DOS DESTROÇOS
PRA SOLIDÃO CRIATIVA - Imagem: Fresh off the easel, da pintora
estadunidense Joan Fullerton - Como
um cão sem dono lambia as suas feridas abertas. Desgarrado, a família sepultada
no tempo: a dor da rejeição. Desamado, a quem amava sobrou o desterro da paixão:
a dor de não ser amado. Dos amigos, o abandono: não tinha mais o que dar nem
colher. Os colegas de trabalho sucumbiram todos pelos percalços da vida. Os
parceiros de lazer sumiram com outros divertimentos. Não havia mais com quem dividir
emoções, conversar, trocar ideias, jogar conversa fora: a dolorosa experiência de
se sentir só. Antes assim mesmo, talvez por querer demais, como esperava demais
do outro, desapontamentos na ponta do lance. Até o desolamento, demasiado
isolamento, aprendendo com as dolorosas escolhas que fez e que teve de fazer,
não havia outro jeito, estava mais que na hora, decidir ou já, vulnerável de
tudo, entre palavras frias de pobres de ânimo que jamais passaram fome
embotados por um maligno ceticismo, e por desalentadoras mentes definhadas sem
a menor precisão e que viram as costas a qualquer menção de tombo, se sustentando
desesperados por suas próprias desgraças. Em todos só recolhia a fome pungente
de suas almas, já restava só e não sabia, apareciam quando precisão, mais nada,
dilemas da vida, a sarjeta do retraimento, o talho vivo do desequilíbrio, o seu
degredo. Nenhuma mão amiga, nem um afeto, nem a quem recorrer. Ao que faltava,
não havia se libertado do passado, não mais recompensas na sua íntima confusão
sentimental. Memórias que assaltavam por devaneios e pesadelos, fantasias de
giz na poeira do alento. Ano após ano sem saber ser feliz nem da felicidade, ideais
arruinados e quase roto sem que se sentisse apreciado, respeitado, confiante, ninguém
a favor, nenhuma afeição, encorajamento ou chance. Guardava as suas ocultas
súplicas, sua vida cerceada pelo desdém, não havia apoio ou compaixão, nada ia
bem, tudo destroçado. Restando apenas a si mesmo, trucidou todas as lembranças no
meio de uma guerra de sobrevivência, aos golpes e cortes na carne e as chagas
expostas, estouro de enfisemas supurando entre lágrimas e sangue. Se vencedor
ou derrotado, nada mais restava: só o agora pro amanhã. Em última instância, encarou
a verdade das circunstâncias da vida, não havia como ser de outro jeito e fez o
que pode além de todas as forças e tentou renovar-se na regeneração sentimental,
maturidade emocional. No fim estava mais só que antes, mas cônscio de si. Não havia
mais medo, ódio ou vingança, o que passou, passou. A despeito de tudo isso,
decidiu agir em prol de si mesmo. Espirito livre, não mais um ou outro fulano
ou beltrano, sicrano que seja, mas todos. Se estava só, comungou com a
humanidade e passou a amar-se e, por consequência, a amar ao ser humano, apenas
isso, nunca mais solidão. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.
Curtindo o álbum Rosa Passos ao vivo (Biscoito Fino, 2016), da cantora, violonista e
compositora Rosa Passos.
Veja mais sobre:
A mulher na Roma antiga, William Faulkner, Victor Hugo, Jacqueline
Du Pre, Helena Saffioti, Brian De Palma, Jean-Baptiste Pigalle, Carmen
Tyrrel, Elizabeth Short, Mia Kirshner, Lenita
Estrela de Sá & Lia Helena Giannechini aqui.
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A violência aqui.
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DESTAQUE: O HOMEM DS PERNAS CRUZADAS
[...] o
mundo todinho sabia que aquele fulano tinha direito a todas as mesuras,
cuidados e atenções. [...] e ali
mesmo o condenaram a ser enterrado vivo se não tomasse picareta e enxada e se
pusesse a trabalhar, como todo homem que se preza. [...] Quando iam chegando, encontraram um lavrador
de outra aldeia, que, ao ver o cortejo, perguntou: - Amigos, quem é o morto, se
me permitem? – Não é morto, primo – disse o prefeito. – Levamos um vivo. Veja que
nem colocamos a tampa, para que não morra sufocado no caminho. – Que coisa
esquisita, prefeito. – Mas muito merecida – interveio outro. – É o homem das
pernas cruzadas – disseram todos. – Resolvemos não lhe dar mais de comer. E para
que não morresse de fome, vai ser enterrado vivo. – Mas isso não é coisa de
cristãos – interpôs o aldeão do outro povoado. – Minha gente não faria uma
barbaridade dessas. Baixou um saco que trazia ao ombro e acrescentou: - Irmãos,
proponho que me permitam prolongar um pouco a vida desse condenado. Eu lhe dou
este saco de batatas. Servirá para alimentá-lo uns dias mais. E então o homem
das pernas cruzadas, fazendo o maior esforço da sua vida, levantou a cabeça do
ataúde, olhou o sertanejo, o saco, e perguntou: - Estão descascadas? – Não,
homem! Imagine se iam estar descascadas! – Então, minha gente... vamos andando,
vamos... – E apontou para o cemitério...
Trecho do conto O homem das pernas cruzadas (Cultrix, 1968), do premiado escritor
costarriquenho Fabian Dobles
(1918-1997).
CRÔNICA DE AMOR POR ELA; TODO DIA É DIA DA
MULHER
As mulheres marcham desde tempos imemoriais, catadoras
das oferendas da natureza, para as primevas necessidades de cuidar do alimento.
Colhedeiras de vegetais, legumes e frutas, antes mesmo das hortas e pomares... Carregavam
muitas vezes, os filhos , numa tira, nas costas, na frente do corpo ou de lado -
o que ainda hoje, é costume em alguns países. Mudanças de espaço físico, fugas
de guerras, entre aos fronts, para acudir aos feridos de guerra, na luta pelo
voto, caminhavam as precursoras, nas primeiras greves, essas evas primevas, caminhavam
juntas para ganhar força e suas vozes fossem unidas... Vi uma poetisa, em
antigo filme do qual perdeu-se nos desvãos da memória, Um filme, onde uma única
mulher, sabendo que seria assassinada pelo marido cruel, caminhou na neve em
inverno rigoroso, Para entregar seu caderno de poemas- e estes fossem
preservados... Deméter, a deusa da agricultura , caminhou muito até ao Hades, para
resgatar a filha raptada, Perséfone, que presidia as estações das flores e seus
perfumes , das ervas e dos frutos . A Terra então, ficou seca, sem plantações,
quando a filha de Zeus foi raptada...O poderoso deus não desceu para resgatar a
filha. E as estações de plantação e colheita somente retornaram por causa da
persistência maternal de Deméter. Quando a filha foi devolvida - a cada seis
meses, Passando um tempo na terra e outro no inferno, com seu esposo das trevas
voltou o equilíbrio à terra. Na verdade, ela teria voltado de vez, se as
mulheres não se sentissem tão compromissadas com seus companheiros. Talvez por
isso, que o amor tem suas próprias razões e explicações, ela come seis sementes
de romã, quando deveria voltar sem nada levar, sem olhar para trás ou se
alimentar. E por tal ato, é condenada a passar seis meses com Hades. Talvez
para ela, fosse a medida do equilíbrio amoroso... Durante guerras, as mulheres
da resistência, das mais jovens às mais velhas, caminhavam longe para entregar
comida, remédios, cartas, a pé, de bicicleta, com fome ou sede se necessário,
aos que se escondiam.... Então, por atavismo, caminhamos juntas, em uníssono, Protestamos,
cantamos, gritamos, reivindicamos. Por causa das pioneiras, é que votamos... Somos
sentinelas de nosso tempo, criativas e incansáveis. Deixamos de ser estrelas
solitárias, Para sermos constelações! As marchas das mulheres são herança,
orgulho, alertas, missão! Caminhemos!
Sobre as Marchas das Mulheres, da escritora e psicóloga Clevane Pessoa de Araújo Lopes, extraído do Mulheres em Marcha.
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
Terra: Nude with rose, do fotografo
húngaro-romeno André De Dienes (1913-1985).
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.