sexta-feira, setembro 25, 2009

BIKO & CONSCIÊNCIA NEGRA, FREUD & SCHEREBER, BERMAN, MASTRAND & CRÔNICAS NATALINAS

 
A arte do pintor dinamarquês Wilhelm Mastrand (1910-1873).

DITOS & DESDITOS - [...] O processo de modernização se expande a ponto de abarcar virtualmente o mundo todo, e a cultura mundial do modernismo em desenvolvimento atinge espetaculares triunfos na arte e no pensamento. Por outro lado, à medida que se expande, o público moderno se multiplica em uma multidão de fragmentos, que falam linguagens incomensuravelmente confidenciais; a ideia de modernidade, concebida em inúmeros e fragmentários caminhos, perde muito de sua nitidez, ressonância e profundidade e perde sua capacidade de organizar e dar sentido à vida das pessoas. [...]. Trecho extraído da obra Tudo o que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade (Companhia das Letras, 2007), do escritor e filósofo estadunidense Marshall Berman (1940-2013).

CONSCIÊNCIA NEGRAEm nosso manifesto político definimos os negros como aqueles que, por lei ou tradição, são discriminados política, econômica e socialmente como um grupo na sociedade sul-africana e que se identificam como uma unidade na luta pela realização de suas aspirações. Tal definição manifesta para nós alguns pontos: 1- Ser negro não é uma questão de pigmentação, mas o reflexo de uma atitude mental; 2- Pela mera descrição de si mesmo como negro, já se começa a trilhar o caminho rumo à emancipação, já se esta comprometido com a luta contra todas as forças que procuram usar a negritude como um rótulo que determina subserviência. A partir dessas observações, portanto, vemos que a expressão negro não é necessariamente abrangente, ou seja, o fato de sermos todos não brancos não significa necessariamente que todos somos negros. Existem pessoas não brancas e continuarão a existir ainda por muito tempo. Se alguém aspira ser branco, mas sua pigmentação o impede, então esse alguém é um não branco. Qualquer pessoa que chame um homem branco de “Baas”, qualquer um que sirva na força policial ou nas Forças de Segurança é, ipso facto, um não branco. Os negros – os negros verdadeiros – são os que conseguem manter a cabeça erguida em desafio, em vez de entregar voluntariamente sua alma ao branco. Assim, numa breve definição, a Consciência Negra é, em essência, a percepção pelo homem negro da necessidade de juntar forças com seus irmãos em torno da causa de sua atuação – a negritude de sua pele – e de agir como um grupo, a fim de se libertarem das correntes que os prendem em uma servidão perpétua. Procura provar que é mentira considerar o negro uma aberração do “normal”, que é ser branco. É a manifestação de uma nova percepção de que, ao procurar fugir de si mesmos e imitar o branco, os negros estão insultando a inteligência de quem os criou negros. Portanto, a Consciência Negra toma conhecimento de que o plano de Deus deliberadamente criou o negro, negro. Procura infundir na comunidade negra um novo orgulho de si mesma, de seus esforços, seus sistemas de valores, sua cultura, religião e maneira de ver a vida. A inter-relação entre a consciência do ser e o programa de emancipação é deimportância primordial. Os negros não mais procuram reformar o sistema, porque isso implica aceitar os pontos principais sobre os quais o sistema foi construído. Os negros se acham mobilizados para transformar o sistema inteiro e fazer dele o que quiserem. Um empreendimento dessa importância só pode ser realizado numa atmosfera em que as pessoas estejam convencidas da verdade inerente à sua condição. Portanto, a libertação tem importância básica no conceito de consciência Negra, pois não podemos ter consciência do que somos e ao mesmo tempo permanecermos em cativeiro. Queremos atingir o ser almejado, um ser livre. O movimento em direção à Consciência Negra é um fenômeno que vem se manifestando em todo o chamado Terceiro Mundo. Não há dúvidas de que a discriminação contra o negro em todo o planeta tem origem na atitude de exploração, por parte do homem branco. Através da História, a colonização de países brancos pelos brancos resultou, na pior das hipóteses, numa simples fusão cultural ou geográfica, ou, na melhor, no abastardamento da linguagem. É verdade que a história das nações mais fracas é moldada pelas nações maiores, mas em nenhum lugar do mundo atual vemos brancos explorando brancos numa escala ainda que remotamente semelhante ao que ocorre na África do Sul. Por isso somos forçados a concluir que a exploração dos negros não é uma coincidência. Foi um plano deliberado que culminou no fato de até mesmo os chamados países independentes negros não terem atingido uma independência real. Com esse contexto em mente, temos de acreditar então que essa é uma questão de possuir ou não possuir, em que os brancos foram deliberadamente determinados como os que possuem, e os negros os que não possuem. Entre os brancos na África do Sul, por exemplo, não existe nenhum trabalhador no sentido clássico, pois até mesmo o trabalhador branco mais oprimido tem muito a perder se o sistema for mudado. No trabalho, várias leis o protegem de uma competição por parte da maioria. Ele tem o direito de voto e o utiliza para eleger o governo nacionalista, uma vez que os considera os únicos que, por meio das leis de reserva de empregos, se esforçam em cuidar de seus interesses contra uma competição por parte dos “nativos”. Devemos então aceitar que uma análise de nossa situação em termos da cor das pessoas desde logo leva em conta o determinante único da ação política – isto é, a cor – ao mesmo tempo que descreve, com justiça, os negros como os únicos trabalhadores reais na África do Sul. Essa análise elimina de imediato todas as sugestões de que algum dia pode haver um relacionamento efetivo entre os verdadeiros trabalhadores, ou seja, os negros, e os trabalhadores brancos privilegiados, já que mostramos que estes últimos são os maiores sustentáculos do sistema. Na verdade o governo permitiu que se desenvolvesse entre os brancos uma atitude anti-negro tão perigosa que ser negro é considerado quase um pecado, e por isso os brancos pobres – que economicamente são os que estão mais próximos dos negros – assumiram uma postura extremamente reacionária em relação a eles, demonstrando a distância existente entre os dois grupos. Assim, o sentimento antinegro mais forte se encontra entre os brancos muito pobres, a quem a teoria de classes convoca para se unirem aos negros na luta pela emancipação. É esse tipo de lógica tortuosa que a abordagem da Consciência Negra procura erradicar. Para a abordagem da Consciência Negra, reconhecemos a existência de uma força principal na África do Sul. Trata-se do racismo branco. Essa é a única força contra a qual todos nós temos de lutar. Ela opera com uma abrangência enervante, manifestando-se tanto na ofensiva quanto em nossa defesa. Até hoje seu maior aliado vem sendo nossa recusa em nos reunirmos em grupo, como negros, pois nos disseram que essa atitude é racista. Desse modo, enquanto nos perdemos cada vez mais num mundo incolor, com uma amorfa humanidade comum, os brancos encontram prazer e segurança em fortalecer o racismo branco e explorar ainda mais a mente e o corpo da massa de negros que não suspeitam de nada. Os seus agentes se encontram sempre entre nós, dizendo que é imoral nos fecharmos num casulo, que a resposta para nosso problema é o diálogo e que a existência do racismo branco em alguns setores é uma infelicidade, mas precisamos compreender que as coisas estão mudando. Na realidade esses são os piores racistas, porque se recusam a admitir nossa capacidade de saber o que queremos. Suas intenções são óbvias: desejam fazer o papel do barômetro pelo qual o resto da sociedade branca pode medir os sentimentos do mundo negro. Esse é o aspecto que nos faz acreditar na abrangência do poder branco, porque ele não só nos provoca, como também controla nossa resposta a essa provocação. Devemos prestar muita atenção neste ponto, pois muitas vezes passa despercebido para os que acreditam na existência de uns poucos brancos bons. Certamente há uns poucos brancos bons, do mesmo modo que há uns poucos negros maus. Mas o que nos interessa no momento são atitudes grupais e a política grupal. A exceção não faz com que a regra seja mentirosa – apenas a confirma. Portanto, a análise global, baseada na teoria hegeliana do materialismo dialético, é a seguinte: uma vez que a tese é um racismo branco, só pode haver uma antítese válida, isto é, uma sólida unidade negra para contrabalançar a situação. Se a África do Sul deve se tornar um país em que brancos e negros vivam juntos em harmonia, sem medo da exploração por parte de um desses grupos, esse equilíbrio só acontecerá quando os dois opositores conseguirem interagir e produzir uma síntese viável de idéias e um modus vivendi. Nunca podemos empreender nenhuma luta sem oferecer uma contrapartida forte às raças brancas que permeiam nossa sociedade de modo tão efetivo. Precisamos eliminar de imediato a idéia de que a Consciência Negra é apenas uma metodologia ou um meio para se conseguir um fim. O que a consciência Negra procura fazer é produzir, como resultado final do processo, pessoas negras de verdade que não se considerem meros apêndices da sociedade branca. Essa verdade não pode ser revogada. Não precisamos pedir desculpas por isso, porque é verdade que os sistemas brancos vêm produzindo em todo mundo grande número de indivíduos sem consciência de que também são gente. Nossa fidelidade aos valores que estabelecemos para nós mesmo também não pode ser revogada, pois sempre será mentira aceitar que os valores brancos são necessariamente os melhores. Chegar a uma síntese só é possível com a participação na política de poder. Num dado momento, alguém terá que aceitar a verdade, e aqui acreditamos que nós é que temos a verdade. No caso de os negros adotarem a Consciência Negra, o assunto que preocupa principalmente os iniciados é o futuro da África do Sul. O que faremos quando atingirmos nossa consciência? Será que nos propomos a chutar os brancos para fora do país? Eu pessoalmente acredito que deveríamos procurar as respostas a essas perguntas no Manifesto Político da SASO e em nossa análise da situação da África do Sul. Já definimos o que para nós significa uma integração real, e a própria existência de tal definição é um exemplo de nosso ponto de vista. De qualquer modo, nos preocupamos mais com o que acontece agora que com o que acontecerá no futuro. O futuro sempre será resultado dos acontecimentos presentes. Não se pode subestimar a importância da solidariedade dos negros com relação aos vários segmentos da comunidade negra. No passado houve muitas insinuações de que uma unidade entre negros não era viável porque eles se desprezam um ao outro. Os mestiços desprezam os africanos porque, pela proximidade com esses últimos, podem perder a oportunidade de serem assimilados pelo mundo branco. Os africanos desprezam os mestiços e os indianos por várias razões. Os indianos não só desprezam os africanos mas, em muitos caso, também os exploram em situações de trabalho e de comércio. Todos esses estereótipos provocam uma enorme desconfiança entre os grupos negros. O que se deve ter sempre em mente é que: 1. Somos todos oprimidos pelo mesmo sistema; 2. Ser oprimidos em graus diferentes faz parte de um propósito deliberado para nos dividir não apenas socialmente, mas também com relação às nossas aspirações; 3. Pelo motivo citado acima, é preciso que haja uma desconfiança em relação aos planos do inimigo e, se estamos igualmente comprometidos com o problema da emancipação, faz parte de nossa obrigação chamar a atenção dos negros para esse propósito deliberado; 4. Devemos continuar com nosso programa, chamando para ele somente as pessoas comprometidas e não as que se preocupam apenas em garantir uma distribuição eqüitativa dos grupos em nossas fileiras.Esse é um jogo comum entre os liberais. O único critério que deve governar toda nossa ação é o compromisso. Outras preocupações da Consciência Negra dizem respeito às falsas imagens que temos de nós quanto aos aspectos culturais, educacionais, religiosos e econômicos. Não devemos subestimar essa questão. Sempre existe uma interação entre a história de um povo, ou seja, seu passado, e a fé em si mesmo e a esperança em seu futuro. Temos consciência do terrível papel desempenhado por nossa educação e nossa religião, que criaram entre nós uma falsa compreensão de nós mesmos. Por isso precisamos desenvolver esquemas não apenas para corrigir essa falha, como também para sermos nossas próprias autoridades, em vez de esperar que os outros nos interpretem. Os brancos só podem nos enxergar a partir de fora e, por isso, nunca conseguirão extrair e analisar o etos da comunidade negra. Assim, e para resumir, peço a esta assembléia que procure o Manifesto Político da SASO, que apresenta os pontos principais da Consciência Negra. Quero enfatizar novamente que temos de saber com muita nitidez o que queremos dizer com certas expressões e qual o nosso entendimento quando falamos de Consciência Negra. Manifesto A definição da consciência negra, escrito pelo ativista sul-africano Steve Biko, em dezembro de 1971.


FREUD & O CASO SCHEREBER - Ao apreciar a obra O caso Schereber, artigos sobre técnica e outros trabalhos – Volume XII, de Sigmund Freud, foi solicitado que se apreciasse criticamente as questões atinentes à dinâmica da transferência, às recomendações aos médicos que exercem a psicanálise, sobre o inicio do tratamento, o recordar, repetir e elaborar e às observações sobre o amor transferencial. A partir da leitura, verificou-se que a parte da obra estudada começa tratando da dinâmica da transferência, considerando o caso da relação pessoal entre o médico e o paciente, a respeito da influência que o profissional terapeuta exerce sobre o assistido, destacando o obstáculo pela perturbação que ocorre no relacionamento destes. Essas perturbações podem se tornar óbices para o êxito do trabalho psicoterapêutico. O nascimento dessas perturbações surge a partir do paciente se sentir negligenciado ou tratado com pouca atenção pelo terapeuta, ou quando os pacientes se tornam narcisistas temendo pela perda da sua autonomia ao despertar sentimentos mais profundos pelo terapeuta, ou, ainda, quando ocorre uma falsa ligação por meio e uma representação incompatível com carregamentos de afetos de autocensura, de dor ou de vergonha. Essa representação incompatível torna-se a ideia de afetos voltados para alguém do passado do paciente que representa o profissional, caracterizando o pensamento freudiano de transferência. Entende o autor que a transferência pode também surgir analogamente à imago materna ou fraterna, vividas na infância e surgindo como uma resistência poderosa ao tratamento. Para êxito no trabalho, o psicoterapeuta terá de procurar a superação pela liberação dessa atração do inconsciente, removendo a produção e repressão dos instintos conscientes. Por consequência, a resistência deve ser levada em conta pela busca da conciliação entre as forças que se opõem, até o ingresso na região em que se torne clara. A transferência ocorre, conforme o autor demonstra, quando algo no material complexivo serve para ser transferido para a figura do médico, sendo um evento que se repetirá no decurso do tratamento inúmeras vezes, razão pela qual é tratada como a mais poderosa das resistências, ou melhor, como diz o próprio Freud: “[...] o efeito e expressão da resistência”. Trata-se, portanto, de um mecanismo de prontidão da libido na conservação das imagos infantis. Nesse sentido, Freud distingue a transferência positiva da negativa. Para ele, a transferência positiva é subdividida em sentimentos amistosos ou afetuosos que são admissíveis à consciência e a transferência de prolongamentos desses sentimentos no inconsciente invariavelmente oriundo das fontes eróticas. Já a transferência negativa assume uma condição ambivalente por se encontrar atrelada à transferência positiva. Para tanto, o autor adverte para a necessidade do profissional tratar de forma clara com o paciente de que a ocorrência dessa transferência é um reflexo do passado, tomando a devida cautela para que esses processo não venha irromper sentimentos extremos de hostilidade ou de amor imoderado, não se devendo negligenciar o seu aparecimento. A partir de então, Freud passa a tratar acerca das recomendações aos médicos que exercem a psicanálise, elencando como primeiro problema a tarefa do profissional de se lembrar de todos os produtos patológicos de cada paciente no decurso do tratamento, não confundindo um paciente com outro, exigindo-se a adoção de expedientes para evitar tal situação. Para esse caso, o autor apresenta a técnica da atenção uniformemente suspensa como regra fundamental da psicanálise, procedendo o profissional com a escuta sem que haja preocupação de se lembrar de alguma coisa, abandonando-se à memória inconsciente. O segundo problema é a anotação integral de registros durante as sessões, considerada por Freud como desfavorável na impressão dos pacientes, efetuando uma seleção prejudicial do material, razão pela qual não aconselha a realização de anotações por parte do médico. Só se recomenda tais anotações quando da realização de um estudo científico sobre o caso trabalhado. Outro problema destacado é a oposição de uma técnica exigida num caso, não servir para outro, recomendando não fazer predições nem apresentação especulativa de resultados durante o andamento do tratamento realizado, deixando-se a sua condução de avanço na expectativa atenta de casos de reviravolta, carecendo, pois, uma conduta que oscile em conformidade com a tramitação da atitude mental enquanto se encontrem em análise. Freud também não aconselha o terapeuta a manter uma atitude fria e sem a solidariedade de sentimentos, chamando atenção para a perigosa ambição de alcance do objetivo. Todas essas regras convergem para o objetivo de que se relate tudo que a auto-observação alcance ou detecte, impedindo que objeções afetivas e lógicas efetuem uma seleção, mantendo-se uma posição de interpretar e identificar o material inconsciente oculto, ajustando o seu inconsciente com o inconsciente do paciente. Outra regra apresentada é a de que em momento de impasse para superação das resistências do paciente, seria de bom alvitre que o profissional concedesse a oportunidade de revelar ao seu paciente o vislumbre de seus conflitos mentais e defeitos próprios, abrindo a oportunidade de uma interação da vida própria do profissional com o paciente, tornando-se, ambos, em condição de igualdade e sob a tutela de que uma confidência merece outra, preparando-se para a retribuição mútua de confidências. Quanto a busca pela cooperação intelectual do paciente no tratamento, Freud identifica que a personalidade deste é fator determinante, exigindo-se cautela e autodomínio do profissional médico, permitindo que o paciente fique à vontade para refletir ou se concentrar a sua atenção no que deseje e que o aprendizado pessoal da experiência dite o desenvolvimento do trabalho que será executado. É em vista disso que Freud assinala que alguém só poderá se tornar analista por meio da análise de seus próprios sonhos. E que essa análise poderá ser feita também com auxilio externo, considerando que, o verdadeiro analista deve ser analisado por alguém com conhecimento técnico. Ou seja, aquele que deseja ser analista deve primeiramente ser analisado por profissional competente. Da mesma forma deve comportar-se diante das inibições evolucionárias para determinadas inclinações, devendo-se por sensatez controlar-se e se deixar guiar pelas capacidades dos pacientes ao invés de por seus próprios entendimentos ou desejos, sendo tolerante e contentar-se com o grau de evolução do trabalho. Por essa razão o autor enfatiza que tanto as ambições sejam elas educativas quanto a terapêuticas são inócuas. Ao tratar acerca do inicio do tratamento apresentando novas recomendações sobre a técnica da psicanálise, Freud passa a considerar que a plasticidade dos processos mentais, a diversidade de constelações psíquicas envolvidas e a riqueza de fatores determinantes não admite a mecanização da técnica, uma vez que essa conduta demonstra ineficaz. Tal observação não elimina nem impede o estabelecimento de procedimentos eficazes, conduzindo-se provisoriamente por um período experimental denominado pelo autor de estádio preliminar, até que se estabeleça um vínculo de trabalho de tratamento propriamente dito. Nesse período inicial de relação entre o paciente e o terapeuta é de suma importância a adoção de um contrato acordado quanto a tempo e dinheiro. O tempo é a definição de um período que pode ser diário, semanal, quinzenal ou mensal para realização do trabalho a ser executado. Nessa parte deve-se deixar evidenciado ao paciente o sacrifício e as dificuldades do processo terapêutico, podendo demandar um período longo. O dinheiro compreende ao quantum a ser acertado por honorários entre o profissional e o paciente para a realização do trabalho a ser empregado na relação entre ambos. Na parte correspondente à recordar, repetir e elaborar com novas recomendações sobre a técnica da psicanálise, Freud aborda a partir da técnica da catarse de Breuer que consistia na focalização direta do sintoma, utilizando da recordação por meio da hipnose. Com o abandono desta, procurou-se a partir das associações livres do paciente a descoberta da recordação do paciente, contornando a resistência com o trabalho de interpretação. Por fim, a psicanálise adotou a técnica sistema de abandono da tentativa em colocar por foco o momento ou problema específico, passando a estudar a presença do que surgir da mente do paciente por meio do emprego da interpretação para identificação das resistências imersas para revelação, preenchendo lacunas da memória e dinamicamente superando-as. Para se evitar a deterioração durante o tratamento, faz-se conveniente que o analista revele a resistência ao paciente para que ele possa familiarizar-se com o seu problema e elaborar. Na parte sobre o amor transferencial com novas recomendações sobre a técnica da psicanálise, Freud parte da surpresa diante da interpretação feita das associações do paciente com a reprodução do reprimido, surgindo dificuldades no manejo da transferência. Em vista disso, Freud recomenda que o profissional terapeuta não deve jamais aceitar ou retribuir sentimentos ternos que possam ser oferecidos, sendo mais apropriado que pondere acerca do assunto e apresente as exigências da ética profissional da necessidade de renúncia e moralidade social, mantendo o tratamento em completa abstinência no trabalho para as mudanças necessárias, mantendo-se firme e cuidando para o apaziguamento dessas forças por meio de substitutos. Com paciência e determinação pode-se continuar o tratamento rumo a moderação ou transformação da resistência no caso do amor transferencial caracterizado por determinados aspectos que asseguram ao caso uma posição especial, principalmente por ter sido provocado pela situação da análise realizada, intensificado pela resistência dominante da situação e menos interessado nas consequências. Esse amor evocado foi instituído pelo tratamento analítico com objetivo de cura da neurose, responsabilizando o analista para superação ética e técnica pelo entendimento de a paciente se encontra prejudicada e motivada por fixações infantis, mantendo-se digno e dentro dos limites que prescrevem à profissão. A leitura dessa parte da obra freudiana propiciou um maior entendimento entre as práticas psicanalíticas acerca da dinâmica da transferência, do caso da relação pessoal entre o médico e o paciente, da influência que o profissional terapeuta exerce sobre o assistido e das consequências disso no surgimento de perturbações e óbices que permeiam o relacionamento e tratamento dispensado pelos atuantes da área com seus pacientes. Leitura esclarecedora que permitiu realizar um melhor exame acerca do conceito tanto de transferência como de resistência no processo psicanalítico, observando-se os mecanismos de defesa e suas consequências na relação entre o profissional e seus assistidos. A análise efetuada da parte dessa obra possibilitou ter-se uma melhor visão ética, técnica e profissional no atendimento e tratamento dos que necessitam dos préstimos profissionais, para melhor condução e mais adequada intervenção nesses casos. Veja mais aqui e aqui.

REFERÊNCIAS
FREUD, Sigmundo. O caso Schereber, artigos sobre técnica e outros trabalhos – Vol. XII (1911-1913). Rio de Janeiro: Imago, 1980.



A arte do pintor dinamarquês Wilhelm Mastrand (1910-1873).

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