sexta-feira, dezembro 25, 2015

CORAÇÕES SOLITÁRIOS, BHARATA, NEWTON, WORDSWORTH, CASTAÑEDA, CLAUDIA TELLES & MUITO MAIS!!!!

VAMOS APRUMAR A CONVERSA? CORAÇÕES SOLITÁRIOS - É Natal. Da janela, o meu minúsculo mundo se reduz a telhados, ruas, janelas, antenas e a imensidão de nuvens sem estrelas e lua – cadê o céu? -, no mais, a minha solidão. E ela é insuportável, tornando a noite em uma grande odisseia com suas luzes, sirenes, amores desfeitos, desejos adiados. O trâmite da solidão. Na solidão noturna, os olhos e ouvidos atentos, a sensibilidade à flor da pele e a constatação de que tudo é transitório, só que recomponho minhas lacunas por todas minhas errâncias e interstícios, e sinto a chuva, os trovões e relâmpagos que não me deixam sair de casa. Ah, preciso sair só – cantarolando Lenine -, fechar a porta e cair na cidade, andar sem saber de nada, viver o imprevisível. Bordejar nas calçadas com olhar distraído para ver que a cidade é a mesma e muda a cada momento, embora a mesma vizinhança, os prédios, árvores, as plantas que colorem os jardins, os vasos nas janelas e varandas, os pedestres que vão e vem pelas poças, meio fio e triz. E o trânsito me atordoa com os seus luminosos, tapumes, terrenos baldios e quase tropeço em mendigos no meio das demolições, da fachada em reforma, do desnível no acesso da padaria da esquina, nos paralelepípedos dos blocos residenciais, a topada no gelo baiano, o medo do assalto, as balas perdidas, as festas animadas, os cartazes de cinema, a linda moça que passa belamente vestida e triste, o teatro fechado, as filas nos restaurantes, os indesejáveis que nos rondam, o casarão quase demolido, o arranha-céu abandonado, o filme que não assisti, o asfalto esburacado, a calçada cheia de cascalhos, a erosão, a corrosão de tudo, os apodrecimentos nas impressões, o caminhão do lixo quebrando o silêncio, a conversa boba. Nos vãos da noite posso sentir o desgaste do tempo e que aqui tudo é passado. Preciso ir adiante, sou transeunte nessa a cidade que guardei na memória e me esqueci, só quando revejo para ver-lhe não mais a mesma e que até nem reconheço, como do que não me lembro e se parece novo. É nela que coabito apenas com minhas lembranças e finitude. Ah, já que não posso sair, pelo menos uma assombração aparecesse para quebrar essa monotonia. Ou quem dera voar e estar por todos os lugares e perceber o quão a realidade é invertida e que, por isso, poderia sanar a ausência e desdém. Poderia olhar em volta, com o ensimesmamento de ter ao mesmo tempo a sensação de platitude, de ubiquidade, dos interstícios, da incomunicabilidade, do vazio. Ah, mas eu preciso encontrar um coração solidário nessa hora. Não posso ir à rua, os solitários estão na Rede, acessar a internet e sacar no meio de muita veleidade em exposição, muita frivolidade narcisista, alguma mão amiga que entoe comigo Entrega. Preciso de alguém acessível e que como eu não tenha temores nem rubores para expor a alma nua, mais interativa para preencher minhas lacunas e repaginar minhas ideias e pensamentos. Tudo é muito instantâneo, descartável. Ler um livro talvez seja melhor. Assim, quem sabe, eu possa viajar por outras paragens mais divertidas e reconhecer-me entre os protagonistas e coadjuvantes numa aventura errante sem que me cobre culpa ou arrependimento. É sim, é melhor. Então veja as dicas abaixo e aprume, depois, a conversa aqui.

PICADINHO


Imagem: A mulher nua, da artista plástica Cristina Salgado.

Curtindo a Laureate Series Guitar (1995), da violonista grega Elena Papandreou.

EPÍGRAFE – Do sábio grego Hipócrates: Ad extremos morbos, extrema remedia exquisite optima. Tradução: A grandes males, grandes remédios. Veja mais aqui e aqui.

A BELA SOBRINHA PREDILETA DE NEWTON – O físico e matemático inglês Isaac Newton (1642-1727) convivia com uma belíssima sobrinha, a espirituosa, brilhante e inteligente Catherine Barton Conduitt (1679-1739), que foi a responsável por espalhar a lenda da maçã que lhe caiu sobre a cabeça para criar a teoria da gravitação. Essa sobrinha não só atraiu a atenção do tio, como de pessoas famosas como Janathah Swift e Voltaire. Segundo este último, Newton  encontrava nela uma útil auxiliar para a satisfação de suas ambições, ao mencionar que: “Quando eu era moço, imaginava que a corte e a cidade de Londres haviam nomeado Isaac Newton diretor da Casa da Moeda por aclamação. Mas enganava-me. Ele tinha uma sobrinha encantadora... a sobrinha agradava muito ao chanceler do erário... o cálculo infinitesimal e a gravitação, de nada teriam servido a Newton sem uma linda sobrinha”. Também é fluente que graças aos encantos de sua sobrinha, Newton recebeu o título de cavaleiro e foi introduzido na sociedade do Príncipe Consorte. Veja mais aqui e aqui.

O HOMEM E O PÓS-HOMEM – No artigo Membranas e interfaces (Que corpo é esse? Mauad, 1999), da doutora em Comunicação e Cultura pela UFRJ e professora pesquisadora, Fernanda Bruno, encontro que: As novas potencias dos homens contemporâneos parecem estar marcando uma ruptura, que muitos começam a apontar como o fim da humanidade (seja celebrando-o ou condenando-o) e o início de uma era: a pós-modernidade. Pois somente agora a criatura humana passaria a dispor, de fato, das condições técnicas necessárias para se autocriticar, tornando-se um gestor de si na administração do seu próprio capital privado e na escolha das opções disponíveis no mercado para modelar seu corpo e sua alma. Outro corte radical emerge da dissolução das velhas fronteiras entre o organismo natural – o corpo biológico – e os artifícios que a tecnociência coloca nas mãos do novo demiurgo humano para que ele conduza sua pós-evolução, não apenas em nível individual como também quanto à espécie, hibridizando-se com as diversas próteses bioinformáticas que já estão à venda. Veja mais aqui.

A ERVA DO DIABO - No livro A erva do diabo (Record, 1968), do escritor e antropólogo estadunidense Carlos Castañeda (1925-1998), destaco o trecho: Resolvi fazer uma última tentativa. Levantei-me e, devagar aproximei-me do lugar marcado pelo paletó e tornei a sentir a mesma apreensão. Dessa vez, fiz um grande esforço para me controlar. Sentei-me e depois ajoelhei-me para deitar de bruços, mas, a despeito de minha vontade, não consegui deitar-me. Pus as mãos no chão em frente de mim. Minha respiração estava ofegante; meu estômago estava embrulhado. Tive uma nítida sensação de pânico, e lutei para não fugir. Pensei que talvez DomJuan me estivesse vigiando. Devagar, rastejei até o outro ponto e encostei as costas na pedra. Queria repousar um pouco para arrumar as ideias, mas adormeci. Ouvi Dom Juan falando e rindo por cima de minha cabeça. Acordei.- Você encontrou o ponto – disse ele. A principio, não entendi, mas ele me garantiu de novo que o lugar em que eu adormecera era o ponto certo. Tornou a me perguntar como é que eu me sentia deitado ali. Respondi que realmente não notava nenhuma diferença. Disse-me que comparasse minhas sensações daquele momento com o que eu tinha sentido deitado no outro ponto. Pela primeira vez, ocorreu-me que eu não poderia explicar minha apreensão da noite. Incitou-me, numa espécie de desafio, a me sentar no outro ponto. Por algum motivo explicável eu chegava a ter medo do outro lugar, e não me sentei lá. Declarou que só um tolo podia deixar de perceber a diferença. Perguntei-lhe se cada um dos dois pontos tinha um nome especial. Ele disse que o mero chamado o sitio e o mau o inimigo: disse que os dois lugares era marca do bem-estar do homem, especialmente para uma pessoa que buscava o conhecimento. [...]. Veja mais aqui.

A CEIFEIRA SOLITÁRIA & OUTROS POEMAS – No livro The Laurel Poetry Series (Dell Publishing, 1960), do poeta romântico inglês William Wordsworth (1770-1850), destaco inicialmente A ceifeira solitária: Só ela no campo vi: / solitária de altas serras, / ceifa e canta para si. / Não digas nada, que a aterras! / Sozinha ceifa no mundo / E canta melancolia. / Escuta: o vale profundo / Transborda à de harmonia. / Nunca um rouxinol cantou / em sombras da Arábia ardente / ao que exausto repousou / mais grata canção dolente; / ou gorjeio tão extremado / se escutou na Primavera, / cortando o Oceano calado / entre ilhas de Além-Quimera. / Quem me dirá do que canta? / Será que o que ela deplora / é antigo, triste e distante, / como batalhas de outrora? / Ou coisas simples são / do quotidiano viver? / Essas dores de coração, / que já foram e hão-de ser? / Seja o que for que cantara / é como infindo cantar, / que a vi cantando na seara, / no trabalho de ceifar. / Sem falar, quieto, eu escutava / e, quando o monte subia, / no coração transportava / o canto que não se ouvia. Também o poema sem título: A poesia é o transbordamento espontâneo de sentimentos intensos: tem a sua origem na emoção recordada num estado de tranquilidade. Também um segundo poema sem título: A verdadeira beleza vive em refúgios profundos, cujo véu é irremovível, até que coração e coração em concordância batam. E o amor é amado. Veja mais aqui.

O TEATRO NO BHARATA – No épico da mitologia hindu Ramáiana denominado Bharata (Natya Çastra), na tradução de Renê Daumal, encontro que: [...] Brahmâ disse ao Fazedor-de-todas-as-Coisas, voltando-se para ele: “Constroi uma casa para o Teatro, de acordo com as regras canônicas, ó Grande-inteligência!”. E, sem perder tempo, o Fazedor-de-todas-as-Coisas construiu uma sala de teatro, clara, grande, de acordo com todas as figuras canônicas. Foi à torre do Construtor, mãos juntas e disse-lhe: “A sala de teatro está pronta, senhor; digna-te poisar nela o teu olhar”. Então, com o grande Indra e todos os outros Deuses, o Construtor apressou-se a vir ver o templo do teatro. A seguir o Grande-Pai disse aos Deuses reunidos: “Fazei um sacrifício ritual neste tempo de teatro”. [...] O teatro descreve as manifestações deste Triplo mundo total. Descreve que a lei, quer o jogo, quer a riqueza, a quietude, o riso, a guerra, a paixão, quer a morte violenta. A Lei para os que o seguem, paixão para os que a ele se entregam, a disciplina dos que se comportal mal, exemplo para aqueles que se sabem conduzir. Veja mais aqui.

FILME DE AMOR – O longa-metragem Filme de amor (2003), do diretor Júlio Bressane, coloca em cena o mito da três graças – o Amor, A Beleza e o Prazer, onde duas mulheres e um homem dão um intervalo em suas vidas de cotidiano medíocre para um hiato de alegria, paixão, libertação e transcendência. No mito original são três mulheres, Tália, Abgail e Eufrosina, mas Bressane optou por escalar um homem levando em conta esses “novos tempos híbridos e heterogêneos”; e no filme eles encarnam os personagens Hilda, Matilda e Gaspar sob a lente Bressaniana. São três amigos que vivem no subúrbio e que decidem se encontrar em um pequeno apartamento num final de semana, com o objetivo de beber, conversar, sentir prazer e, principalmente, estarem juntos. Lá eles entram num estado de sonho, devido à embriaguez, que os leva a esquecer o que ocorre fora do apartamento. O destaque do filme vai para a atriz Josie Antello, especialmente naquela cena que ela sai completamente nua da banheira. Imperdível. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
Charge do escritor, cartunista, tradutor, roteirista e autor teatral Luis Fernando Veríssimo. Veja mais aqui.

DEDICATÓRIA
A edição de hoje é dedicada à cantora e compositora Claudia Telles. Veja aqui.

AS PREVISÕES DO DORO PARA 2016
Confira aqui.

CRÔNICAS NATALINAS 
Confira aqui.

LEITORA TATARITARITATÁ