quinta-feira, dezembro 17, 2015

PARACELSO, ÉRICO, FELLINI, MÁRIO, BORNHEIM, NEILA BARALDI & 600 MIL BEIJABRAÇÕES PROCÊS!!!!

VAMOS APRUMAR A CONVERSA? 600 MIL BEIJABRAÇÕES PROCÊS!!!! – Há motivo, mas não há momento pra festa, nem pra comemoração. Nem poderia, o Brasil está de cabeça pra baixo e a minha vida está talqualmente Brasília: desgovernada. E como todo mundo só quer ver o circo pegar fogo, melhor guardar os festejos pra momentos propícios, já que o ano todo foi só maré da braba. Entretanto, devo considerar que uma marca alcançada como esta merece pelo menos algum destaque e registro apropriados, não apenas pelo prazer individual ou egoístico, mas pelas pessoas envolvidas e que contribuíram decisivamente para que esse número fosse alcançado. No início do ano, contava apenas com 200 mil visualizações. Em agosto, comemorei os 500 milacessos. Agora, 3 meses depois, já chegou à marca das 600 mil visitas, significando mais de 1 mil visitas diárias a este modesto blog. Essa é a razão pela qual, devo, portanto, registrar que não foi um trabalho apenas desenvolvido por mim, aqui não é um bloco do eu sozinho. Mãos solidárias aqui chegaram e se juntaram voluntariamente para que pudesse chegar a essa conquista. Primeiro, devo expressar minha gratidão aos que em 2002, quando existia ainda a plataforma Weblogger, eu mais perdido que cego em tiroteio, queria ter um espaço na rede do tipo blog – já tinha meu site, mas queria uma plataforma que eu mesmo mexesse sem entender patavina de informática, nem lidar direito com o computador que eu já possuía desde 1997. E não fosse a iniciativa dos amigos Márcio Baraldi, que fez a marca deste blog, e Mariza Lourenço, que planejou e executou toda a estrutura, eu não saberia o que fazer. Para eles, os meus primeiros agradecimentos. Segundo, o trabalho dedicado por mais de quatro anos no apoio gráfico desenvolvido neste espaço pela saudosa e inesquecível Derinha Rocha, fundamental na transformação deste em folheto de cordel, zine, programa de rádio e show musical, inclusive contando com o apoio inestimável das parceiramigas Mirita Nandi e Ana Bia Luz. Terceiro, a parceria apaixonante, determinada e aguerrida nos últimos três anos de quase dedicação exclusiva, integral e entregas corpóreas e anímicas, da queridamada Meimei Corrêa, tornando-se, por isso, a verdadeira responsável pela marca alcançada neste blog que é, na verdade, a meritória para levantar os louros e comemorar vitória. Devo a ela não só essa meta atingida aqui, como nos clipes do YouTube, em todos os trabalhos que desenvolvo e no reconhecimento que meu nome obteve nesses anos de parceria apaixonada. Por fim, evidentemente que nada disso aqui faria o menor sentido se não fosse a presença diária de amigos e amigas que me visitam e prestigiam no meu dia a dia. A partir de agora, trilho o meu caminho, aquele que o Gil nos faz refletir: tem que morrer pra germinar. Principalmente quando se encontra com portas fechadas, esquecendo-se que há um horizonte escancarado do lado de fora. Quem vê portas, não enxerga futuro algum. Além do mais, cada qual tem que assumir o ônus das escolhas! A gente segue em frente, apesar dos pesares, mais determinado que antes, mais perseverante que nunca! A todos, o meu mais afetuoso muito obrigado. E confiram mais aqui e aqui.


Imagem: a arte da artista plástica polonesa Ewa Gawlik.


Curtindo a ópera em dois atos Cleópatra (1789 - Bomgiovanni, 2006), do compositor italiano Domenico Cimarosa (1749-1801), com Franco Piva & Cudade de Adria Phillarmonic Orchestra & Cidade de Adria Chorus, Patricia Morandini, Luca Favaron e Maria Pia Moriyon.

INFLUENCIA DOS ASTROS NA NATUREZA HUMANA – No livro A chave da Alquimia (Tres, 1973), médico, filósofo e místico suíço-alemão Teophrastus Paracelso (1493-1541), destaco o trecho que compreende o Capítulo II – Onde se discute a influência dos astros na natureza humana: Devemos advertir todo médico que as entidades do homem são duas: a entidade do sêmen e a entidade da potência (ens seminis e ens virtutis), que devem reter cuidadosamente e se lembrar no momento oportuno. Neste texto iniciatório do Tratado da Entidade Astral enunciaremos um axioma que consideramos perfeitamente adequado: Nenhum astro do firmamento, seja planeta ou estrela, é capaz de formar ou provocar alguma coisa em nosso corpo, seja a beleza, a cor, a força ou temperamento. Sem dúvida, como foi dita que a entidade astral pode nos prejudicar de diversas maneiras, devo dizer que isso é falso e que já é hora de tirarem dos espíritos esses juízos absurdos baseados na natureza ou na posição das estrelas, que somente podem nos fazer sorrir. Neste ponto vamos nos deter sem haver adiante este discurso contra nossos adversários: primeiro porque a finalidade deste parêntesis não é responder a cada instante a todas as questões que nos apresentam para o que seria necessário uma grande quantidade de tinta e papel, tão grande como a nossa capacidade de contestar, por mais ajudados que estivéssemos pela inspiração e a proteção divina. E em segundo lugar porque, apesar de terem compreendido que os astros não conferem nenhuma propriedade nem natureza individual, continuarão adotando a opinião contrária, baseada no fato de que às vezes, são capazes de nos atacar e nos causar a morte. A verdade é que por não ter nascido sob a influencia de Saturno podemos ter uma vida mais ou menos longa; isto é completamente falso. o movimento de Saturno não afeta a vida de nenhum homem e muito menos a prolonga ou abrevia. Fora isso, ainda que este planeta não tivesse feito sua ascensão na esfera celeste, teriam existido e existiriam homens dotados do caráter deste astro. E igualmente existiriam lunáticos se nunca houvesse existido nenhuma lua na natureza do firmamento. Também não devem acreditar na ferocidade e na crueldade de Marte como responsáveis pela existência e a descendência de Nero, pois uma coisa é que ambas as natureza tenham coincidido nesse ponto e outra coisa é que tenham se misturado ou tomado entre si. Como exemplo do que acabamos de dizer, podemos recordar entre outros o caso de Helena e Vênus. Ambas foram indiscutivelmente da mesma natureza, e sem duvida Helena teria sido adúltera mesmo que Vênus nunca tivesse existido. A isto ainda acrescentaremos que, mesmo Vênus sendo na história muito mais antiga do que Helena, as cortesãs existiram muito antes que uma e outra. Veja mais aqui.

INCIDENTE EM ANTARES – O livro Incidente em Antares (Globo, 1971), do escritor Érico Veríssimo (1905-1975), conta por meio do Realismo Fantástico o incidente que vitimou sete pessoas quando os coveiros se encontravam de greve, provocando o passeio dos defuntos pela cidade, vasculhando a intimidade de parentes e amigos. Da obra destaco os trechos: Afirmam os entendidos que os ossos fósseis recentemente encontrados numa escavação feita em terras do município de Antares, na fronteira do Brasil com a Argentina, pertenciam a um gliptodonte, animal antediluviano, que, segundo as reconstituições gráficas da Paleontologia, era uma espécie de tatu gigante dotado duma carapaça inteiriça e fixa, mais ou menos do tamanho dum Volkswagen, afora o formidável rabo à feição de tacape ricado de espigões pontiagudos. Calcula-se que durante o Pleistoceno, isto é, há cerca de um milhão de anos, não só gliptodontes como também megatérios habitavam essa região diabásica da América do Sul, onde – só Deus sabe ao certo quando – veio a formar-se o rio hoje conhecido pelo nome de Uruguai. Ignora-se, todavia, em que época da Era Cenozóica surgiram naquela zona do Brasil meridional os primeiros espécimes do Homo sapiens. Tudo nos leva a crer, entretanto, que esse problema jamais tenha preocupado os antarenses. O que até hoje ainda os deixa ocasionalmente irritados é o fato de cartógrafos, não só estrangeiros como também nacionais, n|o mencionarem nunca em seus mapas a cidade de Antares, como se São Borja fosse a única localidade digna de nota naquelas paragens do Alto Uruguai. De pouco ou nada têm servido os memoriais assinados pelo Prefeito Municipal, pelos membros da Câmara de Vereadores e por outras pessoas gradas e repetidamente dirigidos ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, protestando contra a acintosa omissão. O Pe. Gerôncio Albuquerque, quando ainda vigário da Matriz local, mais de uma vez encaminhou, mas em vão, idêntica reclamação ao Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, do qual era membro correspondente. No entanto a verdade clara e pura é que, a despeito da má vontade ou da ignorância dos fazedores de cartas geográficas, a cidade de Antares, sede do município do mesmo nome, lá está, visível e concreta, à margem esquerda do grande rio. O incidente que se vai narrar, e de que Antares foi teatro na sexta-feira 13 de dezembro do ano de 1963, tornou essa localidade conhecida e de certo modo famosa da noite para o dia – fama um tanto ambígua e efêmera, é verdade – não só no Estado do Rio Grande do Sul como também no resto do Brasil e mesmo através de todo o mundo civilizado. Entretanto, esse fato, ao que parece, não sensibilizou até agora geógrafos e cartógrafos. Tão insólitos, lúridos e tétricos – e estes adjetivos foram catados no artigo alusivo àquele dia aziago, escrito pelo jornalista Lucas Faia para o seu diário A Verdade, porém jamais publicado, por motivos que oportunamente serão revelados – tão fantásticos foram esses acontecimentos, que o Pe. Gerôncio chegou a exclamar, dentro de seu templo, que aquilo era o começo do Juízo Final. Nesse momento de susto e angústia coletiva, um cético gaiato, desses que costumam menosprezar a terra onde nasceram e vivem, murmurou: “A troco de quê Deus havia de começar o Juízo Final logo neste cafundó onde Judas perdeu as botas?” Bem, mas não convém antecipar fatos nem ditos. Melhor será contar primeiro, de maneira tão sucinta e imparcial quanto possível, a história de Antares e de seus habitantes, para que se possa ter uma idéia mais clara do palco, do cenário e principalmente das personagens principais, bem como da comparsaxia, desse drama talvez inédito nos anais da espécie humana. [...] Quando o Brasil entrou em guerra com o Paraguai, Vacarianos e Campolargos enrolaram os seus estandartes tribais e, à sombra da bandeira do Império, lutaram juntos contra a “indiada de Solano Lopes”. Chico Vacariano queixou-se-. “Só não me agrada é que desta vez temos castelhanos peleando de nosso lado”. Referia-se às forças da Argentina e da República Oriental do Uruguai, que haviam formado com o Brasil a Tríplice Aliança, para enfrentar o temível ditador paraguaio. Como Anacleto e Francisco tivessem já passado da idade militar, cada um deles mandou dois de seus filhos alistarem-se como Voluntários da Pátria. A guerra durou de 1865 a 1870. Foram tempos de tristeza, apreensões e durezas para os habitantes de Antares. Só depois que a campanha terminou é que chegou à vila a notícia de que Antônio Maria, o primogênito de Chico Vacariano, havia tombado morto na batalha de Lomas Valentinas. Os dois Campolargos voltaram vivos mas estropiados. Benjamim, o mais velho, que havia perdido um olho num combate corpo a corpo, trazia as divisas de major e uma medalha militar. Seu irmão Gaudêncio tivera de amputar um braço. Antão Vacariano, que deixara a mão esquerda enterrada em solo paraguaio, voltara feito coronel e também condecorado por atos de bravura. Foram esses três antarenses recebidos em sua terra com honras de heróis. Cada qual contava as suas estórias da campanha – algumas horripilantes, outras pitorescas e até jocosas. Num ponto, porém, Benjamim Campolargo e Antão Vacariano discordavam. É que cada um deles reclamava para si a dúbia glória de ter matado com um pontaço de lança o ditador Solano Lopes, na batalha de Cerro-Corá. A História, porém, desmentiu ambos. [...] Veja mais aqui.

O POETA COME AMENDOIM & EU SOU TREZENTOS – No livro Poesias completas (Martins, 1955), do escritor Mario de Andrade (1893-1945), destaco inicialmente o poema O poeta come amendoim: Noites pesadas de cheiros e calores amontoados... / Foi o sol que por todo o sítio imenso do Brasil / Andou marcando de moreno os brasileiros. / Estou pensando nos tempos de antes de eu nascer... / A noite era pra descansar. As gargalhadas brancas dos mulatos... / Silêncio! O Imperador medita os seus versinhos. / Os Caramurús conspiram na sombra das mangueiras ovais. / Só o murmurejo dos cre'm-deus-padres irmanava os homens de meu país... / Duma feita os canhamboras perceberam que não tinha mais escravos, / Por causa disso muita virgem-do-rosário se perdeu... / Porém o desastre verdadeiro foi embonecar esta república temporã. / A gente inda não sabia se governar... / Progredir, progredimos um tiquinho / Que o progresso também é uma fatalidade... / Será o que Nosso Senhor quiser!... / Estou com desejos de desastres... / Com desejos do Amazonas e dos ventos muriçocas / Se encostando na cangerana dos batentes... / Tenho desejos de violas e solidões sem sentido / Tenho desejos de gemer e de morrer. / Brasil... / Mastigado na gostosura quente do amendoim... / Falado numa língua corumim / De palavras incertas num remeleixo melado melancólico... / Saem lentas frescas trituradas pelos meus dentes bons... / Molham meus beiços que dão beijos alastrados / E depois semitoam sem malícia as rezas bem nascidas... / Brasil amado não porque seja minha pátria, / Pátria é acaso de migrações e do pão-nosso onde Deus der... / Brasil que eu amo porque é o ritmo do meu braço aventuroso, / O gosto dos meus descansos, / O balanço das minhas cantigas amores e danças. / Brasil que eu sou porque é a minha expressão muito engraçada, / Porque é o meu sentimento pachorrento, / Porque é o meu jeito de ganhar dinheiro, de comer e de dormir. E também o poema Eu Sou trezentos: Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta, / As sensações renascem de si mesmas sem repouso, / Ôh espelhos, ôh! Pirineus! ôh caiçaras! / Si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro! / Abraço no meu leito as milhores palavras, / E os suspiros que dou são violinos alheios; / Eu piso a terra como quem descobre a furto / Nas esquinas, nos táxis, nas camarinhas seus próprios beijos! / Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta, / Mas um dia afinal eu toparei comigo... / Tenhamos paciência, andorinhas curtas, / Só o esquecimento é que condensa, / E então minha alma servirá de abrigo. Veja mais aqui e aqui.

TEATRO POPULAR – No livro Teatro: a cena dividida (L&PM, 1983), do filósofo, professor e crítico de teatro brasileiro Gerd Bornheim (1929-2002), destaco o trecho Sobre o teatro popular: A determinação do que seja popular em teatro tornou-se tão complicada em nosso tempo, que não poucos dramaturgos e diretores de cena viram-se obrigados a reinventar as suas atividades como que a partir de um ponto zero, introduzindo o elemento popular à maneira de uma novidade ou de uma descoberta que, esquecida pela tradição mais recente, deveria reconquistar o lugar que sempre lhe coubera. E é aí que começam a despontar os problemas. Pois se se pretende que o caráter popular do teatro lhe pertence de modo congênito, que constitui sua dimensão por assim dizer natural, - e que as origens e o passado do teatro atestam que essa tese nem poderia deixar de ser abonada – cabe acrescentar que ela é válida, sem dúvida, mas para o passado, apenas para o passado. Não me refiro aqui a uma suposta falta de casas de espetáculo ou ao enganoso problema da ausência de pública, mas de uma certa ruptura que terminou por impor-se, sub-repticiamente, desligando a vida teatral do solo popular em que sempre medrara, desde as origens gregas até a “barbárie” de Shakespeare. O primeiro sintoma importante dessa ruptura pode ser visto no desconforto com que Rousseau assistia aos espetáculos da época, que o levavam a sonhar com os gregos e a preconizar festas populares de índole autenticamente nacional. Essa nostalgia das raízes populares indica bem o lugar em que aconteceu a ruptura: seu surto se faz notar com a ascensão da burguesia, e, ao que tudo deixa presumir, sua superação liga-se à decadência dessa mesma burguesia [...]. Veja mais aqui e aqui.

LA STRADA – O filme La strada (A estrada da vida, 1964), dirigido pelo cineasta italiano Federico Fellini (1829-1993), conta a história de uma jovem mulher crédula, que descobre que sua irmã morreu, e que vai tomar o lugar dela com um artista de rua itinerante, rude e brutal, ensinando-a a tocar tambor e trompete, dançar e se tornar palhaço para o pública. A partir de então uma série de acontecimentos vão mudar completamente o modo de vida da jovem, num filme neorrealista que retrata a Itália do pós-guerra, decadente e pobre. O filme tornou-se um dos mais influentes de todos os tempos, ganhando diversos prêmios e sendo inserido na lista dos melhores filmes do cinema. O destaque vai para a atriz italiana Giulietta Masina. Este, portanto, para mim, o mais encantador de todos os filmes desse genial cineasta que acompanho toda obra desde que vi pela primeira vez o filme Amarcord, filme que marcou a minha vida e me fez conhecer autor tão importante do cinema mundial. Veja mais aqui e aqui.

IMAGEM DO DIA:
Capa do litro Moro num país tropicaos (Publisher, 2002) e a arte do cartunista Marcio Baraldi.

DEDICATÓRIA
A edição de hoje é dedicada à escritora, jornalista e atriz de teatro, cinema e televisão, Neila Tavares. Veja aqui , aqui e aqui.