terça-feira, outubro 13, 2015

CALVINO, GREENAWAY, BLAKE, GILBERTO MENDES, HAYEZ, GIL VICENTE, LAMBERT, MITANÁLISE & PROGRAMA TATARITARITATÁ.


VAMOS APRUMAR A CONVERSA? A VIDA E CADA UM DE NÓS - A grande maioria das pessoas que eu vejo por aí, ou aqui, ali ou acolá e alhures, ou vivem de mangar dos defeitos dos outros, ou de esconder suas próprias desditas. Ué, alguém é perfeito? Arre. Os primeiros vivem só de escárnio, a tocar maldosamente com seus motejos na ferida depreciativa de quem quer seja. Bastam ver algo de desmazelado ou não, e logo passam a rotular; seja pela calça coronha pegando borboleta, seja pelo andar queimando o arroz no rego da bunda, ou pelo pixaim do cristão, a gola mamãe, o vinco desajeitado nas vestes desbotadas dos curaus ou ocrídios, a cara de foto bufenta que requer exorcismo pra erradicar a feiura, a falta do nome do pai na certidão de nascimento, o adotado ou enjeitado, a que perdeu os três vinténs, a vitalina, o que levou forquilha, o que penteou um asno, não escapando quer sejam os engomadinhos do clube do Bolinha, ou as patricinhas de bunda-rica do clube da Luluzinha. Tudo serve para mangação na base das saudações às caretas e pilhérias de enxeridos inescrupulosos na maior das caçoadas mais cínicas. Na verdade, todo desdém esconde lá neles os seus próprios conflitos: macaco não olha o rabo! Vai ver, é rindo dos outros que esconde seus escombros e fraquezas. Há também os que são as vítimas desse menosprezo, que emendam as camisas numa bravata pra lá de truculenta quando lhe denunciam a alcunha e que vivem de lamentar de ter nascido onde o malquisto perdeu as botas ao invés duma paradisíaca paragem europeia ou estadunidense. Nas suas horas minguadas vivem gemendo a jetatura de papa-vento malfadado a se precipitar nas suas lamúrias de escanteado da sorte e da vida. E ainda negam de pés juntos toda e qualquer suspeita enrustida de que, na verdade, queriam ser ou roliúde da situação, ou o suprassumo da espécie. Que tenha lá suas razões – já dizia Pascal que o coração tem razões que a própria razão desconhece! Cada qual valoriza ou não suas próprias recompensas. E pra esconder sua infelicidade trajam tudo de grife pra desfilar na moda! Eita, grei! Mas como a boca fala do que está cheio o coração, mesmo no maior dos trinques mandam ver na gesticulação furiosa e aziaga, a condenar de tudo contra os apelidos descabidos, a gritar engravatado e cheio de nove horas que bata na boca que isso é blasfêmia ou a velha carteirada do sabe com quem estás falando? E se arvoram com as suas exaltações temperamentais que está tudo errado, que ninguém presta e tudo está condenado ao fim do mundo. Minha nossa! Não tem cabimento, é o maior nhenhenhen. É só comer sal com esse tipo de gente que logo se vê quanta veleidade. Desculpe a má palavra, nem Deus com um gancho e o diabo com um garrancho, o que se tem de certo é que o desgosto varia de acordo com as circunstâncias, dependendo do temperamento de cada um ou do que melhor lhe convier. Mas como já dizia Vespasiano: a raposa muda de pelo, mas não de costume. É a maior lengalenga. Não seria mais fácil aceitar-se a si mesmo e olhar pro mundo como quem é o que é, sem o desserviço de com sua infelicidade estragar o repasto dos outros? Ah, o que vale mesmo é aquilo do se não sou feliz, ninguém será. Valha-me! Eu mesmo que sou baixim, banguela, buchudim, tronchim e feím, dou-me por satisfeito comigo mesmo – se bem que vou sempre resiliente pra me autosuperar e vez em quando me surpreendo até comigo mesmo, a mangar de minhas leseiras. Ué, a distância entre o chique do máximo e um zé-ruela é uma má impressão no meio. Mesmo que o espelho ou fotografia não dê jeito dum mondrongo virar Apolo, a gente bem que podia relevar na exigência, ser a gente mesmo e ver que a coisa não é tão péssima assim, ora, ora. O pior é querer ser o que não é. Aí sim é que é engodo, só de pensar que só você é sabido e que os outros todos são bestas, um dia a casa cai. E como todo dia é dia da vida, o que vale de mesmo é ser feliz, seja como for. E vamos aprumar a conversa aqui

 Imagem: Woman after Bath (1859-Nude Bather), do pintor italiano Francesco Hayez (1791-1882). Veja maisaqui.


Curtindo: cd/livro Música Contemporânea Brasileira (Lua Music 2005), do músico, compositor, regente orquestral, professor e jornalista Gilberto Mendes.

O TERAPEUTA E O SHAMANO livro Vínculos e mitos: uma introdução à mitanálise (Ágora, 1988), de Sophia Rozzanna Caracushansky, trata sobre as novas perspectivas, a grande heresia, o terapeuta e o Shaman, a mitanálise, sobre os mitos e sonhos, anomalias nos padrões de interação com a mãe, repetição adulta de padrões infantis, o padrão de relacionamento, mitos e fases do desenvolvimento, autismo normal, diferença entre autismo e síndrome pré-simbiótica, Eros e a Síndrome Simbiótica no Adulto, a saída do ovo, Ignis e a Síndrome do Desabrochamento no adulto, os dois níveis do desabrochamento, Mercúrioo, Paradigma da Síndrome do Treinamento, elementos da simbiose presentes ao inicio da reaproximação, Laio ou a Síndrome da Reaproximação no adulto, Síndromes de Separação e distância real, Síndrome da Separação no adulto, A dama e o vagabundo, o Actong-Out, Garuda, Apolo, a Síndrome da Distância Ideal no adulto, processo mitanalítico, Síndrome do Deus do Inferno, Síndrome de Tiamat, Síndrome de Laio, Síndrome de Apolo, Síndrome de Eros, Síndrome de Garuda, Shiva, mudando o significado do Final Feliz, mitologia brasileira do século X, multiplicidade de papéis na vida, processo irracional versus processo terapêutico, Hamlet, Peter Pan, Aladin e a Lâmpada Maravilhosa, João e Maria, Perseu, Odisseu, Endimião, Bel Mardik, os ciclos mitológicos subsequentes e a união dos opostos, os gêmeos, Ino, Semele, Idade do Bronze, entre outros assuntos. Da obra destaco o trecho O terapeuta e o Shaman: [...] O shaman é uma pessoa que na adolescência passou por uma séria crise psicologia, a qual chamaríamos em nossa cultura de psicose. Uma vez resolvida a crise, considera-se que a crise anormal lhe trouxe benefícios tanto no plano afetivo como no cognitivo. O reconhecimento entre os primitivos, que a crise possa ter um efeito regenerador não é muito diferente da posição do psicoterapeuta moderno das civilizações mais avançadas. Ele pode utilizar a crise como parte do processo de cura. Mas os esquimós não se limitam a tal reconhecimento. Eles passam a considerar o shaman como alguém superior, mais consciente que os demais. Sempre que um jovem apresenta uma crise similar, a família manda chamar o shaman para resolver o problema. Um shaman esquimó, de uma tribo radicada ao noirte do Canadá, contou que quando jovem tinha constantemente sonhos estranhos. Seres bizarros e desconhecidos dele se aproximavam e lhe falavam. Ao acordar lembrava-se de tudo de forma tão vívida que podia descreve-lo aos que estavam à sua volta. A família, perturbada, mas sabendo o que se passava, mandou chamar um velho shaman de nome Peqanaoq. Ele diagnosticou imediatamente o caso e levou-o, em pleno inverno, numa noite escura e gélida do inverno ártico – a um deserto longínqyo, solitário, construindo ali uma pequena cabana que mal daria para conter uma pessoa sentada. Não foi permitido ao jovem colocar os pés na neve. Ele foi carregado por Peqanaoq, e colocado dentro da cabana, sentado, de pernas cruzadas, sobre uma pequena tira de couro. O velho shaman, sem deixar-lhe comida ou bebida, deu-lhe ordem de pensar apenas no Grande Espírito, que deveria surgir ali. Foi deixado sozinho naquele lugar por trinta dias. Após cinco dias, Peqanaoq veio trazer-lhe uma bebida quente. E depois de outros quinze, compareceu com mais uma bebida e um pedacinho de carne. Mas isso foi tudo. O frio e o jejum eram tão abrasadores que, vez por outra, o jovem sentia como se estivesse morto. E durante esse tempo todo ficou pensando no Grande Espírito, até que, lá pelo fim da provação, um espirito benfeitor de fato apareceu, em forma de mulher, que parecia pairar sobre sua cabeça. Ele nunca mais a viu, mas ela se tornou seu espírito protetor. Peqanaoq levou-o, então, para casa e ele mesmo se tornou shaman. [...] A mitánalise repousa sobre umas tantas ideias a respeito dos mitos (e dos destinos humanos neles contidos), de um lado, e sobre determinadas descobertas no campo da psicologia do desenvolvimento, de outro. Os mitos contem normas de de vida. Representam a moral primitiva, voltada para a satisfação das necessidades instintivas do homem. falam de valores, ainda primários, ligados a forças biológicas originárias do ser e do mundo. [...] o conto de Aladim e a Lampada Maravilhosa [...] Aladim está para morrer de fome e sede na gruta escura, quando, ao tocar a lâmpada maravilhosa, ele consegue fazer sair dali o gênio, escrevao da lâmpada. “Às suas ordens, senhor”, diz o gênio, “seus desejos são ordens”. Aladim lhe pede, então, para voltar á face da terra e retornar à sua casa, a que o gênio atende imediatamente. Depois, pede-lhe riquezas e o gênio também atende. Assim, Aladim não precisa fazer coisa alguma a não ser chamar pelo gênio, para ter as suas necessidades supridas. O relacionamento de Aladim com o gênio retrata o relacionamento do Sujeito com o Objeto na fase simbiótica e em nenhuma outra. [...]. Veja mais aqui.

A ESPOSA-SEREIA - No livro Italian folktales (Pantheon, 1980), do escritor italiano Italo Calvino (1923-1985), encontro a história A esposa-sereia: Há muito tempo, uma mulher casou-se com um marinheiro, porém ele ficava longe de casa a maior parte do tempo, velejando pelos sete mares. Um dia, quando ele estava fora, a esposa viu o rei que passava a cavalo e os dois se apaixonaram. Ela foi viver com o rei, e quando o marido voltou, encontrou sua casa fria e vazia. Em pouco tempo, o rei e a mulher cansaram-se um do outro e ela voltou para casa. Suplicou ao marido que a perdoasse, mas ele enfurecido, lançou-a no mar e gritou: “mulher infiel!” – Essa é a punição que você merece! Logo a seguir, ele recuperou o juízo e se perguntou: - O que foi que eu fiz? Estou matando a única mulher que amo. Tentou salvá-la, no entanto, ela já sumira nas profundezas das águas. Ele voltou para casa com o coração partido. A mulher caiu entre as sereias, que estavam no seu jardim de coral e pérolas. Quando as sereias viram a mulher, exclamaram: “Que mulher linda!” Levaram-na para seu palácio e a reanimaram com suas mágicas. Você será uma de nós, disseram as sereias e seu nome será ‘Espuma’. Pentearam seu cabelo, perfumaram seu corpo e a adornaram com pérolas. A seguir fizeram uma festa em sua homenagem. Ela dançou a noite toda no salão do palácio entre lindas sereias. Daí em diante, viveu no luxo e na alegria do fundo das águas. Um dia lembrou-se do seu marido e encheu-se de tristeza, pois ainda o amava. Sentiu vontade de vê-lo novamente. As sereias perguntaram o que a atormentava. – Não é nada, disse ela, mas seu semblante estava muito triste e as sereias vendo-a sofrer não suportaram. Resolveram levá-la para a superfície para cantarem ao luar suas canções mágicas. Com essas canções elas faziam marinheiros caírem na água e os transformavam em moluscos e caranguejos. Certa noite, enquanto as sereias cantavam, um homem saltou nas águas e a esposa logo reconheceu seu marido. Vamos torná-lo um camarão, exclamaram as sereias. - Não, não, interrompeu a esposa. - O que você quer com ele, Espuma?, perguntaram as sereias. Ela teve uma idéia. – Eu quero tentar uma mágica, eu mesma. As outras concordaram. Prenderam o homem no palácio e foram dormir. A esposa foi, secretamente, até o aposento em que ele estava e cantou do lado de fora. O marido acordou e logo reconheceu a voz da esposa. Você está viva, disse ele e pediu-lhe que o perdoasse. Ela disse que já o perdoara há muito tempo, porém você deve ficar quieto. Se as outras acordarem irão fazer-lhe mal. Voltarei aqui mais tarde e o libertatarei. Foi ver se todas estavam dormindo e depois voltou e libertou o marido, levando-o para a superfície e o deixando-o em segurança. Logo, um navio passou por perto e ela mandou que ele fizesse sinal para que o resgatassem. Não posso ir com você, disse ela, agora sou uma sereia e, se sair da água, morrerei. Em seguida mergulhou e desapareceu. Ele gritou desesperado e os marinheiros do navio ouviram e vieram salvá-lo. Ele contou sua história, mas ninguém acreditou, acharam que ele tinha perdido o juízo. Levaram ele de volta para sua casa. Ele ficou muito inquieto,dia e noite só pensava na esposa. Certo dia, imerso em seus pensamentos, saiu andando pela floresta e aproximou-se de uma nogueira, em torno da qual diziam que as fadas dançavam. - Por que você está tão triste, meu bom homem? Perguntou uma velha que saíra de trás da árvore. Ele se assustou, mas contou-lhe tudo que estava passando. A velha disse que poderia ajudá-lo, mas não era uma tarefa fácil - Farei qualquer coisa, disse ele. A velha então falou: - Primeiro você tem que me trazer a ‘flor’ que cresce no palácio das sereias, a qual elas chamam de ‘a mais linda flor’ . Traga-a para mim e sua esposa sairá salva do fundo do mar. Ele coçou a cabeça, pensando como conseguiria esta flor do fundo do mar. - Bem, disse a velha, isso você tem que resolver e desapareceu atrás da árvore. Ele, finalmente, jogou-se na água e, no meio do oceano, chamou pela esposa. Quando ela apareceu na superfície, ele contou-lhe sobre a proposta da velha. A esposa disse-lhe que não podia fazer isso, porque as sereias haviam roubado a ‘flor’ das fadas há longo tempo. Se a perderem, morrerão e eu também, porque agora sou sereia. Não disse ele, a velha e as fadas vão salvá-la. Ela disse que ia pensar e pediu que ele voltasse no dia seguinte. No dia seguinte, ele voltou e ela falou que para conseguir a ‘flor’, precisava de sua ajuda, ou seja, ele tinha que vender tudo o que possuia e com o dinheiro comprar as mais lindas e preciosas jóias. Depois pendurá-las no seu barco e içar as velas. As sereias não conseguem resistir a jóias e certamente o seguirão. No momento que você levá-las para longe, eu colherei a ‘flor’. Ele voltou à cidade, vendeu o que tinha, comprou lindas e preciosas jóias, pendurou-as em seu barco e foi para o meio do oceano. As jóias atraíram as sereias e elas o seguiram para bem longe. Subitamente, o oceano tremeu e o mar se abriu. As sereias morreram, imediatamente. O oceano tremeu novamente, o marinheiro estava atônito, mas diante dele apareceu a velha da floresta, no dorso de uma grande águia. Atrás dela vinha sua esposa, sã e salva. A velha levou-a para a casa deles e quando ele chegou, abraçaram-se e renovaram os votos de amor para sempre! Veja mais aqui e aqui.

A POISON TREE & PROVÉRBIOS DO INFERNO – No livro William Blake poesia e prosa selecionadas (Nova Alexandria, 2006), do poeta, tipógrafo e pintor inglês William Blake (1757-1827), destaco, inicialmente, o poema A poison tree: Estava com raiva de meu amigo. / Falei de minha ira; minha ira morreu. / Estava com rqaiva de meu inimigo. / Não falei disso. Minha ira cresceu. / E umedeci-a em meus medos / noite e dia com minhas lágrimas / e aqueci-a com sorrisos / e astúcias doces e insinceras. / E ela crescia de noite e de dia / até dar à luz luminosa maçã / que meu inimigo, vendo brilhar, / soube que era minha. / E meu jardim invadiu / quando a noite tudo tinha ocultado / e pela manhã feliz constatei / meu inimigo estendido sob a árvore. Também Provérbios do inferno: No tempo de semeadura, aprende; na colheita, ensina; no inverno, desfruta. / Conduz teu carro e teu arado sobre a ossada dos mortos. / O caminho do excesso leva ao palácio da sabedoria. / A Prudência é uma rica, feia e velha donzela cortejada pela Impotência. / Aquele que deseja e não age engendra a peste. / O verme perdoa o arado que o corta. / Imerge no rio aquele que a água ama. / O tolo não vê a mesma árvore que o sábio vê. / Aquele cuja face não fulgura jamais será uma estrela. / A Eternidade anda enamorada dos frutos do tempo. / À laboriosa abelha não sobra tempo para tristezas. / As horas de insensatez, mede-as o relógio; as de sabedoria, porém, não há relógio que as meça. / Todo alimento sadio se colhe sem rede e sem laço. / Toma número, peso & medida em ano de míngua. / Ave alguma se eleva a grande altura, se se eleva com suas próprias alas. / Um cadáver não revida agravos. / O ato mais alto é até outro elevar-te. / Se persistisse em sua tolice, o tolo sábio se tornaria. / A tolice é o manto da malandrice. / O manto do orgulho, a vergonha. / Prisões se constroem com pedras da Lei; Bordéis, com tijolos da Religião. / A vanglória do pavão é a glória de Deus. / O cabritismo do bode é a bondade de Deus. / A fúria do leão é a sabedoria de Deus. / A nudez da mulher é a obra de Deus. / Excesso de pranto ri. Excesso de riso chora. / O rugir de leões, o uivar de lobos, o furor do mar em procela e a espada destruidora são fragmentos de eternidade, demasiado grandes para o olho humano. / A raposa culpa o ardil, não a si mesma. / Júbilo fecunda. Tristeza engendra. / Vista o homem a pele do leão, a mulher, o velo da ovelha. / O pássaro um ninho, a aranha uma teia, o homem amizade. / O tolo, egoísta e risonho, & o tolo, sisudo e tristonho, serão ambos julgados sábios, para que sejam exemplo. / O que agora se prova outrora foi imaginário. / O rato, o camundongo, a raposa e o coelho espreitam as raízes; o leão, o tigre, o cavalo e o elefante espreitam os frutos. / A cisterna contém: a fonte transborda. / Uma só idéia impregna a imensidão. / Dize sempre o que pensas e o vil te evitará. / Tudo em que se pode crer é imagem da verdade. / Jamais uma águia perdeu tanto tempo como quando se dispôs a aprender com a gralha. / A raposa provê a si mesma, mas Deus provê ao leão. / De manhã, pensa, Ao meio-dia, age. Ao entardecer, come. De noite, dorme. / Quem consentiu que dele te aproveitasses, este te conhece. / Assim como o arado segue as palavras, Deus recompensa as preces. / Os tigres da ira são mais sábios que os cavalos da instrução. / Da água estagnada espera veneno. / Jamais saberás o que é suficiente, se não souberes o que é mais que suficiente. / Ouve a crítica do tolo! É um direito régio! / Os olhos de fogo, as narinas de ar, a boca de água, a barba de terra. / O fraco em coragem é forte em astúcia. / A macieira jamais pergunta à faia como crescer; nem o leão ao cavalo como apanhar sua presa. / Quem reconhecido recebe, abundante colheita obtém. / Se outros não fossem tolos, seríamos nós. / A alma de doce deleite jamais será maculada. / Quando vês uma Águia, vês uma parcela do Gênio; ergue a cabeça! / Assim como a lagarta escolhe as mais belas folhas para pôr seus ovos, o sacerdote lança sua maldição sobre as alegrias mais belas. / Criar uma pequena flor é labor de séculos. / Maldição tensiona: Benção relaxa. / O melhor vinho é o mais velho, a melhor água, a mais nova. / Orações não aram! Louvores não colhem! / Júbilos não riem! Tristezas não choram! / A cabeça, Sublime; o coração, Paixão; os genitais, Beleza; mãos e pés, Proporção. / Como o ar para o pássaro, ou o mar para o peixe, assim o desprezo para o desprezível. / O corvo queria tudo negro; tudo branco, a coruja. / Exuberância é Beleza. / Se seguisse os conselhos da raposa, o leão seria astuto. / O Progresso constrói caminhos retos; mas caminhos tortuosos sem Progresso são caminhos de Gênio. / Melhor matar um bebê em seu berço que acalentar desejos irrealizáveis. / Onde ausente o homem, estéril a natureza. / A verdade jamais será dita de modo compreensível, sem que nela se creia. / Suficiente! ou Demasiado. / Os Poetas antigos animaram todos os objetos sensíveis com Deuses e Gênios, nomeando-os e adornando-os com os atributos de bosques, rios, montanhas, lagos, cidades, nações e tudo quanto seus amplos e numerosos sentidos permitiam perceber. / E estudaram, em particular, o caráter de cada cidade e país, identificando-os segundo sua deidade mental; / Até que se estabeleceu um sistema, do qual alguns se favoreceram, & escravizaram o vulgo com o intento de concretizar ou abstrair as deidades mentais a partir de seus objetos: assim começou o Sacerdócio; / Pela escolha de formas de culto das narrativas poéticas. / E proclamaram, por fim, que os Deuses haviam ordenado tais coisas. / Desse modo, os homens esqueceram que todas as deidades residem no coração humano. Veja mais aqui, aqui e aqui.

AUTO DA ALMA – A peça teatral Auto da Alma (1518), do poeta e dramaturgo português Gil Vicente (1465-1537), é um auto de cunho religioso contando a história de uma alma que é levada por um anjo quando se defrontam com o Diabo e suas tentações. Da obra destaco o trecho inicial: Está posta uma mesa com uma cadeira. Vem a Madre Santa Igreja com seus quatro doutores: S. Tomás, S. Jerónimo, Santo Ambrósio e Santo Agostinho. E diz Agostinho: AGOSTINHO Necessário foi, amigos, que nesta triste carreira desta vida, pera os mui p'rigosos p'rigos dos imigos, houvesse alguma maneira de guarida. Porque a humana transitória natureza vai cansada em várias calmas; nesta carreira da glória meritória, foi necessário pousada pera as almas. Pousada com mantimentos, mesa posta em clara luz, sempre esperando com dobrados mantimentos dos tormentos que o Filho de Deus, na Cruz, comprou, penando. Sua morte foi avença, dando, por dar-nos paraíso, a sua vida apreçada, sem detença, por sentença, julgada a paga em proviso, e recebida. A Sua mortal empresa foi santa estalajadeira Igreja Madre: consolar à sua despesa, nesta mesa, qualquer alma caminheira, com o Padre e o Anjo Custódio aio. Alma que lhe é encomendada, se enfraquece e lhe vai tomando raio de desmaio, se chegando a esta pousada, se guarece. Vem o Anjo Custódio, com a Alma, e diz: ANJO Alma humana, formada de nenhüa cousa feita, mui preciosa, de corrupção separada, e esmaltada naquela frágoa perfeita, gloriosa! Planta neste vale posta pera dar celestes flores olorosas, e pera serdes tresposta em a alta costa, onde se criam primores mais que rosas! Planta sois e caminheira, que ainda que estais, vos is donde viestes. Vossa pátria verdadeira é ser herdei da glória que conseguis: andai prestes. Alma bem-aventurada, dos anjos tanto querida, não durmais! Um ponto não esteis parada, que a jornada muito em breve é fenecida, se atentais. ALMA Anjo que sois minha guarda, olhai por minha fraqueza terreal! de toda a parte haja resguarda, que não arda a minha preciosa riqueza principal. Cercai-me sempre ò redor porque vou mui temerosa de contenda. Ó precioso defensor meu favor! Vossa espada lumiosa me defenda! Tende sempre mão em mim, porque hei medo de empeçar, e de cair ANJO Pera isso sam e a isso vim; mas enfim, cumpre-vos de me ajudar a resistir Não vos ocupem vaidades, riquezas, nem seus debates. Olhai por vós; que pompas, honras, herdades e vaidades, são embates e combates pera vós. Vosso livre alvedrio, isento, forro, poderoso vos é dado polo divinal poderio e senhorio, que possais fazer glorioso vosso estado. Deu-vos livre entendimento, e vontade libertada e a memória, que tenhais em vosso tento fundamento, que sois por Ele criada pera a glória. E vendo Deus que o metal em que vos pôs a estilar, pera merecer, que era muito fraco e mortal, e, por tal, me manda a vos ajudar e defender. Andemos a estrada nossa; olhai: não torneis atrás, que o imigo à vossa vida gloriosa porá grosa, Não creiais a Satanás, vosso perigo! Continuai ter o cuidado no fim de vossa jornada, e a memória, que o espírito atalaiado do pecado caminha sem temer nada pera a Glória. E nos laços infernais, e nas redes de tristura tenebrosas da carreira, que passais, não caiais: siga vossa fermosura as gloriosas. Adianta-se o Anjo, e vem o Diabo a ela e diz: [...]. Veja mais aqui e aqui.

8½ WOMEN – O filme 8½ Women (1999), dirigido pelo cineasta e artista multimídia britânico Peter Greenaway, e apresentado durante o Festival de Cannes daquele ano, é uma homenagem direta às mulheres de Federico Fellini. Conta a história de um pai e filho bilionários, donos de cassinos luxuosos no Japão que contratam oito mulheres para servirem de acompanhantes e supostas esposas, num mundo de requintada estranheza, descobrindo como melhor se relacionarem com elas em suas diferentes e bizarras características. Além de ser um ótimo e imperdível filme, merece destaque o grandioso desfile de belas mulheres que desfilam durante a trama, tais como as atrizes Vivian Wu, Annie Shizuka Inoh, Barbara Sarafian, Kirina Mano, Toni Collete, Amanda Plummer, Natacha Amal, Manna Fujiwara, Polly Walker, Elizabeth Berrington, Myriam Muller e Claire Johnston. Veja mais aqui, aqui e aqui.

IMAGEM DO DIA
Lyrical Poetry, do escultor francês Lambert Sigisbert Adam (1700-1759).
Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do programa Tataritaritatá, a partir das 21hs, no blog do Projeto MCLAM, com apresentação sempre especial e apaixonante de Meimei Corrêa. Na programação: Especial de Fagner & mais Lobo de Mesquita, Paul Simon, Edu da Gaita, Luiz Vieira, Margareth Menezes & Cláudio Zoli, Luis de Freitas Branco, Wilson Monteiro, Tatiana Cobett, Rosana Simpson, Wilson Miranda, Wagner e Wander Ponzo, Walter Pepê, Ricardo Machado, Paul Potts & Kanon, Christophe, Carlos Marín, Ashanti, Roupa Nova, Verney Filho & Rubem Alves, Meimei Corrêa & muito mais! Em seguida, o programa Mix MCLAM, com Verney Filho e na madrugada Hot Night, uma programação toda especial para os ouvintes amantes. Para conferir online acesse aqui .
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