DITOS &
DESDITOS - Pessoas fortes não
precisam de líderes fortes... Lembre-se, não estamos lutando apenas pela
liberdade do negro, mas pela liberdade do espírito humano, uma liberdade maior
que abrange toda a humanidade... O desenvolvimento do indivíduo ao seu mais
alto potencial para o benefício do grupo... Pensamento da ativista estadunidense Ella Baker (1903-1986).
ALGUÉM FALOU: A irresponsabilidade faz parte do prazer de
toda arte; é a parte que as escolas não conseguem reconhecer... Não vejo nada
de mais importante para o futuro do nosso país e da civilização do que o pleno
reconhecimento do lugar do artista. Se a arte alimenta as raízes de nossa
cultura, a sociedade deve deixar o artista livre para seguir sua visão aonde
quer que ela o leve... Pensamento da crítica de cinema
estadunidense Pauline Kael (1919-2001).
DIALÉTICA DO SEXO - [...] A aula de sexo é tão profunda que chega a ser
invisível. Ou pode aparecer como uma desigualdade superficial, que pode ser
resolvida por apenas algumas reformas, ou talvez pela plena integração das
mulheres na força de trabalho. Mas a reação do homem, mulher e criança comuns -
Isso? Por que você não pode mudar isso! Você deve estar louco! [...] Há
alguma ironia no fato de que as crianças imaginam que os pais podem fazer o que
querem, e os pais imaginam que os filhos fazem. "Quando eu
crescer..." é paralelo a "Oh, ser criança de novo... [...] O mito
da infância tem um paralelo ainda maior no mito da Feminilidade. Tanto as
mulheres quanto as crianças eram consideradas assexuadas e, portanto,
"mais puras" que o homem. Seu status inferior era mal disfarçado sob
um elaborado "respeito. [...] o
amor é essencialmente um fenômeno muito mais simples - torna-se complicado,
corrompido ou obstruído por um equilíbrio desigual de poder. [...] Na visão feminista radical, o novo feminismo
não é apenas o renascimento de um movimento político sério pela igualdade
social. É a segunda onda da revolução mais importante da história. Seu
objetivo: derrubar o mais antigo e rígido sistema de classes/castas existente,
o sistema de classes baseado no sexo - um sistema consolidado ao longo de
milhares de anos, emprestando aos papéis masculinos e femininos arquetípicos
uma legitimidade imerecida e aparente permanência. [...] A divisão yin e yang permeia toda a cultura,
história, economia, a própria natureza; versões ocidentais modernas de
discriminação sexual são apenas a camada mais recente. [...] Um livro sobre feminismo radical que não
tratasse do amor seria um fracasso político. Pois o amor, talvez até mais do
que a gravidez, é o pivô da opressão das mulheres hoje. [...] A suposição de que, abaixo da economia, a
realidade é psicossexual é frequentemente rejeitada como a-histórica por
aqueles que aceitam uma visão materialista dialética da história porque parece
nos levar de volta onde Marx começou: tateando através de uma névoa de
hipóteses utópicas, sistemas filosóficos que podem ser certo, isso pode estar
errado (não há como saber); sistemas que explicam desenvolvimentos históricos
concretos por categorias de pensamento a priori; o materialismo histórico, no
entanto, tentou explicar 'saber' por 'ser' e não vice-versa. [...] As mulheres só podem alcançar a
individualidade por meio de sua aparência. [...] Porque a opressão de classe de mulheres e crianças expressa na
fraseologia de "fofo" é muito mais difícil lutar do que a opressão
aberta. [...] A estimulação erótica
constante da sexualidade masculina, juntamente com sua liberação proibida
através da maioria dos canais normais, é projetada para encorajar os homens a
olhar para as mulheres apenas como coisas cuja resistência à penetração deve
ser superada. [...]. Trechos
extraídos da obra The Dialectic of Sex: The Case for Feminist Revolution (Farrar, Straus and Giroux; 2003), da escritora e feminist canadense
ShulamithFirestone (1945-2012).
MEMÓRIA DA
MELANCOLIA - [...] Todos os atos da vida eram regidos por aquele passo
militar e fanfaculdade. correntes invisíveis. Pouco a pouco o ar ficou claro. As
pessoas falavam menos. Um dia, enquanto Rafael estava na Universidade de Berlim
dando uma palestra sobre poesia tradicional espanhola, uma menina foi
pisoteada. Mas porque? Y eles nos deram uma resposta curta: ela é judia. Em
outra ocasião, quando o professor Angel Rosenblat, argentino, perguntou no
metrô: aconteceu algo? Eles responderam-lhe: Não falamos com judeus. E à nossa
Rosa Chace!, então de cabelos luminosos e inteligentes, os jovens nazistas a
desprezavam. estão, então espalhando o jornal sobre seus rostos para que ela
não pudesse olhe para eles. Isso foi perdido. [...] Você tem que viver no
cuidado de memórias.O que seria da vida se nós os abandonamos?[...] Continuo
escrevendo sobre os mortos.Memória para esquecer.Hoje, LuísCernuda, de Sevilha.Encontrei entre tantos papéis quanto a vida nos dádeixa uma revista adormecida nas gavetas de casa: chama-se
outubro ecomeçou a ser publicado em Madri em 1933. Em dois de seus números,encontrei algo escrito por Cernuda.Pode surpreender alguns porque issorevista tinha o subtítulo Escritores e Artistas Revolucionários.Sob o título "Aqueles que aderem", leio estas palavras [...] É precisofim, destruir a sociedade expirada em que a vida atual é debatidasionada.Esta sociedade suga, esgota, destrói as jovens energias
que agoraeles vêm à tona.Deve ser morto, deve ser destruído antes quedestruir tais energias e, com elas, a própria vida.Eu confio nisso em uma revoluçãolução que o comunismo inspira.A vida será salva assim."Lendo esta declaração muitos vão rasgar suas roupas.Eles vão dizer: isso éimpossível.Luis Cernuda, o poeta todo canto interior, escreveu isso?[...] Nós, porém, voltamos
a vê-lo tão jovem, tão bem vestido...Ele sorriu com certa reserva irônica.Sempre esperamos uma explosão deleou a forma incomum de julgar algo ou alguém.Muitas vezes nos encontramosjuntamente com Rosa Chace), o excelente escritor e amigo
inseparável deLuis, Concha Albornoz.Eles eram três pessoas muito diferentes, mas eles sabiamestar juntosRosa era casada com o pintor Pérez Rubio, escrevia
confianteprosa forte e talentosa de um romancista nato.Concha, filha de D. ÁlvaroAlbornoz, Ministro da República, não teve talento criativo mas
acompanhoue crítico, indo muito bem com Luis Cernuda, que ouviu seu beloaquela voz aguda e soube valorizar a paz que aquela mulher
pequena e ponderadada sabia como enfrentar as tempestades amorosas que se
precipitavam sobre Luís comoverdadeiras avalanches. [...] Trechos extraídos da obra Memoria delamelancolia (Laia/
Picaza, 1977), da escritora espanhola María Teresa LeónGoyri
(1903–1988).
DOIS POEMAS - I - Eu
sonho, como todas as crianças, / Em navegar em um barco! / E encontrando uma
concha mágica / No fundo do oceano. II – O ruído
corta o silêncio. / O tempo não existe mais. / Alguém inventou uma guerra, / Para
durar cem mil anos. / Alguém inventou nomes, / E cortou os séculos. / Em um
mundo de guerra eterna, / As nuvens são amaldiçoadas. / Todos os que nasceram
tiraram sortes, / E todos nós morreremos. / Você pode decidir ir para a luz / ou cair
no gelo. Poemas da escritora russa Polina Zherebtsova.
SAÚDE DA MULHER - Abordar temática a respeito da “Saúde da mulher” sob óticas que envolvam o meio ambiente cultural, a organização da sociedade e o meio ambiente físico, requer uma observância além das questões de caráter meramente biológicos e patológicos, acrescentando-se, necessariamente, correspondências históricas e configurações culturais e sociais, que permeiam a temática e que se articulam no sentido de encontrar uma verdadeira política destinada à saúde da mulher. Há que se considerar, em primeiro lugar, que a partir da década de 60, quando se tornou mais aguda as manifestações contestatórias de liberdade e emancipação feminina, a mulher vem assumindo responsabilidades mais participativas seja no seio familiar, social, cultural e econômico, proporcionando-lhe uma mais abrangente participação além daquela expressão histórica de apenas responsável pela reprodução e perpetuação humanas. Por causa disso, a mulher, devido sua participação ativa no trabalho, na economia familiar, na vida política do país, na educação dos filhos, na condução dos destinos da humanidade, tem sido exposta a um maior acometimento de enfermidades, tendo visto sua jornada de trabalho ser bastante superior à dedicada na tarefa profissional masculina. Isto quer dizer que, além de se dedicar aos afazeres domésticos, ainda se dedica à atividade laboral visando contribuir com o equilíbrio econômico da família que, notadamente, expõe a mulher a um maior desgaste emocional e, consequentemente, maior exposição às enfermidades.
Em estudo elaborado por Aquino, Menezes & Amoedo (1992), constatou-se que a mulher desempenha uma sobrecarga de trabalho bastante pesada, razão porque “(...) as mulheres apresentam maior prevalência de problemas de saúde, maior demanda e maior utilização de serviços de saúde, o que é consistente com a literatura internacional”. Segundo estes estudos, “(...) O maior risco feminino para a maioria das doenças agudas provavelmente está relacionado, em primeiro lugar, às especificidades do trabalho que as mulheres exercem no cuidado da casa e dos filhos. (...) à gestação, ao parto, ao puerpério e a outros problemas gineco-obstétricos” (Aquino, Menezes & Amoedo, 1992). Este mesmo estudo observa que: “A inserção crescente no mercado de trabalho não tem desobrigado as mulheres de suas funções tradicionais, o que implica o acúmulo de tarefas, com maior estresse físico e mental, além dos riscos ocupacionais conseqüentes à dupla inserção”. Assim sendo, chega-se a entender que o processo de emancipação da mulher, a conquista dos direitos e a sua participação mais efetiva fora do foro íntimo da família, têm proporcionado, portanto, uma incansável labuta. Por esta razão, conforme os estudos de Aquino, Menezes & Amoedo (1992), “(...) as mulheres costumam expressar ansiedade e tensão através de sintomas físicos”. Este estudo desenvolvido que foi registrado no artigo “Gênero e saúde no Brasil: considerações a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios”, as autoras observam que: “(...) entre as mulheres, de doenças agudas e das incapacidades advindas destas condições, como a restrição de atividades habituais e a necessidade de permanência no leito, mesmo quando excluídas as complicações ligadas à gravidez, e ao parto”. No entanto, observam que entre as doenças que freqüentemente contribuem para este excesso feminino de problemas de saúde, estão as doenças infecciosas, as condições respiratórias, as doenças do sistema digestivo e outras condições agudas, como as dores de cabeça e de ouvido, problemas de pele, além de “(...) viroses inespecíficas e problemas músculo-esqueléticos”.
No que tange às questões mais associadas ao câncer feminino, Guinar Azevedo e Silva Mendonça, no artigo “Câncer na população feminina brasileira”, observam que, no Brasil, “(...) Os cânceres de mama e útero representaram quase um terço desses óbitos”, considerando que “(...) O aumento da vida média, a queda da taxa de fecundidade, as modificações no estilo de vida e a maior exposição a determinados riscos ambientais são fatores que interferem diretamente no aparecimento de um maior número de neoplasias malignas”. E mais que: “(....) os principais fatores de risco para o câncer de mama são de natureza biológica e dizem respeito à história reprodutiva e familiar da mulher”. Isto quer dizer que além da jornada de trabalho, vem a necessidade de se observar o grande crescimento industrial que sofreram os centros urbanos brasileiros, nas últimas décadas e que isto traz, como conseqüência direta, maior exposição da população a agentes potencialmente cancerígenos.
Azevedo & Mendonça (1993) observam que “O câncer de colo uterino está fortemente associado à atividade sexual, mais especificamente, ao número de parceiros e à idade da primeira relação sexual”. Neste parâmetro, os estudos de Luiz Augusto Marcondes Fonseca, Adriana de Souza Ramaciotti e José Eluf Neto, estes autores observam os índices da mortalidade por câncer de colo de útero, avaliando as taxas ajustadas por idade, levando-se em conta que tal mortalidade não é especificamente alta em São Paulo, concluindo que: “(...) É provável que a expansão do acesso à atenção médica, incluído aí o próprio teste de Papanicolaou, bem como á informação sobre a doença expliquem parte da queda da mortalidade entre as mulheres mais jovens, observada no período estudado; já a maior precisão na atribuição da causa básica da morte pode ser devida à maior disponibilidade de métodos diagnósticos em anos mais recentes” (Fonseca, Ramaciotti & Eluf Neto, 2004:141). Isto quer dizer, portanto, que apesar da queda nas taxas de tal incidência, ainda não se chega ao patamar desejado de atendimento preventivo. Isto porque, segundo Azevedo & Mendonça (1993), se deve ao fato da “(...) desarticulação entre os diversos níveis de assistência à saúde, ociosidade da rede pública, falta de programação e avaliação das ações, impedem que qualquer programa assistencial ou preventivo possa ter melhores resultados”.
Enfim, conforme assinalam Rezende, Moreli & Rezende (2000), “No Brasil, não é conhecida a real magnitude do problema” evidenciado pela mortalidade materna, uma vez que contribuem para tal fato “(...) uma conjunção de fatores de risco, que devem ser enfrentados de forma sistemática e eficiente”.
Partindo para a observação da maneira como o meio ambiente cultural, no que tange aos valores, as crenças e a história, há que se considerar a predominante expressão patriarcal machista, que atua inibindo o processo de desenvolvimento emancipatório da mulher. E nisso encontra-se subjacente a condução observada por Josina Magalhães Roncisvalle & Laís Mourão, em seu artigo “A terra e a mulher: seu ventre e seus frutos”, abordando que em época remota: “O mundo era de fato um cosmo: céu, terra e seres humanos em unidade, movidos por uma cumplicidade em benefício da criação.(...) A interdependência entre todos os reinos da natureza, era uma verdade tão patente para nossos antepassados, é grande demais para nossos cérebros atuais (...) onde somos obrigados a viver num mundo homogeneizado, massificado pelas demandas da produção e do mercado, excluída qualquer disponibilidade para vinculações”. E isto se associa às questões de organização da sociedade, no que concerne às instituições políticas, estruturas econômicas e normas sociais, quando da predominância hegemônica do posicionamento da sociedade patriarcal e machista, aliada ao capitalismo e sua voraz necessidade de acumulação e consumo, possibilitando maiores conflitos na condução do processo emancipatório da mulher, tendo em vista que desta requer maior postura aguerrida de afirmação, além de fazê-la se desdobrar entre os afazeres domésticos e profissionais, sobrecarregando suas atividades cotidianas. E é evidente que isto causa problemas de saúde na mulher.
No que concerne ao meio ambiente físico, seja na questão geográfica, climática e tecnológica, observa-se, ainda, um agudo estado de exclusão, onde em todas as regiões do país se encontram reservas de exclusos sociais, que alijados de uma maior participação social, da educação, da informação e do conhecimento, proporcionam à mulher maiores danos à saúde, seja de natureza ginecológica, como de natureza biológica. Ou seja, a precária disponibilização de atendimentos médicos em várias populações do país, além da má formação de grande parte da população brasileira, carente, então, de educação e atendimento de saúde pública, têm retratado uma deficiência causadora de inúmeras doenças à mulher brasileira. Isto porque, conforme Azevedo & Mendonça (1993), “(...) O aumento da vida média, a queda da taxa de fecundidade, as modificações no estilo de vida e a maior exposição a determinados riscos ambientais são fatores que interferem diretamente no aparecimento de um maior número de neoplasias malignas”, redundando que causam danos à saúde da mulher, indubitavelmente.
Fica, portanto, evidente a necessidade de uma ação educativa mais direcionada à mulher, não exclusivamente nas escolas, mas nas comunidades, nas associações representativas de classe, no ambiente de trabalho e na sociedade em geral, articulada a uma ação médica preventiva que se encontre contemplando aspectos pedagógicos, de saúde pública, meio ambiente e, principalmente, educação e orientação sexual. Tais ações evidenciadas com certeza possibilitarão uma melhor atenção e respeito à saúde da mulher. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
BIBLIOGRAFIA:
AQUINO, Estela M; MENEZES, Greice; AMOEDO, Marúcia. Gênero e saúde no Brasil: considerações a partir da pesquisa nacional por amostra de domicílios. Revista Saúde Pública, v. 26, no. 3, São Paulo, jan, 1992
AZEVEDO, Guinar; MENDONÇA, Silva. Câncer na população feminina brasileira. Revista Saúde Pública, v. 27, no. 1, São Paulo, fev, 1993
FONSECA, L A M; RAMACCIOTTI, A S; NETO, José Eluf. Tendência da mortalidade por câncer do útero no Município de São Paulo entre 1980 e 1999. Caderno Saúde Pública. Rio de Janeiro, 20(1) 135-142, jan-fev, 2004
REZENDE, Carlos; MORELI, Daniela; REZZENDE, Irina Maa. Mortalidade materna em cidade médio porte, Brasil, 1997. Revista Saúde Pública, 2000; 34 (4) 323-8
RONCISVALLE, Josina; MOURÃO, Lais. A terra e a mulher: seu ventre e seus frutos. Promoção de saúde, 43-46, xérox de artigo, s/e, s/d.
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na Crônica de amor por ela, Pitágoras,
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& Rachel Levkovits aqui.