ANIVERSÁRIO – No livro O eu profundos e os outros eus (Nova Fronteira, 1980), do poeta e
filósofo português Fernando Pessoa
(1888-1935), encontro a seção Fernando Pessoa, o outro – Ficções do interlúdio
-, em que destaco o poema Aniversário no heterônimo Álvaro de Campos: No TEMPO em que festejavam o dia dos meus
anos, / Eu era feliz e ninguém estava morto. / Na casa antiga, até eu fazer
anos era uma tradição de há séculos, / E a alegria de todos, e a minha, estava
certa com uma religião qualquer. / No TEMPO em que festejavam o dia dos meus
anos, / Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma, / De ser
inteligente para entre a família, / E de não ter as esperanças que os outros
tinham por mim. / Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças. / Quando
vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida. / Sim, o que fui de suposto
a mim-mesmo, / O que fui de coração e parentesco. / O que fui de serões de
meia-província, / O que fui de amarem-me e eu ser menino, / O que fui — ai, meu
Deus!, o que só hoje sei que fui... / A que distância!... / (Nem o acho...) / O
tempo em que festejavam o dia dos meus anos! / O que eu sou hoje é como a umidade
no corredor do fim da casa, / Pondo grelado nas paredes... / O que eu sou hoje
(e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas), / O que eu sou
hoje é terem vendido a casa, / É terem morrido todos, / estar eu sobrevivente a
mim-mesmo como um fósforo frio... / No tempo em que festejavam o dia dos meus
anos... / Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo! / Desejo físico da alma de
se encontrar ali outra vez, / Por uma viagem metafísica e carnal, / Com uma
dualidade de eu para mim... / Comer o passado como pão de fome, sem tempo de
manteiga nos dentes! / Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o
que há aqui... / A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça,
com mais copos, / O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na
sombra debaixo do alçado —, / As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era
por minha causa, / No tempo em que festejavam o dia dos meus anos... / Pára,
meu coração! / Não penses! Deixa o pensar na cabeça! / Ó meu Deus, meu Deus,
meu Deus! / Hoje já não faço anos. / Duro. Somam-se-me dias. / Serei velho
quando o for. / Mais nada. / Raiva de não ter trazido o passado roubado na
algibeira!... / O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!... Veja mais aqui e aqui.
Imagem: Perfume dos campos (1899), óleo sobre tela -, do pintor português Luciano Freire (1864-1935).
Curtindo o álbum Rasgando seda (2012), do músico e compositor Guinga com o Quinteto Villa-Lobos.
VAMOS APRUMAR A CONVERSA? - (Arte de Meimei Corrêa) - Quando compus a canção Serenar era mil novecentos e oitenta e pouco. Não lembro. Sei que foi ou em meados da década de oitenta, ou um pouco mais já na segunda metade desses anos. Sei que foram dias e dias, varei noites, meses, pelejando na canção e outros tantos depois da melodia quase pronta, para trabalhar a letra. Acredito que chegou a um semestre inteiro ou mais, acho. Sei que foi demorado, parto que só rebentou mesmo depois de meses de gestação. Abandonei várias vezes, mas a música insistia. E insistente invadia meus sonhos, roubava a atenção no trabalho, surgia nas horas mais imprevistas, até mesmo quando não tinha caneta, nem violão, nem gravador, nem nada. Ficava batucando na cabeça, contando compasso para não esquecer. Ficou atravessada na garganta e só rebentou inteira na última hora, quando eu estava prestes a abandoná-la. Era a última tentativa de fechá-la, quando desisti, saiu inteira. Pronta. E ficou nisso: Ah! O amor brotou de mim como se fora a flor de lis. Fiz e refiz e nem se serenou, logrou a dor em certos sonhos infantis. Ah! O amor, predestinado a ser eterno aprendiz, seguiu no triz e nem se revelou e arrumou o que de breve nem se quis. Chegou de dentro como chama de vulcão, queimou com força e fez a vez do coração. E nem sequer sabia onde encontrar você. O amor fez a loucura dominar a solidão, me diz que não a ilusão não vai mandar e vai me dar um sim até não ter mais fim. Chegou de dentro como chama de vulcão, queimou com força e fez a vez do coração. E nem sequer sabia onde encontrar você pra me iluminar até que o mar seja comigo agora, não vejo a hora de poder tocar na sua mão. Toda emoção pra se valer precisa ter o dom da vida, vida vivida pelo coração (Serenar, letra & música de Luiz Alberto Machado). Veja mais aqui e aqui.
CULTO DA FEMINILIDADE – O livro Tantra: o culto da feminilidade – outra visão da vida e do sexo (Summus, 1994), do escritor e professor de yoga belga André Van Lysebeth (10 de outubro de 1919 - 28 de janeiro de 2004), trata sobre a viagem imaginária, uma Atlântida esquecida, a fábula do bom ariano, a impostura ariana, a primeira cidade tântrica, as castas: mistura explosiva, a Índia bramânica obcecada sexual, a visão tântrica, a outra visão do sexo, mitos e símbolos, o ritual tântrico, o domínio sexual, a filosofia tântrica, tempo profano e tempo sagrado, o overmind, a morte é a vida, a mulher, Zohar, Cabala, banho de sol cósmico, quando o sexo vira problema, uma educação sexual a realizar, a mulher campeã erótica, o yantra e o dínamo psíquico, Shiva, Shakti, todas as mulheres são deusas, musculação do yoni, o orgasmo masculino, entre outros assuntos. Da obra destaco o trecho A mulher, seu culto e seu mistério, que começa com uma epígrafe do Shaktisangama-Tantra II, 52: A Mulher cria o universo, ela é o próprio corpo desse universo. A Mulher é o suporte dos três mundos, ela é a essência de nosso corpo. Não há outra felicidade senão aquela proporcionada pela Mulher. Não outro caminho senão aquele que a Mulher pode abrir para nós. Nunca houve e nunca haverá, nem ontem, nem agora, nem amanhã, outra ventura senão a Mulher; nem reino, nem peregrinação, nem yoga, nem prece, nem fórmula mágica (mantra), nem ascese, nem plenitude além daquela prodigalizada pela Mulher. [...] Toda mulher é Shakti: Deusa-mãe, iniciadora, origem de toda vida, fonte de prazer, caminho para a transcendência: a mulher e seu mistério são o coração do tantra, são a essência de sua mensagem mulher. [...] De fato, o tantrismo se resume ao acesso aos aspectos abissais da Mulher, ocultos na mulher real, comum. O Kaulâvali-Tantra diz: É preciso prosternar-se diante de qualquer mulher, seja ela moça, no esplendor juvenil, seja velha; seja bela ou feia, boa ou má. Nunca se deve enganá-la, caluniá-la nem fazer-lhe mal, nunca bater-lhe. Esses atos tornam qualquer siddhi (realização) impossível [...]. Veja mais aqui, aqui e aqui.
PSICOLOGIA SOCIAL: SUBJETIVIDADE E CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO – O livro Subjetividade e constituição do sujeito em Vygotsky (Vozes, 2000), da professora, pesquisadora e doutora em Psicologia Social da Furg, Susana Inês Molon, trata da teoria do cientista e pensamento bielorrusso Lev Vygotsky (1896-1934) como desbravadora de fronteiras ontológicas e epistemológicas, a introdução dessa teoria na psicologia, a crise metodológica da psicologia à criação de uma psicologia social, as concepções sobre a constituição do sujeito, a subjetividade e o sujeito na construção do conceito de consciência e na definição da relação constitutiva eu-outro, entre outros assuntos. Da obra destaco o trecho introdutório: O resgate da teoria vygotskyana vem sendo realizado nas diversas áreas do conhecimento. Inúmeras reflexões são feitas tanto em publicações quanto em eventos científicos. O crescente interesse pelo autor, criador do enfoque sócio-histórico, advem, principalmente, da sua proposta de historicidade do homem e dos processos psicológicos. Atualmente, muitos pesquisadores estão revendo sua obra, construindo novos questionamentos e fazendo outras sínteses na busca de sistematizações de conceitos a partir de seus princípios e categorias fundamentais. Devido ao caráter inacabado de sua obra – em razão de sua morte prematura -, à riqueza e à complexidade das temáticas e à escassez de publicações, sua teoria possibilita diferentes apropriações e diversas polêmicas estão emergindo. Dentre as temáticas emergentes estão a subjetividade e a constituição do sujeito. A palavra subjetividade é imediatamente associada à psicologia, tanto no senso comum quanto nas produções científicas, aparecendo nos mais diversos contextos e apresentando vários significados. As temáticas do sujeito e da subjetividade surgiram com a ciência moderna e suas emergências estiveram vinculadas às condições que propiciaram o desenvolvimento das ciências sociais e humanas, da psicologia, em especial [...]. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
UMA
RELAÇÃO PORNOGRÁFICA – Tudo
começa com o texto Une liaison
pornographique, do escritor e cineasta iraniano radicado franco-belga Philippe Blasband que, em 1999, tornou-se
um drama romântico no cinema com direção do cineasta belga Frédéric Fonteyne,
contando a história de um homem e uma mulher que se encontram num café a partir
de um anúncio de jornal para realizar uma fantasia sexual. Eles demonstram o
medo de se entregar num relacionamento, porém seguem para o hotel e, depois da
experiência, passam a se encontrar regulamente. Ambos não sabem nada acerca um
do outro, deixando claro que o proposito deles é meramente realizar todas as
suas fantasias. A partir disso emergem sentimentos e afinadas, surgindo
indagações e um relacionamento vai se acentuando além do envolvimento sexual. O
próprio autor depois adaptou o texto para o teatro que, inclusive, ganhou os
palcos brasileiros – Uma relação pornográfica -, com direção Victor Garcia
Peralta e no elenco Guilherme Leme e Ana Beatriz Nogueira. Veja mais aqui.
IMAGEM DO DIA
Gravura do pintor, escultor e
gravurista judeu brasileiro nascido na Lituânia, Lasar Segall (1891-1957).
TODO DIA É DIA DOS NAMORADOS!!!!!
Veja mais sobre:
Cantarau Tataritaritatá, O teatro pobre de Jerzy Grotowski, 1919
de John dos Passos, Estética teatral de José Oliveira Barata, a
coreografia de Xavier Le Roy, a música de
Carlos Careqa, a pintura de Alex
Mortensen & a arte de Vesselin Vassilev aqui.
E mais:
Vamos aprumar a conversa: a culpa é da
Dilma, Sermão do bom
ladrão de Padre Antônio Vieira, Amargura de mulher de Henriqueta Lisboa, O
projeto Atman de Ken Wilber, a música de Heitor Villa-Lobos & María Luisa
Tamez, Prometeu acorrentado de Ésquilo, o cinema de Abbas Kiarostami &
Juliette Binoche, a pintura de Peter Paul Rubens, a arte de Ekaterina Mortensen
& Alex Toth aqui.
A literatura de Antoine de Saint-Exupéry,
a música de Aarre Merikanto & Colin Hay & Cris Braun, a pintura de Paul
Klee & Clóvis Graciano aqui.
Três poemetos da festa de amor pra ela:
Festa, Essa carne & Viagem aqui.
A Lei de Responsabilidade Fiscal, Projeto
Justiça à Poesia & Simone Moura Mendes aqui.
Brincarte do Nitolino, Condição humana de Norbert Elias, a
poesia de Alexander Pushkin, O lugar do outro de Jean-Luc Lagarce, o cinema de
Antonio Carlos da Fontoura & Flávia Alessandra, a pintura de Paul Gauguin,
a arte de Luis Fernando Veríssimo, Luiza Curvo & a música de Eduardo
Camenietzki aqui.
Vamos aprumar a conversa: Segunda feira, As consequências da modernidade de
Anthony Giddens, Memórias de Adriano de Marguerite de Yourcenar, a música de Robert Schumann, Fedra de Jean Racine, o cinema de
Arnaldo Jabor & Sônia Braga, a pintura de Francisco Ribalta & a arte de
Ary Spoelstra aqui.
O teatro de William Shakespeare, Alice no
país do quantum de Robert Gilmore, O fio & as missangas de Mia Couto, Paixão
& autobiografia de Patricia Galvão, a música de Carl Otto Nicolai, o cinema
de Richard Eyre & Jean Iris Murdoch, a pintura de David Scott, a arte de
Adriano Kitani & Programa Tataritaritatá aqui.
Freyaravi & o circo dos prazeres, Cultura do consumo & pós-modernismo
de Mike Featherstone, Contos brasileiros de Julieta
de Godoy Ladeira, Kama sutra de Vātsyāyana, a fotografia de Ralf
Mohr, Humanitarian Projects, a música de Marisa
Monte, a pintura de Crystal Barbre & a
arte de Luciah Lopez aqui.
Lualmaluz, Técnica & ideologia de Jürgen
Habermas, De segunda a um ano de John Cage, História da literatura brasileira
de Nelson Werneck Sodré, A balsa da Medusa, a escultura
de George Kurjanowicz, a música de Sally Seltmann, a pintura de Théodore Géricault & Moisés Finalé, a arte de Marni
Kotak & Luciah Lopez aqui.
Quando tudo é manhã do dia pra noite, Agonia da noite de Jorge Amado, a
música de George Bizet & Adriana Damato, Folclore
musical de Wagner Ribeiro, a pintura de Aleksandr
Fayvisovich & Bryan Thompson, Posthuman bodies de Halbertam
& Livingstone, a fotografia de Christian Coigny, a
arte de Mirai Mizue & Luciah Lopez aqui.
&
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
Terra:
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.