sexta-feira, julho 17, 2015

LÉVINAS, CRAIG, BRÁULIO TAVARES, WOJCIECH, DELAROCHE, BÉCAT, FERNANDA GUIMARÃES, MEIMEI CORRÊA & O CULTO DA ROSA.


VAMOS APRUMAR A CONVERSA? O CULTO DA ROSA (canção à flor, mulher amada) – Era uma vez e o tempo presente nos prazeres tardios, ah minha alma da vida inventando horizontes, rainha das flores de Safo se desmanchando em doçura nua com seu buquê de açucena na pele quente que semeia a beleza e acode a minha alegria. Era uma vez, duas vezes com todo encantamento da sua nudez que enche a maré de suspiros apertados e eu sentinela viro o inseto que leva o grão de pólen como o pombo com as águas de céu e inferno para ser o adepto mais fiel do seu coração beija-flor. Era uma vez, duas, três vezes e ela nua bole e eu mexo o flagrante anímico de Deus, tiro o doce e deixo o leite na herbácea perene, deusa dos meus sonhos, perfume mais fino que possa existir no teor mais metafísico dessa imanência. Ah e dela sinto o mais leve olor ao alcançar o gineceu de beleza incomparável, de variedade trepadora na instalação do etéreo emanar na manhã e divina de jardim perfumado de desejo. É ela que me leva pelo aroma da de Sharom, a santificada por Salomão no Cântico dos Cânticos. É ela que possui a realeza da de Hélios e a das sessenta pétalas dos jardins de Midas que figuraram nas armas dos heróis da guerra de Tróia. É ela que vem de sobra e fartura no meu verso aprumado com as que desapareceram dos jardins suspensos da Babilônia, como a das águas que Vênus embalsamou o corpo de Aquiles, como a que coroou o soldado romano depois da queda de Cartago. É ela nua que vaza e faz paga como quem deve com toda a essência da que é Príncipe Negro, o negro que é vermelho bem escuro. É ela destinatária de tudo que vem se aninhar em mim com o cheiro da santa de Viterbo, como a que fora proibida pelo pai de dar esmolas aos pobres. É ela nua radiante que me retém com o incenso da Chá, Sinensis, a mais antiga oriunda da China, como a Azimutal Sideral que auxiliou a navegar o Índico sob as estrelas de distâncias polares no rumo do horizonte. É ela que me detém com jeito atrevida e nua como a seiva da dos gregos, nos rumos da Torre dos Ventos, chamada Rhodon, ou como a Rústica de Giulio Cesare Cortese; ou como a que o lapidário inspirado homenageia a Holanda ou Antuérpia pra encher os olhos do polidor de diamantes. Ela que vem nua e linda como a Mística, como a santificada de Isabel, como a Santa-Maria, como a da chuva do Vaticano, como a das meninas recém-nascidas. Ela que vem nua e linda com todas as honras de rainha para que eu, Tagore inflamado, saiba: "passando de folhas para flores porque começaram a amar..." É ela nua e linda que vem se aninhar em mim com o orvalho da do Ouro do Papa Gregório II; como a da Rainha Josefina, como a das pedras no quintal, como a que o rodólogo, exímio amante, multiplica com sua dedicação. É ela que nua e linda vara as noites no nosso proscênio de gestos fartos, com toda a sedução da Azul utópica, como a de Hildesheim, de mil anos, como a da guerra de York e Lancaster, como de Joaquim Fontes que está comigo. É ela que vem no olho do furacão acontecendo nos meus dias como a Gallica, de propriedades medicinais; como a de Malherbe, como a dos tesouros da moura encantada que não desmente o que promete nem retoma o que dá. É ela que me oferece toda safra de algodão dos seus mimos com a graciosidade da Malvácea Aurora em sua metamorfose durante todo o dia até sabê-la Amor-de-Homem. É ela inquieta e nua que não cessa nem sacia a enchente do meu gozo com toda a maravilha da Brinco-de-Rainha, como a Malva, como a Super-Star, como a do monte dos Alpes, como a Altéia que me cura com seu amor e ainda me farta a fome, a Geléia Rosela, a Caruru Azedo. É ela que acontece na peleja e me detém no truque de toda formosura da de Lima, a primeira santa nativa do continente americano, simples deidade peruana. É ela com toda teimosia de carnaval na manhã clara que me enfeitiça como a de Bokor e a jovem princesa apaixonada pelo oficial japonês no extinto cinema cambojano. É ela que me embriaga como a da cachaça com erva doce, canela em pau, cravo e calda grossa de açúcar: a do Sol. É ela que me seduz como a dos ventos do lirismo erótico da poetisa uruguaia Juana Hernandez de Ibarbourou, a Juana de América. É ela que me deixa ao deus-dará como a de Yeats, o homem que sonhava com o país das fadas e escrevia versos para quando ficar velho. É ela que se enrosca roçando a minha pele como a acetinada de Engandi, nos versos que viraram estudo psicozoológicos do guatemalteco Arévalo Martinez. É ela a de Cem Folhas do poeta galego Ramon Cabanillas, a da Cruz do poeta russo Blok, a de Luxemburg com o sonho abatido à bala. É ela a do Povo de Drummond, a de Raoom, a rosa rosa, todas numa só que é uma só: a rosa é ela. (O Trâmite da Solidão – Nascente, 1993). Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

Imagem: Jeune fille dans une vasque, do pintor francês Paul Delaroche (1797-1856)

Curtindo September Symphony / Lament for choir a cappella (2003), do compositor polonês Wojciech Kilar (1932-2013), com a Warsaw Philharmonic Choir/Henryk Wojnarowski & Warsaw Philharmonic Symphony Orchestra/Antoni Wit.

TOTALIDADE E INFINITO – A obra Totalidade e infinito (Edições 70, 2008), do filósofo francês Emmanuel Lévinas (1906-1995), apresenta a sua tese de crítica do Mesmo e valorização da alteridade como formadora do sujeito e fundamentadora da ética, na condução de um novo humanismo a partir da noção de rosto numa alteridade absoluta – o Humanismo do Outro Homem, com a proposta de que a ética é a condução primeira e a dimensão fundadora do humano sob a perspectiva do método fenomenológico, bem como a responsabilidade como o grande vestígio do humano no mundo e a estética da proximidade-vulnerabilidade enquanto sensibilidade na sustentação e no despertar da espiritualidade. Ao valorizar a ética e a dimensão do outro como pressupostos básicos da filosofia, denuncia o autor a incapacidade da racionalidade além do egoísmo e do interesse de preservação de si no vício da mesmidade. Ele discute a questão de que o infinito se opondo à totalidade, negando a síntese da consciência universal e propondo o entendimento pela individualização humana a partir da ética, como sendo a filosofia primeira, na relação entre o homem e outro, o rosto ético. Veja mais aqui e aqui.

MUNDO FANTASMO – O Mundo fantasmo primeiramente surgiu em livro publicado em Portugal, em 1994, pela Editorial Caminho, sendo, depois, publicado com o título Mundo fantasmo: a espinha dorsal da memória, em 1996, pela Editora Rocco, e, por fim, transformado em blog que reúne artigos publicados diariamente no Jornal da Paraíba, de Campina Grande – PB, pelo escritor, compositor e pesquisador paraibano Bráulio Tavares. Além de ter o privilégio de acompanhar suas publicações no blog em referência (e que recomendo o acesso bastando clicar aqui), dele tive a oportunidade ler, entre outros livros, Os martelos de Trupizupe (Engenho e Arte, 2004), ocasião em que fui agraciado pela generosidade de sua irmã Clotildes Tavares, com a oportunidade de entrevista-lo para o meu Guia de Poesia. Para conferir sobre a entrevista, o livro e tudo o mais clique aqui, aqui, aqui, aqui e veja mais aqui.

CHAMAM-ME MULHER NO MOMENTO ÍNTIMO - O destaque poético de hoje é da poetamiga cearense Fernanda Guimarães que é graduada em Serviço Social e atua na área de Turismo, e que há anos acompanho na rede suas publicações nas mais diversas antologias, portais, revistas e sites da internet, inclusive reunindo seu trabalho literário no Recanto das Letras. Dela destaco primeiramente o seu poema Chamam-me mulher: Chamam-me mulher! Essa que atrevida, pluraliza-me, / Quando me penso solidão. Essa que me acolhe e instiga, / Saltando dos abismos e espelhos / Declarando-me aos meus silêncios. / Chamam-me mulher! Essa que tantas almas tem, / Mas que incontida pelo sentir / Revira-me e sabe-me em afetos. Essa que é dona de mim / Sem certidões ou posses. / Chamam-me mulher! Essa que impulsiva me seduz / Com os sons femininos da poesia / E acesa, oferece-me ao verso. Essa que atravessa desertos / E faz-se oásis para o universo. / Chamam-me mulher! Essa que chega antes do tempo, / Remexendo o relógio dos conceitos. / Essa que deixa dores ao vento / E seca lágrimas no colo do sol / Ofertando-me as mãos do recomeçar. / Chamam-me mulher / Essa que permite o mundo / Em seus braços repousar / E em cada sussurro do alvorecer / Fecunda-se sempre de vida / No útero do amor eterno. Também meritório de destaque o seu Momento íntimo: Não me peças a palavra exata / Vivo para além de todas as letras / Pudesses adivinhar os gestos / Quando entre um verso e outro / Suspira o olhar em eterna busca / Não me falarias em certezas / Perscruta-me sempre o indizível / Precipício sorrateiro e invisível / Onde as mãos lançam-se vazias / Ávidas por mim mesma / Mãos alheias, vezes suaves / Estendidas a recolher / As preces que eu não disse / Mãos que me aprisionam / Em muros farpados / Arranhando-me a pele dos sentidos / Mãos que me afagam / E acolhem sem perguntas / Os lamentos que não senti / É apenas meu este silêncio / Esse confessar íntimo de palavras / Quando desgarradas de mim / As mãos sussurram meus gritos inaudíveis / E entrelaçam meus dedos e voz / Conjugando os meus sons / Ecos desafinados do meu desconhecer / Esses que como cordas tensas / Perambulam notas graves / Buscando o tom que mais revele / Esta dissonante incompreensão / Impalpabilidade de mim por mim mesma / Neste momento em que sou apenas só / E minhas mãos são pedras / Da minha própria vidraça / Estilhaçando as lágrimas / Que meus olhos não puderam chorar. Veja mais aqui.

A ARTE DO TEATRO – O livro A arte do teatro (1905 - Estética Teatral, 1980), do ator, encenador, cenógrafo e um dos pilares do Simbolismo Teatral, Edward Gordon Craig (1872-1966), expressa a ideia de que “A arte é a antítese do caos, que não passa de uma avalanche de acidentes”. Na obra destaco os trechos de O ator e a surmarionnette: [...] O diretor de teatro moderno procura uma suntuosa encenação. Não recua perante qualquer esforço para dar ao publico a impressão da realidade transportada para a cena. Não para de nos repetir que os cenários e a encenação são de uma importância capital. E isso por várias razões, entre as quais a principal é que pressente um grave perigo na interpretação harmoniosa e bela; vê formar-se um grupo de pessoas que não é partidário dessas faustosas encenações; não ignora que na Europa se esboçou um movimento neste sentido; que se pretende que as peças clássicas podiam ser representadas diante de um simples telão de fundo. Movimento importante que se estende de Cracóvia a Moscou, de Paris a Roma, de Londres a Berlim e a Viena. Os diretores de teatro veem chegar esse perigo; dizem a si próprios que no dia em que o publico se aperceber, no dia em que os espectadores tiverem experimentado o prazer de uma peça sem cenários irão mais longe e reclamarão uma peça sem atores; e, finalmente, irão tão longe, que serão eles, espectadores, e não os diretores os reformadores da Arte do Teatro. [...] Com esse objetivo, é necessário aplicarmo-nos a reconstruir essas imagens, e não contentes com um boneco, precisamos de criar uma Surmarionnette. Esta não rivalizará com a vida, mas irá além dela; não figurará o corpo de carne e osso, mas o corpo em estado de êxtase, e enquanto emanar dela um espírito vivo, revestir-se-á de uma beleza de morte. Essa palavra morte vem naturalmente ao bico de pena por aproximação com a palavra vida que os realistas reclamam constantemente. Alguns verão nisso uma afetação da minha parte, aquelas sobretudo que não sentem o poder e a alegria misteriosa das obras de arte serenas. Se um Rubens, um Rafael nada deixaram senão de apaixonado e ardente, muitos outros artistas, pelo contrário, vindo antes ou depois deles, tiveram por ideal a medida e, apesar disso, mais do que todos os outros, estes artistas testemunharam um vigor viril na sua arte. Veja mais aqui.

EROTIC SYMPHONY – O drama romanesco Erotic Symphony (Sinfonia Erótica, 1979), do cineasta, roteirista e produtor de cinema espanhol Jess Franco (Jesús Franco Manera, 1930-2013), reconhecido iconoclasta dos filmes horróticos e cultuado como cineasta do trash e do underground, produziu mais de duzentos filmes, entre os quais, esta sinfonia erótica baseada na obra de Marquês de Sade e que situações inusitadas transcorrem numa suntuosa residência em clima de sonho entre uma esposa rica, seu marido, o empregado e uma freira – Armand, Martine, Norma e Fiore – que se veem envolvidos num clima de erotismo, suspense e conspiração, tudo girando na ambição do marido para se apropriar da riqueza da esposa. O destaque da película - na verdade, o que mais me chamou atenção no filme foi conhecer a ousadia do diretor, o clima dado ao que li de Marquês de Sade e a atriz -, a atriz alemã nascida portuguesa Susan Hemingway (registrada como Maria Rosália Coutinho). Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
Gravuras do pintor, gravador e ilustrador francês Paul-Émile Bécat (1885-1960),

VAMOS APRUMAR A CONVERSA?
Imagem: Ísis Nefelibata - arte de Meimei Corrêa
Aprume aqui, aquiaqui.


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A esperança equilibrista, O espaço da cidadania de Milton Santos, Admirável mundo novo de Aldous Huxley, Os saberes da educação de Edgar Morin, a música de Vivaldi & Michala Petri, a fotografia de Andreas Feininger, a pintura de Gianluca Mantovani & Jose De la Barra, a arte de Daniele Lunghin & Dave Stevens aqui.

E mais:
Ah, se em todo lugar houvesse amor, Indivíduo reprimido de Herbert Marcuse, Ordem ao exército da arte de Vladimir Maiakovski, Testamento do teatro de Jerzy Grotowski, o cinema de Ken Loach & Eva Birthistle, Os saltimbancos de Chico Buarque, a pintura de Edgar Degas, O lobisomem Zonzo & Brincarte do Nitolino aqui.
A nuvem de calças de Maiakovski aqui.
Esfíngica amante aqui.
A liberdade de expressão, A natureza de Parmênides de Eléia, A filha de Agamenon de Ismail Kadaré, O poema sujo de Ferreira Gullar, O teatro essencial de Denise Stoklos, o cinema de o Ingmar Bergman & Liv Ullmann, a música de Badi Assad, a escultura de Emilio Fiaschi, a pintura de Gustav Klint & Vera Donskaya-Khilko, o Programa Tataritaritatá & muito mais aqui.
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