sexta-feira, abril 17, 2015

CASARES, POICTIERS, LOUISE CARDOSO, MINGUS, BONNARD, ESTÉTICA TEATRAL & CABRA MARCADO PARA MORRER


DIÁRIO DA GUERRA DO PORCO – O livro Diário da guerra do porco (1968 – Expressão e Cultura, 1972), do escritor argentino Adolfo Bioy Casares (1914-1999), é uma das mais importantes obras do autor e foi escrito quando sentiu a aproximação da velhice, contando a história do aposentado Isidro Vidal que vive de jogos num populoso casarão. O assassinato do ancião revela uma perseguição dos jovens aos velhos em Buenos Aires. Da obra destaco o seguinte trecho: [...] Aproveitou a água que sobrou dos mates para fazer a barba. Com estudada lentidão, como se aquilo fosse uma prova, um exame por que deveria passar, barbeou-se minuciosamente. Depois de tirar com a toalha, os restos de sabão, passou pelo rosto uma mão fiscalizadora e deu-se por satisfeito. Mudou de roupa, arrumou um pouco o quarto, jogou o poncho sobre os ombros, apagou a luz, apanhou o chaveiro e saiu. Caminhou com passos rápidos, atento apenas ao trajeto. Como se quisesse distraí-lo, a rua preparou-lhe uma surpresa. Ao virar a esquina de Salgueiro, deu de cara com Antônia e seu noivo, só que este já não era o sobrinho de Bongliolo, e sim Faber. – Não me dá os parabéns? – perguntou o velho, com voz de cornetim e sorriso babado. – Parabéns para os dois – replicou Vidal, sem se deter, e pensou que o fato de o casal ser ou não uma vergonha era coisa que não lhe importava. Já estava chegando, quando uns garotos que pulavam num pé só, na calçada, lhe embargaram o passo. – Um momento – pediram. – Estamos brincando de correspondentes de guerra e queremos as suas impressões sobre esta paz. – Por que é que pulam num pé só? – Estamos feridos. Pode nos dar as suas impressões? – Não tenho tempo. – Podemos esperar? – Podem. Empurrou o portãozinho de ferro, atravessou o jardim, entrou na casa, correu pelas escadas acima. Mal o viu, Nélida abriu os braços. – Até que enfim! – exclamou e desatou a chorar. – Por que não vieste antes? Pelo que aconteceu? Que desgraça, meu amor! Não precisavas de mim? Eu estou triste, preciso de ti ao meu lado. Sofreste muito? Já não me amavas? Eu continuo te amando, sabes? Amo-te muito, muito... Nélida continuou exclamando, protestando, gemendo, perguntando, como se nunca mais fosse calar, até que Vidal a segurou com firmeza, a empurrou para dentro, a reclinou sobre a cama. – A porta está aberta – murmurou Nélida. – Depois a gente a fecha...respondeu Vidal [...]. Veja mais aqui.

Imagem: Nu au tub (1912) do pintor francês do Grupo dos Nabis, Pierre Bonard (1867-1947). Veja mais aqui.

Ouvindo a coletânea Passions of a Man: The Complete Atlantic Recordings (1956–1961, lançada em 1979), do contrabaixista, pianista, regente, arranjador e compositor de jazz Charles Mingus (1922-1979).

A CANÇÃO DE POICTIERS – Um dos primeiros trovadores e poetas vernaculares foi Guillaume de Poictiers (1071-1127)– o Guilherme da Aquitânia, o Trovador, Duque de Aquitânia e da Gasconha e Conde de Poictiers, foi recolhida uma canção que foi traduzida por Augusto de Campo e destaco o seguinte trecho: Quero que saibam o valor/ da canção, se boa de cor, / que elaborei com meu calor: / neste mister eu levo a flor, / ninguém me bate, / irei prova-lo assim que for / dado o remate. / Conheço bem senso e loucura, / conheço honra e desventura, / já senti pavor e bravura; / mas se propõem jogo de amor / não fico atrás. / Escolho sempre o que é melhor / do que me apraz. / Conheço bem quem me quer bem / e sei quem me quer mal também, / quem ri de mim, quem me convém, / e se de mim se achega alguém / sei muito mais: / como saber prezar a quem / prazer lhe faz. Bem haja aquele de onde vim, / pois que soube fazer de mim / alguém tão bom  para esse fim; / que eu sei jogar sobre coxim / de qualquer lado; / não há ninguém que o faça assim, / por mais dotado. / Bendigo a Deus e a São Julião / por tão bem cumprir a missão / e jogar com tão boa mão. / Se alguém precisa de lição, / que venha logo: / as que vierem voltarão / sabendo o jogo. / Chamaram-me o mestre sem defeito: / toda mulher com quem me deito / quer amanhã rever meu leito; / neste mister sou tão perfeito, / tenho tal arte, / que tenho pão e pouso feito ; por toda a parte [...]. Veja mais aqui.


DO SEMINARISTA & GAIJIN À LEILA DINIZ E O DIÁRIO DE TATI – Mulher do cinema, teatro e televisão, a belíssima atriz Louise Cardoso tem no seu currículo a participação em trinta e um filmes, entre os quais os destacados o drama Gaijin – os caminhos da liberdade (1981) e o drama biográfico Leila Diniz (1987), numa trajetória iniciada com O Seminarista (1976) até o Diário de Tati (2012). Ela foi formada pelo Teatro Tablado de Maria Clara Machado, participando de vários espetáculos, entre os quais o sucesso Pluft Fantasminha até ganhar o prêmio de atriz revelação em 1975, pela participação na peça O Dragão, perfazendo quarenta anos de carreira. Veja mais aqui e aqui.

ESTÉTICA TEATRAL – O livro Estética teatral: antologia de textos (Moraes – Lisboa, 1981), de José Oliveira Barata, reúne trechos de textos de Bhrata, Platão, Aristóteles, Terêncio, Horácio, Shakespeare, Lope de Veja, Corneille, Racine, Goldoni, Schiller, Nietzsche, Victor Hugo, Zola, Bernard Shaw, Barrault, Marinetti, Maiakovski, Stanislavski, Eliot, Pirandello, Artaud, Piscator, Ionesco, Brook, Grotowski, entre outros, com notas bibliográficas, registros fotográficos, reflexão sobre teatro e literatura, as origens, a evolução e o teatro na cidade, a cena e os problemas shakespereano, a encenação e as principais tendências, Antoine & o naturalismo e a evolução teatral, a herança de Antoine: Appia e Craig, Artaud e Brecht, entre o absurdo e o brechtianismo e o mais que se será, os interpretes, entre outros assuntos. Veja mais aqui e aqui.


CABRA MARCADO PARA MORRER – No Dia Internacional de Luta dos Trabalhadores do Campo, nada mais justo que trazer a indicação para o excelente filme documentário Cabra marcado para morrer (1984), dirigido por Eduardo Coutinho e música de Rogério Rossini, trazendo uma narrativa semidocumental sobre a vida do líder camponês da Paraíba, João Pedro Teixeira, que foi assassinado em 1962, e das Ligas Camponesas de Galileia e de Sapé. As filmagens foram interrompidas em 1964 por conta do golpe militar, retomando as gravações dezessete anos depois. Veja mais aqui.






IMAGEM DO DIA
Academic study (1855 – Coleção Victoria and Albert - V&A - Londres), de John Watson.


Veja mais sobre:
Primeiro de maio, Os sete pecados sociais de Mahatma Gandhi, O trabalho e os dias de Hesíodo, o pensamento de Karl Marx, Adam Smith & David Ricardo, a pintura de Tarsila do Amaral, a música de Chico Buarque & Milton Nascimento, Esopo & o Dia da Literatura Brasileira aqui.

E mais:
Salmo da cana, Os doze trabalhos de Peisândro de Rodes, Germinal de Émile Zola, O operário em construção de Vinicius de Moraes, O trabalho de Hesíodo, a pintura de Cândido Portinari, Informe de Brodie de Jorge Luis Borges, Tempos modernos de Charlie Chaplin, a escultura de Auguste Rodin, a música de Chico Buarque, o teatro de Nelson Rodrigues, a arte de Magda Mraz, Infância, imagem & literatura aqui.
O trabalho & a sua organização aqui.
Cidadania na escola, o pensamento de George Wald, Carta de Sêneca, a música de Antonio Carlos Nóbrega, a poesia de Nauro Machado, o teatro de Newton Moreno, o cinema de Philippe Garrel & Clotilde Hesme, a pintura de Elizabeth Boott Duveneck, Distanásia, A administração pública & os crimes contra a administração pública aqui.
O trabalho: escravidão, subordinação e desemprego aqui.
O trabalho da mulher aqui.
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O queijo e os vermes de Carlo Ginzburg, O cortiço de Aluísio de Azevedo, a música de Arrigo Barnabé, a pintura de Otto Lingner, Acontece Curitiba & Claudia Cozzella, o cinema de Francisco Pereira da Silva & Ítala Nandi, a fotografia de Robert Doisneau, a arte de Mano Melo & Programa Tataritaritatá aqui.
Literatura Infantil, a pintura de Leonardo da Vinci, a música de John McLaughlin & John Cage, O suicídio de Émile Durkheim, a literatura de Henry James, o cinema de Mel Smith & Emma Thompson, a arte de Luiz Fernando Veríssimo, Padre Bidião: Toumal & a Mulher de Bushman aqui.
Damaianti, A sede dos deuses de Anatole France, Manifesto dadaísta de Tristan Tzara, O grande ditador de Charlie Chaplin, O Homem Vitruviano de Leonardo da Vinci, a pintura de Henri Fantin-Latour, a música de Edson Natale & Tons & Sons aqui.
Recomeçar do que vai e vem, A arte da poesia de Ezra Pound, Trajetória da juventude de Miriam Abramovay, Carta ao poeta de Rui Knopfli, a pintura de Aleksandr Gerasimov, a música de Tanita Tikaram, a arte de Annette Kellerman & Luciah Lopez aqui.
Direitos de toda mulher, A gravidade e a graça de Simone Weil, Declaração dos direitos da mulher de Olympe de Gouges, a poesia de Magdalena Isabel Monteiro, a pintura de Jose Higuera, a música do Quarteto Radamés Gnattali, a escultura de Bruno Giorgi & a fotografia de Arne Jakobsen aqui.
Minha nossa, quanta poluição, A teia da vida de Fritjof Capra, a poesia de António Gedeão, Máquinas e seres vivos de Humberto Maturana & Francisco Varela, a pintura de Patricia Awapara, a música de Sarah Brightman, a fotografia de Stefan Kuhn & a arte de Kézia Talisin aqui.
Tudo é Brasil, A colonização do imaginário de Serge Gruzinski, a literatura de Hermilo Borba Filho, Literalmente de Pasquale Cipro Neto, a escultura de Emilio Fiaschi, a música de Jamiroquai & a fotografia de Jennifer Nehrbass aqui.
E lá vou eu noutras voltas, Variações do corpo de Michel Serres, a literatura de Antonio Tabucchi & Vianna Moog, a música de Mundo Livre S/A & Ataulfo Alves, a pintura de Aja-ann Trier, a fotografia de Raoul Hausmann & a arte de Matthew Guarnaccia aqui.
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