A AVAREZA PERDE
VALIA QUANDO A VIDA VAI PRO SACO – Imagem:
arte do artista plástico Vik Muniz -
Zuzezim era o irmão mais velho de Totonho, da família dos Miséria, o mais
miserável de todos, cabrinha dos mais odiados de Alagoinhanduba. Dele ninguém
nunca soubera de bondade que fosse, só de tratar os outros aos desaforos e
pontapés: - Pra mim, gente é coisa ruim, só serve pra se lascar mesmo! Nunca
tratou ninguém por consideração, sempre desprezando ou maldizendo de amizades
ou parentescos. Até os familiares eram incluídos entre os malditos: - Comigo é
tudo pé na goela! Quando se despedia de quem fosse, dava adeus com mão de figa:
- Já vai tarde! Que o diabo o carregue, desgraça! Tudo de seu era guardado aos
cadeados, só o estritamente necessário: comia com os olhos, até se empanzinar.
– Tire o olho gordo do que é meu, tiborna! Quando de pança cheia, guardava pro
dia seguinte. Só ia pro lixo quando estava imprestável, isso depois de conferir
se ainda comestível. Fosse irmão, familiar ou quem fosse, todos, pra ele, eram
desafetos e só serviam pras desfeitas. Pedidos de ajuda, dava as costas: -
Sai-te, coisa ruim! Achegamentos aos cotovelos. Morava sozinho com uma
empregada doméstica há mais de trinta e tantos anos, dela pintava e aprontava. Ela,
coitada, já acostumada com seus maus bofes, nem aí, vivia como desse, comia
quando ele descuidasse, dormia quando ele cochilasse, fazia o que lhe mandasse.
Um dia lá ele teve um troço e bateu as botas. Ela ficou sem saber o que fazer. Foi
quando pode, pela primeira vez, pegar nas chaves da casa. Não havia mais a
presença vigilante dele espionando seus passos. Agora aquela casa era
praticamente sua, explorando todos os cômodos. Descobriu uma fortuna escondida
no colchão, mais tantas amarradas aos pedaços de panos nos fundos dos armários
e guarda-roupa. Se ele não gastava, sabia bem guardar tudo que ajuntasse dos
proventos. Pela primeira vez acendeu a luz da sala e abriu as janelas: a
catinga de mofo invadiu a cidade. Aos poucos foi se livrando da chateação dos
outros Misérias, tudo atrás de saber do que ele tinha deixado. Nunca que
soubera de tanta parentalha, logo tratou de cobrar deles sua indenização, o que
os fazia, invariavelmente, sair às carreiras do vespeiro. Trinta anos de
sofrimento, agora recompensada. Recomeçar a vida, era o que tencionava, mas com
cautela pra não dar na vista. Nem sabia seu nome, só de Tiborna, como era
chamada pelo avarento. Também sabia que o miserável, apesar de morrido, podia
dar uma de fantasma e vir atentá-la. Broca, não sabia por onde começar, mas de
uma coisa estava certa: nunca mais seria reprimida e maltratada por quem, a sua
vida toda, só a escravizara para nunca mais. © Luiz Alberto Machado. Veja mais
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DESTAQUE: A SAÚDE NO BRASIL
O sistema de saúde brasileiro está prestes a romper-se. [...] O modelo de
sistema de saúde implantado no país estimula a desarticulação e até mesmo o
conflito entre os agentes públicos e privado [...] Não há, de fato, acesso universal e igualitário às ações e serviços de
qualidade ou mesmo a integralidade propugnada pela Constituição. [...] Não há dúvida de que o subfinanciamento é
uma variável fundamental; entretanto, não reconhecer os demais fatores que
tornam precária a atenção com a saúde de uma parte considerável da população
brasileira é vedar intenci0nalmente os olhos diante de uma realidade flagrante.
[...] na prática, a grande maioria da
população está impedida de usufruir dos serviços [...] São desesperadores os efeitos da ineficiência do setor público na
gestão dos serviços, quase sempre liderados pela lógica perversa dos acordos
partidários ou mesmo do egoísmo das corporações que colocam seus interesses
pessoais à frente das necessidades da população. O paciente e a solução dos seus
problemas são relegados a um segundo plano. Os aspectos técnicos e a tão
decantada e necessária gestão eficiente dos serviços perdem força em um modelo
de amarras e em uma legislação customizada par privilegiar os que acobertam
desempenhos pífios. [...] Na execução
dos serviços, o uso competente das tecnologias cede lugar a processos
medievais, o planejamento é substituído pelo improviso. Não há processo
sistematizado de avaliação da qualidade assistencial, da satisfação dos
clientes, das taxas de utilização de recursos humanos, com a manutenção e o uso
de tecnologias amigáveis e com a comprovação efetiva de uma relação
custo/beneficio. Num cenário desse tipo, a ausência dos recursos é uma mera
circunstância. [...] Pessoas pioram
sua condição de saúde por não serem cuidadas no momento e da forma mais
adequada. Ao buscar por atenção, os cidadãos deparam-se frequentemente com
serviços de emergência superlotados e tecnologicamente defasados; as unidades
de saúde muitas vezes não conseguem oferecer generalistas ou especialistas em
condições de dar atenção adequada; [..] e
limitam as internações em função do subfinanciamento do sistema; [...] Aumentam-se os serviços de
pronto-atendimento sem, porém, melhorar sua resolubilidade. É uma prática
desastrosa que onera ainda mais os cofres públicos. De um lado, o governo
mantem uma estrutura pública que não consegue entregar os serviços; de outro, a
população vai buscá-los na rede privada que atende o SIS, onde novamente o
sistema público é onerado pelo pagamento dos serviços que já deveriam ter sido
prestados por suas estruturas. [...] O
erro está em confundir o público com o estatal. Afinal, nem toda atividade com
finalidades públicas é estatal. Uma ação ou serviço pode perfeitamente privado
e ainda assim ter valor público. [...] o
que a justiça requer é que ninguém viva abaixo de certo padrão, e uma sociedade
que se preza a equidade prioriza a solidariedade para com aqueles cujo padrão
de vida dependa de seu apoio para que possa alcançar uma condição de vida
digna. [...].
Trechos extraídos da obra Sistema de Saúde
2017 (CNS/IAHCS, 2016), organizado por Cláudio José Allgayer. Veja mais aqui,
aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
A arte do
artista plástico Vik Muniz.
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