VAMOS APRUMAR A CONVERSA?
NÊNIA DE ABRIL – Estava na
segunda metade da década de 1980, quando recebi o livro Ciclo Amatório
(Mundo Manual, 1986), do saudoso poeta e editor carioca Sérgio Campos (1941-1994). Tempos difíceis
aqueles, do sonho da redemocratização que se realizaria com a promulgação da
Carta Cidadã de 1988. O poeta a que me refiro, deixou uma obra significativa: A
casa dos elementos (Achiamé, 1984), Bichos (Autor, 1985), Ciclo amatório (Scortecci,
1986), Montanhecer (Scortecci, 1987), Nativa idade (Mundo Manual, 1990), O lobo
e o pastor (Mundo Manual, 1990), As iras do dia (Mundo Manual, 1990), Móbiles
de sal (Mundo Manual, 1991), A cúpula e o rumor (Mundo Manual, 1992), Leitura
de cinzas (Mundo Manual, 1993) e Mar anterior (Antologia, 1984/94 - Mundo
Manual, 1994). Trocamos muitas correspondências e livros, até a última missiva
em que ele dava conta de que estava realizando o sonho de se mudar de Minas
Gerais pro Rio de Janeiro, mais especificamente a cidade de Ilha do Governador,
na qual, pouco tempo depois, recebi a notícia do seu falecimento. Vários
estudos foram realizado sobre a sua obra, a exemplo das destacáveis pesquisas
do poeta e doutor em Literatura, Leontino
Filho, do poeta e editor Floriano
Martins e do poeta e crítico literário Luiz Carlos Monteiro. Da minha parte, justo quando recebi o livro Ciclo
Amatório, que dei de cara com o poema Nênia de Abril, peguei o violão, montei
acordes da harmonia e da melodia e fiz dele a minha voz: Sou um poeta
obscuro. / Os meus companheiros são poetas obscuros. / Nosso país é o amor
subterrâneo em sagração de interiores catedrais. / Porquanto seja nosso pranto
anônimo, choramos nossos mortos sozinhos. / Nosso embalar ainda é canto
inaudível nas praças e nas avenidas do povo. / Lambemos nossas feridas
ignoradas e nossos cantos codificam perdas. / Mas se o país é triste somos
tristes porque é de nós sofrer a aflição geral. / Somos cidadãos de um trágico
país cuja desgraça ataca sempre e cedo. / Antes que os nossos filhos denunciem
o luto secular de seus abris. / O que é melhor em nós desfaz-se em perda. / O que
tocamos nos trai com seus punhais. / Perpetramos nosso sonho coletivo e o
velamos, mas quando tangemos é tarde demais. / Enfim quando se vai o que é do
povo / Aqui na terra se depõe perto de nós. / É quando os obscuros cantam suas
nênias / Para embalar o amado enquanto morto. / Sou um poeta obscuro. / Meus
companheiros são poetas obscuros. / Nosso país é o amor. (© Luiz Alberto Machado. Primeira
Reunião: Bagaço, 1992). Veja mais aqui,
aqui,
aqui
e
aqui.
Imagem: L’eglise et les etoiles (1951 - Oil on canvas), do pintor dinamarquês Carl-Henning Pedersen (1913-2007).
Curtindo o
álbum Ascension (1965), do saxofonista e compositor de jazz
norte-americano John Coltrane
(1926-1965). Veja mais aqui.
BRINCARTE DO NITOLINO – Hoje é dia de reprise do programa Brincarte do Nitolino para as crianças
de todas as idades, nos horários das 10hs e das 15hs, no blog do Projeto MCLAM,
com apresentação da simpaticíssima Isis
Corrêa Naves. Na programação: Olavo Bilac, Turma da Mônica, Turminha do Tio Marcelo, Tia Conça, Bananas de Pijamas,
A turma do Seu Lobato, Paulo Zola & Francis Monteiro, Bob Zoom, Angelina
Ballerina, Galinha Pintadinha, The Smurfs, Patati & Patatá, Moranguinho
& muito mais pra garotada. No blog, a edição nº 1 da Revistinha em
Quadrinhos Aventureiros do Una, uma parceria minha com Rollandry
Silvério, o Brincar da Criança, Paulo Freire, Ludoterapia, as crianças e a
mídia eletrônica e a função da família em Gestalt-terapia para crianças, entre
outras dicas de Educação, Psicologia, Direito das Crianças e dos Adolescentes,
Música, Teatro e Literatura. Para conferir o programa online clique aqui ou aqui.
A
ÁRVORE DO BEM DO MAL – No livro Neurociência
e educação: como o cérebro aprende (Artmed, 2011), de Ramon M. Consenza e
Leonor B. Guerra, destaco os trechos: [...] O
senso comum costuma se referir a cinco sentidos que seriam utilizados por nós
normalmente. Na verdade, eles são em maior número. Na pele, por exemplo, não
percebemos apenas o tato, mas também a sensação de pressão, a dor e a
temperatura. Um sentido muito importante e pouco mencionado é a cinestesia
(cine= movimento; estesia = sensação), que informa a posição do corpo no espaço
e os movimentos estão sendo executados. Seus receptores encontram-se nos
músculos, nas articulações de nosso esqueleto e no ouvido interno. As informações
neles geradas nos permitem manter o equilíbrio, conhecer a distribuição do
corpo no espaço e executar com perfeição os movimentos dos deferentes grupos
musculares. [...] A Bíblia informa
que Deus colocou no Paraiso a Arvore do Bem e do Mal, cujo fruto proibido a
humanidade provou, sendo por isso expulsa do Paraíso. Essa arvore pode ser uma
metáfora da aquisição, pela espécie humana, de uma serie de funções que a
distinguem dos outros animais. A capacidade de planejar no longo prazo, de
medir a consequência dos próprios atos, de inibir os comportamentos inadequados
são a essência do que chamamos funções executivas. A imagem pode ir mais longe
se nos lembramos que, tal como uma arvore, essas funções te que ser
desenvolvidas e mantidas com cuidado constante. Nossa civilização, que tem
posto em risco o futuro de nossa espécie poluindo a Terra e exaurindo os seus
recursos naturais, comete mais um equivoco ao descuidar do desenvolvimento das
funções executivas, o que pode comprometer o bem estar e, talvez, a sobrevivência
das futuras gerações [...]. Veja mais aqui e aqui.
O
BUDA DO SUBÚRBIO – O livro O Buda
do subúrbio (Companhia das Letras, 1992), do escritor e dramaturgo
britânico Hanif Kureishi,
conta a história de um narrador imigrante de indiano que se encontra em Londres
para estudar direito, envolvendo-se com bebida, rock e prazeres ilícitos,
findando por se casar muito jovem numa fase de descobertas num momento de
turbulência política e preconceitos, criticando a cultura de massa. Da obra
destaco o trecho: [...] Ao liquidar a
casa e mudar para Londres, Eva também estava perseguindo Charlie, que
atualmente pouco aparecia por ali. Para ele também era obvio que os subúrbios faziam
parte do passado, do inicio da vida. Depois disso, era desviar ou definhar. Charlie
gostava de dormir cada dia em um lugar, não tinha posses, nem moradia fixa, e
trepava com quem pudesse; às vezes até ensaiava e compunha canções. Experimentava
estes excessos não pode desespero, e sim por se excitar com as promessas da
vida. Ocasionalmente eu acordava pela manhã e lá estava ele, na cozinha,
comendo furiosamente, como se não soubesse de onde viria sua próxima refeição,
como se cada dia fosse uma aventura capaz de terminar em qualquer lugar. E depois
ia embora. Papai e Eva acompanhavam todas as apresentações de Charlie, em
escolas de artes, pubs e pequenos festivais ao ar livre em locais enlameados. Eva
torcia e aplaudia sem parar, com uma cerveja na mão. Papai piscava nervoso ao
fundo, perturbado com o barulho e a multidão, com frenética dança de são Vito
por cima de jovens em coma, mergulhados em poças de cerveja. Ele se abalava com
o sofrimento, as roupas fedorentas, as bad-trips dos adolescentes de catorze
anos levados em ambulâncias, as fodas ao acaso, sem amor, e as fugas melancólicas
da família para os prédios miseráveis abandonados de Herne Gill. Sem duvida
teria preferido ficar em casa, aconselhando um disciplulo – a fervorosa garota
Fruitbat, quem saber, ou seu namorado eternamente sorridente, Chogyam-Jones,
cuja roupa parecia um tapete chinês; seu estimulo estava se tornando necessário.
Mas papai acompanhava Eva onde quer que sua presença fosse exigida. Sem duvida
ele aproveitava muito mais a vida do que antes e, quando Eva finalmente
anunciou que estávamos de mudança para Londres, admitiu que esta era a decisão
correta a tomar. [...]. Veja mais aqui.
OS CADERNOS DE VALÉRY – No livro Paul Valéry: a serpente e o pensar (Brasiliense, 1984), do poeta,
tradutor e ensaísta Augusto de Campos,
encontro Dos cadernos de Valéry, reunindo contra-bras e contra-acabados do
filósofo e poeta do Simbolismo francês, Paul
Valéry (1871-1945), do qual destaco os trechos: [...] Estes cadernos são meu vício. São também contra-bras, contra-acabados.
[...]. Poder e ser: ser poeta, não. Poder
sê-lo. Tédio – O que eu sei fazer me entedia; o que não sei fazer me
entristece. Opinião: eu não sou sempre da minha opinião. Processo (= conceito
poundiano de inventor?): aprecio um homem quando ele encontrou uma lei ou um
processo. O resto não é nada. Poder, agir: eu me amo em potência – me odeio em
ato. O inumano: não saboreio nas obras do homem senão a quantidade de
inumanidade que nelas encontro. Sei demais o que é humano. Sofri, gozei; me
enganei; vi corretamente, me sinto arruinar pelo tempo; fui louvado; censurado,
saudado, achincalhado, tratado por nomes os mais agradáveis e por alguns
outros. Eis o que é humano, segundo os humanos. Não me agrada ruminá-lo nos
livros. Impossibilidades:... são as minhas impossibilidades que me excitam. Só
amor problemas: Quando eu me prendo (o que é bem raro) a uma leitura que não me
requer nenhum esforço de compreensão nova, tenho a sensação de cometer uma
falta. Eu me sinto em falta -, falta que pode ter por excusa uma incapacidade
de fazer outra coisa. Só amo problemas. Sorrir dos sérios: devemos sorrir dos
que se levam a sério. O poema é uma máquina: o poema é uma máquina de produzir
certos efeitos sobre certas pessoas que se imaginais tais ou quais. Surpresa ou
precisão: Um escrito só vale: 1 – pela estranheza, a surpresa, a distancia que
guarda com o meu pensamento – ou 2 – pelo grau de precisão que ele me traz. É preciso
que eu seja ou enriquecido, destravado, ampliado, ou então precisado, isto é,
amadurecido, acabado, delimitado, tempo-ganho. Escritor – escriteiro: Não sou
escritor – escriteiro (écriveur), pois não só não me importa como me ultrapassa
escrever o que vi, senti ou peguei. Isso terminou para mim. Tomo da pena para o
futuro do meu pensamento – não para o seu passado. Escrever: escrever – o que
eu escrevo não é escrever, é preparar-se para escrever algum dia impossível. A
síntese da poesia: zombam de você, que tentou fazer a síntese da poesia. Eles têm
razão, mas você também não está errado. [...]. Veja mais aqui e aqui.
O TEATRO DA ESPONTANEIDADE - No livro O teatro da espontaneidade (Summus, 1984), do médico, psicólogo,
filósofo e dramaturgo turco-judeu Jacob
Levy Moreno (1889-1974), destaco mais alguns trechos: [...] Quando Deus criou o mundo em seis dias ele
acabou se detendo um dia antes, com excessiva antecipação. Ele havia organizado
para o Homem um lugar onde viver mas, para torna-lo seguro para aquele, acabou também
por acorrenta-lo a tal lugar. No sétimo dia, Ele deveria ter criado para o
Homem um segundo universo, um outro mundo, livre do primeiro e no qual o Homem
pudesse se purificar deste, mas um mundo em que não houvesse pessoa alguma
acorrentada, pois que não seria real. É neste ponto que o teatro da
espontaneidade prossegue a obra de Deus de criar o Mundo, ao abrir para o Homem
uma nova dimensão da existência. [...] A
sociatria já nos forneceu bons motivos para predizer que a sociedade humana
acabará sendo controlada pelo self ou selves espontaneamente dirigidos. [...]
A maior dificuldade quanto à expansão do
self na direção de um verdadeiro domínio do universo não reside na invenção de
instrumentos por meio dos quais alcançar-se este objetivo e, sim, no próprio
Homem. este é inepto e inerte e sua espontaneidade encontra-se num estagio
embrionico de desenvolvimento. Portanto, não é o retardo das ciências sociais
em comparação com as físicas que detém o progresso; esse retardo verifica-se
antes nas limitações do Homem e na sua falta de preparo para a utilização de instrumentos
e métodos que lhe permitiriam vencer seus desafios biológicos, sociais e
culturais. [...] Enquanto no plano tecnológico,
é grande a prontidão do Homem para fazer uso de instrumentos tão logo sejam
inventados, no plano social esta prontidão encontra-se excessivamente baixa,
praticamente nula. [...] é fácil para
o Homem usar um pedaço de pau, uma arma ou uma bomba atômica, mas é-lhe
extremamente difícil adaptar-se ao uso de instrumentos sociais que lhe
assegurariam liberdade no seu de sua própria sociedade. Não é fácil apresentar
respostas a esta dificuldade: o Homem precisa ser educado; [...] é um problema de deficiência na
espontaneidade de se usar a inteligência disponível e de se mobilizar as
emoções esclarecidas. [...] . Veja mais aqui, aqui e aqui.
TODAS AS MULHERES DO MUNDO – A trajetória da atriz de cinema e
televisão Joana Fomm é das mais
representativas. Ela começa no cinema atuando no filme O quinto poder (1962),
seguindo-se Um morto ao telefone (1964), El ABC do amor (1967), A vida
provisória (1968), O homem nu (1968), Bebel, a garota propaganda (1968),
Edu, coração de ouro (1968), A noite do
meu bem (1968), Macunaíma (1969), As armas (1969), Um sonho de vampiros (1969),
O palácio dos anjos (1970), As gatinhas (1970), Gamal, o delírio do sexo (1979),
Elas (1970), Fora das grandes (1971), Noites de Iemanjá (1971), Vozes do medo
(1972), Os desclassificados (1972), Um brasileiro chamado Rosaflor (1976),
Marilia e Marina (1976), Contos eróticos (1977), Beijo na boca (1982), Espelho
de carne (1985), O cavalinho azul (1984), Césio 137 – o pesadelo de Goiania
(1990), Vai trabalhar vagabundo II (1991), Quem matou Pixote? (1996),
Copacabana (2001) e Quanto vale ou é por quilo? (2005). Entre esses, destaco
sua participação na premiada comédia Todas as mulheres do mundo (1966),
dirigida pelo cineasta Domingos de Oliveira, contando a história a respeito de
um dilema que o determinado sujeito sofre entre a vida de solteiro e o
casamento. Veja mais aqui.
IMAGEM DO DIA
A arte da bailarina russa do Balé de
Sergei Diaghilev, Tamara Karsavina (1885-1978)
Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do
programa Quarta Romântica, a partir
das 21hs, no blog do Projeto MCLAM, com a apresentação sempre especial e
apaixonante de Meimei Corrêa. Na
programação: Em seguida, o
programa Mix MCLAM, com Verney Filho
e na madrugada Hot Night, uma
programação toda especial para os ouvintes amantes. Para conferir online acesse
aqui.
VAMOS APRUMAR A CONVERSA?
Dê livros de presente para as crianças.