terça-feira, outubro 06, 2015

BAKER, GUILHERME ALMEIDA, ROMERO BRITTO, CAROLE, SAMARA, FENDI, MÁCLEIM, MANCHETES & PROGRAMA TATARITARITATÁ.


VAMOS APRUMAR A CONVERSA? MACHETES DO DIA DE SEMPRE - Estava eu à cata de um assunto para esta crônica e não me vinha nada à cabeça. Então, com a experiência de escrever crônicas diárias por cinco anos seguidos e ininterruptos, quando ocupava o respeitável cargo de chefe do departamento de redação da Rádio Quilombo dos Palmares FM, todo dia, chovesse ou fizesse sol, eu emplacava depois do Grande Jornal Quilombo, uma crônica fresquinha saída do forno na hora. Isso foi, exatamente, no período entre 1986/1991. Essa prática valeu-me apender o uso da criatividade, inventando recursos de todo tipo para não deixar passar em branco. Era uma peleja vasculhar de tudo com o fito de tascar uma ideia sapecada pras minhas palavras do dia. E como na vida do interior as coisas chegavam atrasadas e eram digeridas apressadamente pros boi-de-fogo da boataria, ou demoradamente retardadas até não valerem nada, desde então, fiquei com uma impressão danada que não me abandonou até hoje. Vamos lá. Para bater firme o centro todo dia com uma croniqueta, rebuscava notícias de jornais, fatos históricos, intrigas atuais, descasos, até desatinos. Bastava o mote, eu glosava, fosse o que fosse. Aí, dia após dias, quatro anos de pisada firme, fui descobrindo duas coisas: a primeira, ou o mundo parou ou a gente faz a mesma merda todo dia. Ou, então, ou os jornais se repetem todo dia ou copiam uns aos outros. Foi. Primeiro peguei as manchetes do dia e, ao relê-las nos diversos jornais que dispunha, tive o estalo de constatar que já havia dado essas novidades. Peraí. Não pode. Fui ver noutros jornais do dia anterior. Eita! Fui pros dos últimos dias, as mesmas; depois, semanas, deu no mesmo. Aí bem intrigado, levantei-me e fui até o quartinho onde eu reunia monturos de jornais jogados de dias passados e puxei um do primeiro monte: nossa, era de seis meses atrás. Ué, a vida não passou não, foi? Puxei doutra pilha desarrumada, era de três anos passados, nada de novo. E juntei uns dez e fui conferir detalhadamente. Conclusão: oxe! Verdade, veja: rombo com desvio de verba pública em estatal deixa população sem atendimento! Bullyin lidera nas escolas do país! Aumento da gasolina encarece produtos e serviços! Desempregados aumentam as estatísticas no Brasil! Estados Unidos lidera pesquisa! Apenas 8% dos homicídios são solucionados na Justiça brasileira! Novela bate recorde de audiência! Assaltos a banco crescem! Praia poluída causa problemas de saúde! Lixo é problema nos Municípios! Tudo pronto para o clássico do final de semana! Escolas, seguros e planos de saúde na mira dos Procons! Crise avassala todo mundo! Babau. Isso tudo, em jornais da época, diferença de dias, semanas, meses e até anos. Hoje, com as manchetes dos diários impressos, da internet, do rádio ou da televisão, que matei a charada: basta só mudar a alternância da notícia que ela será sempre nova porque tanto faz ser de 1986, 1996, 2006 ou 2016. Acredita? Então, confira agora qualquer jornal escrito, falado, internetado ou televisado. Viu? Parece com o de ontem? E anteontem? E anteantonte? Checou? Tanto faz! Jornal de hoje ou do ano passado é a mesma coisa. Ou os caras copiam, ou o mundo parou. Será? A gente está fazendo alguma coisa, ou tudo virou inútil e a gente não faz nada, só na base do bem-bom. Ah! Acho que tem outra coisa. Sim, a segunda coisa que deixei suspenso no ar. Incrédulo, digo de antemão: será? Lembro de uma crônica do Fernando Sabino, O rádio, esse mistério, em que ele fala que trabalhou alguns anos na BBC de Londres e que sempre foi bastante ouvida, mas que nunca viu ninguém falar que ouviu nada do que ele fez durante anos. Êpa! Eu também escrevi e locutei uma crônica do dia por cinco anos seguidos e nunca, nunquinha, ninguém – e lembro de viva memória sã - sequer disse ter ouvido uma frase que seja que eu tenha dito nas crônicas. Até quando estive, poucos anos atrás, apresentando o Tataritaritatá na Rádio Difusora de Alagoas, tive a mesma sensação. Peraí! Será que as pessoas estão moucas? Cegas? Ou ouvem mas não escutam, vêem mas não enxergam. Danou-se! Estou como Nietzsche: escrevendo para todos e ninguém. Que coisa!?! Ora, ora, mas naquele dia, eu tinha que escrever e a hora já azoava passando, quase tendo de entrar às pressas no estúdio e mandar ver no jornal com a respectiva crônica. Ou eu ficava na elucubração ou não escreveria nada. Ora, mesmo não sendo ouvido, ou melhor, falando pra nada e ninguém, tinha que dar uma solução. E fiz a crônica como o que ora expresso aqui. Sabia que, mesmo assim, tinha de ir pro ar, afinal ser profissional tem que estar na responsa. E fiz, mesmo com as manchetes do dia que, para mim, era de qualquer dia de antanho ou de amanhã, fiz um amálgama com as manchetes escolhidas a dedo, redigi tudo às pressas, meti as catanas na crônica e entrei no ar às sete em ponto para mais uma edição do matutino. Quando findei, me veio a sensação dolorosa que me persegue mesmo até agora: de que tanto faz ontem, hoje ou amanhã, dá no mesmo: a gente está tão mergulhado no marasmo do reino da mesmice que nem se dá conta que a vida passa e a gente vira só passado, acumulando ontens que nada mais representam pro presente quiçá futuro. Nossa, que coisa! E vamos aprumar a conversa aqui.

Imagem: arte do pintor, escultor e serígrafo pernambucano radicado nos Estados Unidos, Romero Britto.


Curtindo o álbum Internet Coco, do cantor, compositor e produtor musical Mácleim. Veja mais aqui, aqui e aqui.

COMO ENFRENTAR O CARÁTER: PREVENÇÃO DA COURAÇA – O livro O labirinto humano: causas do bloqueio da energia sexual (Summus, 1980), do psicoterapeuta da escola reichiniana, Elsworth F. Baker MD, trata de temas como a formação do caráter e os fatores de encouraçamento, os tipos de caráter e os efeitos do processo de encouraçamento, trabalho caracterológico e a remoção da couraça e como enfrentar o caráter e prevenção da couraça, sendo desta última parte os trechos destacados a seguir: [...] o labirinto é a estrutura emocional do homem, ou seja, sua estrutura de caráter [...] O melhor que pudemos fazer até os dias de hoje foi remover os bloqueios depois de estes terem se desenvolvido. Ninguém escapa de bloqueios esporádicos mas, na medida em que prevenimos a formação da couraça nas crianças pelo projeto descrito no último capítulo, capacitamo-las a crescerem com uma independência considerável, com autoconfiança e aptas a sentirem prazer em viver. [...] Os adolescentes sentem necessidade de serem reconfortados em seus sentimentos e urgências, que são naturais, sendo também preciso conhecimento e orientação para enfrentar a atitude antissexual da sociedade. Os adultos tornaram-se temerosos dos sentimentos e sensações naturais, por meio de sua própria necessidade de formarem uma couraça, e olham para esse funcionamento natural como algo que deve ser controlado. Além disso, não conseguem distinguir entre impulsos primários e secundários, tentando reprimir ambos. Os secundários são antissociais e precisam ser manipulados, mas os impulsos primários devem ser vistos com confiança, na sua qualidade de caminho para o julgamento equilibrado e para a supressão de dificuldades. É verdade que o adolescente saudável exije seus direitos sexuais, mas da mesma forma se retrairá frente ao sexo destituído de amor, como também da promiscuidade, do estupro, da perversão e da brutalidade. Não haveria prostituição. Os sentimentos e sensações naturais são mais morais do que os da sociedade encouraçada, mas evidenciam algumas importantes diferenças. Por exemplo, é impensável o casamento onde acabou o amor. No entanto, a sociedade encouraçada recusa este motivo “apenas” como razão suficiente para o divorcio. Um individuo que funcione naturalmente não espera que a missa absolva seus pecados da semana; os que funcionamento normalmente tampouco perseguem os que não são adeptos de suas crenças. Nossa sociedade é construída com base no terror encouraçado. Suas leis são erigidas e defendidas por esse mesmo terror. E são as leis da sociedade que devemos seguir, não importando quão irracionais elas sejam e, assim, continuarem a abafar nossos filhos e a esmagar nossos adolescentes para destruir neles toda sua natureza “animal” e então podermos “civiliza-los”. Tudo que nossa civilização pôde aprender foi a repressão e o amortecimento das revoltas. Ela não consegue nem entender nem dar apoio à vida. Há alguns milhares de anos vem o homem tentando libertar-se dessa armadilha, caindo sempre de volta no mesmo começo, pois não sabe o que foi que o levou a entrar nesse labirinto nem como o conseguiu. Sabemos hoje em dia que está preso dentro dessas malhas da própria couraça muscular que dá ensejo à ansiedade orgástica e inibe o funcionamento natural e liberto [...]. Veja mais aqui.

OS CABISBAIXOS – No livro Pela cidade (WMF Martins Fontes, 2004), do escritor, advogado, jornalista, heraldista, tradutor e crítico de cinema, Guilherme de Almeida (1890-1969), destaco a crônica Os cabisbaixos: Um dos muitos grupos de jovens estudantes que me têm procurado para entrevistar-me – visitas essas, para mim, sempre agradáveis pela sadia e contagiosa lufada de mocidade que me trazem – dirigiu-me, entre as perguntas do seu inteligente questionários, uma que eu não quis responder de improviso. Pareceu-me importante: e prometi-lhes refletir com vagar e responder por este meu retalho de jornal, o que ora faço. A pergunta: - Como vêem os poetas o mundo de hoje? A resposta: - Imagino, julgando-os por mim, que há de ser apenas com a conformada humildade dos derrotados. Porque o prático mundo de hoje venceu o teórico mundo de ontem, que era o nosso: o que tinha o Mistério por princípio, a Imaginação por meio e a Beleza por fim. Venceu. E, vencedor, visando à alma, primeiro, inventou a psiquiatria, que devassou o hemisfério da nossa Loucura; e a psicanálise, que desencantou o hemisfério do nosso Sonho. Insatisfeito com essas conquistas, inventou ainda a parapsicologia que se propõe rasgar o nosso sagrado véu do Oculto. Depois, mirando os Espaço Exteriores, por eles ordena que viagem seus engenhos, a desvendar a face secreta da Lua, nossa amada proibida; ou espionar, viciosos voyeurs, a gloriosa nudez de Vênus, rainha das nossas Musas; ou devastar o campo mitológico das constelações a que demos nome e sentido. Vencidos, pois, os poetas de hoje são cabisbaixos. Quer dizer: curvada a cerviz sob o jugo do vencedor, resignadamente caminhando olhando o chão: esse chão bem baixo, com seus rasteiros problemas étnicos, sociais, econômicos, políticos. E dizem-se “participantes”, para consolar-se e mascarar o revés. Os cabisbaixos! Eu mesmo... é verdade! Eu... ontem achei maravilhoso, um verdadeiro poema o áspero roteiro, que acompanhei, de uma formiguinha aleijada tentando levar um pedaço de folha ao longo de uma laje de pedra do meu jardim. Veja mais aqui.

AS TRÊS MENINAS & BRANCA ROSA – No livro Pequeno romanceiro (Martins, 1957), do escritor, advogado, jornalista, heraldista, tradutor e crítico de cinema, Guilherme de Almeida (1890-1969), destaco inicialmente o poema As três meninas: Tres meninas na varanda, /com seu mister cada qual: / uma fiando fio claro / como fio de cristal; / outra liando contas de âmbar / com trancelim e torçal / a terceira, ponto a ponto, / bordando o seu enxoval. / Tres meninas na varanda, / com seu mister cada qual. / Cavaleiro, que passava / no seu ginete real, / uma rosa na manopla / tauxiada de ouro e coral, / lança a rosa às três meninas / (qual das três é o seu ideal?), / finca esporas, vai-se e voa / no seu corcel Vendaval. / Sustam logo as três meninas / o seu mister cada qual. / Quem cortou meu fio claro / como fio de cristal? / - Quem deixou fugir as contas / ao trancelim e ao torçal? / - Quem quebrou a minha agulha / com que eu bordava o enxoval? / Tres meninas acenando / com seu lenço cada qual. / - Volta, volta! Cavaleiro, / no cavalo Vendaval! / Vinde buscar vossa rosa, / que essa rosa é flor de mal: / é um coração cada pétala, / e cada espinho, um punhal! / Tres meninas na varanda. / Mais nada. Ponto final. E também Branca Rosa: - Branca Rosa, Branca Rosa, / por que está tão branca assim? / É a neve, que caiu tanta / esta noite no jardim. / Não será neve, que a neve / não pode ser branca assim. / - Vesti minha cambraia lavada / com aguinha de alecrim. / - Cambraia, por mais lavada, / não chega a ser branca assim. / - Fiei-a em roca de prata / com meu fuso de marfim. / - Não há marfim, nem há prata / que sejam brancos assim. / - O luar dormiu comigo / no meu lençol de cetim. / Não houve lua esta noite, / nem há luar branco assim. / - Branca Rosa, Branca Rosa, / por que está tão branca assim? / - Má hora passou o conde / e o conde olhou pra mim. / Vesti vestido de noiva, / branco do véu ao chapim. / Mandou que eu visse e esperas: / e por isso foi que vim. / E, volte ou não volte o conde, / esperarei até o fim: / até que daqui me levem / amortalhada, ai de mim! / Branca Rosa, Branca Rosa, / vai tão branca, sem camim! / Rosa branca desfolhada / nunca foi tão branca assim. Veja mais aqui.

O GUARANI & MARILYN MONROE - A jovem e bela atriz de teatro, cinema e televisão Samara Felippo objetivava tornar-se ginasta quando decidiu estudar teatro, conseguindo aos 17 anos uma vaga na oficina de atores da Rede Globo e, depois, cursou cinema no Rio de Janeiro. Em 2001, ela estava participando do filme O dono do mar (2006) e protagonizou o filme Concerto Campestre. No teatro ela iniciou com O Guarani (1998), Comunhão de bens (2000) e Êxtase (2007), Hamlet (2011), Mulheres alteradas e, em 2013, na peça teatral Orgulhosa demais, frágil demais, ela interpreta Marilyn Monroe. Participou de outras peças como Comunhão de bens e Intenções perigosas. Por seu talento, ela desenvolve uma trajetória promissora, aplausos. Veja mais aqui.

BOLERO – O drama Bolero (1934), dirigido pelo cineasta estadunidense Wesley Ruggles (1889-1972), conta a historia de um arrogante dançarino do teatrão de variedades, em Paris, que tem por ambição ser o rei dos clubes noturnos da Europa. Ele estava à procura de parceira ideal para atingir seus objetivos, quando conhece uma bela mulher com quem faz um par de muito sucesso, sob a condição de uma promessa: nunca misturarem sentimentos com trabalhos. A promessa foi mantida até certo tempo, quando os dois se apaixonam e ela se desilude porque ele só tem objetivo na carreira e quando a guerra surge, ele alista-se ao exército, retornando mais tarde para reencontrá-la devidamente casada com um conde, e ele dono de um clube, sem parceira e a convida. É quando os dois dançam o ponto máximo do filme: a dança do Bolero, do compositor francês Maurice Ravel (1875-1937). Nesse momento acontece o inesperado. O destaque do filme vai para a atriz estadunidense Carole Lombard (1908-1942). Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
A arte do pintor, gravador e litógrafo austríaco Peter Fendi (1796-1842).


Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do programa Tataritaritatá, a partir das 21 hs, no blog do Projeto MCLAM, com a apresentação sempre especial e apaixonante de Meimei Corrêa & com muitas atrações. Em seguida, o programa Mix MCLAM, com Verney Filho e na madrugada Hot Night, uma programação toda especial para os ouvintes amantes. Para conferir online acesse aqui.


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