A arte da artista visual Patricia
Ariel
LITERÓTICA: ALVOROÇO - Quando
essa menina se volta felina e apronta outra vez, como sou seu freguês badala 12
horas. Dá prumo e é agora: doze vezes enlaçado, doze vezes amarrado pro seu
capricho. É quando eu viro bicho doze vezes encarnado, doze vezes atrepado
pronto pro ataque. Ela finge no baque e começa o festim, efígie querubim nua e
descalça, pronta pra valsa, ciranda, cirandar. Ela me faz o seu par com beijos
esmeraldas numa dança sagrada em meu corpo fadado. Sacode de lado, ajeita e
desajeita, mais se espreme, mais se estreita, ela faz vulto. Aí que emerge o
tumulto vergando seu dengo. Virando com jeitos, levando no peito e na raça. É
quando possessa, com graça, quer que apareça quebrando a vidraça. E me
sacaneia. Ainda esperneia e tudo se escancara. Ela enche a cara fica bicada,
leva a minha picada, festa no meu sabugo. Ela não dá refugo nas pernas bambas.
Ela quer mais samba embaixo do chuveiro – maior suadeiro! Eu me aproveitando.
Tudo se esborrando doze vezes profanada, de restar estirada e ainda me colhe e
tudo recolhe, doze vezes vingada com todas as honras, doze vezes aclamada no
maior fausto, evento tão lauto, pra filha de rei. Seu querer é lei. E cavo sua
terra, quanto mais ela berra, eu revolvo arando e sua carne azarando pra abafar
o estrondo. Só resta os escombros dela ficar louca, de findar quase rouca de
gritar que quer mais. É muito demais, sacudida de gestos, esfolando seus
restos, me arranhando as costas, recolhendo as postas do que restou de mim. E
não tem mais fim, mais furto, mais roubo, mais sigo no arroubo, dela se
sacudir. E sem ter pronde ir, ela tem minha tocha que mais firme se arrocha
como seu corcel alado. É quando o bocado ela chega ao demais, ela goza até a
paz de arrear debruçada sobre o meu cajado. © Luiz Alberto Machado.
Direitos reservados. Veja mais aqui.
DITOS & DESDITOS – Fiz tão bem o meu curso de Direito que, no
dia em que me formei, processei a faculdade, ganhei a causa e recuperei todas
as mensalidades que havia pago. Pensamento
do comediante estadunidense Fred Allen
(1894-1956).
A VIDA & A MORTE – [...] Quando
Olorum procurava matéria apropriada para criar o ser humano (o homem), todos os
ebora partiram em busca de tal matéria. Trouxeram diferentes coisas: mas
nenhuma era adequada. Eles foram buscar lama, mas ela chorou e derramou
lágrimas. Nenhum ebora quis tomar da menor parcela. Mas Ikú, Òjègbé-Aláso-Òna,
apareceu, apanhou um pouco de lama - eerúpé - e não teve misericórdia de seu
pranto. Levou-o a Olódumarè, que pediu a Òrìsàlá e a Olúgama que o modelaram e
foi Ele mesmo quem lhe insuflou seu hálito. Mas Olódúmarè determinou a Ikú que,
por ter sido ele a apanhar a porção de lama, deveria recolocá-la em seu lugar a
qualquer momento, e é por isso que lkú sempre nos leva de volta para a lama [...]. Trecho
extraído da obra Os Nàgó e a morte, Pàdé,
Àsèsè e o culto de Ègun na Bahia (Vozes, 1986), da antropóloga Juana Elbein dos Santos.
HISTÓRIA DO PÉ – [...]
“Eu nasci aqui, dentro da
árvore”, conta Mari. Minha mãe morreu no parto, quando me teve na beira do rio e,
como foi durante a guerra, minha avó me trouxe para cá, me escondeu no oco da
árvore. [...] A
onda chamava por Letitia, música pesada e sombria na qual ela escutava o apelo
do nada. Pensou em ir até a ponta do forte, seu lugar preferido, mas o vento
empurrava a porta com mãos de muito vigor, para impedir que ela saísse
[...]. Trechos extraídos da obra História do pé e outras fantasias (Cosac & Naif. 2012), do escritor
franco-mauriciano e Prêmio Nobel de Literatura de 2008, Jean-Marie Gustave Le Clezio. Veja mais aqui.
DOIS POEMAS - SOU TUA! USAS-ME! - Acaricio meu corpo no calor da noite /
Imagens formam em minha mente / Como se minhas mãos fossem as tuas / Percebo-as
delicadas, lentas, nuas! / A sutileza dos meus pêlos a se assanhar / Faz-me
chegar à loucura / Passas-me a língua no rosto / Tomas minha boca, sugas-me. /
Deixo-me levar! Sou tua! Usas-me! / Usas, e eu deixo! Gosto que me usas! /
Exploro-te, abuso-te para meu prazer. / Conduzo-te ao meu gozo / Num forte e
demorado torpor. / Bebes meu corpo, sacias tua sede! / Invade-me as entranhas,
tens meus segredos. / E quando confundo teu corpo com o meu / Sinto teu leite e
me aqueço em puro deleite. / Gozamos o gozo dos deuses / No amor que faz
desfalecer / Aconchego-me ao meu travesseiro / Sinto teu corpo gostoso, teu
cheiro. / Doce clímax de ter-lo tido por inteiro. NOSSOS CORPOS - No pequeno ponto deste corpo / Rompem-se
nuvens de emoção, tensão, / Morre-se de prazer ao doce coito / No silêncio do
amor, orgasmo solto. / A paz dos anjos se transforma em canto / Lágrimas de
gozo alimentam o pranto / A rosa rosada incha-se, florindo o campo, / Meu corpo
se delia ao teu navegando manto. / Nos espasmos do sêmen morremos aos poucos /
Agasalhos de luz, segmentos perenes mentes, / Pólen florescente revive o corpo
lentamente / Línguas ardentes em nossos corpos, puro deleite. Poemas da poeta
e decoradora Luli Coutinho. Veja
mais aqui e aqui.
A arte da artista visual Patricia
Ariel
Entre & Vista A Villa
(REPRODUZIDO DA REVISTA)
Pense num cabra arroxado, arretado e com um intelecto impressionante... Tive o privilégio e o prazer de conhecê-lo através do meu amigo Tchello d´Barros. Extremamente crítico e de um humor simpático esse artista que exala paixão pela cultura como um todo, nos dá o prazer de aprumar a conversa... Meus bons, com vocês... Luiz Alberto Machado...
01 - A Villa - Quem é Luiz Alberto Machado?
Luiz Alberto Machado - Um sujeito estradeiro que vive de versos e tons pelos altos e baixos da existência, como eu digo no meu xote "Cantador": "(...) passo nos peitos a ficar comendo orvalho e cantar é o meu trabalho, deus me deu toda canção".
Gosto de mangação sadia e um bom papo, de pileque com música e poesia, e de ter e manter as amizades.
Sou freiado com covardia e arengo que só a porra contra a injustiça.
O resto, traço o que vier e corro atrás no trampo.
02 - A Villa - Onde começou essa, como você mesmo diz, "mania de aparecer" e a falar mais que o homem da cobra?
Luiz Alberto Machado - Ah, menino, já comecei querendo aparecer mesmo. Num adianta: já nasci com mania de grandeza, hehehehehehehehehe. E mentia como a praga desde bruguelito afoito, falando que só o homem da cobra e inventando lero para cima dos mais velhos.
Como eu era o primeiro neto duma mundiçada de mais de 30 tios e tias nas proles dos meus genitores, aí eu virei o rei da cocada preta - o roliúde mesmo! -, com direito a toda atenção do mundo. Quer holofote maior prum fiapinho de gente de nada? Ôxe, a tiarada toda era só mimo. Eu logo virei o refúgio do dengo e da manha. Os avós, tudo babando. Afora as comadres, pariceiras e achegadas que engrossavam o caldo.
Nesse meio eu era, como diz o ditado, verdadeiro pinto no lixo. Num era pra menos, né?
Até que por causa dum namorico inventado na minha predileção de pirralho com uma tia bem mais velha que cuidava de mim e não sabia disso, bem como a primeira professora que tive porque inventava que sabia ler, descobri a poesia nas apresentações das feiras dos cantadores de cordel. Tinha que imitar os desafios para chegar todo pabo pra elas.
Foi por causa da minha ameninada paixonite pela tia e, depois, pela professora primária, que eu comecei a escrever umas quadrinhas para elas que findaram sendo publicadas no suplemento semanal e infantil Junior, do Diário de Pernambuco.
Imagine só, um presepeiro com pouco mais de 4 ou 5 anos de idade, folgado que só, todo metido às pregas artísticas, escrever umas baboseirazinhas safadas de paixão, ter publicado várias delas no meio de quadrinhas e poemetos sapecados da própria lavra no Júnior do Diário de Pernambuco, era o mesmo que ganhar o Prêmio Nóbel da Literatura de fraldas. Isso me fez logo me achar maior que o meu próprio tamanho, hehehehehe.
Por causa dessas paixonites precoces, fui levado a imitar meu pai, um poeta daqueles de uma boemia sonetista e de cometer uns versos livres carregados, que vivia agarrado aos livros e eu segui no embalo.
Tudo isso foi e é a minha perdição até hoje.
03 - A Villa - A sua inspiração para a cultura é meio "Mix". Como ela foi, ou é lapidada?
Luiz Alberto Machado - Eu sou seduzido pela vida. Ando com os olhos virados para todas as partes, procurando sempre, investigando tudo. Na verdade, antes de mais nada, desde menino que me descobri pesquisador. É isso que sou de verdade: um pesquisador.
Desde menino que ninguém podia dizer nada que eu ia logo pras enciclopédias, almanaques e livros para saber o que era. Além do mais, meu pai tinha a doidice de me levar na algibeira quando ia se reunir numas bicadas com alguns amigos poetas e intelectuais. Eu ficava ouvindo tudo, isso com 7 ou 8 anos de idade, e dizia para mim mesmo que um dia conversaria aquelas ocultidões com eles. Não deu outra.
Na minha terra tinha uns sujeitos muito doidos, mas tudo conectado. Tudo levado pelo Ascenso Ferreira, que foi o poeta mais original do Modernismo brasileiro, segundo Mário de Andrade.
Tinha o Hermilo Borba Filho, escritor injustiçadissimo que foi o mestre de Ariano Suassuna e de uma geração inteira de poetas, dramaturgos, teatrólogos e atores.
Tinha uma cambada da peste de menino já virado pelo repente, maracatu, frevo, caboclinhos, reisado, ciranda, que levou logo pras obras do Câmara Cascudo, Gilberto Freyre e para as noções da Estética de Ariano Suassuna.
Foi quando adolescente inventei de querer saber a razão da nomeação de Palmares para a minha cidade natal. Comecei a pesquisa mais ou menos por volta de 77 e 78, por aí, e persigo até hoje.
Como toda manifestação humana que se amplia na relação das pessoas vira um acontecimento cultural, a cultura me inspira a todo momento para que eu possa buscar o discernimento, atuando emocional e racionalmente entre as minhas indagações, reflexões e endoidamentos, sempre fugindo dos maniqueísmos, dos modismos, dos sectarismos e dos porrismos todos que rotulam nossa cultura humana.
Então, como eu disse, a cultura me inspira porque sou um pesquisador orgânico, o que me faz a todo momento revirar as idéias de cabeça pra baixo, plantando bananeira para chegar a uma idéia geral que dê numa nova e dialética interpretação.
Coisa de doido mesmo, viu?
04 - A Villa - Nos fale de suas Obras. Quantos e quais são seus Livros, Peças, CD... ?
Luiz Alberto Machado - Bem, como falei antes, comecei menino a escrever versinhos e quadras que foram publicadas no suplemento Júnior, do Diário de Pernambuco.
A partir daí peguei outra mania: a de escrever mais que escrivão de polícia. Lia e escrevia demais. Escrevia versos, compus umas canções e preparei uns textos teatrais.
Depois de uma experiência que não deu certo na montagem de um texto de Fenelon Barreto, um teatrólogo palmarense, resolvi escrever meu próprio texto: "Em busca de um lugar ao sol sob a especulação imobiliária", criticando o bipartidarismo e fazendo maior auê pelo pluripartidarismo. Isso em 1977, contando eu com 17 anos de idade. Essa peça foi montada e encenada, mas com o tempo mudei o título para "O Prêmio".
Com a adolescência escrevi um livro com uns versos que tinha um título para lá de pretensioso. Felizmente, pela feliz sugestão de Juarez Correia, publiquei em 1982 com o título "Para viver o personagem do homem". Como eu disse era o meu primeiro livro com versos da adolescência.
Tinha letras de música que eu levei para festivais e o que eu chamava na época de poesia que eu fazia desde aprendiz aborrecente. Isso fora o teatro que eu tava doido para escrever e montar.
Foi em 1983 que publiquei o meu segundo livro de poesia pelas Edições Pirata, o "A intromissão do verbo". E, no mesmo ano, foi lançada a minha peça "A viagem noturna do sol" no Festival de Leitura do Recife, montagem do grupo TTTres Produções Artísticas.
Depois disso, eu e uns amigos conterrâneos, criamos a Revista A Região e fundamos na levada as Edições Bagaço.
Depois disso adaptei, dirigi e musiquei a peça "João sem terra", de Hermilo Borba Filho e transformei em teatro infantil as obras de Elita Afonso Ferreira.
Em 1985, reuni um volume de poemas do meu pai que só aceitaria publicar se eu publicasse com ele. Fizemos então o "Raízes & Frutos", os meus poemas e os deles reunidos num volume pela Bagaço.
No ano seguinte publiquei o "Canção de terra", pela Bagaço. Foi ai que assumi a direção regional do Sindicato dos Radialistas de Pernambuco, a presidência do Conselho da Fundação Casa da Cultura Hermilo Borba Filho, a direção regional da Federação de Teatro de Pernambuco - FETEAPE, entre outras entidades.
Em 1991 publiquei meu livro de poemas, Paixão Legendária, pela Bagaço.
No ano seguinte, a Bagaço publicou minha antologia poética "Primeira Reunião" e o meu primeiro livro infantil, "O reino encantado de todas as coisas".
Parti pra música e fiz o show "Por um novo dia" com minhas composições que começavam a ser gravadas por várias artistas pernambucanos. Danei a voz no mundo.
Em 1995, depois de ter saído da Bagaço, lanço em Maceió o meu selo editorial, Edições Nascente, publicando o meu segundo livro infantil, "Falange, falange, falanginha", adotado por diversos educandários de Alagoas, Pernambuco, Sergipe e Paraíba. Fiz uma recreação do livro e levei para as escolas públicas e privadas.
Em 1996 lanço a publicação lítero-cultural "Nascente", um tablóide com 24 páginas, colorido, distribuído gratuitamente pelo Brasil afora com entrevistas, poesias, artigos e muita informação. É quando lanço o Prêmio Nascente de Arte Infanto-Juvenil, voltado para os alunos do infantil até oitava série do primeiro grau. Esse premio resultou na publicação de 2 antologias Brincarte, nos anos seguintes, contando com apoio de Mauricio de Souza da Turma da Mônica, entre outras personalidades brasileiras.
Em 1998 lanço o infantil "O lobisomem Zonzo" que logo esgotou e transformei em peça teatral já com vários prêmios.
Em 1999 lancei o infantil "O cravo e a rosa" e em 2001, o "Alvoradinha: calango verde do mato bom". Esses me levaram pelo Brasil afora a contar a história de um curumim caeté sobre o seu território de existência: da mata sul de Pernambuco até o rio São Francisco, território da tribo condenada dos caetés.
Em 2008 retomei as atividades do meu selo editorial e publiquei os dois livros infantis "A turma do Brincarte" e o "Frevo Brincarte", juntamente com o meu folheto de cordel "Tataritaritatá" e saí pelas escolas, eventos e comemorações realizando recreações infantis, cantaraus e palestras.
É isso.
05 - A Villa - Você já estudou "direito". O que desencadeou sua parte "esquerda" e questionadora?
Luiz Alberto Machado - Pois é, rapaz, nunca fiz nada direito mesmo. Tudo sempre saiu meio troncho, não sou lá tão exímio nem perito, né? Hehehehehehehehe.
Então, primeiro fiz Letras. Depois comecei Jornalismo, mas meu pai me queria ver douto jurisconsulto, uma perda de tempo. Findei cheio de pileque dentro duma faculdade de Direito. Mas, como eu já disse por aí, saí mais errado do que quando entrei. Foi que me decepcionei logo no segundo ano do curso quando descobri que a justiça é uma utopia e que o direito não é tão justo nem direito assim. O direito é a mania de positivar tudo quando, na verdade, é de jurisprudência que se vive. Ué? Como é, hem? E as decisões para fazer justiça, procuram ver onde está o menor prejuízo, aí se decide. Como a gente é da banda da corda que logo se arrebenta, logo todos os prejuízos são nossos, seja em que Tribunal for.
Como sou pesquisador, emboquei de forma aprofundada no Direito para transitar na defesa da dignidade humana e exercício da cidadania, combatendo a injustiça.
Inclusive, empunho esta bandeira de combater a injustiça porque dentro dela está tudo o que se reclama e necessita no Brasil. A injustiça é a boceta de Pandora do Brasil. Tudo, desemprego, educação, saúde, trabalho, tudo, tudo no Brasil é vitima da injustiça.
Aí, com minha doidice vesga de tetéu amostrado, resolvi sair por aí cantando e recitando tudo que chame atenção para o combate à injustiça. Vamos nessa?
06 - A Villa - Fundador de editoras e articulador de concursos literários. Fale-nos um pouco sobre essas atividades.
Luiz Alberto Machado - Pois é, tudo começou quando ainda adolescente virei co-editor de uma revistinha do colégio, que era editada por professores e a gente, uma turma que era aluno - poetas, escritores, músicos, compositores, uma trupe arretada.
Era uma revistinha de um encontro semanal que a gente já fazia no Grêmio Cultural Castro Alves, que era dos professores e alunos do Colégio Diocesano dos Palmares, onde a gente reunia gente de peso, maloqueiros e amostrados feito eu. Era As Noites da Cultura Palmarense. Tinha maloqueiro feito eu e um bocado de gente de gabarito que apoiou a nossa arteirice. Foi um zoadeiro da peste com saraus, jograis, murais, melodramas, o escambau. Arretado mesmo!
Depois veio a Revista A Região que eu falei. Deu tanto prejuízo que a gente fundou na batata as Edições Bagaço que virou na hora movimento de apoio cultural. Foi a Bagaço nascendo e a gente matando, em seguida, a revista.
Sempre fiz zines, como o Vozes do Una que foi encartado na Revista A Região.
Depois fiz, com o artista plástico Rolandry Silvério, uma revista em quadrinhos, "Aventureiros do Una" que chamou a atenção do Mauricio de Souza, sendo nesta época, por volta de 1981, o meu primeiro contato com o autor da Turma da Mônica.
Depois de fazer parte do Conselho Editorial da Bagaço, criei o meu próprio selo Nascente e editei o tablóide que começou como zine, Nascente - Publicação Lítero-Cultural.
Agora estou capengando com o zine Tataritaritatá para divulgar minhas coisas cara a cara, enquanto mantenho meus sites, a minha própria home Page www.luizalbertomachado.com.br, o site de humor Tataritaritatá, edito o Guia de Poesia do Projeto SobreSites - O referencial humano, do Rio de Janeiro, e edito meus blogs, o Brincarte, na área infantil; o Varejo Sortido, para a literatura, artes visuais, fotografias e artes plásticas; o Música, Teatro & Cia, para o universo musical, teatral e mais cinema e o escambau; o Crônica de amor por ela, para os meus poemas e textos eróticos; o blog Pesquisa & Cia para minhas pesquisas e trabalhos acadêmicos; e mais meio mundo de coisa.
O que eu gosto mesmo é de divulgar, por isso, sou editor dessa tuia de coisas, hehehehehehehe.
07 - A Villa - O que fazer para desligar o trator de esteira, chamado analfabetismo? Existe essa chance?
Luiz Alberto Machado - Eita!!
O problema da injustiça no Brasil vem desde que o país foi invadido pelos portugueses e outros povos europeus. A cultura da sacanagem, do roubo, da invasão, da preação, da esculhambação começa aí. É quando se dá o evento inaugural do Festival de Cagadas Melando o Pais - o FECAMEPA. Tudo isso para privilégio de uns gatos pingados mamadores das tetas públicas e mantenedores dos lambecus que vivem fazendo deste território imenso uma pátria de Fabos - leia-se: fabricantes de bosta.
São exatamente quinhentos e tantos e lá vai teibei de anos de injustiça.
O analfabetismo, essa praga que persegue secularmente os excluídos brasileiros, é somente resultado desses privilégios que proporcionam os assaltantes da patriamada, deixar na exclusão um montão de gente. Gente que tem a sensibilidade de ser poeta, de ser músicos, de ser artistas, de ser gente! Só não tiveram a oportunidade de receber a escolaridade da civilização.
Eu mesmo encho o peito quando tenho oportunidade de ver, ouvir e saborear poemas dos matutos do cordel, dos curaus dos cocos e emboladas, de Patativa de Assaré, de Zé da Luz, Lourival e Otacilio Batista, Manuel Bentevi, Cego Aderaldo, gente que não teve a oportunidade de se escolarizar e dão show como verdadeiros e mais sensíveis sismógrafos da humanidade.
Por outro lado, tem por aí diplomado que botou catinga em bosta, até pós-graduado que não passa de uma besta-quadrada, intelectuais de sovaco.
Conheço tanta masturbação dos pós-doutorados que dá nojo de ver só o chato de galocha se empanzinando de sapiência inútil porque não leva a nada, a não ser a satisfação dos culhões deles.
Por isso que a gente vive duas violências trágicas: a primeira, das elites, autoridades e cheios das pregas, uma violência calada, traiçoeira e perversa que ninguém ver, mas que rouba e se apossa do que é de todos: merendas, saúde, serviços públicos e tudo. Essa violência é uma calamidade nacional: todos se arrumam, custe o que custar. E isso em detrimento do povo brasileiro.
A segunda violência, essa a gente ver nas ruas e que está banalizada na televisão. Esta segunda é resultante da primeira que é escabrosa e camuflada. Esta segunda violência é o efeito da primeira, ninguém agüenta mais. E quem não tem teta pública para mamar, das duas uma: ou morre fodido de liso - feito eu que não tenho coragem de me apossar do que é dos outros, só quero o meu mesmo -, ou vai roubar, traficar e se lascar se for pego pelo opróbrio popular.
Essa é a nossa tragédia. O brasileiro precisa delinqüir para ser feliz. Quem nunca usou do expediente do jeitinho brasileiro? Quem nunca molhou a mão de um barnabé ou dum ineivado agente público quando precisa? Quem nunca usou da espórtula para vasilinar os óbices da burocracia brasileira? Quando não é corrompido, passa de corrupto para corruptor, é ou não é?
Pois é, foi quando eu entrei de cabeça no teatro, a sedução que mais me fez trabalhar, foi o Teatro do Oprimido, baseado na pedagogia de Paulo Freire. Isso em 1980 quando comecei a estudar de forma aprofundada a Pedagogia do Oprimido, aprendendo a seguinte lição: "Ninguem se liberta sozinho. Ninguem liberta ninguém. Os homens se libertam em comunhão". Esta a minha crença. Com isso, acredito num mundo melhor paratodos.
08 - A Villa - Você reside em Maceió, há aproximadamente 15 anos. Porque sair de um berço cultural latente e vibrante e vir para essas paragens mornas? Atravessamos um bom momento cultural? O que Alagoas precisa para despontar como Pernambuco?
Luiz Alberto Machado - Eu cheguei em Alagoas, em 1994, atendendo convite de um grupo empresarial pernambucano que estava entrando no mercado com uma empresa no interior do estado. Lá fiquei até 1999. Depois disso, dei um bico na formalidade, virei informal e passei a viver do que gosto e do que sei fazer: pesquisa, música, literatura. Quer dizer, virei camelô da pesquisa, um ambulante da minha música e da minha literatura.
Como sou da Mata Sul de Pernambuco e vinha há anos, na verdade desde 1978, pesquisando a origem da minha cidade natal e outros acontecimentos históricos a ela ligados, quando cheguei aqui me identifiquei logo com minha raiz caeté. Aí virei pernambucanalagoano logo. Pronto.
Dei de cara com meio mundo de conterrâneo. Cheguei a pensar: aqui tem mais pernambucano que alagoano. Afinal, era tudo Pernambuco mesmo até uns 200 anos atrás, né? Tamo em casa.
Comecei logo adorando a poesia de Arriete Vilela e Marcos de Farias Costa, o som do Mácleim e do Junior Almeida, o teatro de Pedro Onofre e me senti em casa mesmo. Tanto é que viajo esse Brasilzão véio, arrevirado e de porteira escancarada o tempo todo, mas é em Maceió que eu moro mesmo. Foi aqui que escolhi pra morar.
O caldeirão de Recife me faz sempre vibrar, sou apaixonado por Recife, vivo o Recife, mas não sou mais menino, preciso descansar, é aqui que eu hiberno, recrio e renovo as energias.
Infelizmente Alagoas, como de resto a grande maioria dos estados brasileiros, é levada pela elite - que é uma só no Brasil todo, igualzinha uma da outra, pariceiras mesmo - que só quer sugaro sangue do povo por dinheiro, enriquecer mais do que já é, peidar na venta dos apaniguados e mandar todo mundo se catar porque essa elite quer somente passear pelas terras de Oropa, França e Bahia.
O que fazer? Combater o bloco do eu sozinho e juntar tudo na tuia. Vamos nessa?
09 - A Villa - Uma de suas vertentes é a cultura Infantil. Como inserir atividades nas escolas? Existe espaço para isso? O que a escola pública precisa fazer para ter ações concretas?
Luiz Alberto Machado - Rapaz, desde que fundamos a Bagaço que a turma queria que eu escrevesse um livro infantil. Quis não, sempre tive medo de melar a idéia das crianças com minhas tronchuras. Preferi adaptar livros de Elita Afonso Ferreira e de outros autores da Bagaço pro teatro.
Mas a pressão foi tanta, que passei 12 anos estudando Paulo Freire, Vygotsky, Freinet, Piaget, teatro infantil, literatura infantil, tudo infantil, até que tive o estalo: descobri que a minha infância foi muito interessante de trelosa e presepeira, aí resolvi colocá-la nas páginas. Está dando certo, pelo menos. Mango de mim mesmo. Deixei o menino que vive dentro de mim se mostrar. Espia só.
Aí comecei em 92, como já disse. Depois, desde de 95 que venho nessa de brigar contra o divórcio da educação com a arte. Aliás, a educação está divorciada de uma porrada de coisas: da família, da sociedade, de tudo, só burocratizada por trás dos muros e seguindo aquela velharia da educação tradicional bancária de só depositar conhecimento na cachola da meninada, um saco! Educação não é mais isso, gente! Educação é descoberta, ensinar aprendendo e aprender ensinando. Ou como diz a titia Rita Lee: "Brinque de ser sério e leve a sério a brincadeira!".
Todo mundo coloca a culpa do fracasso educacional no final da ponta da corda: professores e alunos. Professores que estão despreparados, desqualificados e desestimulados. Pudera, carga horária dessas, hem?
Já os alunos, nossa! Tudo abandonado pelos pais que colocam na escola a responsabilidade do ensino deles. E o pior: o que a escola ensina, os pais desmancham e a televisão desarreda. No final: macunaimas catatônicos que não estão nem ai para quem pintou a zebra, né não?
Esses que são os culpados? Ou as vítimas?
Pata mim a boceta de Pandora da Educação tem o buraco mais embaixo: começa no Ministério onde um bocado de gabinetólogo de bunda quadrada acha que pode da punheta de suas idéias trancadas resolver o problema da educação do Brasil todo. É equivoco demais. Aliás, a humanidade está equivocada faz tempo.
Também nas secretarias estaduais, uma bronca. Vá lá que você ver de tudo, menos educação.
E nas secretarias municipais? Começa pelo prefeito, tudo um ré-pra-tras da porra!
Sem contar com a colaboração inestimável da contraproducência e da roda-presa dos diretores de escola pública, né? A direção com os seus paus-mandados, uma panelinha só. Aliás, em todo canto a panelinha manda ver, faz parte do jeitinho brasileiro de mafiar e se relacionar. Os guetos, as facções, cada qual com sua turma. Professor e aluno que se fodam com "ph" e dois "oo" que viram "óóóóóóóóóóóóóóóóóóóóóóóóóóóóóóóó"!!!!! E ó praí, né?
A LDB vigente tai e ninguém sabe de nada, nem dela nem de PCN, nem temas transversais, tudo levado nas coxas mesmo.
Como sou muito às avessas, resolvi colocar nos meus livros infantis as minhas experiências com teores éticos, diferenças, cidadania, meio ambiente, tudo com meus personagens e eu mesmo brincando no reino do faz de conta que é o futuro.
Transformei dois livros em recreação e resolvi fazer doação dos livros, da recreação e da minha presença para os alunos das escolas públicas, sempre procurando promover o hábito da leitura, já que os pais não lêem, professores também, diretores muito menos, então eu fui de escola em escola pública de Maceió, sendo barrado na porta, esconjurado pela peitica de inventar de levar essas baboseiras pras escolas, tendo os livros devolvidos quando não jogados na cara e muita coisa de causar indignação. Por isso acho que perdi a vergonha na cara. Eu insisto, persisto e persevero.
Não sei como consegui ainda lançar um livro na Escola Estadual Josefa Conceição da Costa, no Canaã, onde fiz palestras sobre cidadania e meio ambiente, além de recreações com a garotada e doação de livros para a biblioteca. Ah, lembrei, foi por causa da professora Cêiça Marques.
Também não sei como consegui lançar outro livro na Escola Municipal Jorge de Lima, fazendo lá uma recreação e sorteio de livros. Também por causa da professora Cêiça Marques, obrigado mais uma vez.
Ainda fiz uma palestra-espetáculo, Cantarau - cantoria/sarau - no Colegio Estadual Rosalvo Lobo, sobre Literatura de Cordel, onde contei um bocado de história, cantei, recitei, meti bronca e saculejei a moçada de lá. Ah, essa foi por causa da professora Márcia.
Pra falar a verdade, só fui muito bem recebido pela diretora Lilia da Escola Municipal Zaneli Caldas, onde pretendo desenvolver o voluntariado lá de criar um grupo de teatro infantil e trabalhar a arte com a garotada. Palmas pra ela, por favor! E muito obrigado pela carinhosa acolhida.
Infelizmente foi aí nesses lugares onde consegui fazer alguma coisa, na maioria das vezes sou mesmo é enxotado. Convidado de mesmo só pelas escolas privadas, a exemplo do Colégio Anchieta que estarei todo o próximo dia 17 de abril e na Escola Cecilia Meireles no dia 24 abril, entre outras agendadas.
Pois é, infelizmente a escola pública é o retrato da realidade brasileira: um descaso. O que fazer? Dar um basta na incompetência e contra a injustiça, e a gente cair em campo para mudar com nossa voluntaria solidariedade pela construção da cidadania. A educação, indubitavelmente, é a ferramenta ideal para começar a mudar para um mundo melhor. Vamos juntos? Vamos aprumar a conversa!!!
10 - A Villa - Você é dos poucos artistas que conheço que vive e sobrevive de cultura. Como é isso? Fale um pouco sobre esse fato.
Luiz Alberto Machado - Rapaz, é trampo! Trabalho muito, meu amigo.
Para viver do que se gosta, é só porque se gosta, senão, já viu.
Meu pai já dizia: o que é de gosto arregala o peito.
Como eu disse antes, eu sou pesquisador. Pesquiso, escrevo, componho e meto a boca no mundo. É disso que vivo, mais nada. E trabalho das 3 da madrugada até às 4 da tarde, direto feito cantiga de grilo, todos os dias. De domingo a domingo. É isso que gosto de fazer: pesquisar, escrever, compor.
Como eu comecei a trabalhar quando tinha 10 anos de idade, de saco cheio de pedir mesada ao pai, virei logo carimbador oficial dum cartório. Foi quando comecei no ringue de alteroscopista e dando tragadas daquelas de Luis Buñuel.
Depois virei copista - de copiador mesmo, registrando sentenças judiciais. Fui crescendo e virando dedógrafo na máquina de datilografia, onde eu sacudia as catanas para registrar meus versos e arroubos. Findei um xexéu: imitador barato de todas as minhas influências.
Sempre gostei de ler. E como diz Ziraldo: "Ler é melhor que estudar". Mas como gosto de ler, adoro estudar e pesquisar. Imitava meu pai: vivia escondido entre os livros.
Aprendi a pesquisar no comecinho da adolescência quando me intrigava com esse negócio de religião. E também com os Quilombos dos Palmares, a Guerra da Praieira, a tragédia dos índios caetés, por aí.
Minha mãe mesmo chegava perto de mim arrodeado de livros aos tragos de esquecer a comida, chega ela mangava: - Meu fio, pare de ler um pouquinho senão você endoida!
Eu disse pra ela: - Agora é tarde mãe, já me autoendoidei-me! Hehehehehehe.
Fiz de tudo e findei sem saber nada. Passei por faculdades de Letras, Jornalismo e Direito e não consegui nunca passar de um Zé-roela. Sou, como dizem, um ilustre desconhecido!
Não sou poeta, sou ainda um aprendiz. Na verdade sou um chué dum compositor de tons e versos que se mete a fazer uns cantaraus (cantorias + saraus), misturando minhas rimas pobres com meus acordes empenados. Tem gente que aprecia e eu adoro. Sempre agradeço, claro, obrigado, obrigado, obrigado. Tem amigo pra tudo, né? Por isso, mais uma vez, obrigado.
Normalmente sou convidado a participar de um congresso lá não sei onde, de uma bienal na casa de caixa pregos, de um festival ali, uma reunião aqui e acolá. Ou para ministrar uma palestra por aí, ou fazer uma recreação numa escola de educação infantil ou de ensino fundamental.
Quando eu menos esperava, quase que já conhecia esse Brasilzão todo. Rodo muito esse Brasil todo, um mundão bonito de se ver, arrevirado e de porteira escancarada. É só me convidar que eu vou.
11 - A Villa - Outra característica peculiar, é a ferramenta da internet. Atualmente, é o seu principal modelo de linguagem, ou é mais um? Explique.
Luiz Alberto Machado - Mais um. Eu sempre escrevo para jornais e revistas impressas do Brasil inteiro, escrevendo crônicas, artigos e outras coisitas mas.
Já publiquei vários artigos opinativos no Diário de Pernambuco, na Gazeta de Alagoas, no Diário de Natal, em um bocado de revista impressa do Brasil e por aí.
A internet é uma ferramenta que eu adoro.
Facilitou muito meu trabalho de pesquisa. E muito mais! Descubro muita gente nova, entrevisto, mantenho intercambio no Brasil e no exterior, estreito amizades, fico sabendo das novidades, está tudo nos meus blogs.
Tive surpresas agradabilíssimas na rede. Quando abriram pra mim 1 profile no Orkut, em pouquíssimos meses eu contava com 11 profile, pode? Deletei tudo ultimamente porque um hacker sacana estava invadindo tudo. Estou só nas duas comunidades que abriram pra mim lá no Orkut.
Também tem muita gente nos meus profiles do MySpace, do Youtube, do Videolog, do Hi5, do Clube Caiubi de Compositores, da comunidade MPB, do Sonico, do Violeiros do Brasil, do Vimeo, por aí, um montão de gente que agradeço à vida ter o prestigio de dividir amizade e emoções.
Eu registro tudo nas minhas páginas e blogs, está tudo lá. É só chegar lá e ver o monte de coisas que eu recebo, onde meio mundo de gente que eu conheço e destaco com novidades, poetas do Brasil e do exterior, gente de teatro, de música, da literatura, da fotografia, de cinema, de artes plásticas e visuais, da literatura de cordel, do escambau! É só dar uma entrada também na seção de entrevistas da minha home page www.luizalbertomachado.com.br e ver lá a turma toda.
Ultimamente tenho pesquisado sobre a inclusão digital, Pierre Lévy e meio mundo de gente que do universo cibercultural, acompanhando esse universo das linguagens líquidas e virtualidade. Estou nessa praia. Vambora?
Luiz Alberto Machado - Ah, tenho vivido plenamente na alegria da pluralidade multicultural.
Esse Brasilzão véio, arrevirado e de porteira escancarada é um universo para lá de heterogêneo, riquíssimo e lindo. Êta, Brasilzim da gota!!!
Como eu tenho conversado muito com menino, adolescente, adulto, mestres e doutores, incultos e cheleléus, timoratos e perdulários, mulheres de todas as belezas e machos de todas as tronchuras, o que me tem chamado atenção é a forma como se engraçam das minhas paradoxalidades, hehehehehehehe.
É verdade, é gente até de um olho só, como dizem lá na minha terrinha, hhehehehehehehe.
Não se importam das curvas nas idéias que dou, minhas heterodoxias, molecagens e destemperos. Levam na boa.
É mais interessante enfrentar essa realidade trágica com um tanto de irreverência, né? Por isso dou meus saltos soltos e ainda caio de pé fazendo mesuras, hehehehehehe.
Como nunca perco o bom humor, vou transitando e dando minhas cutucadas contundentes na ferida do desgoverno da patriamada, esperando que a dignidade de Pindorama um dia faça desse Brasil um país de verdade.
13 - A Villa - Seu linguajar é arretado, esculhambado, erudito, eloqüente, da pega e aprumado... Qual a importância de unir o linguajar tipicamente nordestino aos chamados globalizados?
Luiz Alberto Machado - Hehehehehehehe! Vamos aprumar a conversa e tataritaritatá!!!!
Oxente, menino! Eu nasci entre um rio e um riso de mulher, quer mais o que? Isso na beira do mundo, em riba de muita manha e bebendo da água do rio Una. Desde molecote que comecei a apreciar a água que passarinho num bebe, sabe? Isso mesmo, aquela-que-matou-o-guarda mesmo!
Fui batizado na cultura popular: os violeiros e cantadores na feira, os caboclinhos do Rabeca, o pastoril, o frevo, a ciranda, os doidos de pedra, os mitômanos e os filósofos folclóricos do povo.
Confesso que tudo são influencias do meu pai que desde menino me abriu a curiosidade pro mundo do Ascenso, do Hermilo Borba Filho, dos poetas de Palmares, dos cantadores de cordel e os repentistas e emboladores de coco, do Luiz da Camara Cascudo, do Luiz Gonzaga, do Paulo Freire, do Ariano, do mestre Vitalino, do Gilberto Freire, do Nelson Barbalho, do José Antonio Gonsalvez de Melo, do Alceu Valença, do Gilvan Lemos, do Bajado, de meio mundo de gente que me ensinou a ler e muito!
Fui sempre contemplado de bons e generosos amigos, desde a grandiosa bibliotecária Jessiva Sabino de Oliveira que desde menino confiava em me emprestar os livros proibidos da biblioteca pública, até os intelectuais, sabichões, farosos, pedantes e jactantes amigos da hora e de plantão. Tem amigo safado quem pode, né?
Confesso que foi um poeta parente meu, Afonso PauLins, quem me ensinou ainda menino a conciliar a beleza do canto, da música e da poesia brejeira da minha terra pernambucana com a literatura de relevo, a música erudita, o jazz e o rock progressivo, me dando de bandeja desde Paulo Freire a James Joyce, Ezra Pound, Jorge Luiz Borges, Heidegger, Habermas até Stokenhausen e John Cage.
É isso, geléia geral, aprumando a conversa & tataritaritatá!!!!
14 - A Villa - Sabemos que são inúmeros projetos. Quais são os mais imediatos?
Luiz Alberto Machado - Vixe! Rapaz, teve uma época que eu tinha mais projeto que a Sudene na época das vacas gordas da roubalheira geral.
Na verdade, como diz o ditado: já fiz dois filhos, um está no céu. A filha que tenho é a minha única obra-prima. Publiquei uns livros. Plantei umas árvores. Parece mais que passei da conta, mas não. Como diz Caetano Veloso: "Eu sempre quis muito mesmo que parecesse ser modesto. Eu juro que não presto. Eu sou muito louco!".
Já fiz de tudo: promovi feira de música. Montei circo - o Circo Itinerante -, na época que ainda não existia Circo Voador, Circo Relâmpago, essas coisas. Promovi campanhas ambientalistas quando ecologia ainda não era moda no início da década de 80. Participei da Eco 92. Fiz shows que só sem nunca ter gravado um disco. Montei peças teatrais, fiz saraus, pulei cerca, fui locutor de rádio, pinotei de cruzeta, fui assessor de imprensa, fui professor, dei muito trabalho pra humanidade, me lasquei que só, escapando das adversidades, perseverando na vida eu corri mundo e ainda tenho muito gás para mandar ver e tataritaritatá!!!
Graças a mim e aos meus amigos, consegui sempre realizar uma boa parte dos projetos que inventei de pirar.
Agora ainda tenho um bocado na agulha: dois livros de poesias, inéditos; 4 noveletas; 4 de croniquetas, 1 de croniqueta engatilhado numa editora, 2 infantis, 1 cd engatilhado para sair no segundo semestre, meio mundo de coisa. Mas os mais próximos, são a publicação do livro infantil "Alvoradinha na Manguaba" e o de croniquetas "Tataritaritatá". Esses saem junto com o cd de músicas Tataritaritatá, no segundo semestre até o final do ano.
Afora isso, muitas idéias e de bem com a vida sempre!!!
15 - A Villa - Seu momento para finalizar a Entre & Vista a Villa?
Luiz Alberto Machado - Quero deixar aqui meu abraço de gratidão, dizer que estou superfeliz de estar por aqui, uma revista que acompanho semanalmente e que saúdo cantando o meu frevo "Folia Caeté": "(...) Cidadania vingar cantada bem pra valer, viver feliz é o que se quer. Mesmo que venha a nascer, cidadania é viver na folia caeté"!
Deixo aqui mais que meu abraço amigo recitando o meu poema "Maceió: uma elegia para os que ousam sonhar":
A cidade emerge no meu riso matinal e o sol faz paradeiro na minha alma desafortunada. Os meus passos reviram ruas redimindo meus pesares, remorsos e alucinações nessa paradisíaca paragem. É tudo muito lindo premiando o meu devaneio. E eu recito loas pelas beiradas da idéia, pelas abissais paralelas do meu exílio atrevido, de minha presença castigada.
Nesse cenário eu vou de corpo e alma. Vou pelas transversais, avenidas, perpendiculares, a reconhecer a punição da vida no que de vário se faz real pelo esplendor do mar e onde se lavam culpas no negrume do asfalto, onde se pezunham esperanças na imensidão do espaço, onde se constroem todas as avenças e desavenças de nada.
É outro dia sempre e a gente a sonhar com o estrondo da felicidade mesmo que tudo seja apenas feito de partidas e chegadas no desencontro dos anseios.
É outro dia sempre e a gente com o plano de vôo circunscrito na incerteza, como se a regra desse jogo fosse sempre o confronto da distância entre começar e acabar, sem ter prorrogação na morte súbita indesejada.
É outro dia e sempre a cidade emerge na minha finitude atlântica que bordeja pelas apaziguadoras ruas breves da Mangabeiras e se arrasta na expectativa da Jatiúca, aderna pelo emaranhado da Ponta Verde, singra pela beira-mar da Pajuçara e dá nos cotovelos rentes com a fabularia do Jaraguá. É lá onde me eternizo nas cinzas.
Adiante está a lama do Salgadinho empestando a Avenida onde uma guerra oculta cospe mulheres paridas e deserdadas dos arredores do Tabuleiro do Martins e homens ciclópicos que ululam desmemoriados de tudo sem nada, oriundos do longe mais distante das bandas de lá além do Mundaú e que povoam a superfície perversa da exclusão. E me refaço porque é outro dia e sempre me esforço subindo a rodoviária até o Farol onde contemplo de tudo: a fantástica panorâmica, o silêncio dos roncos cansados, a espera dos madrugadores por condução, a perspectiva que bate as botas em Cruz das Almas e o meu desejo que escorre descendo o Riacho Doce e se esquece dos pleitos que se tornaram causas inúteis revogadas previamente pelos tribunais de então. Mas é outro dia sempre e as crianças no meio fio da madrugada com seu cobertor de mar e de noite com sonhos incertos no barulho do trânsito indômito. É outro dia e um punhado de adultos amontoam o teatro cristão com o berreiro dos desentoados em preces devotadas com seus sotaques e timbres nas rezas por seus dissabores, por remoetas embaçadas, por sacrifícios ostentatórios, pela salvação das almas da ignomínia. E tudo parece um abstrato aceno de paradoxais festeiros na celebração da tragédia pelas mesquinharias políticas, pela soberba nos limites onde o canavial impera ao lado dos alguns poucos privilégios de gados e miséria nos pastos de outro tabuleiro, onde amadurece a desimportância da oportunidade e todos são escravos do passado mesmo que se achem senhores de si e do futuro, mesmo que a vida seja um lapso de tempo nas causas perdidas.
Mesmo assim a cidade emerge e meu coração se avexa com o tumulto do dia e se esboroa pela tarde e faz aconchego na noite que anuncia outro dia para um mais que desejoso amanhã. Amanhã que já será hoje, hoje que será ontem e tudo que esquecerá. E esquecendo não veja criança estendida na calçada da manhã, nem pedinte mendigando no semáforo, nem velho xingado nas filas, nem violência como efeito da desigualdade, porque os adultos precisam acordar ciosos de si a vingarem o humano à revelia dos mandos no sonho de todos os sonhos.
A verdade é que a cidade emerge nos meus olhos e já é outro dia. Mesmo assim continuo atrevido e teimoso de sonhos, enquanto o meu coração bate buliçoso e atônito pelas ruas de Maceió, entoando uma elegia para os que ainda ousam sonhar.
Nesse cenário eu vou de corpo e alma. Vou pelas transversais, avenidas, perpendiculares, a reconhecer a punição da vida no que de vário se faz real pelo esplendor do mar e onde se lavam culpas no negrume do asfalto, onde se pezunham esperanças na imensidão do espaço, onde se constroem todas as avenças e desavenças de nada.
É outro dia sempre e a gente a sonhar com o estrondo da felicidade mesmo que tudo seja apenas feito de partidas e chegadas no desencontro dos anseios.
É outro dia sempre e a gente com o plano de vôo circunscrito na incerteza, como se a regra desse jogo fosse sempre o confronto da distância entre começar e acabar, sem ter prorrogação na morte súbita indesejada.
É outro dia e sempre a cidade emerge na minha finitude atlântica que bordeja pelas apaziguadoras ruas breves da Mangabeiras e se arrasta na expectativa da Jatiúca, aderna pelo emaranhado da Ponta Verde, singra pela beira-mar da Pajuçara e dá nos cotovelos rentes com a fabularia do Jaraguá. É lá onde me eternizo nas cinzas.
Adiante está a lama do Salgadinho empestando a Avenida onde uma guerra oculta cospe mulheres paridas e deserdadas dos arredores do Tabuleiro do Martins e homens ciclópicos que ululam desmemoriados de tudo sem nada, oriundos do longe mais distante das bandas de lá além do Mundaú e que povoam a superfície perversa da exclusão. E me refaço porque é outro dia e sempre me esforço subindo a rodoviária até o Farol onde contemplo de tudo: a fantástica panorâmica, o silêncio dos roncos cansados, a espera dos madrugadores por condução, a perspectiva que bate as botas em Cruz das Almas e o meu desejo que escorre descendo o Riacho Doce e se esquece dos pleitos que se tornaram causas inúteis revogadas previamente pelos tribunais de então. Mas é outro dia sempre e as crianças no meio fio da madrugada com seu cobertor de mar e de noite com sonhos incertos no barulho do trânsito indômito. É outro dia e um punhado de adultos amontoam o teatro cristão com o berreiro dos desentoados em preces devotadas com seus sotaques e timbres nas rezas por seus dissabores, por remoetas embaçadas, por sacrifícios ostentatórios, pela salvação das almas da ignomínia. E tudo parece um abstrato aceno de paradoxais festeiros na celebração da tragédia pelas mesquinharias políticas, pela soberba nos limites onde o canavial impera ao lado dos alguns poucos privilégios de gados e miséria nos pastos de outro tabuleiro, onde amadurece a desimportância da oportunidade e todos são escravos do passado mesmo que se achem senhores de si e do futuro, mesmo que a vida seja um lapso de tempo nas causas perdidas.
Mesmo assim a cidade emerge e meu coração se avexa com o tumulto do dia e se esboroa pela tarde e faz aconchego na noite que anuncia outro dia para um mais que desejoso amanhã. Amanhã que já será hoje, hoje que será ontem e tudo que esquecerá. E esquecendo não veja criança estendida na calçada da manhã, nem pedinte mendigando no semáforo, nem velho xingado nas filas, nem violência como efeito da desigualdade, porque os adultos precisam acordar ciosos de si a vingarem o humano à revelia dos mandos no sonho de todos os sonhos.
A verdade é que a cidade emerge nos meus olhos e já é outro dia. Mesmo assim continuo atrevido e teimoso de sonhos, enquanto o meu coração bate buliçoso e atônito pelas ruas de Maceió, entoando uma elegia para os que ainda ousam sonhar.
© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. In: Primeira Reunião. Recife: Bagaço, 1992. Poema incluído na antologia "Poesia de Alagoas". Recife: Bagaço, 2007.
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