segunda-feira, junho 08, 2015

GIDDENS, RACINE, YOURCENAR, SCHUMANN, RIBALTA, SPOELSTRA & SONIA BRAGA.


VAMOS APRUMAR A CONVERSA? SEGUNDA FEIRA: Não estou morto e respirei aliviado. Veio o Sol e não sei nada, nem me eternizo. Não tenho ninguém para ficar comigo a esta hora. E as pessoas patéticas e tolas saíram para não sei quê nem onde: fabricam sonhos nas ruas. Os barulhos indômitos refazem a cidade de pernas pro ar. Sorrio e choro lavando o destino, nenhuma ressurreição no tempo: o sisifismo louco dos dias e a contagem regressiva das horas. Coabita comigo as imagens de ontem e a migração dos ponteiros no corrimão tortuoso da manhã. Ademais, me deprimo com tudo isso: tudo no espelho. Não estou morto e respirei aliviado com o amanhecer. (Luiz Alberto Machado. O Trâmite da Solidão: Nascente, no prelo). Veja mais aqui.

Imagem: Martyrdom of St Catherine, do pintor espanhol Francisco Ribalta (1565-1628).

Curtindo Concerto para Piano e Orquestra em Lá menor, Opus 54. (1841 e 1845), do músico e compositor alemão Robert Schumann (1810-1856), in New Talent Concert con la Meadows Symphony Orchestra y Paul Phillips (director). Caruth Auditorium (Dallas, EEUU). Marzo 2008.

AS CONSEQUÊNCIAS DA MODERNIDADE – A obra As consequências da modernidade (Unesp, 1991) do sociólogo britânico Anthony Giddens, aborda temas como as descontinuidades da modernidade, segurança e perigo, confiança e risco, sociologia e modernidade, tempo e espaço, desencaixe, a reflexividade da modernidade, pós-modemidade, as dimensões institucionais da modernidade, a globalização, duas perspectivas teóricas, dimensões da globalização, confiança em sistemas abstratos, perícia, segurança ontológica, o pré-modemo, a transformação da intimidade, relações pessoais, reações de adaptação, uma fenomenologia da modernidade, desabilitação e reabilitação na vida cotidiana, objeções à pós-modemidade, Jagrená: realismo utópico, orientações futuras, o papel dos movimentos sociais, entre outros assuntos. Da obra destaco o trecho introdutório: Hoje, no final do século XX, muita gente argumenta que estamos no limiar de uma nova era, a qual as ciências sociais devem responder e que está nos levando para além da própria modernidade. Uma estonteante variedade de termos tem sido sugerida para esta transição, alguns dos quais se referem positivamente à emergência de um novo tipo de sistema social (tal como a "sociedade de informação" ou a "sociedade de consumo"), mas cuja maioria sugere que, mais que um estado de coisas precedente, está chegando a um encerramento ("pós-modernidade", "pós-modernismo", "sociedade pósindustrial", e assim por diante). Alguns dos debates sobre estas questões se concentram principalmente sobre transformações institucionais, particularmente as que sugerem que estamos nos deslocando de um sistema baseado na manufatura de bens materiais para outro relacionado mais centralmente com informação. Mais frequentemente, contudo, estas controvérsias enfocam amplamente questões de filosofia e epistemologia. Esta é a perspectiva característica, por exemplo, do autor que foi em primeiro lugar responsável pela popularização da noção de pós-modernidade, Jean-François Lyotard. Como ele a representa, a pós-modernidade se refere a um deslocamento das tentativas de fundamentar a epistemologia, e da fé no progresso planejado humanamente. A condição da pós-modernidade é caracterizada por uma evaporação da grand narrative — o "enredo" dominante por meio do qual somos inseridos na história como seres tendo um passado definitivo e um futuro predizível. A perspectiva pós-moderna vê uma pluralidade de reivindicações heterogêneas de conhecimento, na qual a ciência não tem um lugar privilegiado. [...] Veja mais aqui.

MEMÓRIAS DE ADRIANO – O romance Memórias de Adriano (Mémoires d'Hadrien - Círculo do Libro, 1974), da escritora belga de língua francesa Marguerite de Yourcenar (1903-1987), narra a autobiografia imaginária em forma de carta do imperador romano Adriano dirigida a seu filho adotivo e futuro imperador, Marco Aurélio, dividida em seis partes que se iniciam com um prologo, Animula vagula blandula, Varius multiplex multiformis, Tellus satabilita, Saeculum aureum, Disciplina augusta, Patientia e o epílogo, contando suas façanhas e paixão pelo jovem catamita Antínoo, no período de início do Cristianismo. Da obra destaco o trecho: [...] Trouxeram-me para Baias; o trajeto foi penoso sob o calor de julho, mas respiro melhor à beira-mar. As ondas fazem na praia seu murmúrio de seda amarrotada e de carícia; desfruto ainda de longos entardeceres rosados. Já não seguro as tabuinhas de anotações, exceto para ocupar minhas mãos, que se agitam independentemente da minha vontade. Ordenei que fossem chamar Antonino; um correio partiu a toda a pressa para Roma. Ruído dos cascos de Borístenes, galope do cavaleiro trácio... O pequeno grupo dos meus íntimos está reunido à minha cabeceira. Chábrias faz-me pena; as lágrimas assentam mal às rugas dos velhos. O belo rosto de Céler permanece, como sempre, estranhamente calmo; procura cuidar-me sem deixar transparecer nada que possa aumentar a inquietação ou a fadiga do doente. Mas Diotimo soluça, com a cabeça enterrada nas almofadas. Assegurei seu futuro. Ele não ama a Itália; poderá realizar seu sonho de retornar a Gadara e abrir ali com um amigo uma escola de eloqüência. Nada tem a perder com minha morte. Entretanto, o frágil ombro agita-se convulsivamente sob as dobras da túnica; sinto sob meus dedos lágrimas deliciosas. Adriano terá sido humanamente amado, até o fim. Pequena alma, alma terna e inconstante, companheira do meu corpo, de que foste hóspede, vais descer àqueles lugares pálidos, duros e nus, onde deveras renunciar aos jogos de outrora. Por um momento, contemplemos juntos ainda os lugares familiares, os objetos que certamente nunca mais veremos... Esforcemo-nos por entrar na morte com os olhos abertos... Veja mais aqui e aqui.

FEDRA – A tragédia em cinco atos Fedra (1677), do poeta trágico, dramaturgo, matemático e historiador francês Jean Racine (1639-1699), conta a história que envolve os personagens Hipólito, Teseu, Fedra, Enone e Ismênia – oriunda da tragédia Hipólito de Eurípides. Da obra destaco a Cena VII do quinto ato traduzido por Millôr Fernandes: CENA VII (Teseu, Fedra, Terâmeno, Panopéa, Guardas) TESEU Pois bem, tu triunfaste; meu filho já não vive! Ah, quantas razões de medo; uma suspeita cruel Alarma meu coração até o fundo! Mas, bem!, ele está morto. A vítima te pertence. Goza o seu fim, justo ou injusto. Que os meus olhos continuem enganados para sempre. Devia ser culpado, pois tu o acusaste. Sua morte já me traz dores bastantes Para que eu vá atrás de verdades odiosas Que não me darão Hipólito de volta, E talvez venham aumentar meu desespero. Deixem-me longe de todos, longe destes lugares, Longe da imagem de meu filho estraçalhado. Perdido, perseguido pela lembrança mortal, Gostaria de exilar-me do Universo inteiro. Tudo parece se erguer contra minha injustiça; A fama do meu nome aumenta o meu suplício: Desconhecido dos homens seria fácil esconder-me. Odeio as atenções com que me honram os deuses; Já estou aqui chorando seus louvores assassinos; Não vou cansá-los mais com súplicas inúteis. Façam o que fizerem, essa proteção funesta, Jamais me pagará o que de mim tiraram. FEDRA Não, Teseu, é necessário romper um injusto silencio; Devolvendo a teu filho toda sua inocência; Ele não tinha culpa. TESEU Ah! pai infortunado! E por acreditar em ti eu o condenei! Cruel! Pensa que bastaria uma desculpa... FEDRA Os momentos são preciosos. Me escuta, Teseu. Fui eu que lancei um olhar profano e incestuoso Sobre teu filho respeitoso e casto. O céu pôs no meu peito uma chama insaciável, E a execrável Enone conduziu todo o resto. Ela temia que Hipólito, ao conhecer minha paixão, Revelasse o sentimento que lhe causava horror. A infame, abusando de minha extrema fraqueza, Correu junto de ti e o acusou sem pena. Depois, fugindo à minha ira, castigou a si mesma, Procurando nas ondas o suplício mais fácil. Com a espada eu pretendia encurtar meu destino, Mas temi deixar minha honra gemendo entre suspeitas. Vindo aqui expor os meus remorsos Eu desço até os mortos por caminho mais lento. Um veneno, que Medéa me trouxe de Atenas, Já corre e queima em minhas veias, Atinge meu coração. E nesse coração moribundo lança um terror gelado. Uma nuvem opaca já me oculta O céu e o esposo, a quem minha vida insulta. A morte, mergulhando meus olhos no escuro, Devolve à luz do dia o seu brilho mais puro. PANOPÉA Está morta, senhor! TESEU Pudesse expirar com ela a memória Dessa ação tão negra! Vai, Teseu, com o teu erro, ai!, tão demonstrado, Vai misturar tuas lágrimas ao sangue de teu filho Abraçar o que resta dele, Expiar o remorso de teu apelo aos deuses. Rendamos a Hipólito as honras que merece. E pra melhor apaziguar seu espírito torturado E os deuses que urdiram tal armadilha Arícia, sua amante, agora é minha filha. Veja mais aqui.

EU TE AMO – O drama Eu te amo (1981), dirigido pelo cineasta, escritor, jornalista, roteirista e dramaturgo Arnaldo Jabor, com trilha sonora de Cesar Camargo Mariano e música de Tom Jobim e Chico Buarque, relata a história de um casal: um industrial recém-separado e falido, uma mulher traumatizada por um relacionamento unilateral. Ambos desejam se amar, porém impera um medo brutal no encontro que se desenvolve por meio de diálogos e monólogos surreais que tratam de machismo, prostituição e homossexualidade, retratando uma visão pessimista do Brasil. O destaque do filme é a sempre maravilhosa atriz e ícone cultural brasileira Sonia Braga. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
 A arte do desenhista, ilustrador e artista gráfico holandês radicado no Caribe, Ary Spoelstra.


Veja mais sobre:
Tunga: toro imaginário no interior de uma rocha, a poesia de César Vallejo, a estética do teatro de Redondo Junior, João Pessoa, a arte de Sônia Braga, a música de Ná Ozzetti & Os sapos da política de Edson Moura aqui.

E mais:
Vamos aprumar a conversa: segunda-feira, As conseqüências da modernidade de Anthony Giddens, Fedra de s Jean Racine, o cinema de Arnaldo Jabor & Sônia Braga, a literatura de Marguerite de Yourcenar, a música de Robert Schumann, a pintura de Francisco Ribalta & a arte de Ary Spoelstra aqui.
A personologia de Henry Murray aqui.
Literatura de cordel: A quadrilha junina de Francisco Diniz aqui.
Precisamos discutir sobre os próximos 20 anos, Vitórias e derrota de Zygmunt Bauman, A humanidade do estranho diário de Carolina de Jesus, o teatro de Tennessee William, o cinema de Jules Dassin & Melina Mercouri, Brincarte & Literatura Infantil, A vida íntima & privada de Fernanda Bruno, a coreografia de Janice Garrett and Dancers Heidi Schweiker, a pintura de Alessandra Tomazi, a entrevista de Rejane Souza, a arte de Arlinda Fernandes & Luciah Lopez, a música de Irina Costa & Canção de quem ama além da conta aqui.
Aprendi a voar nas páginas de um livro, O homem e seus símbolos de Carl Gustav Jung, O homem e a sociedade de Wilfred Ruprecht Bion, A atualidade de Georg Simmel, a escultura de Wilhelm Lehmbruck, Assombrações de Eduardo Caballero Calderón, o teatro de Oduvaldo Vianna Filho & Helena Varvaki, O direito de viver e deixar viver, a fotografia de Rebeka Barbosa, a arte de Karen Robinson & Luiz Paulo Baravelli, a música de Tarita de Souza, Tracey Emin & Samuel Szpigel, a entrevista de Katia Velo, Por mais que a gente faça nunca será demais & Do que fui e o que não sou mais aqui.
Para viver o personagem do homem, Educação e escolarização de Ivan Illich, Vínculo, afeto & apego de Edward John Bowlby, Platão, o teatro de Nelson Rodrigues, a entrevista de Geraldo Azevedo, a pintura de Cândido Portinari, a escultura de Georg Kolbe, o cinema de Shohei Imamura & Misa Shimizu, a música de Zap Mama & Marie Daulne, a coreografia de Katherine Lawrence, a fotografia de Ryan Galbrath & Mario Testino, Bastinha Job, A Notícia & Jamilton Barbosa Correia, a arte de Rachel Howard, Depois das eleições, De cara pro futuro, levando tudo nos peitos, munheca em dia & pé na tábua & O que deu, deu; o que não deu, só na outra aqui.
Quando o futuro chega ao presente, Escritos de Michel Philippot, A bússola dobrada de Phillip Pullman, A física do horizonte de Gilles Cohen-Tannoudji, A música de Antonín Dvořák & Alisa Weilerstein, a arte de Willow Bader & Lorenzo Villa, a fotografia de Katyucia Melo & a poesia de Bárbara Sanco aqui.
Mais que tudo o amor, Confesso que vivi de Pablo Neruda, o pensamento de Pierre Gringore, O teatro e seu duplo de Antonin Artaud, a música de Ana Rucner, a fotografia de Daniel Ilinca, a poesia de Mariza Lourenço & a arte de Luciah Lopez aqui.
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