais, persiste até hoje o anátema que coloca a mulher em segundo plano, responsável pela queda do homem e promotora do pecado original. (Luiz Alberto Machado).

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PICADINHO

Imagem: a arte de Rodrigo Luff.


Curtindo o álbum Francisco Mignone: a integral para violino e piano (Independente, 2006), com a obra para violino e piano de Francisco Mignone (1897-1986), na performance do violinista Paulo Bosisio e a pianista Lilian Barreto.

EPÍGRAFENo fim tudo dá certo [...] Se não deu certo, é porque ainda não chegou no fim. [...], extraído do conto Como dizia meu pai, incluído no livro A volta por cima (Obra Reunida – Nova Aguillar, 1996), do escritor e jornalista mineiro Fernando Sabino (1923-2004). Veja mais aqui e aqui.

A FAMÍLIA NA ROMA ANTIGA – No livro Responsabilidade civil nos relacionamentos afetivos pós-modernos (Russel, 2007), de Ana Cecília Parodi, encontro que: [...] A viga de sustentação da família romana – o culto aos antepassados, também o era das estruturas políticas, e por isso influenciava de forma direta a toda sociedade, inclusive em aspectos econômicos, a tal ponto que o status quo da Roma como se conhecia dependia do sucesso dos cidadãos a manter a prática dos rituais. Verdade bem corroborada pela perda do controle do Estado para a Igreja Católica Apostólica Romana, que substituiu a cultura pagã local, pelas suas próprias tradições. A família romana era assim considerada englobando os ascendentes e descendentes, membros em geral, ligados por sujeição inclusive de ordem patrimonial [...] Berço do pátrio poder, este era exercido com exclusividade pelo homem. [...] Chefe do lar, ele recebia poderes absolutos para dispor sobre a vida e a morte, tanto de seus escravos, quanto dos membros da família. Ele mantinha forte coesão da família romana. [...] As mulheres não eram titulares de direitos próprios, de qualquer ordem, fosse sucessórios ou espirituais. Apenas a fumaça dos direitos lhes cabia, por via indireta, alçados e exercidos por intermédio dos homens. Tanto que, ao se casarem, deixavam para trás a casa do pai e passavam a integrar ao culto da família do seu esposo, em status loco filiae – filha do marido, que detinha o poder marital – figura substituta, sobre as mulheres desposadas, do instituto do pátrio poder. A fraqueza feminina resta estampada na expressão de Ulpiano, imbecillitas sexus – o sexo imbecil, in verbis. A mulher casada recebia status superior, sendo agraciada com algum reconhecimento social. Mas, vale anotar, que essa dignidade advinha como reflexo do homem, a quem ela auxilia idoneamente. [...]. Veja mais aqui e aqui.

O CASO DAS CAMAS – No livro A mulher do vizinho (Record, 1962), do escritor e jornalista mineiro Fernando Sabino (1923-2004), encontro que: Perdera emprego, chegara a passar fome, sem que ninguém soubesse: por constrangimento afastara-se da roda boêmia que antes costumava frequentar - escritores, jornalistas, um sambista de cor que vinha a ser seu mais velho companheiro de noitadas. De repente, a salvação lhe apareceu na forma de um americano, que lhe oferecia emprego numa agência. Agarrou-se com unhas e dentes à oportunidade, vale dizer, ao americano, para garantir na sua nova função uma relativa estabilidade. E um belo dia vai seguindo com o chefe pela Rua México, já distraídos de seus passados tropeços, mas, tropeçando obstinadamente no inglês com quem se entendiam - quando vê do outro lado da rua um preto agitar a mão para ele. Era o sambista seu amigo. Ocorreu-lhe desde logo que ao americano poderia parecer estranha tal amizade, e mais tarde: incompatível com a ética ianque a ser mantida nas funções que passara a exercer. Lembrou-se num átimo que o americano em geral tem uma coisa muito séria chamada preconceito racial e seu critério de julgamento da capacidade funcional dos subordinados talvez se deixasse influir por essa odiosa deformação. Por via das dúvidas, correspondeu ao cumprimento de seu amigo da maneira mais discreta que lhe foi possível, mas viu em pânico que ele atravessa a rua e vinha em sua direção, sorriso aberto e braços prontos para um abraço. Pensou rapidamente em se esquivar - não dava tempo: o americano também se detivera, vendo o preto aproximar-se. Era seu amigo, velho companheiro, um bom sujeito, dos melhores mesmo que já conhecera – acaso jamais chegara sequer a se lembrar de que se tratava de um preto? Agora, com o gringo ali ao seu lado, todo branco e sardento, é que percebia pela primeira vez: não podia ser mais preto. Sendo assim, tivesse paciência: mais tarde lhe explicava tudo, haveria de compreender. Passar fome era muito bonito nos romances de Knut Hamsun, lidos depois do jantar, e sem credores à porta. Não teve mais dúvidas: virou a cara quando o outro se aproximou e fingiu que não o via, que não era com ele. E não era mesmo com ele. Porque antes de cumprimentá-lo, talvez ainda sem tê-lo visto, o sambista abriu os braços para acolher o americano - também seu amigo.  Veja mais aqui e aqui.

POESIA DA PELE & OUTRO POEMA – Entre os poemas da poeta, tradutora e jornalista Germana Zanettini, destaco inicialmente um dos que integram a série Poesia da Pele: coração: / pedaço de carne / cercado de você / por todos os lados. E também Leia antes de usar: não, aqui não há lugares reservados / [de antemão já lhe adianto: / nem adianta olhar para os lados] / o ambiente não é climatizado / os assentos não são flutuantes / e máscaras de oxigênio / não cairão / sobre suas cabeças / para sua segurança e conveniência / informamos que a vida / não vem equipada / com saídas / de emergência. Veja mais aqui.

A ARTE E O MISTÉRIO DA MORTE - A atriz francesa Adrienne Lecouvreur (1692-1730), foi uma atriz dramática por excelência e a mais completa do seu tempo. Estreou na Comédie Fraçaise, em maior de 1717, protagonizando Eléctre, de Crébillon, tornou-se bastante popular. Sua personalidade impôs-se aos preconceitos da época, bem como suas inovações, tendendo à naturalidade e à simplicidade, nas tragédias de Racine. Voltaire, de quem foi também grande interprete, exaltou-a em versos comovidos, censurando o ostracismo contra os atores. Teve um envolvimento com Maurice de Saxe e, misteriosamente, presume-se que foi assassinada pela sua rival, Maria Karolina Sobieska, a duquesa de Bouillon. Por não ter renunciado à profissão, não recebeu enterro cristão. Sua história inspirou dramaturgos, compositores e poetas que criaram peças teatrais, poemas e roteiros para cinema. Veja mais aqui.

FILME DE AMOR – O longa-metragem Filme de Amor (2003), dirigido por Júlio Bressane, traz o mito da três graças – o Amor, A Beleza e o Prazer, onde duas mulheres e um homem dão um intervalo em suas vidas de cotidiano medíocre para um hiato de alegria, paixão, libertação e transcendência. No mito original são três mulheres, Tália, Abgail e Eufrosina, mas o diretor optou por escalar um homem levando em conta esses “novos tempos híbridos e heterogêneos”; e no filme eles encarnam os personagens Hilda, Matilda e Gaspar. São três amigos que vivem no subúrbio e que decidem se encontrar em um pequeno apartamento num final de semana, com o objetivo de beber, conversar, sentir prazer e, principalmente, estarem juntos. Lá eles entram num estado de sonho, devido à embriaguez, que os leva a esquecer o que ocorre fora do apartamento. O destaque do filme é para a atriz e diretora Bel Garcia (1967 - 2015). Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
Teodora & Marózia, mãe e filha. A mãe, a aristocrata romana, senatrix e sereníssima alteza Teodora, que junto com seu marido Teofilato I, controlava a cidade de Roma e o papado no século X, considerada por Liutprando como uma "prostituta sem vergonha ... [que] exerce poder sobre os cidadãos romanos como um homem." e descrita como amante do então arcebispo de Ravena que se tornaria posteriormente o Papa João X. A filha, a nobre toscana Marózia que influenciou decisivamente na eleição de papas como Leão VI, Estêvão VIII e João XI – este último seu filho -, assim como na morte de João X, sendo a suposta amante de Sérgio III – dando início ao período conhecido como o governo das prostitutas -, tornando-se senatrix e patrícia durante o papado de João X. As duas nobres dominadoras e desacreditadas do séc. X, tornaram-se virtuais ditadoras em questões de designações papais.

DEDICATÓRIA
 A edição de hoje é dedicada à artista plástica Manoela Afonso.

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