quarta-feira, janeiro 06, 2016

ARDÊNCIA, LACAN, PITÁGORAS, LATORRE, LAFORGUE, NINA KOZORIZ, RACHEL LEVKOVITS & MUITO MAIS!!!!


CRÔNICA DE AMOR POR ELA: ARDÊNCIA (Imagem: arte de Meimei Corrêa) Ela chegou com todo o verão: um calor de dezembro de elevadíssimos graus a incendiar minhas noites de frio e a promessa de um amor vivo além de todas as fronteiras. E me trouxe seus olhos ternos para que eu enxergasse a vida e todas as coisas no meio das labaredas de seu fogo inextinguível a me convidar pra vida por todos os meios de existir. E a sua boca de sol para iluminar meus caminhos com versos de fêmea que sabe o amor e eu a vi e supus que se fizesse viola para eu compor poemas e canções entre os relâmpagos etéreos da sua apaixonante criatura. E os seus seios macios dos mais ternos sentimentos pro meu abrigo e a cuidar do meu descuidado jeito doido varrido de não temer as hostilidades alheias, acalentando meus murmúrios e acariciando com a sua delicadeza e ternura o meu coração atormentado de desespero. E me deu seu sorriso enluarado com o brilho de todas as estrelas no céu para iluminar minhas noites de completa solidão. E me ensinou o outono com o sal de sua pele a me dar a face da felicidade com todos os pomares de sua vitalidade maternal. E me abrigou do inverno para que eu não tenha mais que cair da minha sazonal sorte e despencar pelos tropeços das desgraças. E me trouxe a primavera com toda pujança do seu encanto e com todo gracejo a morrer de rir com minhas besteiras exaltadas de meter as mãos pelas pernas errando de tudo até de mim quando sou mais que nada na ausência de tudo. E me fez amar essa parte de Deus que ela é num pedaço de vida maior que o universo e senti-la porta aberta no frescor do vento com seus preparativos diligentes para o amor. E seguimos juntos por todas as nascentes para revirar céus e terras no entusiasmo da minha incompletude e a me embriagar com os festejos de sua plenitude a me falar das coisas de hoje e amanhã adoçando as amarguras das minhas mais insossas desventuras. E meu corpo passou a viver sua vida. E minhas mãos a guardar os seus seios e a procurar a formosura do seu ventre para me banhar são e salvo de todos os males. E a sua entrega altruísta me fez poeta no meio de nossas noites e dias imorais, a recitar poemas aos nossos fogosos prazeres dos desejos mais intensos de dois amantes, a fazer uma canção para quem ama de verdade. Assim foi e será: dos dois, uma só vida. (Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui e aqui).

PICADINHO


Imagem: a arte do pintor, ilustrador e escultor francês Gustave Doré (1832-1883). Veja mais aqui.

Curtindo o Concerto nº 1 in G minor Op. 26 (1865-1867), do compositor alemão Max Bruch (1838-1920), ao violino de Chloe Hanslip & a London Symphony Orchestra.

EPÍGRAFE - Ex digito gigas, expressão atribuída ao filósofo grego Pitágoras nos registros de Plutarco, significando que pelo dedo se conhece o gigante, ou seja, por um ato, ou por uma atitude, pode-se formar uma ideia do caráter de uma pessoa. Veja mais aqui e aqui.

ESTÁDIO DO ESPELHO – No livro Percursos de Lacan (Zahar, 1987), Jacques-Alain Miller fala a respeito do estádio do espelho de Jacques Lacan: Que é o estádio do espelho? Resume-se no interesse lúdico que a criança dá mostras, entre os seis e os dezoito meses, por sua imagem especular, aspecto pelo qual a criança se distingue, certamente, do animal. Reconhece a sua imagem, se interessa por ela, e esse é um fato que, podemos admitir, é observável. Lacan [...] terminou considerando que o essencial não era nem a ideia de estádio, nem a observação. Quis explicar esse interesse singular da criança, e para isso recorreu à teoria de Bolk, segundo a qual o lactente humano é de fato, desde a origem, em seu nascimento, um prematuro, fisiologicamente falando. Por isso está numa situação constitutiva de desamparo; experimenta uma discordância intra-orgânica. Portanto, segundo Lacan, se a criança exulta quando se reconhece em sua forma especular, é porque a completeza da forma se antecipa com relação ao que logrou atingir; a imagem é, sem dúvida, a sua, mas, ao mesmotempo é a de um outro, pois está em déficit com relação a ela. Devido a esse intervalo, a imagem de fato captura a criança – e esta se identifica com ela. Isso levou Lacan à ideia de que a alienação imaginária, quer dizer, o fato de identificar-se com a imagem de um outro, é constitutiva do Eu (moi) no homem, e que o desenvolvimento do ser humano está escandido por identificações ideais. É um desenvolvimento no qual o imaginário está inscrito, e não um puro e simples desenvolvimento fisiológico. [...]. Veja mais aqui, aqui e aqui.

A DESCONHECIDA – No conto A desconhecida (Cultrix, 1962) do escritor chileno Mariano Latorre (1886-1955), destaco o trecho: [...] O jovem sentiu-se repentinamente aliviado. Foi como se sua angustia desaparecesse na onde quente do sangue que voltava a estremecer em suas veias com o rítmico compasso da saúde. Assobiava baixinho uma ária que aparecia, sem saber por que, naquele momento. Tratou em seguida de entabolar conversa com essa mulher que tão inesperadamente se revelara a ele; tentou reconstruir suas feições, o timbre másculo de sua voz o seu rosto como se a tivesse de pé diante dele; e dos fragmentos que pudera colher ou imaginar, nada de concreto tirava. Desprovida de seus atributos materiais, tinha algo de geral, de abstrato, que não conseguia localizar. Às vezes era a recordação de alguma mulher conhecida anteriormente; outras, a de um retrato entrevisto numa vitrina de fotografias ou em revistas. Procurava recordar o sabor daqueles beijos frenéticos que, como uma cuva de fogo, caíram sobre sua boca; e somente podia afirmar que era uma mulher corpulenta de carnes duras e pele áspera, de formas crescidas e uma cabeleira espessa que supôs preta, com um leve cheiro de umidade; lembrou-se depois do sapato sujo que vira à tarde ao sair das termas; e sorriu; eram agora imagens de vida comum, de camponesas retesadas, em seus vestidos de percal e de cachos indômitos que apareciam em sua memoria. Sorriu com benevolência; e adormeceu, sem recordações, sem angustia, num sonho animal com esta pergunta no umbral do subconsciente: - Quem será esta mulher? [...]. Veja mais aqui.

LOCUÇÕES DOS PIERRÔS & OUTRO LAMENTO – Entre as poesias do poeta francês nascido no Uruguai Jules Laforgue (1860-1887), destaco duas que foram traduzidas por Augusto de Campos e inseridas no ABC da Literatura (Cultrix, 1977), de Ezra Pound. A primeira, Locuções dos Pierrôs: Teu olhar, / Huri, / tem o ar de um memento mori / que diz no fundo: - Ah, deixa estar... Mas direi tudo de uma só vez. / E por que parto, à fé de honrado / bardo / francês. / Teu coração tem fiador honesto, / o meu vive, de duplicatas / levadas / a protesto. E o poema Outro lamento: Essa que me vai pôr ao corrente da fêmea! / Eu lhe direi, então, com ares indiscretos: / “A soma dos ângulos de um triângulo, minh’alma, / É igual a dois retos”. / E se lhe sai este grito: “Deus meu, como te amo!” / - Deus reconhecerá os seus. Ou est’outro, incisivo: / - “Meus teclado têm alma, só tu serás meu tema”. / Eu: “Tudo é relativo”. / Com todo o olhar, sentindo-se banal agora: / “Não me amas nem um pouco, e eu não sou nada feia!” / Mas eu, com um olhar que em si mesmo se alheia: / “Bem, obrigado, e a senhora?” / - “Ah, qual de nós é o mail fiel? Apostemos!” – “Só se quem perde ganha”. Ou lágrimas d’amor: / - “Ah! Tu te cansaras primeiro, estou certa...” / “- Primeiro as damas, por favor”. / Enfim, se ela um dia morre nos meus livros, / doce; como quem decifra um mistério, / terei eu: “Ora essa, ainda há pouco estava viva! / Mas então era sério?”. Veja mais aqui.

TEATRO ELIZABETANO – Na obra Teatro Vivo (Civita, 1976), organizada por Sábato Magaldi, encontro que: Numa época em que, exceto na Espanha, o teatro religioso tendia a acabar e o drama-culto difundido pelo humanismo renascentista fechava-se nas elites, William Shakespeare (1564-1616) construiu uma literatura teatral bastante vinculada aos aspectos populares do teatro medieval. Assim como mártires e santos haviam povoado as peças cíclicas medievais, novos heróis seculares, como Ricardo III, passaram a ser revividos de maneira episódica similar. A estrutura medieval admitia a mistura de efeitos cômicos e trágicos, e a peça-crônica utilizaria a mesma formula. Desse modo se explica porque Shakespeare criou uma personagem como Fallstaff para uma peça séria (Henrique IV) e porque as unidades de tempo, lugar e ação nunca chegaram a ser rígidas. O drama medieval, que consistia principalmente em festas públicas e pantominas, fora transformado pelos humanistas num trabalho de arte literária. Shakespeare adotou essa inovação conservando ainda a separação medieval entre palco e plateia, além da mobilidade de ação do drama religioso. Mas no conteúdo e na tendência, seu teatro foi determinado pelas estrutura política e social da época – a época do realismo político, que leva o conflito dramático da própria ação à alma do herói. [...]. Veja mais aqui e aqui.

TWISTED – O filme de suspense Twisted (A marca, 2004), escrito por Sarah Thorp e dirigido pelo cineasta estadunidense Philip Kaufman, conta a história de uma policial em ascensão que resolve um caso de grande repercussão envolvendo um serial killer e, por isso, é transferida para a divisão de homicídios e promovida ao posto de inspetora. A parir de então se desenrola uma trama envolvente com destaque para atuação da atriz e ativista política Ashley Judd. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
A arte da artista plástica russa Nina Kozoriz. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

DEDICATÓRIA
A edição de hoje é dedicada à escritoramiga, compositora, artista plástica e empresária francesa radicada no Rio de Janeiro, Rachel Levkovits, Veja aqui e aqui.

TODO DIA É DIA DA MULHER
Veja as homenageadas aqui.