segunda-feira, outubro 19, 2015

RUAS DE MACEIÓ, VINICIUS, VARGAS, MARSALIS, HAYWARD, CAMBIASO, LATOUR, A MULHER & FOLCLORE AFRICANO.

VAMOS APRUMAR A CONVERSA? PELAS RUAS DE MACEIÓ – Versos das ruas que andejo voo anseios oh, do que sou lua e sol no meio do meio dia. Os pés no dia, a boca na noite; e todos os teus açoites pra bordejar leniente versejando a emular teus entornos, instâncias, reentrâncias, entreabrires, gotejares, referências e findares. Versos nas ruas em flor das tuas curvas e veios exsudares, aia tumescente, ressoo lampejos até que fluas dos teus cotornos indecorosos até pousar na via que vai dar nas paragens do que sou. Quem me acompanha? Foi ontem, quase meia noite. Onde é que estou? Quanto presente e eu só passado. Onde é que o futuro está senão em mim? O fruto e a semente, sou tronco. Sou, por enquanto, tronco. À margem de mim, meu próprio eu. Um diálogo de mim pra mim mesmo, eu. Eu? Onde estou senão na possibilidade de estar? Estar, não estou; nem sou. Apenas voo. Quem vai? Eu voo. Onde estás, não vejo. Sinto. Quanto mais sou eu, sou todos: a mão na batuta, apenas um gesto de quem vive. Afinal, sou Deus. E não tenho nada. Ou tudo. À margem de tudo isso, apenas vivo. Em nome do meu nome, é só o que tenho. Um nome uma filiação. O nome das coisas não diz do que é a coisa, decepção enorme, prefiro o desdito, o não dizer. A minha loucura não tem parâmetro, como a dar valor ao inútil. Sou inútil na dimensão do ridículo. De resto, nada mais. Nem sei mais. Se há choros, gritos ou riso, sou apenas meus gritos, meus choros, meu riso. O meu nome é nada do que sou, sou inominável, além da fala do dito, do não-dito, do que podia dizer. Longe de mim tudo flagra; em mim tudo vinga. Foi ontem o dia do amanhã. Eu apenas passo, vivo. Quando fui na casa de mãe, eu dizia: - Maínha, é possível? – Tudo é possível, meu filho. E me beijou os olhos como quem faz do bezerro desmamado. De dia sou sombra que me segue e carrega alhures; de noite sou réstia perdida na sombra da escuridão. O que eu dizia de mim na boca dos outros. Eu voo no salto mortal, a nuca no golpe, o gogó na quina. E a gente vai abrir o cofre, quem tem coragem? Injustiça nunca mais! E não ter que pisar na barata pra se dizer humanista em detrimento do que não seja simpático no asco mais que indesejável. E não ter a morte como castigo mais que inexorável, quando nos toma dos olhos o poder de saber de tudo ao alcance da mão. E não ter que fazer nada em nome dos outros que não têm nada a ver com o que se sabe e nem quer saber quando tudo é vivo além da sensopercepção. A gente pode tratar as pessoas como quem cuida das plantas no jardim. A gente pode abraçar as pessoas como quem vive desfrutando o prazer das coisas de seu apartamento. A gente pode olhar pras pessoas como quem se emociona com a programação da tv. A gente pode dizer tudo que pensa sem que precise agradar ou dissimular qualquer afeto ou se esquivar do preconceito ou exprobrar a paranoia do umbigo carente que quer ser dono do mundo e de todas as coisas. A gente pode sorrir sem que precise da permissão do adeus pra nos fustigar a solidão. A gente pode chorar sem que tenha de abusar disso ou daquilo, nem que veja a justiça injusta dos homens a nos humilhar negando acesso a uma vida nova. A gente pode sentir que está por perto quando os pássaros voam e levam a sorte que nunca tivemos para algum lugar em que o longe está tão perto e dentro do coração. A gente pode gozar o prazer de ter todo dia a chama viva de encantar aquele ou aquela que nos inspira a alma no calor de todos os braços abertos pro abraço de todas as emoções e superando todos os limites que o tempo e o espaço nos impõem. A gente pode ser feliz apesar de tudo porque nosso é o poder de amar, mesmo que seja tardia a hora de ver que somos nós mesmos nossos carrascos e que nos tornamos vítimas de ontem por não ter que ver nenhum futuro. A gente pode ser melhor. A gente pode sonhar um mundo melhor que este! É preciso respeitar a vida! Não somos o obstáculo refém do primeiro peteleco que remove o óbice para seguirmos adiante porque ali está a vida e ela é plena em toda pulsação. É preciso dizer bem alto que a vida é tudo o que temos neste plano de compreensão. E nada é mais importante que o olhar fixo a nos mirar no mais ínfimo momento de nossa existência. Viva e seja feliz, é tudo o que podemos ser na clausura do momento, quer seja na privação da desgraça, quer seja no centro da guerra de todos os interesses egoísticos. A vida apenas, nada mais. E vamos aprumar a conversa aqui e aqui

 Imagem: Magdalena, do pintor italiano Luca Cambiaso (1527-1585)


Curtindo o álbum Hot House Flowers (Columbia, 1984), do trompetista e compositor norte-americano Wynton Marsalis.

A MULHER CAMPEÃ ERÓTICA – No livro Tantra: o culto da feminilidade – outra visão da vida e do sexo (Summus, 1994), do escritor e professor de yoga belga André Van Lysebeth (10 de outubro de 1919 - 28 de janeiro de 2004), destaco o trecho da parte denominada A mulher campeão erótica: [...] Qualquer mulher frígida é uma atleta sexual que se desconhece, geralmente sufocada pela moral patriarcal, tão repressiva quanto hipócrita. [...] Não há mulheres frígidas, mas apenas homens frigorificantes; os inábeis e, especialmente, os ejaculadores precoce. [...] a mulher pode ser sempre excitada. Fisicamente, ela pode fazer amor todos os dias, durante toda sua vida adulta, mesmo quando está grávida. Sua vida sexual recomeça poucos dias após o parto. Ela pode fazer amor com a frequência que quiser. É extraordinário. Nenhuma femea, de nenhuma espécie sexuada, copula nesse ritmo [...] O sexo lhe proporciona uma intensa voluptuosidade – bem mais do que ao homem -, pois a natureza proveu-a de um clitóris, feixe nervoso ultra-sensível, exclusivamente destinado a eros. Além disso, quatro ou cinco redes venosas muito densas convergem para os músculos genitais e, no amor, esses agregados sensíveis distinguem seu desempenho erótico do do homem. Quando a mulher está excitada, o sangue aflui para os órgãos genitais e para toda a bacia. Então, os feixes nervosos se abrem, os músculos que envolvem o clitóris, a entrada da vagina e o ânus intumescem sob o afluxo de sangue quente. O volume dos tecidos esponjosos que cercam a entrada da vagina triplica, o dos lábios da vulva dobra, e todos os músculos da região genital se enchem de sangue. [...] A princípio, é a parede do útero que palpita, seguida dos músculos da primeira terça parte da vagina, do esfíncter anal, do orifício vaginal e do clitóris. A cada meio segundo, uma nova contração leva sangue da região pélvica para o resto do corpo. O orgasmo é isso. [...] Que o sexo faça parte de nossa espécie não é, portanto, fornicação, depravação, nem luxúria, mas a marca do destino humano. Nossa espécie está destinada ao erotismo, jogo sutil em que o sexo, dissociado, liberto da pulsão procriativa animal, abre para o casal humano o acesso ao espiritual por meio da união total entre dois seres no extase amoroso. Entre os animais, a fêmea se apodera do esperma para ser fecundada, sem mais. Além do gozo imediato, ela não procura fusão alguma num outro plano, como, por exemplo, o da meditação a dois, que se abre para o cósmico entre os seres humanos. [...] toda mulher, por mais comum que seja, encarna a Deusa, é a Deusa, a Mulher absoluta, a Mãe cósmica [...]. Veja mais aqui e aqui.

EMME – No livro African folktales (Schockem, 1983), de Paul Radir, encontro a história de Emme: Emme era uma linda menina. Quando ainda era criança, um homem chamado Akpan quis casar-se com ela, ao chegar o tempo certo. Assim, ele trouxe diversos presentes para os pais de Emnme, como era o costume, e o casamento ficou acertado. Sete anos mais tarde, Emme ficou adulta, e a data do casamento foi marcada. O pai da jovem deu muitos presentes à filha, incluindo uma escrava da mesma idade que a noiva, que os próprios pais venderam como serva. Vestida com belos trajes para a cerimonia, Emme partiu rumo á aldeia do noive, acompanha por sua irmã mais nova e pela escrava. Fazia muito calor, o caminho era longo, empoeirado; por isso, quando chegou a uma fonte perto da aldeia de Akpan, Emme parou para descansar. A escrava sabia que naquela nascente morava um espirito que capturava qualquer pessoa que entrasse na água. Emme e a irmã não sabiam disso; então a escfrava teve uma ideia maldosa e disse: “Senhora, por que não entra na água para se banhar? A nascente é fria e assim poderá refrescar-se antes de chegar à casa de seu marido”. Emme tirou as roupas e entrou na fonte. De repente, a escrava epurrou-a para o fundo, onde o espírito da água agarrou-a. a irmã mais nova de Emme gritou aterrotizada, mas a escrava deu-lhe um tapa. “Silêncio! Daqui em diante eu serei a senhora. Casarei com Akpan em lugar de sua irmã e, se você disser uma palavra a alguém, eu a matarei!” A serva colocou as roupas de Emme, forçou a menininha a carrgar tudo, como se fosse escrava, e logo elas chegaram à aldeia de Akpan. Ele as aguardava com grande expectativa; no entanto, ao ver aquela mulher feia sentiu-se desapontado e intrigado. Emme fora linda quando garota, e ele estranhava agora sua aparência tão grosseira, contudo casou-se com ela como estava planejado. A escrava tonou-se a dona da casa e transformou a vida da irmã de Emme num inferno: mandava que a menina realizasse as piores tarefas, deixa-a passar muita fome, espancava e queimava. [...] Certo dia a falsa esposa mandou a menina buscar água na fonte em que Emme havia desaparecido. A irmã foi até lá, encheu o jarro com água, sentiu que estava pesado demais para carrega-lo e começou a chorar, temendo a surra que levaria [...] A superfície da água abriu-se, e Emme surgiu, vinda das profundezas. Abraçou a irmãzinha, que lhe disse ser surrada sistemanticamente pela escrava. A pobre menina implorou a fim de ir com Emme para o fundo das águas. “Tenha paciência”, disse Emme, “A justiça certamente será feita um dia. Por enquanto, porém, deixe-me ajuda-la com sua carga”. Emme levantou a vasilha de água, desaparecendo em seguida na nascente. [...] No entanto, certa manhã Emme não apareceu. Um caçador da aldeia estava escondido nas imediações, encurralando a caça, e o espíroto da água prevenira Emme para que não viesse à tona, com medo de que o caçador a visse. O choro da menininha tocou tão profundamente Emme, que o espirito da água permitiu-lhe vbir abraçar a irmã. Ao surgir da água para abraçar a irmã, o caçador viu e ficou atônito com a sua beleza. “Quem poderia ser?”, perguntava-se ele. “A garotinha chamou-a de Emme, mas esse é o nome da esposa de Akpan!”. O caçador apressou-se em regressar e contar tudo a Akpan. No dia seguinte, os dois homens esconderam-se perto do laguinho e esperaram. A menina chegou, encheu o jarro com a água e então chamou em voz alta: “Emme, estou aqui. Onde está você, minha querida irmã?”. Emme veio de dentro da água, e Akpan imediatamente a reconheceu. “Essa é a verdadeira Emme! A mulher com quem me casei é uma impostora! Emme deve ter sido capturada pelo espírito da água, sua escrava então roubou-lhe o lugar”. [...] Emme então disse à irmã que fosse ter com a falsa esposa, repreendesse-a e voltasse correndo para a casa da anciã, onde todos estariam esperando por ela. A menininha dirigiu-se até a falsa senhora e bradou: “Você não é Emme. Você é só a escrava de minha irmã! Você é má e será castigada!”. A mulher escrava pegou um pedaço de pau e seguiu a menina até a casa da velha. Quando irrompeu porta adentro, deparou com Emme e Akpan. Este e seu companheiro agarraram a impostora, despiaram-na de seus finos trajes e tornaram-na escrava outra vez. Dali em diante, Emme tratou a falsa patroa da mesma maneira como ela fizera com sua irmã. Emme obrigava a escrava a fazer todo o serviço pesado, espancava-a sem piedade e forçava-a a usar os dedos para acender o fogo. Finalmente, Emme amaroru a malvada a uma árvore até que morresse de fome. A aldeia toda celebrou o retornou de Emme com uma grande festa. Ela e Akpan casaram-se como planejado e viveram felizes pelo restos de seus dias. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

RECEITA DE MULHER & BALADA DAS DUAS MOCINHAS DE BOTAFOGO – Na Antologia poética (José Olympio, 1984), do poeta, compositor e diplomata Vinicius de Moraes (1913-1980), destaco inicialmente, a Balada das duas mocinhas de Botafogo: Eram duas menininhas / Filhas de boa família:/ Uma chamada Marina/ A outra chamada Marília. / Os dezoito da primeira / Eram brejeiros e finos / Os vinte da irmã cabiam / Numa mulher pequenina./ Sem terem nada de feias / Não chegavam a ser bonitas / Mas eram meninas-moças / De pele fresca e macia. / O nome ilustre que tinham / De um pai desaparecido / Nelas deixara a evidência / De tempos mais bem vividos. / A mãe pertencia à classe / Das largadas de marido / Seus oito lustros de vida / Davam a impressão de mais cinco. / Sofria muito de asma / E da desgraça das filhas / Que, posto boas meninas / Eram tão desprotegidas / E por total abandono / Davam mais do que galinhas. / Casa de porta e janela / Era a sua moradia / E dentro da casa aquela / Mãe pobre e melancolia. / Quando à noite as menininhas / Se aprontavam pra sair / A loba materna uivava / Suas torpes profecias. / De fato deve ser triste / Ter duas filhas assim / Que nada tendo a ofertar / Em troca de uma saída / Dão tudo o que têm aos homens: / A mão, o sexo, o ouvido / E até mesmo, quando instadas / Outras flores do organismo. / Foi assim que se espalhou / A fama das menininhas / Através do que esse disse / E do que aquele diria. / Quando a um grupo de rapazes / A noite não era madrinha / E a caça de mulher grátis / Resultava-lhes maninha / Um deles qualquer lembrava / De Marília e de Marina / E um telefone soava / De um constante toque cínico / No útero de uma mãe / E suas duas filhinhas. / Oh, vida torva e mesquinha / A de Marília e Marina / Vida de porta e janela / Sem amor e sem comida / Vida de arroz requentado / E média com pão dormido / Vida de sola furada / E cotovelo puído / Com seios moços no corpo / E na mente sonhos idos! / Marília perdera o seu / Nos dedos de um caixeirinho / Que o que dava em coca-cola / Cobrava em rude carinho. / Com quatorze apenas feitos / Marina não era mais virgem / Abrira os prados do ventre / A um treinador pervertido. / Embora as lutas do sexo / Não deixem marcas visíveis / Tirante as flores lilases / Do sadismo e da sevícia / Às vezes deixam no amplexo / Uma grande náusea íntima / E transformam o que é de gosto / Num desgosto incoercível. / E era esse bem o caso / De Marina e de Marília / Quando sozinhas em casa / Não tinham com quem sair. / Ficavam olhando paradas / As paredes carcomidas / Mascando bolas de chicles / Bebendo água de moringa. / Que abismos de desconsolo / Ante seus olhos se abriam / Ao ouvirem a asma materna / Silvar no quarto vizinho! / Os monstros da solidão / Uivavam no seu vazio / E elas então se abraçavam / Se beijavam e se mordiam / Imitando coisas vistas / Coisas vistas e vividas / Enchendo as frondes da noite / De pipilares tardios. / Ah, se o sêmem de um minuto / Fecundasse as menininhas / E nelas crescessem ventres / Mais do que a tristeza íntima! / Talvez de novo o mistério / Morasse em seus olhos findos / E nos seus lábios inconhos / Enflorescessem sorrisos. / Talvez a face dos homens / Se fizesse, de maligna / Na doce máscara pensa / Do seu sonho de meninas! / Mas tal não fosse o destino / De Marília e de Marina. / Um dia, que a noite trouxe / Coberto de cinzas frias / Como sempre acontecia / Quando achavam-se sozinhas / No velho sofá da sala / Brincaram-se as menininhas. / Depois se olharam nos olhos / Nos seus pobres olhos findos / Marina apagou a luz / Deram-se as mãos, foram indo / Pela rua transversal / Cheia de negros baldios. / Às vezes pela calçada / Brincavam de amarelinha / Como faziam no tempo / Da casa dos tempos idos. / Diante do cemitério / Já nada mais se diziam. / Vinha um bonde a nove-pontos... / Marina puxou Marília / E diante do semovente / Crescendo em luzes aflitas / Num desesperado abraço / Postaram-se as menininhas. / Foi só um grito e o ruído / Da freada sobre os trilhos / E por toda parte o sangue / De Marília e de Marina. Também, o poema Receita de Mulher: As muito feias que me perdoem / Mas beleza é fundamental. É preciso / Que haja qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute couture / Em tudo isso (ou então / Que a mulher se socialize elegantemente em azul, como na República [Popular Chinesa). / Não há meio-termo possível. É preciso / Qu tudo isso seja belo. É preciso que súbito / Tenha-se a impressão de ver uma garça apenas pousada e que um rosto / Adquira de vez em quando essa cor só encontrável no terceiro minuto da [aurora. / É preciso que tudo isso seja sem ser, mas que se reflita e desabroche / No olhar dos homens. É preciso, é absolutamente preciso / Que tudo seja belo e inesperado. É preciso que umas pálpebras cerradas / Lembrem um verso de Eluard e que se acaricie nuns braços / Alguma coisa além da carne: que se os toque / Como ao âmbar de uma tarde. Ah, deixai-e dizer-vos / Que é preciso que a mulher que ali está como a corola ante o pássaro / Seja bela ou tenha pelo menos um rosto que lembre um templo e / Seja leve como um resto de nuvem: mas que seja uma nuvem / Com olhos e nádegas. Nádegas é importantíssimo. Olhos, então / Nem se fala, que olhem com certa maldade inocente. Uma boca / Fresca (nunca úmida!) e também de extrema pertinência. / É preciso que as extremidades sejam magras; que uns ossos / Despontem, sobretudo a rótula no cruzar das pernas, e as pontas pélvicas / No enlaçar de uma cintura semovente. / Gravíssimo é, porém, o problema das saboneteiras: uma mulher sem saboneteiras / É como um rio sem pontes. Indispensável / Que haja uma hipótese de barriguinha, e em seguida / A mulher se alteie em cálice, e que seus seios / Sejam uma expressão greco-romana, mais que gótica ou barroca / E possam iluminar o escuro com uma capacidade mínima de 5 velas. / Sobremodo pertinaz é estarem a caveira e a coluna vertebral / Levemente à mostra; e que exista um grande latifúndio dorsal! / Os membros que terminem como hastes, mas bem haja um certo volume de coxas / E que elas sejam lisas, lisas como a pétala e cobertas de suavíssima penugem / No entanto, sensível à carícia em sentido contrário. / É aconselhável na axila uma doce relva com aroma próprio / Apenas sensível (um mínimo de produtos farmacêuticos!) / Preferíveis sem dúvida os pescoços longos / De forma que a cabeça dê por vezes a impressão / De nada ter a ver com o corpo, e a mulher não lembre / Flores sem mistério. Pés e mãos devem conter elementos góticos / Discretos. A pele deve ser fresca nas mãos, nos braços, no dorso e na face / Mas que as concavidades e reentrâncias tenham uma temperatura nunca inferior / A 37° centígrados podendo eventualmente provocar queimaduras / Do 1° grau. Os olhos, que sejam de preferência grandes / E de rotação pelo menos tão lenta quanto a da Terra; e / Que se coloquem sempre para lá de um invisível muro da paixão / Que é preciso ultrapassar. Que a mulher seja em princípio alta / Ou, caso baixa, que tenha a atitude mental dos altos píncaros. / Ah, que a mulher dê sempre a impressão de que, se se fechar os olhos / Ao abri-los ela não mais estará presente / Com seu sorriso e suas tramas. Que ela surja, não venha; parta, não vá / E que possua uma certa capacidade de emudecer subitamente e nos fazer beber / O fel da dúvida. Oh, sobretudo / Que ele não perca nunca, não importa em que mundo / Não importa em que circunstâncias, a sua infinita volubilidade / De pássaro; e que acariciada no fundo de si mesma / Transforme-se em fera sem perder sua graça de ave; e que exale sempre / O impossível perfume; e destile sempre / O embriagante mel; e cante sempre o inaudível canto / Da sua combustão; e não deixe de ser nunca a eterna dançarina / Do efêmero; e em sua incalculável imperfeição / Constitua a coisa mais bela e mais perfeita de toda a criação inumerável. Veja mais aqui, aqui e aqui.
 
VARGAS – Na peça teatral Vargas ou Dr. Getúlio: sua vida e sua glória (Civilização Brasileira, 1983) do escritor e dramaturgo Dias Gomes (1922-1999) e do poeta, crítico de arte, tradutor e ensaísta maranhense Ferreira Gullar, destaco o trecho inicial: A ação transcorre toda ela, na quadra de uma escola de samba. É um grande pátio, onde não há móveis, utensílios de espécie alguma. A quadra está cheia de gente. Fantasiados uns, outros não. São elementos da escola. Todos estão de costas para a plateia e assim entoam pela primeira vez o samba-eneredo, em boca chiusa. Simpatia volta-se e se dirige à plateia. É o presidente da escola. Um tipo sorridente, comunicativo, envolvente. Quando não está desfilando de Getúlio, é mais exuberante de gestos, mais largado no andar. Seu apelido define sua característica fundamental de sua personalidade: a simpatia algo malandra e irresistível. SIMPATIA – Boa noite, minha gente, desculpe se antes do samba venho deitar falação. Mas pra coisa ter sentido, ficar tudo esclarecido, faz falta uma explicação. É preciso esclarecer – para evitar confusão, pra ninguém dizer que viu o que não viu ou quis ver – que é apenas um ensaio o que aqui vamos fazer. Só um ensaio do enredo com que vamos desfilar no carnaval deste ano. Isso se Deus permitir e se a policia deixar, e a gente sair do cano em que acabamos de entrar. Só uma parte das alas foi chamada a ensaiar. É o pessoal responsável pelo desfile na pista. Isto é somente uma amostra pra convidado e turista. [...] E o enredo é esse mesmo – ninguém vai modificar o que já está na História – e pra quem ainda não sabe se chama: Dr. Getulio, sua vida e sua glória. O destaque do Getúlio – me perdoem a imodéstia – é feito aqui pelo degas. Sou presidente da escola, exigi a regalia: afinal, somos colegas... no cargo, na sorte não, pois ele, no fim, se mata, com um tiro no coração [...] Tem ainda o Bejo Vargas e o Gregório Fortunato que era o chefe da guarda pessoal do presidente, a filha deste, Alzirinha, que é o destaque principal, é coisa sem discussão: vai ser feita pela minha protegida, a Marlene, cque como atriz de teatro é uma revelação. Até Isabel Ribeiro perde dela de montão! E antes de terminar quero aqui apresentar o autor do nosso enredo. Ele mais a comissão estudaram, pesquisaram, leram livro de dar medo. (AUTOR cumprimenta a plateia). É o nosso dramaturgo, é o nosso Chakispir, e nisso não vai deboche, se não tem nome em letreiro tem mais público decerto que muito autor brasileiro. Eu você com ele que é quem vai comandar, e vou pro meuy lugar, a todos muito obrigado (SAI). Veja mais aqui, aqui e aqui.

BACK STREET – O filme Back Street (1961), dirigido por David Miller, é baseado no romance homônimo da escritora estadunidense Fannie Husrt (1889-1968), que teve duas versões anteriores, em 1932, dirigido por John M. Stal e, a segunda, de 1941, dirgida por Robert Stevenson. A obra conta a história de uma mulher que deseja se tornar uma figurinista famosa, até que um dia ela conhece um jovem que é dono de uma cadeia de lojas de departamentos, e os dois se apaixonam. Ela descobre que ele é casado e começam seus problemas, já que a esposa dele, não tem pretensão de lhe dar o divórcio. Ele decide se afastar dele, mas o casal volta a se encontrar quando ela parte em viagem e mesmo sabendo das dificuldades, ela resolve aceitar ser a amante dele. O destaque do filme vai para a sempre bela atriz estadunidense Susan Hayward (1917-1875). Veja mais aqui e aqui.

IMAGEM DO DIA
A arte do pintor do Romantismo francês Henri Fantin-Latour (1836-1904)


Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do programa Crônica de Amor, a partir das 21 horas (horário de verão), com apresentação sempre especial e apaixonante de Meimei Corrêa. Em seguida, o programa Mix MCLAM, com Verney Filho e na madrugada Hot Night, uma programação toda especial para os ouvintes amantes. Para conferir online acesse aqui .


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