quinta-feira, outubro 22, 2015

SHAKESPEARE, LEILA, LEARY, LISZT, LISLE, STIEPEVICH, FECAMEPA, CANGAÇO & CORONELISMO.


VAMOS APRUMAR A CONVERSA? DA HISTÓRIA DO BRASIL PRO FECAMEPA – Tudo começou em meados dos anos 1970, cursava eu o colegial, quando matutei em saber qual a relação da minha cidade natal, Palmares (PE), com os Quilombos dos Palmares e a saga de Zumbi. Foi aí que me aboletei de vez na familiar biblioteca do meu pai, então professor de História, e lá começar o que até hoje mantenho por propósito. Tive, então, acesso às obras de Florestan, Sérgio Buarque, Pereira da Costa, Gilberto Freire, Nelson Sodré, Décio Freitas, Rocha Pombo, Pedro Calmon, Afrânio Coutinho e muitos outros, procurando um norte. Eu queria mesmo era um mote pra glosar. Mas como poetastro só bota verso bom a perder, fiquei na minha: quem não sabe poetar, procura prosear como pode. Ampliava as minhas leituras com outras investidas no acervo da legendária Biblioteca Pública Fenelon Barreto, local que eu recebia a acolhida materna da professora Jessiva Sabino de Oliveira. Nessa época me caiu às mãos o Febeapá, de Stanislaw Ponte Preta e lá estava eu dividido entre a Literatura e a História. No meio de tudo isso surge a marcante presença de um dos meus inesquecíveis professores: o sociólogo Erivam Felix Vieira. Figura chave para o pouco de sanidade que tenho e que presta. Compreendendo o meu açodamento de quem não tinha ainda tirado direito a catinga do mijo e que, mesmo assim, já me achava sujeito de nariz empinado e cheio das pregas, ele foi paciente e sabiamente conduzindo minhas tresloucadas intervenções. Com as leituras esclarecedoras, refiz contatos e conversas demoradas com meu professor do ginasial, professor Brivaldo Leão, dando-me a constatação de que muita coisa ainda faltava ser contada na História do Brasil. Na verdade, fiquei naquela de que não havia sido bem assim o que tinha aprendido na escola até então. Fui buscar nas bibliotecas do Recife um horizonte maior, o que me motivou, já nos anos 1980, a assumir a coordenação de Estudos e Pesquisas, da Fundação Hermilo Borba Filho, na gestão do poetamigo Juareiz Correya. Alguns anos depois, na Faculdade de Direito, encontro o professor e também sociólogo Ivan Brandão que me dá outros nortes pra seguir nas pesquisas. E para me provocar mais, ganho da amiga Dora Melo, o livro Aos trancos e barrancos, do Darcy Ribeiro. Décadas se passaram persistindo nas pesquisas e a minha insatisfação ia crescendo. Sem a menor formação na área de História e muito menos talento literário para tanto, me vi nos anos 2000 complemante tomado por uma verve do tipo Sérgio Porto e arrotando mais que o descabido, a publicar os garranchos dos meus rascunhos em sites da internet, até ser convidado a fazê-lo numa revista impressa e eletrônica, Ultra Portal, que circulava semanalmente em São Paulo, abrindo espaço para sapecar os meus escritos. Nascia a ideia de escrever o Festival de Cagadas Melando o País (Fecamepa). Era uma brincadeira que foi virando um volume bem raçudo, justo por minha mania de grandeza de querer escrever crônicas que evidenciassem desde a chegada dos portugueses até o apagar das luzes do governo FHC. Coisa de quem não tem o que fazer mesmo. Além do mais, era uma trajetória enorme para meu pouco fôlego. Mas fiz, na verdade, mais brincadeira irresponsável que qualquer outra coisa. O que vale de mesmo é a certificação daquela minha dúvida de adolescente: muita coisa ainda precisava e precisa ser contada na História do Brasil. De minha parte, na vera, acho que a nossa história deveria ser realmente reescrita, porque o que há de predominante é apenas a história dos vencedores. É certo que a partir de 1988, muita coisa saiu dos porões da censura e da opressão tanto do esquecimento como da injustiça. Porém, não o bastante divulgado, muito menos suficientemente debatido de forma aprofundada. Precisamos mesmo é pesquisar profundamente o Brasil para conhecê-lo de verdade. E para minha satisfação recebo agora o livro Coronelismo e cangaço no imaginário social, do professor e sociólogo Erivam Felix Vieira, que destaco abaixo e que acrescenta substancialmente às minhas ideias da gente ter que descobrir o Brasil de verdade. E vamos aprumar a conversa aqui e aqui

 Imagem: Reclining nude, do artista plástico russo Vincent Stiepevich (1841 – 1910).


Curtindo Liebesträume and The Songbooks - Complete Music For Solo Piano (1850 - Hyperion Records, 1993), do compositor erudito húngaro Franz Liszt (1811-1886), com o pianista australiano Leslie Howard. Veja mais aqui e aqui.

CORONELISMO E CANGAÇO – O livro Coronelismo e cangaço no imaginário social (Autor, 2013), do sociólogo Erivam Felix Vieira, aborda o cangaço e a sua força simbólica, o sertão e o poder dos coronéis, coiteiros e volantes, o universo imaginário social do cangaço e a construção mítica do cordel nordestino. Da obra destaco o trecho: As elites constroem uma versão da realidade que favorece os interesses do grupo dominante da época. O caso do cangaço é apenas um entre os vários fatos históricos que foram distorcidos. Lampião e os seus comandados ousaram desafiar a estrutura reacionária e decadente do poder, assim como Zumbi dos Palmares, Antonio Conselheiro, João Cândido, Luiz Gama, Gregório Bezerra, entre tantos outros. A historiografia oficial fez a sua interpretação firmada em modelos teóricos pré-estabelecidos, de forma maniqueísta, em que o conflito entre as formas constituídas e o cangaço é apresentado como um reflexo da luta entre o bem e o mal, satisfazendo os interesses dos dominadores. Temos a responsabilidade de não apenas preservar a nossa história como também repudiar embustes que maculem, se contrapondo às pesquisas realizadas com o rigor científico, que tão sabiamente o fizeram alguns de nossos eméritos pesquisadores de tal fenômeno. Resta-nos, pois, reinterpretarmos a nossa história sem pretendermos que o nosso quadro de referencia seja o único dentro do qual as resposta possam ser encontradas. Apesar dos conhecimentos disponíveis, correremos o risco de conseguirmos apenas vislumbrar reflexos distorcidos da realidade, igualmente aos da caverna de Platão. Consequentemente, o discurso científico não pode fechar-se, considerando-se perfeito ou acabado, mas apenas um discurso em construção, buscando novos olhares e ideais. Este discurso deve ser considerado apenas como um meio e não como o único meio de legitimação e acesso à verdade. O reconhecimento desse papel é mais do que uma necessidade, é uma autentica luta que se impõe em nome da história, da verdade e do próprio pesquisador. Cabe-nos então o dever de resgatar e reafirmar o compromisso com a verdade histórica, retirando-a da redoma da ignorância, sem o temor do confronto de ideais. Sem esse compromisso com a verdade, estaremos contribuindo para mais outro período de obscuridade e de atraso no campo histórico e social. Diante de tais constatações, supomos que a relevância desse compromisso consiste na importância que pode ter, não exclusivamente para reinterpretar a história do cangaço, mas, especialmente, repensar os procedimentos convencionais e poder observar o que nos cerca sob múltiplas perspectivas. Isto, simbolicamente, evoca a discussão daqueles que estão abertos à dimensão enigmática dos fenômenos sociais. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

VISÕES SEXUAIS – O livro A experiência psicodélica: um manual baseado no livro tibetano dos mortos (Citadell, 1964), do escritor, psicólogo e militante estadunidense Timotthy Leary (1920-1996), em parceria com Ralph Metzner e Richard Alpert, trata sobre Evans-Wentz, Carl Gustav Jung, Lama Anagarika Govinda, o livro tibetano dos mortos, Chikhai Bardo, Chonyid Bardo, Sidpa Bardo, comentários técnicos sobre sessões psicodélicas, instruções para uso durante uma sessão psicodélica, sintomas físicos, fluxo interior de processos arquetípicos, meditação sobre o Buda, bons jogos, ilusão, vazio, entre outros assuntos. Da obra destaco o trecho Visões Sexuais: Visões sexuais são extremamente frequentes no terceiro bardo. Você pode imaginar machos e fêmeas copulando. [De acordo com Jung (“Comentário Psicológico” ao Livro tibetano dos Mortos, edição de Evans-Wentz, p. XIII), “a teoria de Freud é a primeira tentativa feita no ocidente para investigar, como que a partir de baixo, a partir da esfera animal do instinto, o território psíquico que corresponde no Lamaísmo Tântrico ao Sidpa Bardo.” A visão aqui descrita, na qual a pessoa vê mãe e pai em intercurso sexual, corresponde ao “cenário primal” na psicanálise. Neste nível, então, começamos a ver uma notável convergência das psicologias oriental e ocidental. Note também a correspondência exata da teoria psicanalítica do Complexo de Édipo.] Esta visão pode ser interior ou envolver as pessoas ao seu redor. Você pode ter alucinações de orgias multipessoais e experimentar tanto desejo quanto vergonha, atração e repugnância. Você pode perguntar-se sobre que performance sexual é esperada de você e ter dúvidas acerca de sua capacidade de desempenhá-la nesse momento. Quando as visões ocorrerem, lembre-se de apartar-se da ação ou do apego. Tenha fé e flutue gentilmente com o fluxo. Confie na unidade da vida e em seus companheiros. Se você tentar entrar no antigo ego porque está atraído ou sentindo repulsa, se você tentar juntar-se ou escapar da orgia que está alucinando, você reentrará num nível animal ou neurótico. Se você ficar cônscio da “virilidade”, ódio em relação ao pai, juntamente com ciúmes em relação à mãe serão experimentados; se você se tornar cônscia da “feminilidade”, ódio da mãe juntamente com atração e carinho pelo pai serão experimentados. Talvez seja dispensável dizer que este tipo de sexualidade auto-centrada tem pouco em comum com a sexualidade das experiências transpessoais. União física pode ser uma manifestação da união cósmica. Visões de união sexual podem às vezes ser seguidas por visões da concepção – você pode realmente ver o esperma se unido ao óvulo –, da vida intra-uterina e do nascimento a partir do útero. Algumas pessoas dizem ter revivido seu próprio nascimento físico em sessões psicodélicas e ocasionalmente foram postas evidências confirmando essas alegações. Se é assim ou não é uma questão a ser deixada para ser decidida por evidências empíricas. Às vezes as visões do nascimento serão claramente simbólicas – por exemplo, emersão de um casulo, sair de uma concha etc. Se a visão do nascimento é construída da memória ou se da fantasia, o viajante psicodélico deve tentar reconhecer os sinais indicadores do tipo de personalidade que está renascendo. Veja mais aqui.

O SONO DE LEILÁ & OUTROS POEMAS – No livro Poemas e poesias (1855), do poeta francês Leconte de Lisle (1818-1894), destaco inicialmente O sono de Leilá: Calmo estio; a água viva não murmura, / Nem ave alguma as asas bate, arisca; / Apenas, leve, o bengali belisca / Da rubra manga a polpa áurea e madura; / No parque real, à sombra verde-escura / Das latadas, a lânguida mourisca / Leilá repousa à sesta... O sol faísca / Num céu de chumbo ardente, que fulgura... / Oprime o rosto o braço contrafeito; / O âmbar do pé sem meia, docemente, / Colora as malhas do pantufo estreito; / Dorme e sonha e, sorrindo, o amante chama, / O lábio a abrir - fruto aromado e quente, / Que o coração refresca e a boca inflama. Também o poema O beija-flor: O verde beija-flor, rei das colinas, / Vendo o rocio e o sol brilhante / Luzir no ninho, trança d'ervas finas, / Qual fresco raio vai-se pelo ar distante. / Rápido voa ao manancial vizinho, / Onde os bambus sussurram como o mar, / Onde o açoká rubro, em cheiros de carinho, / Abre, e eis no peito úmido a fuzilar. / Desce sobre a áurea flor a repousar, / E em rósea taça amor a inebriar, / E morre não sabendo se a pode esgotar! / Em teus lábios tão puros, minha amada, / Tal minha alma quisera terminar, / Só do primeiro beijo perfumada! Por fim o poema A morte dum leão: Ávido do ar livre era um velho caçador / Ao sangue negro dos bois habituara-se / E do alto as planícies e o mar a contemplar. / No inferno vagando como um réprobo, / Desta multidão pro prazer estéril / Na janela de ferro andando pra lá e prá cá, / A rude cabeça contra dois tabiques batendo. / O infausto destino, por fim, agora consumado: / De beber e comer bruscamente cessou, / E a alma vagabunda a morte levou-lhe. / Oh, coração, pela revolta sempre atormentado, / O qual, arquejante, pra janela do mundo regressas, / Covarde, por que não ages como o fez este leão? Veja mais aqui.

A COMÉDIA DOS ERROS – A farsa A comédia dos erros (The Comedy of Errors, 1594), do poeta, dramaturgo e ator inglês William Shakespeare (1564-1616), conta a história do comerciante Egeu que é condenado à morte em Éfeso por violar a proibição de andar a fronteira entre as duas cidades medievais. Enquanto é conduzido para sua execução, diz ao duque de Éfeso, Solino, que veio a Siracusa em busca de sua esposa e de seus filhos e servos gêmeos de quem fora separado há 25 anos por ocasião de um naufrágio. O duque movido pela narrativa de Egeu, concede a ele um dia para levantar o resgate de mil marcos que seria necessário para conservar sua vida. Dá-se a partir daí uma sucessão de mal-entendidos. Da obra destaco o trecho inicial: ATO I Cena I (Uma sala no palácio do duque. Entram o duque, Egeu, carcereiro, oficiais e séqüito). EGEU - Vamos, Solino; apressa a minha queda; de mim, com a morte, este martírio arreda. DUQUE - Cala-te, mercador de Siracusa; parcial não posso ser no que respeita à aplicação da lei. A inimizade e a luta decorrente dos ultrajes inomináveis que, de pouco, o vosso duque infligiu aos nossos compatriotas, honrados mercadores que, por falta de florins com que as vidas resgatassem, selaram seus decretos ominosos com o próprio sangue, excluem qualquer réstia de piedade de nosso olhar terrível. Desde os mortais conflitos intestinos, surgidos entre os vossos compatrícios sediciosos e nós, foi decretado em sínodos solenes, não só pelos siracusanos como por nós próprios, que não se admitiria nenhum tráfico entre as duas cidades inimigas. Mais, ainda: se alguém, nascido em Éfeso, em feiras ou mercados fosse visto de Siracusa, ou, ainda, se um nativo siracusano viesse ter ao porto de Éfeso, morreria e seus bens todos seriam confiscados pelo duque, a menos que mil marcos nos pagasse, para se resgatar e ficar livre da pena cominada. Ora, o mais alto cômputo de teus bens escassamente chega a cem marcos. Desse modo te achas, por nossas leis, à morte condenado. EGEU - Consola-me saber que o teu decreto hoje põe fim ao meu viver inquieto. DUQUE - Está bem. Ora quero que nos digas, siracusano, sem rodeio inútil, por que de tua pátria te afastaste e o motivo de estares ora em Éfeso. EGEU - Mais pesada tarefa não podia ser-me imposta do que isso de contar-te minha dor indizível. No entretanto, porque dar testemunho possa o mundo de que meu triste fim não foi causado por falta vergonhosa, mas por puro sentimento paterno, vou dizer-te quanto me permitir minha tristeza. Nasci em Siracusa, onde uma esposa soube escolher, que em mim teria achado toda a felicidade, como eu nela, se não nos fosse adverso o duro fado. Vivíamos felizes; em aumento ia nossa fortuna, por freqüentes e frutuosas viagens que a Epidamno costumava eu fazer. Mas o trespasso do meu feitor, na obrigação premente me pôs de dirigir os bens dispersos, dos braços carinhosos me arrancando de minha terna esposa. Minha ausência não durara seis meses, quando - quase desfalecida pela doce pena da herança feminina - ela já tinha tomado todas as medidas, para se me juntar, havendo sã e salva chegado onde eu me achava. Muito tempo não se passou sem que ela se tornasse mãe de dois belos filhos, de tal modo parecidos – oh fato extraordinário! - que só se distinguiam pelos nomes. Na mesma hora, na mesma hospedaria, uma mulher do povo de igual fardo se livrou, dando à luz dois filhos gêmeos também mui parecidos, que por serem de gente muito pobre eu comprei logo, para que a servir viessem meus dois filhos. Muito orgulhosa de seus dois pimpolhos, falava diariamente minha esposa em voltar para casa. A contragosto fiz-lhe a vontade, mas, ai! muito cedo nos embarcamos. Uma légua viajamos de Epidamno sem que o mar, sempre aos ventos obediente, qualquer trágico indício nos mostrasse de nossa má ventura. Muito tempo, contudo, não ficamos animados, porque o pouco de luz quase apagada que o céu nos enviava, só servia para levar a nossas almas tímidas mensagem certa de uma morte próxima. Eu, de mim, a aceitara alegremente; mas as lamentações de minha esposa, que, à só idéia do perigo imano, chorava sem cessar, e os lastimosos gritos dos dois meninos amoráveis, que por moda choravam, pois não tinham consciência do perigo, me forçaram a procurar adiar o fim de todos, pois outra expectativa era impossível. Ao barco os marinheiros se acolheram, deixando-nos o casco do navio prestes a se afundar. Minha consorte, mais cuidadosa do último nascido, o havia atado a um mastro de reserva de que os marujos sempre andam providos, para enfrentar os temporais desfeitos. A ele um dos outros gêmeos foi atado, enquanto dos demais eu me ocupava. Dispostos desse modo os nossos filhos, eu e minha mulher, fixos os olhos em quem fixo o cuidado sempre tínhamos, nos atamos, também, nas duas pontas do alto mastro, e ao sabor, sempre, das ondas, na direção seguimos de Corinto, conforme Imaginávamos. Por último, a dardejar os raios sobre a terra, desfez o sol a névoa causadora de todo o nosso mal, deixando calmas de novo as ondas, pela ação benéfica de sua luz por que tanto anelávamos o que nos permitiu ver dois navios que para nós, com pressa, velejavam: um de Corinto, de Epídamno o outro. Mas antes de até nós eles chegarem... Oh! Nada mais direi. Deduze o resto, ante o que sabes do meu fado mesto. DUQUE - Adiante, velho! Acaba a tua história. Desperta-nos piedade, muito embora conceder-te perdão seja impossível. EGEU - Oh! Se os deuses assim tivessem sido, agora eu acusá-los não pudera de nos terem tratado cruelmente, pois distantes de nós não se encontravam dez léguas os dois barcos, quando fomos dar de encontro a um penedo imano e a pique, com tal força, que a nossa esperançosa nau se despedaçou, e de tal modo se processou nosso divórcio injusto, que a cada um de nós deixou a Fortuna o com que se alegrar e lastimar-se. A parte em que se achava minha esposa – pobre alma! - ao parecer com menos peso, mas com igual desdita, foi levada com mais velocidade pelos ventos, tendo sido eles três à nossa vista salvos por pescadores de Corinto, conforme então pensamos. Finalmente, a bordo nos tomou outro navio. Ao ficarem sabendo seus marujos a quem haviam salvo por acaso, deram boa acolhida aos pobres náufragos; e a presa, porventura, aos pescadores teriam retomado, se não fosse terem o barco de moroso curso. Por isso, navegaram rumo à pátria. Sabeis agora como eu fui privado de toda a minha dita, como os fados adversos minha vida prolongaram, para eu contar a minha triste história. DUQUE - Agora, pelo amor dos que lastimas, faze-me o obséquio de contar por miúdo tudo o que eles e tu haveis passado. EGEU - Meu caçula, o mais velho nos cuidados, aos dezoito anos revelou desejo de procurar o irmão, tendo insistido junto de mim, para que seu criado - que, como ele, privado também fora de um irmão cujo nome ele levava – nas investigações o acompanhasse. Assim, porque sofria de saudades de meu filho perdido, pus em risco vir a perder o que ainda me restava. Cinco estios passei na extrema Grécia; vasculhei os confins da Ásia distante; e, ao costear, já de volta para a pátria, a Éfeso vim ter, sem esperança nenhuma, é certo, de poder achá-los, mas porque não deixasse inexplorado nenhum lugar capaz de abrigar homens. Da minha vida a história aqui termina. Na morte prematura me julgara muito feliz ainda assim, se ao cabo de tão longas viagens obtivesse a certeza de que eles ainda vivem. DUQUE - Mísero Egeu, que destinado foste para experimentar o grau mais alto de uma vida infeliz! Mas podes crer-me: não fosse ir contra a lei, minha coroa, a própria dignidade, os juramentos - que violar nunca os príncipes se atrevem, muito embora o desejem - neste peito tua causa encontrara um advogado. Mas muito embora condenado te aches e a sentença de morte não me seja possível revocar sem grande dano para nossa honra, vou favorecer-te naquilo que puder. Por essa causa, mercador, eu te dou mais este dia para auxílio amigável angariares, que a vida te resgate. Experimenta os amigos que em Éfeso tiveres. Toma emprestado, pede esmola e vive, depois de perfazeres a quantia. Caso contrário, morrerás; é lei. Deixo-o sob tua guarda, carcereiro. CARCEREIRO - Pois não, milorde. EGEU - Pobre, sem esperança, Egeu só lida para o fim postergar da triste vida. (Saem). [...] Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

FOME DE AMOR – O filme Fome de amor (1968), dirigido pelo cineasta, produtor cinematográfico e roteirista Nelson Pereira dos Santos, é baseado no livro História para se ouvir de noite, do escritor Guilherme de Figueiredo, contando a história de um casal de brasileiros residentes em Nova York e decidem voltar ao Brasil para morar numa ilha, na qual mora outro casal com quem vai surgir uma relação conflituosa e, ao mesmo tempo, sensual. O destaque do filme á saudosa atriz Leila Diniz (1945-1972), que atuou no teatro, cinema e televisão, com um total de 14 filmes, 12 telenovelas e diversas peças teatrais. Ela foi responsável pela quebra de tabus que reprimiam o Brasil, escandalizando com a exibição de sua gravidez de biquíni na praia e chocou o Brasil ao proferir que transava de manhã, de tarde e de noite, culminando com uma bombástica entrevista concedida ao O Pasquim, em 1969. Veja mais aqui, aqui e aqui.

IMAGEM DO DIA
A arte do fotógrafo húngaro Robert Capa (1913-1954).


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