sexta-feira, outubro 30, 2015

POUND, VALÉRY, PERLS, HAHN, CONSUELO DE CASTRO, CHITOVSKY, BRAQUEHAIS, ALDINE & DESPERTAR.


VAMOS APRUMAR A CONVERSA? DESPERTAR - É com o sol da manhã que me voo pro dia que me faz vida. E saboreio poder viver mais um dia e ser-me o que sou pra ser melhor em mim. E sou maior a cada dia, mesmo que não me dê conta disso. Mas sou maior e melhor, apesar de ver-me no charco dos miseráveis. E sinto que sou maior que as coisas que vejo no dia a dia, coisas deprimentes, malsinadas. Sou coisas tristes, então, e fico triste. Sou o noticiário, as manchetes, as tragédias e tudo é muito triste. Quero me libertar disso tudo, mas tudo é muito triste e me deixa ainda mais triste, fragmentado, desvinculado, porque há divisões, dissensões, violência, destruição. A sobrevivência por um prato de comida, a coexistência por um favor a mais, jeitinhos, grifes e o luxo, tudo se amontoa no lixo. E isso me deixa muito mais triste porque na solidão só há indiferença, a força do apego e o poder da possessão. Eu sei, o mundo me deu tudo, conforto, progresso, ambição, mas não me fez feliz, não me autorrealizei porque me rendi a todas as contradições, sou feito de atos pendulares, ora vou, ora volto. E quantas vezes fui e me arrependi. E quantas vezes não fui e me autoflagelei. Ah, meus desencontros. Poderia trocar meus acertos pelos erros e não sei, na prova dos nove, o que valeria, não há retorno, muito embora eu tenha sempre que voltar. E não encontro lugar no mundo para descansar a cabeça, não há esse lugar neste mundo. Oriento-me para emergir de tudo com as duas asas do pássaro na cabeça para a encruzilhada evolutiva. Eu voo. Escolho o meu destino e vou pelo campo no jogo dos espelhos e provando da água de todos os rios. Meu coração é o espelho. Sigo na curva e vivo pelo presente eterno, meu pensamento é ato, um com o universo: silêncio e paz. Uma gota que se funda no oceano. Lá onde sou para que todos sejam. Lá onde estou para que todos estejam. Eu voo. Olho o que me olha e percebo que tudo é o que é e não outra forma ou coisa. E o antigo oscila no novo, moderação e autocontrole. E tudo se entrecruza, mútua e instantaneamente. E o novo confirma o antigo. Vejo o que vejo e sou o que sou. E eu posso ser feliz pra que todos sejam felizes e tenham paz. E vamos aprumar a conversa aqui.

 Imagem La sieste, do artista plástico russo Lev Chitovsky (1902-1969).


Curtindo o álbum Concertos para Violino (2001), da violinista estadunidense Hilary Hahn com a Academy of St. Martin in the Fields, conductor Neville Marriner, interpretando obras de Igor Stravinsky & Johannes Brahms.

O TEMPO – No livro Ego, fome e agressão: uma revisão da teoria e do método de Freud (Summus, 2002), do psicoterapeuta e psiquiatra Friedrich Perls (1893-1970, também conhecido por Fritz Perls), destaco trecho do capítulo Tempo: Tudo tem extensão e duração. Medimos extensão em comprimento, altura e largura; duração em tempo. Estas quatro dimensões são medidas utilizadas pelo homem [...] Enquanto tomamos pontos fixos (aC., dC., a.m e p.m), para medição objetiva, o ponto-zero psicológico é o eterno presente, alcançando, de acodo com nossa organização, adiante e atrás [...] Tão logo esqueçamos que somos eventos no tempo-espaço, ideias e realidades se chocam. Exigências de emoções duradouras (amor eterno, felicidade) poderiam leva à decepção, ao desaparecimento da beleza e à depressão. Pessoas que perderam o ritmo do tempo logo se tornarão obsoletas. [...] O tempo avança! O tempo que está voando, ou se arrastando, ou mesmo se mantendo imóvel denota o desvio de mais e menos. Tal julgamento contem seu oposto psicológico; nós gostaríamos que o tempo que voa diminuísse a velocidade e se apressasse quando está se arrastando. A concentrações em coisas como no tempo-espaço é experienciada como paciência. Aparentemente, neste caso, a imagem existe meramente como extensão, o componente tempo sendo dividido como impaciência. Desta forma, a awareness deo tempo, ou o sentido de tempo, entra na vida e na psicologia humana. Einstein é de opinião que o sentido de tempo é uma questão de experiência. [...] Quanto maior o atraso da satisfação do desejo, maior a impaciência, quando a concentração se mantém sobre o objeto de satisfação. A pessoa impaciente quer a união imediata, atemporal de sua visão com a realidade. [...] Alguém foi convidado a explicar a teoria da relatividade Einstein. Respondeu: quando você passa uma hora com sua garota, o tempo voa; uma hora parece um minuto; mas quando lhe acontece de sentar sobre um fogão quente o tempo se arrasta, os segundos parecem horas. Isto não se ajusta à realidade psicológica. Numa hora de amor, se o contato é perfeito, o fator tempo não se insere no quadro de forma alguma. Contudo, se a garota se torna um aborrecimento, se o contato com ela é perdido e o tédio se estabelece, então você poderia começar a contar os minutos até se livrar dela. O fato tempo também será experienmciado se o tempo for limitado e você quiser ocupar tanto quanto possível os minutos à sua disposição. [...]. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

A LITERATURA E A POESIA – No livro ABC da Literatura (Cultrix, 1977), do poeta, músico e crítico literário estadunidense Ezra Pound (1885-1972), destaco o trecho: Vivemos numa era de ciência e de abundância. O amor e a reverencia pelos livros como tais, próprios de uma época em que nenhum livro era duplicado até que alguém se desse ao trabalho de copiá-lo a mão, não respondem mais, obviamente, às necessidades da sociedade ou a preservação do saber. Precisa-se com urgência de uma boa poda, se é que o Jardim das Musas pretende continuar a ser um jardim. O método adequado para o estudo da poesia e da literatura é o método dos biologistas contemporâneos, a saber, exame cuidadoso e direito da matéria e continua comparação de uma lamina ou espécime com outra. Nenhum homem está equipado para pensar modernamente enquanto não tiver compreendido a história de Agassiz e do peixe: Um estudando de cursos de pós-graduação coberto de honrarias e diplomas, dirigiu-se a Agassiz para receber os ótimos e últimos retoques. O grande naturalista tomou um peixinho e pediu-lhe que o descrevesse. Estudante: - Mas este é apenas um peixe-lua. Agassiz: - Eu sei disso. Faça uma descrição dele por escrito. Depois de alguns minutos o estudante votou com a descrição do Ichtus Heliodiplodokus ou outro termo qualquer, desses usados para sonegar do conhecimento geral o vulgar peixe-lua: família dos Hellinchtherinkus, etc., como se encontra nos manuais sobre o assunto. Agassiz pediu ao estudante que descrevesse de novo o peixe. O estudante perpetrou um ensaio de quatro páginas. Agassiz então lhe disse que olhasse para o peixe. No fim de três semanas o peixe se encontrava em adiantado estado de decomposição, mas o estudante sabia alguma coisa a seu respeito. Foi desse método que nasceu a ciência moderna e não da perspectiva estrita da lógica medieval suspensa no vácuo. [...] Na Europa, se pedimos a um homem que defina alguma coisa, sua definição sempre se afasta das coisas simples que ele conhece perfeitamente bem e retrocede para uma região desconhecida, que é a região das abstrações progressivamente mais e mais remotas. Assim, se lhe perguntarmos o que é o vermelho, ele responderá: uma cor. Se lhe perguntamos o que é uma cor, dirá que cor é uma vibração ou uma refração da luz ou uma divisão do espectro. E se lhe perguntarmos o que é uma vibração, obteremos a resposta de que é uma forma de energia, ou qualquer coisa dessa espécie, at´w que cheguemos a uma modalidade do ser ou do não-ser, ou, de qualquer modo, penetremos no terreno que está além do nosso alcance e além do alcance do nosso interlocutor. [...] Para começar do começo, vocês provavelmente sabem que há uma linguagem falada e uma linguagem escrita, e que há duas espécies de linguagem escrita, uma baseada no som e outra na vista. [...] A palavra ou ideograma chinês para vermelho é baseado em algo que todos conhecem. (Se o ideograma se tivesse desenvolvido na Inglaterra, os escritores teriam certamente usado um pintarroxo visto de frente ou qualquer coisas menos exótica do que um flaming0). Fenollosa explicava como e porque a linguagem escrita dessa maneira simplesmente tinha que permanecer poética; simplesmente não podia deixar de ser e de permanecer poética num sentido em que uma coluna tipográfica inglesa poderia muito bem não permanecer poética. Ele morreu antes de chegar à publicação e à proclamação de um método. Este é, contudo, o meio certo de estudar poesia ou literatura ou pintura. É, de fato, o meio pelo qual os membros mais inteligentes do público em geral estudam pintura. Se vocês querem entender alguma coisa de pintura, vão à National Gallery, ao Salon Carré, ao Brera ou ao Prado e olhem para quadros. Para cada leitor de livros de arte há 1 000 pessoas que vão ver os quadros. Graças a Deus! Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

CEMITÉRIO MARINHO – No livro Cemitério marinho (Max Limonad, 1984), do filósofo, escritor e poeta simbolista francês Paul Valéry (1871-1945), destaco essa tradução de Darcy Damasceno e Roberto AIvim: Esse teto tranqüilo, onde andam pombas, / Palpita entre pinheiros, entre túmulos. / O meio-dia justo nele incende / O mar, o mar recomeçando sempre. / Oh, recompensa, após um pensamento, / Um longo olhar sobre a calma dos deuses! / Que lavor puro de brilhos consome / Tanto diamante de indistinta espuma / E quanta paz parece conceber-se! / Quando repousa sobre o abismo um sol, / Límpidas obras de uma eterna causa / Fulge oTempo e o Sonho é sabedoria. / Tesouro estável, templo de Minerva, / Massa de calma e nítida reserva, / Água franzida, Olho que em ti escondes / Tanto de sono sob um véu de chama, / - Ó meu silêncio!... Um edifício na alma, / Cume dourado de mil, telhas, Teto! / Templo do Templo, que um suspiro exprime, / Subo a este ponto puro e me acostumo, / Todo envolto por meu olhar marinho. / E como aos deuses dádiva suprema, / O resplendor solar sereno esparze / Na altitude um desprezo soberano. / Como em prazer o fruto se desfaz, / Como em delícia muda sua ausência / Na boca onde perece sua forma, / Aqui aspiro meu futuro fumo, / Quando o céu canta à alma consumida / A mudança das margens em rumor. / Belo céu, vero céu, vê como eu mudo! / Depois de tanto orgulho e tanta estranha / Ociosidade - cheia de poder - / Eu me abandono a esse brilhante espaço, / Por sobre as tumbas minha sombra passa / E a seu frágil mover-se me habitua. / A alma expondo-se às tochas do solstício, / Eu te afronto, magnífica justiça / Da luz, da luz armada sem piedade! / E te devolvo pura à tua origem: / Contempla-te!... Mas devolver a luz / Supõe de sombra outra metade morna. / Oh, para mim, somente a mim, em mim, / Junto ao peito, nas fontes do poema, / Entre o vazio e o puro acontecer, / De minha interna grandeza o eco espero, / Sombria, amarga e sonora cisterna / - Côncavo som, futuro, sempre, na alma. / Sabes tu, prisioneiro das folhagens, / Golfo roedor de tão finos gradis, / Claros segredos para os olhos cegos / Que corpo a um fim ocioso me compele, / Que fronte o atrai a tal rincão de ossadas? / Um lampejo aqui pensa em meus ausentes. / Sacro, encerrando um fogo sem matéria, / Pouca de terra oferecida à luz, / Prezo este sítio, que dominam tochas, / Composto de ouro, pedras e ciprestes, / Onde mármores tremem sobre sombras. / O mar lá dorme, fiel, sobre meus túmulos. / Cadela esplêndida, afugenta o idólatra! / Quando, sorriso de pastor, sozinho / Apascento carneiros misteriosos / - Branco rebanho de tranqüilos túmulos - / Afasta dele as pombas temerosas / Os sonhos vãos, os anjos indiscretos. / Aqui vindo, o futuro é indolência. / Nítido inseto escarva a sequidão; / Tudo queimado está desfeito e no ar / Se perde em não sei que severa essência, / Faz-se a amargura doce e claro o espírito. / Os mortos estão bem, sob esta terra / Que os aquece e resseca seu mistério. / O meio-dia no alto, o meio-dia / Quedo se pensa em si e a si convém. / Fronte completa e límpido diadema, / Eu sou em ti recôndita mudança! / Eu, somente eu, contenho os teus temores! / Meus pesares, limitações e dúvidas / São a falha de teu grande diamante... / Em sua noite grávida de mármores, / Entanto, um povo errante entre as raízes / Tomou já teu partido, lentamente. / Dissolveu-se na mais espessa ausência; / Bebeu vermelho barro a branca espécie; / Passou às flores o dom de viver. / Dos mortos, onde as frases familiares, / A arte pessoal, as almas singulares? / Tece a larva onde lágrimas nasciam. / O riso agudo de afagadas jovens, / Olhos e dentes, pálpebras molhadas, / O seio ousado desafiando o fogo, / Sangue a brilhar nos lábios que se rendem, / Últímos dons e dedos que os defendem / - Tudo se enterra e ao jogo outra vez volta. / E tu, grande alma, acaso um sonho esperas, / Despido, então, das cores de mentira / Que a estes meus olhos a onda e o ouro mostram? / Cantarás, quando fores vaporosa? / Tudo flui! Porosa é minha presença; /A sagrada impaciência também morre. / Magra imortalidade negra e de ouro, / Consoladora com horror laureada, / Que seio maternal fazes da morte / - O belo engano, a astúcia mais piedosa! / Quem não conhece e quem não repudia / Esse crânio vazio, o riso eterno? / Pais profundos, cabeças desertadas, / Que sob o peso de tantas pàzadas / Terra sois, confundindo os nossos passos! / O verdadeiro verme, irrefutável, / Não para vós existe, sob a lousa / Ele de vida vive e não me deixa. / Amor, talvez? Talvez ódio a mim mesmo? / Seu dente oculto está de mim tão próximo / Que qualquer nome, acaso, lhe convém. / Que importa!... Ele vê, quer, sonha, ele toca: / Minha carne lhe agrada, e até no leito / Vivo de pertencer a este vivente. / Zenão, cruel! Zenão, Zenão de Eléia! / Feriste-me com tua flecha alada, / Que vibra, voa e que não voa nunca. / O som engendra-me e a flecha me mata! / O sol... Ah, que sombra de tartaruga / Para a alma, Aquiles quedo e tão ligeiro! / Não, não!... De pé! No instante sucessivo! / Rompe meu corpo, a forma pensativa! / Bebe meu seio, o vento que renasce! / Esta frescura a exalar-se do mar / A alma devolve-me... Ó, poder salgado! / Corramos à onda para reviver! / Sim, grande mar dotado de delírios, / Pele mosqueada, clâmide furada / Por incontáveis ídolos do sol, / Hidra absoluta, ébria de carne azul, / Que te mordes a fulgurante cauda / Num tumulto ao silêncio parecido, / Ergue-se o vento! Há que tentar viver! / O sopro imenso abre e fecha meu livro, / A vaga em pó saltar ousa das rochas! / Voai páginas claras, deslumbradas! / Rompei vagas, rompei contentes o / Teto tranqüilo, onde bicavam velas! Veja mais aqui e aqui.

A PROVA DE FOGO – A peça teatral Prova de fogo (1968), da dramaturga e roteirista Consuelo de Castro Lopes, foi escrita durante o período que estudou Ciências Sociais na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, quando participou ativamente do movimento estudantil. A peça foi proibida e em 1974 é premiada pelo Serviço Nacional de Teatro, com o título A invasão dos Bárbaros, só sendo encenada em 1993, por Aimar Labaki. Da obra destaco o trecho: [...] (Ana entra) ANA – Gente. Atenção. Eu tenho notícias... Saí de lá agora. Desde as oito, que foi quando me pegaram, que estão me interrogando. Consegui bancar o débil mental. Me fiz de cururu, eles perguntaram uns troços, e me deixaram sair. Soltaram cinqüenta. Os outros cem vão ficar presos até segundas determinações. A polícia vem vindo pra cá. A intenção deles não é matar, nem nada, mas se houver resistência eles atiram. Têm ordens. Ordens de encanar todos vocês. ANA - Tenho a lista aqui. VILMA – E o Luís? E o Luís? ANA - A lista está com os nomes dos soltos e feridos. Foi um custo conseguir isto... ZÉ – Você sabe da Júlia? Fala, Ana. Fala, tudo o que você sabe... ANA – A Júlia... estava lá. Eu vi ela. ZÉ – E daí?Ela estava bem? Torturaram ela? ANA - Torturaram sim. Não sei o que fizeram com ela. Sei que foi torturada. Não sei se arrancaram as unhas dela, se deram choque elétrico, se espancaram...sei que foi torturada. E abortou. Teve uma violenta hemorragia. Quando eu saí de lá ela estava passando muito mal. Custei a conseguir informação sobre ela na enfermaria. Ela perdeu sangue à beça. Por isso eles disseram que ela não escapa. Mas quando eu saí de lá ela não tinha morrido ainda. Não fiquei sabendo de mais nada. ZÉ – E espancaram...trituraram ... como se ela fosse um porco. Ela vai morrer, sim. Vai morrer, na mão daqueles açougueiros. Vai morrer ensangüentada como uma vaca no matadouro. Fizeram o aborto por ela. Pois sabiam que ela queria ter o filho. Nem perguntaram se queria ou não! Não respeitaram a vontade dela, porque...não existe vontade. Existe violência, só isso. Carniceiros. ANA – Vilma...O cara baleado...Foi confirmado...foi o Luís. VILMA – E ele morreu? Ana, ele morreu? (Ana abraça Vilma. Vilma corre em direção à escrivaninha e pega um revólver) VILMA – Vamos ficar. Vamos ficar aqui, todos nós. Eles vão se esbaldar. Vão se empanturrar...Vão vomitar de tanto sangue. Somos seis agora. Seis animais pro matadouro deles. Todo mundo vai ficar aqui. Atiremos neles. Atiremos neles e eles atirarão em nós. Claro, não? Não, Freitas? Todossaberão que seis jovens de vinte a vinte três anos foram almoçados como porcos. Quem sair daqui leva bala, ouviram TODOS? Agora quem manda aqui sou eu. Nós vamos vingar o Luís e a Júlia. Ninguém sai daqui. Vamos resistir. Resistir. CEBOLA – (Olhando pela janela) Agora são eles. Três brucutus! Três brucutus!  Dez carros da policia e a cavalaria. Tudo o que havia na passeata. Meu Deus! ZÉ - Vamos nos preparar e ver o que eles vão dizer. Se for o caso todo mundo se entrega sem se mexer. DARTAGNAN – Eles vêm vindo pra cá, já estão na esquina. ANA – Zé, você tinha razão. Vamos nos entregar ou morreremos todos. Alguém tem que segurar ela, Zé. Alguém tem que segurar a Vilma. Ela vai fazer uma besteira. Ela vai atirar! MÁRIO – Não se atira merda nenhuma aqui, ouviram bem? VILMA - Cada um no seu posto. Quando eles chegarem de vez, atirar. Atiras as bombas, os explosivos, e metralhar um por um! Sem medo e sem remorso. Como eles fizeram com o Luís, a Júlia e todos nós! Exatamente na mesma moeda! ZÉ – Não enlouqueça, Vilma! VILMA – Zé, você sabe melhor do que eu. Mataram o Luís e devem ter matado a tua Júlia. Nós precisamos atirar neles, Zé. É um testemunho. O povo saberá que existe a violência. Que ela não é ilusão, conversa fiada, poesia. Em todos os cantos, a violência, Zé... E em nós. Ela não podia deixar de existir em nós. Atiremos neles. O massacre vem de todos os lados. ZÉ – O suicídio é reacionário, Vilma! VILMA – Eu preciso resistir. Eu preciso matar todos eles. VOZ EM OFF – ESTUDANTES, SAIAM SEM RESISTÊNCIA! TEMOS ORDENS PARA ATIRAR AO MENOS SINAL DE PROVOCAÇÃO POR PARTE DE VOCÊS! EVACUEM A ESCOLA PACIFICAMENTE E NADA LHES ACONTECERÁ... VILMA – Fascistas! Carniceiros! Nós não nos entregaremos! VOZ – SAIAM EM FILA COM AS MÃOS PARA O ALTO! SAIAM PACIFICAMENTE COM AS MÃOS PARA O ALTO! SE HOUVER RESISTÊNCIA, HAVERÁ MORTOS! (Mário, Ana, Dartagnan e Cebola começam a sair com as mãos na cabeça) VILMA – Companheiros! Voltem, companheiros! Isso não é suicídio, não! É um ato histórico! O sangue precisa ser visto senão ninguém saberá que estamos sendo massacrados! ZÉ – Nós vamos sair também. Não atirem! VILMA – Nós vamos ficar! Vamos ficar! VOZ - JOSÉ FREITAS! VOCÊ E ESTA MOÇA QUE ESTÁ COM VOCÊ! ENTREGUEM-SE SEM RESITÊNCIA! AO MENOR SINAL DE VIOLÊNCIA, TEMOS ORDENS PARA MATAR... ISTO É UMA ADVERTÊNCIA! ZÉ – Nós vamos nos entregar. Estamos saindo, estamos saindo. (Vilma sobe na escada e aponta a arma pra rua) VOZ - NÃO QUEREMOS FAZER MAIS MORTOS! ESTAMOS DEFENDENDO A ORDEM E A TRANQUILIDADE DA NAÇÃO! ESTAMOS CUMPRINDO ORDENS! ZÉ – Que ordem é esta que vocês estão defendendo? Que ordem nojenta é esta que vocês estão defendendo? VILMA – Atire neles, ZÉ... (Rajada de metralhadora corta atinge Vilma) VOZ – ENTREGUE-SE ZÉ FREITAS, SENÃO ATIRAREMOS EM VOCÊ TAMBÉM. TEMOS ORDENS PARA MATAR. PARA MATAR. PARA MATAR. ENTREGUEM-SE TODOS COM AS MÃOS AO REDOR DO PESCOÇO. (Zé sai com as mãos na cabeça). Veja mais aqui

IMPÉRIO DO DESEJO – O filme Império do desejo (1981), dirigido e roteirizado por Carlos Reichenbach, inicialmente era intitulado Anarquia sensual, conta a história de uma viúva que descobre o paraíso da vida depois da morte do marido e da descoberta da sua casa de praia ocupada por invadores. É quando ela resolve dar uma carona a um casal de hippies extemporâneos. Trata-se de uma comédia erótica que versa sobre liberdade e amor, temas que eram bastante relevantes na época e com todos os erros, desacertos e desvarios, de forma irada, irônica e apaixonada. O destaque vai pra atriz Aldine Muller que já realizou mais de quarenta filmes e inúmeros trabalhos na televisão. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
 A arte do fotógrafo francês Bruno Braquehais (1823-1875)
Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do programa Some Moments, a partir das 21hs (horário de verão), com a apresentação sempre especial e apaixonante de Meimei Corrêa. Em seguida, o programa Mix MCLAM, com Verney Filho e na madrugada Hot Night, uma programação toda especial para os ouvintes amantes. Para conferir online acesse aqui .