sábado, agosto 01, 2015

LITERATURA DE CORDEL, BOURDIEU, TCHAIKOVSKY, MOLIÈRE, CHINEN, PRIMO LEVI, LOLA, CHARB, RICCI & FESTA DO TATARITARITATÁ!!!!


VAMOS APRUMAR A CONVERSA? A GRATIDÃO, OS PROPÓSITOS E A DETERMINAÇÃO – Ontem foi dia de festa; hoje, mais ainda! Viver é uma festa contínua, só depende da forma como a vemos. Por isso a vida prossegue, a luta se faz festa sempre e continua todo dia e o dia todo. Festa porque lições são aprendidas, afinal tudo na vida é aprendizado. Até aquilo que admitimos como perdas, na verdade, são ganhos de aprendizagens. E agradeço por ter a oportunidade de viver todos os momentos, sejam quais tenham sido, porque me deram a oportunidade de aprender algo a mais. E o melhor de tudo é a descoberta, o verdadeiro aprendizado. O prazer da descoberta é inenarrável. Por isso sou grato à vida todos os dias. Como sou grato a todos por tudo que vivemos em todos os momentos da nossa vida. Agradeço a todos pelas manifestações de apoio. Agradeço a cada um de vocês o prestígio avalizado, tornando uma festa que é minha em nossa. Por isso, a festa não é minha, é nossa, nos fazemos e somos a festa: tudo é nosso fazendo tanto a nossa festa como aqui o lugar de pouso na sua passagem. O agradecimento é para cada um de vocês por permitir que mais uma etapa seja cumprida e torne possível aquilo a que nos propomos e determinamos ser o nosso caminho. Agradecimento a cada um de vocês pelo incentivo com o seu aceno que afaga nosso coração e que com a estimulação que a cada passagem de vocês promove em nossa caminhada, permitindo que todos os dias recomecemos e seguidamente retornemos para recompor o plano de voo e a trilha traçada - e percorrê-la com vocês, asseguro, é bom demais! O agradecimento a cada um de vocês por estarem presentes aqui proporcionando a comunhão de viver. Reiterados agradecimentos por chegar aonde chegamos. E essa marca só foi possível por causa de vocês. Obrigado, obrigado, obrigado. Além do mais, mais uma coisa precisa ser dita por gratidão: nada disso seria possível sem a vigilante e determinada contribuição inestimável da querida Meimei Corrêa, ela sim, a grande vitoriosa que em todas as horas e a todo momento torna tudo que planejamos em uma realidade festiva. E isso merece destaque: toda luta vira festa. E isso, reitero, é bom demais! É ela quem desde as primeiras horas do seu dia, começa suas atividades quando da atualização deste espaço diariamente, até a virada da noite pela madrugada adentro com a programação do nosso Projeto MCLAM e, novamente, retoma determinada, teimosa e apaixonadamente dedicada para que sejamos presentes no cumprimento de nossas metas traçadas e levando paratodos aquilo que havíamos planejado, transformando a ideia em real. É ela insone que nos traz o prazer de dividir emoções. Então, essa marca, essa conquista, essa festa, é dela. E agradecer é muito pouco! Pra ela é, então, dedicado todo o resultado das conquistas e o reconhecimento de que se há um vitorioso, não seria ninguém, a não ser ela. A vitória é dela, pra ela e nela. Obrigado, obrigado, obrigado. Pra ela, gratidão eterna. Obrigado, obrigado, obrigado. Beijabrações paratodos – e todos os mais especiais beijabrações afetuosíssimos no coração apaixonante dela – e vamos aprumar a conversa e mais tataritaritatá aqui.


Imagem: Venus and Cupid, do pintor italiano Sebastiano Ricci (1659–1734)


Curtindo Symphony nº 4 in F minor Op. 36; & Francesca da Rimini, Fantasia after Dante Op. 32 (Decca Eloquence, 2005), do compositor russo Pyotr Tchaikovsky (1840-1893), com London Symphony Orchestra; George Szell; New Philharmonia Orchestra; Lorin Maazel. Veja mais aqui.

AS REGRAS DA ARTE – O livro As regras da arte: gênese e estrutura do campo literário (Presença, 1996), do sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930-2002), aborda temas como a obra de Flaubert e A educação sentimental, três estados do campo, a conquista da autonomia, a ruptura do burguês, Baudelaire, um mundo econômico às avessas, o realismo, a invenção da estética pura, a arte e o dinheiro, a dialética da distinção, as trocas entre pintores e escritores, dois modos de envelhecimento, fundamentos de uma ciência das obras, compreender o compreender, entre outros assuntos. Da obra destaco o trecho: [...] A ordem anárquica que reina em um campo intelectual que chegou a um alto grau de autonomia e sempre frágil e ameaçada, na medida em que constitui um desafio as leis do mundo economico ordinario, e as regras do senso comum. E não pode basear-se sem riscos apenas no heroísmo de alguns. Nao e a virtude que pode fundar uma ordem intelectual livre; e uma ordem intelectual livre que pode fundar a virtude intelectual. A natureza paradoxal, aparentemente contradit6ria, dos intelectuais faz com que toda ação politica visando reforçar a eficácia politica de seus empreendimentos esteja destinada a se dar palavras de ordem de aparência contraditória: de um lado, reforcar a autonomia, especialmente reforçando a fenda com os intelectuais heteronomos, e combatendo para assegurar aos produtores culturals as condicoes economicas e sociais da autonomia com relação a todos os poderes, sem excluir os das burocracias de Estado (e antes de tudo em materia de publicação e de avaIiação dos produtos da atividade intelectual); de outro lado, afastar os produtores culturais da tentação da torre de marfim, encorajando-os a lutar pelo menos para garantir para si 0 poder sobre os instrumentos de produção e de consagração e a entrar no seculo para afirmar os valores associados a sua autonomia. Essa luta deve ser coletiva porque a eficacia dos poderes que se exercem sobre eles resulta em grande parte do fato de que os intelectuais os enfrentam em ordem dispersa, e na concorrencia. E tambem porque as tentativas de mobilização serao sempre suspeitas, e condenadas ao fracasso, enquanto puderem ser suspeitas de estar postas a serviço das lutas pela leadership de um intelectual ou de um grupo de intelectuais. Os produtores culturais não reencontrarão no mundo social 0 lugar que Ihes cabe a menos que, sacrificando de uma vez por todas 0 mite de "intelectual orgânico", sem cair na mitologia complementar, a do mandarim retirado de tudo, aceitem trabaIhar coletivamente na defesa de seus interesses pr6prios: 0 que deveria leva-los a afirmar-se como urn poder internacional de critica e de vigilância, ou mesmo de proposição, em face dos tecnocratas, ou, por uma ambição a uma vez mais alta e mais realista, portanto limitada a sua esfera própria, a engajar-se em uma acao racional de defesa das condições econômicas e sociais da autonomia desses universos socials privilegiados onde se produzem e se reproduzem os instrumentos materiai e intelectuais do que chamamos de Razão. Essa Realpolitik da razão estara sem duvida exposta a suspeita de corporativismo. Mas lhe cabera mostrar, pelos fins a serviç dos quais colocara os meios, duramente conquistados, de sua autonomia, que se trata de um corporativismo do universal. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

A NARRATIVA DAS MULHERES – O livro A mulher heroica: relatos clássicos de mulheres que ousaram desafiar seus papéis (Summus, 2001), do médico psiquiatra e professor Allan B. Chinen, aborda temas como poder, sabedoria, natureza, opressão e autolibertação, a retomada do poder, conto de Pueblo Tiwa, os limites do poder, o poder da intuição, astúcia e coragem, cura e vida selvagem, ressurreição e natureza, irmandade, irmãs e libertação, o resgate do verdadeiro self, retornando das irmãs e o príncipe, entre outros assuntos. Da obra destaco o trecho: [...] Como as histórias das mulheres focalizam protagonistas femininas, é natural imaginar que esses contos tenham se originado em contadoras de histórias, mas, até recentemente, antropólogos e estudiosos do folclore não coletavam as histórias com mulheres. Felizmente, essa situação mudou. Estudiosas do folclore, como Linda Degh, Susa Kalcik, Margaret Yocom, Karen Baldwin, Donna Eder, Penelope Eckert e Kristin Langellier, estão descobrindo agora que as mulheres tendem a contar as historias de uma maneira cooperativa característica. Por exemplo, uma mulher pode começar descrevendo um problema que teve com o seu patrão, que lhe fez insinuações sexuais. Outra se solidariza com a situação da contadora da história, observando de imediato que passou por uma situação semelhante. Uma terceira pode comentar a coragem da primeira, ao recusar a investida do chefe. Uma quarta mulher pode então relatar um episódio de sua vida em que sofreu assedio sexual, antes de pedir à narradora que prossiga. Na verdade, a contadora de histórias é todo o grupo de mulheres. O resultado é uma narrativa repleta de temas diferenciados, de múltiplas perspectivas e de muitos personagens – o que é típico dos contos de fadas. Veja mais aqui e aqui.

A TRÉGUA – O romance A trégua (Companhia das Letras, 2010), do químico e escritor italiano Primo Levi (1919-1987), conta a longa jornada depois da liberdação dos campos de Auschwitz-Birkenau, no qual o autor foi prisioneiro, dedicando-se a escrever a sua condição de sobrevivente do Holocausto, numa viagem pela Europa semidestruída e ao lado de companheiros numa viagem sem destino pelo Leste até União Soviética. Da obra destaco o trecho inicial: Nos primeiros dias de janeiro de 1945, sob a pressão do exército vermelho, já nas proximidades, os alemães desocuparam às pressas a bacia mineira silesiana. Todavia, em outros lugares, e em análogas condições, não hesitaram em destruir com fogo ou com as armas o Lager, campo de concentração ou de extermínio, juntamente com os seus ocupantes; no distrito de Auschwitz agiram de maneira diversa: ordens superiores (ao que parece ditadas pessoalmente por Hitler) impunham a “recuperação”, a qualquer preço, de todos os homens aptos para o trabalho. Por isso, todos os prisioneiros sadios foram retirados, em condições assombrosas, para Buchenwald e Mauthausen, enquanto os doentes foram abandonados à própria sorte. A partir de vários indícios, é lícito deduzir a intenção primeira alemã de não deixar nos campos de concentração nenhum homem vivo; mas um violento ataque aéreo noturno e a rapidez da investida russa induziram os alemães a mudar de ideia, e a bater em retirada, deixando inacabados o próprio dever e a própria guerra. Na enfermaria do Lager de Buna-monowitz chegávamos a oitocentos. Destes, cerca de quinhentos morreram das próprias doenças, do frio e da fome, antes que chegassem os russos, e outros duzentos, apesar dos socorros, nos dias imediatamente sucessivos. A primeira patrulha russa pôde ser vista do campo por volta de meio-dia de 27 de janeiro de 1945. Charles e eu fomos os primeiros a avistá-la: estávamos transportando para a vala comum o corpo de Sómogyi, o primeiro morto dentre os nossos companheiros de quarto. Reviramos a padiola na neve infecta, pois a vala já estava cheia, e outra sepultura não era possível: Charles tirou o boné, para saudar os vivos e os mortos. Eram quatro jovens soldados a cavalo, que agiam cautelosos, com as metralhadoras embraçadas, ao longo da estrada que demarcava os limites do campo. Quando chegaram ao arame farpado, detiveram-se, trocando palavras breves e tímidas, lançando olhares trespassados por um estranho embaraço, para observar os cadáveres decompostos, os barracões arruinados, e os poucos vivos [...] Veja mais aqui.

A BATALHA DE OLIVEIROS COM FERRABRAZ – Hoje como é o dia do poeta de Literatura de Cordel, nada melhor que trazer aqui o seu nome maior que é o poeta Leandro Gomes de Barros (1865-1918): Eram doze cavalheiros / homens muito valorosos / destemidos e animosos / entre todos os guerreiros / como bem, fosse Oliveiros / um dos pares de fiança / que sua perseverança / venceu todos os infiéis / eram uns leões cruéis / os doze pares de França. / Todos eram conhecidos / pelos leões da igreja / pois nunca foram a peleja / que nela fossem vencidos / eram por turcos temidos / pela igreja estimados / porque quando estavam armados / suas espadas luziam / os inimigos diziam: / esses são endiabrados. / Tinha o duque de Nemé / qu’era uma espada medonha / o grande Gui de Borgonha / Geraldo de Monde Fé / Carlos Magno tinha fé / em todos os cavalheiros / pois entre todos guerreiros / de quem nos trata a história / ve-se sempre a vitória / de Roldão e Oliveiros. / O almirante Balão / tinha um filho Ferrabraz / que entre os turcos o mais / que tinha disposição / mesmo em nobreza e ação / era o maior que havia / então em toda Turquia / onde se ouvia falar / tudo havia respeitar / Ferrabraz de Alexandria. / Foi Ferrabraz procurar / saiu com uma grande tropa / ver se achava na Europa / um rei para pelejar / pegou logo a exclamar / com mais precipitação / fazendo uma exclamação / insultando os cavalheiros / falando contra Oliveiros / fazendo acinte a Roldão. / Ferrabraz estava deitado / sentiu chegar Oliveiros, / foi ver se eram os cavalheiros / a quem já tinha insultado / depois de ter bem olhado / cresceu-lhe mais o furor / com desprezo aterrador / e raiva dos cavalheiros / perguntou a Oliveiros? = Que fizeste ao teu senhor? / Levanta-te cavalheiro, / prepare a arma, se apronte / pegue o cavalo e se monte / trate de ser bom guerreiro / ponha seu corpo ligeiro / veja, não dê uma falha / a morte entre nós se espalha / a hora de um é chegada / lance mão de sua espada / vamos entrar na batalha. / Depois de se levantar / Ferrabraz se preparou / e a Oliveiros rogou / que o ajudasse a armar / Oliveiros quis faltar / por achar que era perigo / disse Ferrabraz: - Te digo / confie em minha nobreza / eu não uso de vileza  / para com meu inimigo. / Oliveiros se apeou / ajudou a Ferrabraz / com cortesias iguais / ele também o tratou / quando Ferrabraz se armou / vestiu a saia de malha / na qual não tinha uma falha / feita por outro guerreiros / montaram-se os cavalheiros / deram começo à batalha. / Posto em ordem prosseguiram / não escutaram razões / pareciam dois leões / numa jaula enfurecidos / dois golpes iguais medidos / todos dois descarregaram / com as forças que botaram / os braços ficaram bambos / e os cavalos de ambos / em terra se ajoelharam. / Oliveiros recebeu / um golpe tão desmarcado / que ficou atordoado / e muito sangue desceu / o turco aí conheceu / dele as força abatidas / com as vozes compadecidas / disse: - Oliveiros, teimoso / bebe o balsamo milagroso / que te cura essas feridas. / - Ferrabrás, eu não aceito / assim não deves cansar-te confesso de minha parte / que toda oferta rejeito / porque eu não me aproveito / duma ação acovardada / por uma proteção dada / pois que prefiro morrer / que do teu balsamo beber / sem o tomar pela espada. / Pariu ao seu contendor / com tanta disposição / que só se tivesse são / teria tanto valor / deu-lhe um golpe matador / porém pegou mal pegado / feriu o turco dum lado / Ferrabraz se desviou / tirando o bálsamo tomou / ficou de tudo curado. / Disse o turco: - Cavalheiro / tu já estás muito ferido / queira aceitar meu partido / renda-se prisioneiro / assim lhe farei herdeiro / do reino de Alexandria / e tem mais a garantia / de hoje para amanhã / casar com a minha irmã / a flor de toda Turquia. / Disse Oliveiros: - Senhor / eu não preciso riqueza / quero morrer na pobreza / mas bem com meu Salvador / porque foi meu criador / e por minha alma trabalha / um instante não empalha / pra salvar os fieis / turco, / cuida em teus papeis / vamos dar fim à batalha. / Cobriu-se com seu escudo / beijou a cruz da espada / e deu uma cutilada / que desceu arnez e tudo / e dando outro a miúdo / a Ferrabraz ofendeu / o céu o favoreceu / um revés escapuliu / o bálsamo dele caiu / e Oliveiros bebeu. / E tornou a investir / que só um leão voraz / e disse: - Senhor Ferrabraz / é tempo de decidir; / só se ouvia era tinir / as espadas pelo ar / Roldão que estava a olhar / de vez em quando dizia: / - Oliveiros, eu só queria / estar agora em teu lugar. / Já tinham se espedaçado / arnez, capacete e tudo / não tinha mais um escudo / que não estivesse quebrado / as lanças tinham voado / só as viseiras existiam / eles já mal se cobriam / nas horríveis cutiladas / somente as duas espadas / sem dano algum resistiam. / Ferrabraz a resistir / estava com tanta paixão / Oliveiros só um leão / quando alguém quer o ferir / disse: - Vamos decidir / esta batalha comprida / a coisa está conhecida / um denós hoje aqui erra / e neste campo de guerra / um há de deixar a vida. / Oliveiros se ergueu / marcou-lhe a cabeça ao meio / que o golpe foi mais feio / que um cavalheiro deu / Ferrabraz estremeceu / e quase perde o sentido / ficando muito abatido / disse consigo Oliveiros: / - Vós seres um dos primeiros / a seres hoje vencido. / Assim que Ferrabraz viu / se ultimando sua vida / pos a mão sobre a ferida / a Oliveiros pediu / julga-se que o turco sentiu / uma emoção tanto ou quanto / que disparou nesse pranto / ressentido e magoado / como se fosse tocado / do Divino Espírito Santo. / - Nobre e grande cavalheiro / (disse o turco arrependido) / agora estou convencido / que teu Deus é verdadeiro; grande, bom e justiceiro / ente de grande mister / faz tudo quanto ele quer / e nele não há quem pise... / te peço que me batize / depois faça o que quiser. / Estando Oliveiros sentido / por ver assim Ferrabraz / lhe disse: - Hoje serás / pelos pares recebido / não por eu ter-te vencido / mas, sim, por seres cristão / porque a religião / abraça todo rebelde / desde a hora que pede / de suas culpas perdão. Veja mais aqui, aqui e aqui.

ESCOLA DE MULHERES – A peça teatral Escola de Mulheres (L'école des femmes, 1662), do dramaturgo, ator e encenador francês Molière (Jean-Baptiste Poquelin – 1622-1673), conta a história de um solteirão que é contra os maridos traídos, denunciando-lhe as desventuras e que, quando quis casar-se, temendo ser traído, escolheu uma menina que criara desde os quatro anos de idade, precavendo-se para que o ensino dela a deixasse burra. Porém, ela se apaixona por um rapaz. Da obra destaco o trecho final: [...] AGNES (lê) - AS MÁXIMAS DO CASAMENTO Ou Os deveres e Obrigações da Mulher Casada Com o seu Exercício Cotidiano Primeira máxima Aquela que de outrem o leito Integra por honesto nó, Em que pese o banzé que hoje em dia é aceito, Deve sempre ter a peito Que o homem a toma para si só. ARNOLFO - Explicar-te-ei mais tarde o que isto quer dizer; Por enquanto, porém, só se trata de ler. AGNES (prossegue) Segunda Máxima Só se deve enfeitar Na medida em que o acatar O marido que a possui; Basta que o seu ar lhe convenha, E na questão em nada influi Que por feia outra gente a tenha. Terceira Máxima Nada de rendas engomadas, Nem de loções, batons, pomadas, Que o resto põem liso e florido: Para a honra são drogas mortais: E tratos de beleza tais Nunca são para o marido. Quarta Máxima Sob a touca, ao sair de casa, Que abafe todo o olhar fogoso; Para que praza a seu esposo, Mister é que a ninguém mais praza. Quinta Máxima A não ser que o marido a chame, Toda visita é erro flagrante: Se alguém, com índole galante, Como hoje em dia manda a moda, Visa acomodar à Madame, Ao patrão não acomoda. Sexta máxima Berloques e balangandãs, Provenientes dos galãs, E toda espécie de presentes, Rejeitará determinada; Pois que, nos dias presentes, Não se dá por nada. Sétima Máxima De seus móveis, que despache, Sem que proteste, por inteiro, Papel, penas e tinteiro: Onde reina a boa praxe, No lar só o marido deve Escrever o que lá escreve. Oitava Máxima As mulheres de cenáculos, Assembléias, espetáculos, Saem com conceitos corrompidos E é mister serem proibidos, Com o mais que a eles se refira: Pois é lá que conspira, Contra os pobres dos maridos. Nona Máxima Deve uma mulher, que não queira Ficar com a honra desbaratada, Fugir do jogo, mal funesto! Que o jogo, diversão traiçoeira, Faz com que a mulher parada Tope com todo o seu resto. Décima Máxima As excursões silvestres E refeições campestres Evite com mortal praga. Dizem cérebros prudentes Que essa espécie de presentes O marido sempre paga. Décima Primeira Máxima... ARNOLFO - Terminarás sozinha, e essas coisas, em breve, Explicar-te-ei uma a uma, assim como se deve. Neste instante ocorreu-me assunto à mente; Entra, e guarda esse livro, encarecidamente. Vou tratar da questão e volto sem que tarde; Se o notório chegar, que uns momentos me aguarde. Veja mais aqui e aqui.


LOLA – O filme Lola (1961), do diretor e roteirista francês Jacques Demy (1931-1990), é um tributo ao diretor Max Ophüls como um musical sem música e inspirado no filme Der Blaue Engel (1930), de Josef von Sterneberg no qual Marlene Dietrich desenvolveu uma performance burlesca denominada Lola Lola. A história se desenrola na cidade costeira de Nantes, na França, no qual um jovem abandona sua situação na vida e se encontra com uma paixão da sua vida que é Lola, uma dançarina de cabaré, que está dividida entre ele e um marinheiro estadunidense. Eis que o jovem se envolve numa trama de contrabando de diamantes, pelo qual prosperou e tornou-se muito rico, retornando para Nantes com o objetivo de se casar com Lola. Para seu desencanto, ela se vai com o marinheiro, razão pela qual ele fica desanimado e amargo pelos caprichos do amor e da fortuna. O destaque do filme é para a atriz francesa Anouk Aimée. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA 
Charge do caricaturista, cartunista e jornalista francês Charb – Stéphane Charbonnier (1967-2015), assassinado no massacre do jornal satírico francês Charlie Hebdo, no qual era diretor, extraída do livro Marx, manual de instruções (Boitempo, 2013) do filósofo, professor e dirigente da Quarta Internacional, Daniel Bensaid (1946-2010). Veja mais aqui.

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