segunda-feira, julho 13, 2015

SOYINKA, EMIR SADER, KUREISHI, PISCATOR, JOÃO BOSCO, KRICHELDORF, VÁCLAV & CINEMA!!!!!



A Voluptuous Nude, do artista plástico alemão Carl Kricheldorf (1683-1934)


A CRISE HEGEMÔNICA NA AMÉRICA LATINA – No livro A nova toupeira: os caminhos da esquerda latino-americana (Boitempo, 2009), do sociólogo e cientista político Emir Sader, encontro A crise hegemônica na América Latina, em que o autor assim se expressa:  [...] A construção de um projeto hegemônico pós-neoliberal requer, antes de tudo, uma análise das transformações acontecidas nas décadas de aplicação de políticas neoliberais. a) Este tem, antes de tudo, de descobrir a nova geografia da força de trabalho, com sua nova morfologia, especialmente em todo o universo dos que sobrevivem nos multiplicados espaços informais da sociedade. Sem isso, o tema do trabalho que segue sendo estratégico - permanecerá reduzido às dimensões da força de trabalho formal e dos sindicatos. Sem essa reconstituição não se superará o isolamento da esquerda, de suas forças políticas e movimentos sociais, com respeito às novas gerações de juventudes pobres. b) Tem, assim mesmo, de definir a natureza do período histórico com clareza – de hegemonia neoliberal -, com todos os seus elementos de força e de debilidade. Para o qual necessita compreender a capacidade hegemônica maior do neoliberalismo, que reside na sua capacidade de influência ideológica, a partir do chamado american way of life, que disputa a mente de pessoas de praticamente todos os países do mundo, de todas as idades, gêneros e etnias. c) Teria, além do mais, de construir a força social, política, ideológica e organizativa para poder construir essa alternativa pós-neoliberal. A listagem de requerimentos poderia alongar-se demais. Para poder resumi-los, diríamos que dois princípios fundamentais têm de nortear a ação de uma força de esquerda hoje: o de que, “sem teoria revolucionária, não há prática revolucionária” e o de que, “nas sociedades de classe, a ideologia dominante é a ideologia das classes dominantes”. São princípios, porque estão profundamente ancorados na realidade e, embora às vezes se queira esquecê-los, reaparecem à nossa frente como constitutivos da luta contra as sociedades capitalistas, como vetores incontornáveis de qualquer prática social que se pretenda de transformação da realidade. O primeiro remete à ideia de que a prática é implacável frente aos erros teóricos ou à sua falta de elaboração teórica. Pois que, sem decifrar os nós que articulam a realidade concreta, não é possível transformar a teoria em instrumento de transformação. Ainda mais com fortes pressões institucionais e da mídia, via hegemonia do ideário liberal, a ausência de formulações teóricas que ancorem as propostas programáticas, estratégicas e táticas condena inevitavelmente as forças de esquerda à cooptação frente a essas pressões. O segundo representa a necessidade de construir projetos alternativos, para não facilitar uma tendência que hoje é dominante: a adaptação às políticas existentes, à institucionalidade existente, aos consensos fabricados pela grande mídia privada. Representa o reconhecimento da força da hegemonia liberal, tanto a nível econômico e político quanto social, como instrumento de disseminação dos valores da forma de viver estadunidense, que penetra praticamente em todos os setores da sociedade. No essencial, trata-se de reconhecer a dimensão da tarefa pela frente: a de elaborar um projeto pós-neoliberal e construir a força - social, política, cultural e moral - capaz de torná-lo realidade. Veja mais aqui.

NO COLO DO PAI – O livro No colo do pai (Companhia das Letras, 2006), do dramaturgo, cineasta e escritor paquistanês Hanif Kureishi, é um mist de memória e ensaio autobiográfico, construindo duas trajetórias que envolvem, de um lado, o pai angustiado por uma vida inteira que poderia ter sido, mas não foi; e de outro, o filho que conseguiu se afirmar pessoalmente num país repleto de intolerância racial, fascinado pela contracultura num ambiente ainda preso a tradições, correndo riscos e pagando o preço para se libertar dos modelos políticos, religiosos e familiares de seu tempo. Da obra destaco o trecho inicial: No chão, num canto do meu escritório, saliente sob a pilha de papéis diversos, há uma pasta verde velha e surrada que contém o texto capaz de, suponho, revelar muita coisa a respeito de meu pai e de meu próprio passado. Desde que o descobri, porém, fico olhando para ele, depois desvio a vista para me concentrar em outra coisa, pensando nele sem fazer nada a respeito. Recebi o original há poucas semanas, reaparecido depois de mais de onze anos. É um romance escrito por meu pai, um legado de palavras, um testamento prolongado, talvez - ainda não sei o que contém. Como o restante de sua obra de ficção, nunca foi publicado. Acho que devo lê-lo. Quando comecei a pensar no livro que estou escrevendo, deitado à noite na cama - antes de acharem o texto de meu pai - eu pretendia que a obra começasse com outros livros. Refletia sobre o passado, como agora faço frequentemente, recuando mais e mais nos devaneios, e pensava que reler os autores que apreciava na juventude talvez fosse um modo de captar meu jeito quando jovem. Retornaria, por exemplo, a Kerouac, Dostoiévski, Salinger, Orwell, Hesse, Ian Fleming e Wilde, para ver se conseguiria habitar novamente os mundos que um dia eles criaram em minha mente, e me reconhecer dentro deles. Além de tratar dos escritores mais importantes para mim, o livro deveria versar sobre os anos 1960 e 1970, postos ao lado do presente, incluindo material sobre o contexto no qual a leitura e depois a releitura ocorreram. Cada livro, eu esperava, reacenderia lembranças das circunstâncias em que fora lido. Isso faria então com que eu pensasse no que cada livro específico passara a representar para mim. Independentemente de quem mais constasse no livro, decidi desde logo concentrar o foco na obra de Tchecov, em suas cartas, peças e contos. Ele era um dos escritores favoritos de meu pai, e o discutíamos com frequência, o médico e o homem. Todos os livros contêm alguma atitude perante a vida, mas com o tempo abandonamos a maioria dessas abordagens; como relacionamentos extintos, elas não têm mais nada a nos oferecer. Mas ainda sinto curiosidade a respeito de Tchecov e das numerosas vozes que sua obra consegue sustentar, penso com freqüência em retornar não apenas a seus escritos mas a ele como homem, retornar ao modo como ele pensava e sentia e às questões que propunha. Atingi uma espécie de consciência pessoal e política nos anos 1970, uma época particularmente ideológica de auto-representação agressiva. Mulheres, gays e negros começavam a divulgar uma versão nova ou inédita de sua história. Para alguém que pretendia trabalhar no teatro, como eu, era impossível escapar ao argumento de que a cultura era inevitavelmente política. Depois de Trotsky ter dito que "a função da arte em nossa época é determinada por sua atitude perante a revolução", as únicas questões que restavam aos escritores eram: onde você se encontrava? O que você estava fazendo? (Ninguém poderia dizer: que revolução? sem ser excluído da conversa.) Quando eu não sabia qual era o objetivo de minha arte, ou quando queria pensar no que fazia como uma exploração de idéias e personalidades, eu me lembrava de Tchecov. Era um escritor sutil, o poeta supremo da desilusão, do sofrimento e da impotência; e, a exemplo de Albert Camus, um homem capaz de ver que ser empurrado para um nicho ideológico não beneficiava ninguém. O livro que eu pretendia escrever originalmente teria uma forma "livre", mais para o diário do que para a crítica, e trataria do modo como se lê ou se faz uso da literatura, tanto quanto de outras coisas. Afinal, é raro - para mim - ler um livro de ponta a ponta numa tacada. Leio, vivo, retorno ao livro, esqueço quem são os personagens (principalmente se eles têm nomes russos), pego outro livro, deixo de lado, saio de férias, e talvez chegue ao final sem me lembrar do começo. [...] Veja mais aqui.

FADISTA: VIAGEM NAS PRIMEIRAS HORAS – O poeta e dramaturgo nigeriano Wole Soyinka foi o primeiro africano a ser contemplado com o Prêmio Nobel em 1986, autor de obras como Idanre and Other Poems (1967), Poems from Prison (1969), A Shuttle in the Crypt (1972), Poems of Black Africa (1975), Ogun Abibiman (1976), Mandela’s Earth and Other Poems (1988). Entre seus poemas destaco Viagem: Mesmo chegado ao fim da viagem, / jamais senti que tinha chegado. / Peguei a estrada / lentamente a subir a encosta das perguntas, e que me leva / inclusive a descer à terra que conduz a casa. Sei / que a minha carne está claramente mordiscada, perdida / para o perturbado peixe entre as vagas sussurrantes – deixei-os para trás em minha rota / E assim também com o pão e o vinho / necessito a partilha da derrota e da carestia / deixei-os para trás em minha rota / jamais senti que tinha chegado. / Embora amor e boas vindas me acolham em casa / os usurpadores gastam o meu copo em cada / banquete como se fosse a última ceia. Outro de seus poemas que merece destaque é Fadista: A minha pele está puída em demasia / De mim restam apenas as raízes capilares, os filtros fibrosos / Do nervo do tabaco puro / A tua rede está urdida com cordas de sitar / Para conter as mágoas dos deuses: muito deambulei / Em abóbadas de lágrimas da sublime / Rainha dos tormentos noturnos, tu tensas / suturas de música para suportar a imposição dos ritos / De vivos e mortos. Tu / Arrancas prantos estranhos da trovoada / Peneiras pedras raras das cinzas lunares, e elevas / Recados noturnos para o trono da angústia / Ai, há pétalas de mais machucadas / Para perfume, pesa de mais o passo do ar na asa da mariposa / Para uma xícara de pó de arco-íris / Dor de mais, ai, parteira no grito / Da ruptura, dedilha no cordão cósmico, imensas de mais / As dores pascais para um triz do eterno / Livrar-me-ia da tua tirania, livrar-me-ia / De súbitos mergulhos da carne no terremoto / Além de todo o abatimento de juízo / Livrar-me-ia de passeios precipitados / Em resmas de rochas e veias vulcânicas, puxado por corcéis escuros / sobre melódicas rédeas cinzentas. Por fim o poema Nas primeiras horas: Azul diáfano, o fumo do tabaco / Serpentine em filme molhado e esmalte de madeira, / Silencia cromo, grinaldas cortinas de veludo, / Escurece a caverna de espelhos. Dedos fantasma / Algas cabelo pente, veias Acquamarine derrame / Marooned de marinheiros, prisioneiros / De notas sensuais de Circe. O barman / Dispensa ígneas poções? / Somnabulist, a banda toca por diante. / Misturador cocktail, peixe prateado / Danças para clientes limpet. / Aplausos está mergulhada na lassidão, / Emaranhadas em teias de sussurros dos amantes / E cílios artful do andrógino. / O pairando carícia notas da noite / Mellowed índigo profunda? Ainda jogam. / Linger partidas. Ausências não / Empobrecem a taverna. Eles pairam sobre a neblina / Como exalações de margens recuaram. Em breve, / Noite retomar a posse do silêncio, mas até o amanhecer / As notas de dominar, smoky / Epifanias, possessivo das horas. / Perdoa essa música queixa, redime / A surdez do mundo. Noite se transforma / Para casa, envolto em notas de consolo, pregas / O silêncio quebrado do coração. Veja mais aqui.

O SIGNIFICADO DA TÉCNICA TEATRAL – No ensaio Linhas Fundamentais da dramatologia sociológica (Estética Teatral, 1980), do diretor, produtor teatral e um dos expoentes do teatro épico alemão, Erwin Piscator (1893-1966), ele trata do significado da técnica assinalando que: [...] A economia e a política são o nosso destino, e como resultado de ambas a sociedade, o social. E é somente quando reconhecemos esses três fatores, por consentimento, pela luta contra eles, que estabelecemos ligações entre a nossa vida e o histórico do século vinte. Logo, quando apresenta a elevação das cenas particulares ao histórico como ideia fundamental de toda a ação cênica, não se pode entender outra coisa senão a elevação ao politico, ao econômico e ao social. É por eles que unimos o palco à nossa vida. Quem à arte do nosso tempo apresenta outras exigências, faz, consciente ou inconscientemente, que se verifique o desvio ou o entorpecimento de nossas energias. Não podemos deixar que irrompam na cena impulsos ideais, éticos ou morais, quando as suas molas verdadeiras são políticas, econômicas e sociais. Quem não quer ou não pode reconhecer isso, não vê a realidade. E igualmente não pode o teatro dar vazão a outros impulsos, se pretende ser realmente o teatro atual e representativo da nossa geração. [...] O teatro atual, como a mim se apresente e como eu o dirijo, não pode limitar-se a agir sobre o espectador apenas artisticamente, isto é, esteticamente, sob a forte acentuação do sentimental. A sua missão consiste em intervir ativamente no curso do fato histórico. E ele só cumpre a missão mostrando a história em seu curso. O teatro não pode aceitar nenhuma limitação a isso. Tem de reivindicar o direito de, no curso histórico de um determinado período como expoentes de forças sociais e políticas. A única limitação que o teatro atual reconhece, na representação de tais personalidades, é a verdade histórica [...]. Veja mais aqui.

FATAL CHARM – O suspense Fatal Charm (1977), dirigido por Stelvio Massi, tem uma bela imagem e uma razoável história sobre o desaparecimento de mulheres bonitas, até que um detetive passa a investigar o caso para descobrir o mistério por trás desses desaparecimentos. A película traz muita ação, aventura e suspense, culminando com a destacada atuação da atriz e escritora britânica Joan Collins que ficou famosa com a série Dynasty e pela sua participação especial na série A cidade a beira da eternidade. Em 2014 ela revelou que foi violada aos dezessete anos pelo ator Maxwell Reed, que viria a ser o seu primeiro marido. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
A arte do gravador tcheco Václav Hollar (1607-1677).

Veja mais sobre:
O passado escreveu o presente; o futuro, agora, Sociolinguística de Dino Preti, o teatro de Bertolt Brecht, Nunca houve guerrilha em Palmares de Luiz Berto, a música de Adriana Hölszky, a escultura de Antonio Frilli, a arte de Thomas Rowlandson, a pintura de Dimitra Milan & Vera Donskaya-Khilko aqui.

E mais:
A liberdade de expressão, A filha de Agamenon de Ismail Kadaré, A natureza de Parmênides de Eléia, Poema sujo de Ferreira Gullar, O teatro essencial de Denise Stoklos, a música de Badi Assad, o cinema de Ingmar Bergman & Liv Ullmann, a escultura de Emilio Fiaschi, Programa Tataritaritatá, a pintura de Gustav Klint & Vera Donskaya-Khilko aqui.
O discurso do método de René Descartes, a música de João Bosco, o teatro de Denise Stoklos, o cinema de Ingmar Bergman, a pintura de Gustav Klimt, Sandra Regina, Bernadethe Ribeiro & Danny Calixto aqui.
Literatura de cordel: História do capitão do navio, de Silviano Pirauá de Lima aqui.
Preconceito, ó! Xô pra lá, Diários de viagem de Franz Kafka, A revolta de Atlas de Ayn Rand, A lua e o infinito de Giacomo Leopardi, a música de Leoš Janáček & Cheryl Barker, o cinema de Alessandro Blasetti & Sophia Loren, Maguerite Anzieu & Jacques Lacan: caso Aimée, a arte de Liliana Castro, a pintura de Helmut Breuninger & Hermann Fenner-Behmer aqui.
Os vexames dum curau no sul, O absurdo de Thomas Nagel, Voragem de Junichiro Tanizaki, Pretidão de amor de Emílio de Meneses, Mão na luva de Oduvaldo Vianna Filho, o cinema de Olivier Assayas & Maggie Cheung, a música de Rosalia de Souza, a pintura de Pierre-Auguste Renoir & Suzanne Frie aqui.
Quadrilha das paixões mais intensas, Vaqueiros & cantadores de Luís da Câmara Cascudo, Terra de Caruaru de José Condé, a música da Orquestra Armorial & Cussy de Almeida, A Setilha de Serrador, O casamento de Maria Feia de Rutinaldo Miranda Batista, a arte de Roberto Burle Marx. a xilogravura de Severino Borges, J. Miguel & Vermelho aqui.
Entre nós, vivo você, as gravuras de Lasar Segall, a música de Sivuca, Cartilha do cantador de Aleixo Leite Filho, Cancão de fogo de Jairo Lima, a poesia de Belarmino França, a arte de Luciah Lopez, a xilogravura de J. Borges & José Costa Leite aqui.
Dos bichos de todas as feras e mansas, Cantadores de Leonardo Mota, O Romance da Besta Fubana de Luiz Berto, O martelo alagoano de Manoel Chelé, a música do Duo Backer, a escultura de Antoni Gaudí, a militância de Brigitte Mohnhaupt, a arte de Natalia Fabia & a xilogravura de J. Borges aqui.
Quem desiste jamais saberá o gosto de qualquer vitória, A linguagem & as ciências de Roman Jakobson, Nos caminhos de Swan de Marcel Proust, a arte de Regina José Galindo, a fotografia de Thomas Karsten, a pintura de Henry Asencio, a música de Secos & Molhados & Luiza Possi aqui.
Tudo em mim, mestiço sou, O povo brasileiro de Darcy Ribeiro, A história da minha vida de Helen Keller, Anarquismo & ensaios de Emma Goldman, a escultura de Luiz Morrone, a fotografia de Pisco Del Gaiso, Os Fofos Encenam & Viviane Madu, a música de Guilhermina Suggia & a pintura de Martin Eder aqui.
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CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Imagem: Lezend naakt, do artista plástico holandês Isaac Lazarus Israels (1865-1934)
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