sábado, janeiro 30, 2016

A MULHER NA IDADE MÉDIA, AUTISMO, GERSÃO, FRITZ LANG, BENITA PRIETO, MAISA VIBANCOS & MUITO MAIS!!!

TODO DIA É DIA DA MULHER: A MULHER NA IDADE MÉDIA – No período compreendido historicamente como a Era do Obscurantismo, ler e escrever era um privilégio dos mosteiros, mantendo-se a igreja cristã a consideração de que a mulher era um zero, desprezadas tanto pelos homens como por elas mesmas, mantendo a condução secular de Eva como a arquiteta responsável pela queda do homem. Contudo, após mais de cinco mil anos de inferioridade da mulher, começou-se a perceber o que era vigente desde os tempos aristotélicos: o homem não era o elemento crucial na procriação. Isso se deve à descoberta de que em Bizâncio, a Virgem Maria era devotada, promovendo o surgimento da Mariolatria, no século XII, pela devoção de Bernard de Clairvaux da Ordem Cisterciense. Também ocorre no século XIII, Tomás de Aquino, o Doctor Angelicus, definir a mulher de então: como ela tinha sido criada da costela de Adão, era destinada à união social com o homem e, portanto, era sua companheira, mas somente em assuntos para os quais se tornava biologicamente indispensável, ou seja, a procriação. Com a Mariolatria, surgem as Martas, aquelas que vivem e morrem nas cidades, e o culto à Maria Madalena que era a figura da prostituta que se arrependera para seguir Jesus, dando-se oportunidade à construção de lares para arregimentar e converter as decaídas que haviam reconhecido o erro de sua trajetória. A mulher secularmente desdenhada se transformava em dama honorável pelo jogo do amor palaciano, oriundo do amor puro dos árabes e da importação do culto à Virgem Maria de Bizâncio. Tratava-se de uma condução em que era honrada apenas por sua virtude de dama pura, inatingível, virtuosa, admirável. Surgia, então, na Idade da Grosseria a dama da Idade da Cavalaria que passou a ser o grande tema da literatura e da vida da classe superior, resultado das Cruzadas, nas quais muitas mulheres se viram na necessidade de cuidar das propriedades e administrar terras, impostos, dízimos e até a política, além de descobrirem os prazeres de serem cantadas por poetas e trovadores, como Mocadem de Córdoba, Ibn Sara e Ibn Hazn, com canções de amor de um romântico herói que lutaria com o mundo para merecer o amor da amada. Esses eventos tiravam-nas da vida monótona com seu senhor e seu séquito fora de casa: a vida imitava a arte. Exemplo disso foi Eleanor de Aquitânia que ajudou a estabelecer o ideal do amor palaciano, ao casar-se com Luiz VII em 1137, cultuando o roman, um romance contando uma história em versos rimados sobre as maravilhosas aventuras no amor e na guerra. Quando ela se casou com Henrique II da Normandia e Inglaterra, patrocinava muitos trovadores notáveis, entre os quais Bernart de Ventadom. Suas filhas, principalmente Marie de Champagne, convenceram Chrétien de Troyes a fundir histórias de amor com ação, surgindo a partir de então a cavalaria: a dama era a insígnia do comando. Foi daí que surgiu o romance que se tornou lenda, dando conta do amor de Jaufré Rudel pela condessa de Trípole, na Síria, uma legendária beldade sobre quem ele ouvira falar através de peregrinos que retornavam da Terra Santa, ou da Graça Divina, buscando a felicidade de expirar nos braços de sua dama bem-amada. Também Guillaume de Larris exaltara a ideia alegórica da mulher virtuosa e Jean de Meun que desclassificava aquelas que não eram suficientemente nobres, ricas ou belas, para serem qualificadas como heroínas do amor palaciano. É durante esse período que surgem os demônios, súcubus e íncubus que, segundo Hinemar, bispo de Reims, atormentavam e tentavam homens e mulheres. Assinalam ser o demônio que aparecia para tentar as mulheres, ao tomar aparência do homem que ela amava, como o caso de uma freira atormentada pelas visitas de um íncubo até o exorcismo. Bernard de Chivaux diz que lidou com um caso de uma mulher que fora visitada todas as noites, durante seis anos, por um demônio que extraía dela o seu prazer, sem ao menos despertar-lhe o marido. Ocorre, porém, que o costume das damas em terem amantes foi transformado de um devaneio literário para uma visão noturna, clássica fantasia feminina da visita de homens, propagando que os demônios estavam em ação, como a súcubo visitava um homem e recebia sua semente; então transformado em íncubo visitaria uma mulher para transmitir-lhe aquela semente. Foi por essa razão que surgiu o Malleus Maleficarum, em 1486, o primeiro grande manual dos inquisidores de feitiçaria, para reprimir os desejos femininos e seus envolvimentos os demônios. Ocorre, por fim, no século XIV, que Eva finalmente cedeu lugar a Maria, com seu culto entre os franciscanos dos séculos XIV e XV, tornando-se uma cálida e compassiva mãe dos pobres e infelizes da terra. A crescente popularidade de Maria deveu-se muito aos trovadores, aos cistercienses e franciscanos, aos nobres, mercadores e burgueses, passando a ser ela a terna, amorosa e bondosa. Ao mesmo tempo, surgem os livros de cortesia, os quais passam a ser adotados pelas mulheres burguesas para aperfeiçoamento, como também os cintos de castidade que era usado para proteção contra estupro e para coibir a libertinagem da mulher. Como visto, na Idade Média o processo de desvalorização, sedimentado pela Primeira Mulher, se transformava com a visão da Virgem Maria como um meio de renovação, continuando, mesmo assim, a serem as mulheres consideradas pelo clero como criaturas débeis e suscetíveis às tentações do diabo, logo, deveriam estar sempre sob a tutela masculina. (Luiz Alberto Machado).

Veja mais:
 
PICADINHO
 Imagem: Prostitute, do pintor do Expressionismo e Fauvismo francês, Georges Rouault (1871-1958).


Curtindo o álbum Flutes Sonatas (Flötensonaten nº 272-277 – Naxos, 2006), com obras do compositor alemão Johann Joachim Quantz (1697-1773), com a flautista Verena Fischer, o cello de Klaus-Dieter Brandt e o cembalo de Leon Berben.

EPÍGRAFEQuem olha para uma montanha distante não repara na beleza de um dente-de-leão que está bem na sua frente. E quem se aproxima para olhar o dente-de-leão não vê como é bela a montanha ao longe. Para nós, as vozes das pessoas são mais ou menos assim, frase extraída do livro O que me faz pular (Intrínseca, 2014), do premiado jovem escritor autista japonês Naoki Higashida. Veja mais aqui.

A MULHER, O PATRIARCADO E A ESCRAVIDÃO – No livro Mulheres: o gênero nos une, a classe nos divide (Sunderman, 2008), de Cecília Toledo, encontro que no processo de origem do patriarcado, a esposa passou a ser uma propriedade do marido, como os outros bens, confirmadas por descobertas antropológicas que permitiram afirmar que a mulher não nasceu oprimida, mas passou a sê-lo devido a inúmeros fatores, dentre os quais, os decisivos foram as relações econômicas, que depois determinaram toda a superestrutura ideológica de sustentação dessa opressão: as crenças, os valores, os costumes, a cultura em geral. Nesse sentido, autora assinala que [...] a opressão da mulher está vinculada à existência da propriedade privada dos meios de produção, e apenas poderá ser superada com uma mudança total na infraestrutura das sociedades assentadas neste tipo de relação. Tal fato sinaliza diretamente um regime escravocrata que submetia à mulher aos mandos do homem. Pensamento similar é encontrado no livro Ser humana: quando a mulher está em discussão (DP&A, 2002), de Marcia Moraes, ao observar que no período da escravidão [...] desde os tempos mais remotos, exercitava o extremo sexismo necessário às praticas patriarcais, e essa foi a forma pela qual nasceu a diferenciação das classes sociais [...] As mulheres eram escravizadas não apenas pela força do trabalho, mas também pelos serviços sexuais prestados aos seus donos e pela reprodução”. Tal fato define que a exploração de mulheres de classes sociais baixas pelos homens de classe alta pode ser facilmente observada em toda história humana, incluindo o feudalismo e os tempos atuais. Veja mais aqui e aqui.

A CIDADE DE ULISSES – No livro Cidade de Ulisses (Sextante, 2011), da escritora portuguesa Teolinda Gersão, destaco os trechos: [...] Expor-se é também esconder-se. E também no disfarce os criadores são mestres [...]. Ao longo dos séculos também nós vivemos essa história de mulheres esperando, sozinhas, de filhos crescendo sem pai. Foi assim nas cruzadas, nos Descobrimentos, na guerra colonial, na emigração, até ao século XX. [...] Penelópe cansa de esperar por Ulisses e cede aos pretendentes, sobretudo a um deles, Anfínomo. Ulisses regressa e mata-a, ao saber dos seus amores com Anfínomo; [...] Penélope cansa-se de esperar por Ulisses e deita-se com os cento e vinte e nove pretendentes. Desses amores nasce o grande deus Pã; Mas não existia nenhuma versão em que Penélope escolhesse um dos pretendentes, que se tornaria rei de Ítaca, e ela rainha a seu lado. E em nenhuma versão se tornava ela própria rainha de Ítaca, no lugar de Ulisses, dissemos. No entanto seria provavelmente assim que hoje contaríamos a história. Veja mais aqui.

POEMEL & MULHERA poeta e professora Maisa Vibancos, que também se assina Maísa Pupila, já foi selecionada e publicada no Painel Brasileiro de Novos Talentos, da Câmara Brasileira de Jovens Escritoas, foi moderadora do Fórum do Guia de Poesia do Projeto SobreSites – RJ e edita o excelente blog Olhares poéticos... não poesias – Maísa Pupila. Dela destaco inicialmente o Poemel: Mistura/ sem culpas / servido em versos, / adoçam o tempo / e vem tictacteando; / o mel cai e inspira / sinestesicamente... / o poema transpira / - grudam-se os sabores: / Poemel nascente. E também o seu poema Mulher: Mulher / sinfonia constante - / em silêncio / ou no último volume, / música eterna / de todas as idades, / calma ou estressada / sempre mulher; / companheira, mãe, namorada, / amiga, avó, serena ou descontrolada - /afaga qualquer momento, / acaba com qualquer solidão. / Mulher / Sempre Grande, / Intensa e Única, / é como a natureza, / não desperdiça nada / recicla valores, / e em suas raízes eterniza / o milagre do amor. Veja mais aqui.

MLLE DUMESNILMarie Dumesnil, pseudônimo de Marie-Françoise Marchand (1713-1803), foi uma grande atriz francesa que estreou na Comédie Française, como Clitemnestra, em Iphigénie em Aulide, de Racine. Foi uma das principais intérpretes de Voltaire, de quem fez Mérope (1743), seu maior sucesso. Garrick apreciou com entusiasmo seu talento dramático, fruto mais de instinto e sensibilidade que de estudo. Em 1800, depois de abandonar o teatro, ela publica suas memórias escritas que contem importantes informações sobre declamação. Veja mais aqui.

BLUE GARDÊNIA – O filme Blue Gardênia (A Gardênia Azul, 1953), do cineasta austríaco Fritz Lang (1890-1976), é baseado na história homônima de Vera Caspary, contando a historia de um assassinato sensacional que representa uma imagem da vida norte-americana, quando uma garota ingênua torna-se suspeita desse crime, em mais uma análise das origens do mal. O destaque é para premiada atriz estadunidense Anne Baxter (1923-1985). Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
Sonhando (1985), do artista plástico Siron Franco.

DEDICATÓRIA
A edição de hoje é dedicada à escritora e contadora de história Benita Prieto. Veja aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA 
Veja aqui.

Veja as homenageadas aqui.

E veja mais Mahatma Gandhi, Educação, Michelangelo Antonioni, Vanessa Redgrave, Genesis & Phil Collins, Carlos Zéfiro, Jennifer R. Hale, Maria Luísa Mendonça & muito mais aqui.