segunda-feira, setembro 07, 2015

MATURANA, FECAMEPA, TCHEKHOV, HOMERO, CHEN-TSI-TSI, DI CAVALCANTI & MARCUS VIANA.

VAMOS APRUMAR A CONVERSA? INDEPENDÊNCIA DE QUEM MESMO, HEM? - Então, pessoal, vamos ao teitei. Tataritaritatá! Pois é, tudo no Brasil é um embolado de coisas, maior cantiga de grilo: o tempo todo. Tanto é que se a gente for buscar a causa de cada coisa, com certeza, vai se deparar na causa da causa da causa da causa da causa e a última que se imagine que seja, será inacessível de se chegar de tão emaranhada que chega a ser. Eita! Quer dizer que a corda-de-guaiamum do enganchamento de tudo com todas coisas, traz só a comprovação de que tudo aqui é empurrado com a barriga do desdém e, depois estatelado num amontoado da gota, ficando enrolado de tuim de num ter quem obre o milagre de desatar o nó. Arre, égua! Oxente, bichim! Para entender o advento da dita independência do Brasil, é preciso voltar um pouquinho mais no tempo, nas antecedências. Pois é, em antanho, desde que a família real chegou no Brasil que uma banda dos aquinhoados, a do centro-sul, vivia de paparicado e gozando das benesses. Mas a outra do Norte e Nordeste e demais regiões não alcançadas pelas mordomias, comia o farelo do pão que o diabo amassou. E o pior: pagando a conta e o pato. Pode? Além disso, um processo de recolonização se desenvolvia entre os invasores aqui aboletados, que azoadamente metiam as mãos pelas pernas, com seus requintes fedorentos provocando o aumento dos impostos para sustentá-los no luxo, tudo para cobrir as despesas da Corte e marcando a exploração e opressão que os portugueses da nova Lisboa deixavam rolar. E, com isso, a insatisfação se espalhava como praga ruim de todo mundo querer se ver livre de Portugal loguinho e já, gerando um antilusitanismo que nasceu na Guerra dos Mascates e vinha remoendo por dentro. Indubitavelmente, isso vai dar na revolução de 1817 que ocorreu por causa do declínio da cana-de-açúcar, da influência da maçonaria, das idéias liberais, da independência das colônias espanholas na América do Sul e dos Estados Unidos. A insurreição finda na proclamação da república de Pernambuco, com governo provisório abolindo impostos, elaborando uma constituição assentada na liberdade e igualdade para todos perante a lei. Maior espalha-brasa vai se estendendo pelo Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. E tome pé. No meio disso, eis que surge o combate entre as tropas do rei e os insurretos, durando dois meses de rasga-bucho, misturando reações antirrevolucionárias que vieram com tropas da Bahia, juntamente outras oriundas de Alagoas, Paraíba e Rio Grande Norte, reprimindo dura e violentamente simpatizantes e suspeitos, até todos os líderes estarem dominados e condenados à morte. Findada, todos os rebeldes executados e outros aliados envolvidos foram brindados com a distribuição de benesses, incluindo Alagoas que até então pertencia a Pernambuco, agora passava a ser a Capitania de Alagoas. Toma lá, dá cá. Há de convir que a bronca não só estava restrita ao espaço nordestino, uma vez que havia uma briga de foice nas altas esferas do palácio real, que envolviam 3 correntes que deixavam D. João VI zarolho e mais doido que cego em tiroteio: uma que era a favor do conluio com a Espanha; outra que exigia a volta do rei; e, aindoutra, dos que pensavam em derrubá-lo do trono. Inclusive, ele já desconfiava que o filho e o conde dos Arcos tramavam destronar-lhe. Aí a sinuca-de-bico: ou adotava a constituição espanhola, ou dava um nó e empenava a coisa por aqui. Deixava. Acontece que a farra acontecia dos dois lados. De um, os baba-ovos na festança provocando o povo que queimava os bonecos dos que se opunham a permanência do rei, nascendo, então, a tradicional festa da malhação de Judas em pleno sábado de aleluia; na outra ponta, os sabidos lusos se aproveitavam enquanto os outros se estranhavam nas mesquinharias da luta pelo poder e esvaziavam os cofres públicos e do Banco do Brasil. Afanagem braba mesmo! Como a coisa ia mais para nem lá, nem loa, o fuzuê deu, então, na revogação da constituição espanhola com uma porretada de rei sendo instituída a regência confiada ao príncipe, para que ele arribasse se mandando com o rabinho entre as pernas de regresso a Lisboa, levando seus 3 mil cortesãos dilapidadores que rasparam todo dinheiro - calcula-se que 50 milhões de cruzados —, ouro e diamantes do Brasil, deixando lisas até as caixas de fundos de caridade e beneficência. O Banco do Brasil, cré cré, espatifou-se, tei bei! Sifu. Iiiiiih! O liseu brilhava, hehehehehehe! O cenário dava conta da independência de toda América espanhola contra o Absolutismo, enquanto entre nós, a coisa seguia o continuísmo com a monarquia constitucional. O pior é que a coisa estava mais para zona mesmo, porque em Minas, havia o sonho de uma república sem lei nem escravos, talqualmente aquela idealizada por Tiradentes. Na Bahia, outra sem desigualdade de classe ou raça, com os sonhos dos alfaiates sacrificados em 1799. Em Pernambuco, o sonho dos patriotas de 1817 com a emancipação política de justiça social. E no Maranhão que havia se desvinculado do governo geral, seguido depois pela Bahia e pelo Pará, a coisa andava mais para lá que para cá. Era sonho que não era brinquedo. Mas o negócio pegava fogo! Para embananar tudo, um decreto das Cortes de Portugal, em 1821, determinava a abolição da regência e o imediato retorno de D. Pedro a Portugal, exigindo a obediência das províncias a Lisboa e a extinção dos tribunais do Rio de Janeiro. Era a recolonização iminente. Êpa! Assim não dá, fala sério! Vem, então, o Clube da Resistência que advoga a permanência do príncipe que, enfim, decidiu desobedecer às ordens das Cortes e permanecer no Brasil: era o Fico. E ficou mesmo. Bem ou mal, vai crescendo o movimento para que o país não se sujeite a retroceder à condição colonial. A coisa engrossa, pois, de um lado, está os Andradas; de outro, o Feijó e as catilinárias antiandradinas. O pau come. Bafafá medonho. Até chegar no dá, ou desce. E D. Pedro foi ficando no meio da união entre os proprietários rurais fluminenses, paulistas e mineiros, ao lado dos burocratas e comerciantes portugueses e brasileiros, para ir rolando até dá no que deu. Aí o pau cantou e a 6 de gosto o Brasil estava independente de Portugal com o manifesto do príncipe regente dirigido aos governos e nações amigas. Isso por causa de uma caganeira da peste que lhe assou o procto e deu nos nervos. E em 7 de setembro, uma data ilustrativa, a coisa, pelo menos, não virou conversa para boi dormir. Mas pra enrolança, deu. Tudo foi se arrumando truculenta e acidentalmente até 12 de outubro de 1822, quando D. Pedro, de saco cheio e mordido do porco, foi aclamado e em 1º. de dezembro do mesmo ano tornou-se o primeiro imperador do Brasil. Foi trupé. E teve guerra ainda. É, foi a guerra da independência que prosseguiu até 1823, com apoio da Inglaterra (por que será, hem?), comandada por dois veteranos das campanhas de libertação da América espanhola: general Pedro Labatut e almirante Cochrane. O buruçu engrossa no meio da pacutia, dando com o rompimento entre os Andradas e D. Pedro que, virado na gota, dissolve a constituinte e vira o cão chupando manga. Aí, fodeu Maria-preá, né? Bem, a coisa vai mais ou menos desembestadamente, mas vai. No frigir dos ovos, essa independência mesmo só serviu sabe para quê? Afinal, conforme Caio Prado Júnior, a independência fora não mais que "arranjo político", implicando numa acirrada luta social. Além de, ainda, ser vista como fruto mais de uma classe que da nação tomada em conjunto, ou seja, obra do compromisso entre o conservadorismo da aristocracia rural e o absolutismo do príncipe. E, também, como anotou a historiadora Isabel Lustosa, serviu mesmo para cumprir um acordo assinado com uma cláusula secreta onde o Brasil saldava as dívidas de Portugal com o pagamento de 1,4 milhão de libras esterlinas à Inglaterra. Eita, independenciazinha cara da praga, hem?! Foi com isso que eles devolveram pra gente a chacota de que chapéu de otário é marreta! E vamos aprumar a conversa aqui, aqui e aqui.

 Imagem: Nu (Figura óleo sobre tela, 1940), do pintor e caricaturista brasileiro Di Cavalcanti (1897-1976). Veja mais aqui.


Curtindo o álbum Pantanal: suíte sinfônica (Sonhos e Sons - Bloch Discos, 1990), do violinista, tecladista e compositor Marcus Viana. Veja mais aqui.


DESEJOS E RESPONSABILIDADE – No livro Cognição, ciência e vida cotidiana (UFMG, 2008), do neurobiólogo chileno e criador da teoria da autopoiese e da biologia do conhecer, Humberto Maturana, que aborda sobre a biologia do conhecer e epistemologia, domínios ontológicos, ciência e vida cotidiana, determinismo estrutural e linguagem, deriva nbatural e a constituição do humano, cognição e emoções, linguagem e conversações, a ciência como um domínio cognitivo, teorias científicas e filosóficas, metadesign, tecnologia e realidade, entre outros assuntos, destaco o trecho denominado Desejos e responsabilidade, o qual transcrevo a seguir: Nós, seres humanos, sempre fazemos o que queremos, mesmo quando dizemos que somos forçados a fazer algo que não queremos. O que acontece nesse último caso é que queremos as conseqüências que irão se dar se fizermos o que dizemos que não queremos fazer. Isto é assim porque nossos desejos, conscientes e inconscientes, determinam o curso de nossas vidas e o curso de nossa história humana. O que conservamos, o que desejamos conservar em nosso viver, é o que determina o que podemos e o que não podemos mudar em nossas vidas. Ao mesmo tempo, é por isso que frequentemente não queremos refletir sobre nossos desejos. Se não vemos nossos desejos, podemos viver sem nos sentirmos responsáveis pela maior pane das conseqüências do que fazemos. Os artistas, poetas da vida cotidiana, são algumas dessas pessoas que podem estar, e freqüentemente estão, conscientes do curso que a existência humana está seguindo. Isto é particularmente evidente nos escritores de ficção científica, que revelam um futuro que surge de suas extrapolações das coerências de nosso presente relacional. Ao mesmo tempo, os artistas podem estar, e freqüentemente estão, conscientes daquilo que está faltando em nossas relações humanas atuais, tais como o amor, a honestidade, a responsabilidade social e o respeito mútuo — mas os trabalhos nos quais eles revelam ou evocam o que vêem são frequentemente desprezados como sendo utopia. Mas, em ambos os casos, não é o meio que é central para o trabalho dos artistas, e sim o que eles querem fazer. O meio é sempre um domínio de possibilidades que podem ser usadas com maior ou menor conhecimento do que pode ser feito com elas, mas é sempre uma questão de dedicação e estética alguém conseguir ou não usá-las como deseja. O que me interessa, todavia, é o objetivo, o emocionar que o artista quer evocar. [...] Veja mais aqui, aqui e aqui.

VIAGEM AO INTERIOR DE UM TRAVESSEIRO – No livro Maravilhas do conto chinês (Cultrix 1957), encontro a narrativa Viagem ao interior de um travesseiro, de Chen-Tsi-Tsi, numa tradução de Alda de Carvalho Angelo, com o seguinte teor: No sétimo ano da época Kiai-yuan (712-741), um taoísta, conhecido como Pai Li, errava pela região de Han-tang. Certo dia, em que tivera de se deter numa estalagem de muda, o monge, enquanto esperava, tirou o boné, desapertou o cinto e sentou-se no chão, apoiando o peito contra o saco de viagem. Nesse instante, entrou na estalagem um jovem vestido com trajes simples de camponês. Chamava-se Lu. De volta dos campos, detivera-se, como de costume, na pousada. Sentou-se na mesma esteira do taoísta e entre ambos logo se entabulou agradável palestra. Passou-se algum tempo. Olhando tristemente para seu vestuário velho e coçado, o jovem soltou um longo suspiro: - Dizer que sou homem de bem e que não tenho sorte na vida! Como sou desgraçado! O velho taoísta ficou surpreso: - Vendo-vos, ninguém diria que sofreis de algum mal! Por que tão súbito suspiro? -Arrasto-me pela vida, eis tudo. Não tenho qualquer alegria – Retrucou o jovem, obstinadamente. - Se isso não é alegria, que mais esperais para ser feliz? - Um homem de cultura – prosseguiu o jovem Lu, com gravidade – Deve levar a cabo grandes empresas e granjear fama. Deve chegar a general-comandante de um exército expedicionário, ou a primeiro-ministro do Império. É necessário que logre fazer com que prosperem sua família quanto seus bens. Só então poderá falar em alegrias, em abastanças! Ao cabo de uma pausa, prosseguiu: - Jovem ainda, apliquei-me ao estudo com ardor e inteligência. Em muitos sentidos, sou homem bem dotado. Acreditei, outrora, poder atingir, sem dificuldade, altas posições na magistratura. Mas, como vedes, aqui estou, homem feito e labutando ingloriamente nos campos. Não é lamentável? Seguiu-se longo silêncio. O jovem Lu parecia estar prostrado de fadiga e desejoso de cochilar um pouco. Entrementes, o estalajadeiro, absorto, ocupava-se em assar milho na estufa. O velho monge, tirando de sua bagagem um travesseiro, estendeu-o ao jovem: - Descansai neste travesseiro e alcançareis honrarias e fortuna. À vontade. Era um travesseiro de porcelana, pintado de azul. Mal o jovem Lu pousou a cabeça nele, viu, distintamente, a cavidade lateral alargar-se e fazer-se cada vez maior. O jovem, erguendo-se, por ela entrou sem dificuldade, e achou-se, da maneira mais simples do mundo, de volta à sua própria casa. Meses depois, desposou uma jovem muito bela, da família Tsoei, de Tsing-ho. Entrementes, sua fortuna crescia rapidamente e ele começava a sentir o coração mais aliviado. A partir de então, passou a ter vestes e carros novos, exatamente como desejara. No ano seguinte, apresentou-se aos concursos oficiais e foi aprovado. Pôde, enfim, pôr de lado suas roupas de plebeu e ostentar a insígnia de funcionário. Depois, candidatou-se aos exames da Corte e foi neles igualmente bem sucedido. Nomeado subprefeito de Wei-nan, era logo depois promovido a censor imperial. Graças ao seu novo posto de oficial de ordenança de monarca, passou à frente dos mais altos dignitários. Três anos mais tarde, foi de novo enviado à província com o título de prefeito. Ávido de glórias, mandou escavar um canal na província de Chansi, a fim de facilitar a navegação. A população, beneficiada, mandou erigir um monumento em honra do prefeito. Depois de ter sido prefeito e inspetor-geral de diversas províncias, foi finalmente nomeado prefeito da capital. Nesse ano, o imperador estava em dificuldades com as tribos insubmissas do oeste. O soberano, que era ambicioso, quis aproveitar-se da oportunidade para alargar seus domínios. Os rebeldes, porém, avançavam e acabaram por ocupar uma importante cidade, assassinando-lhe o governador. O monarca, que andava a procura de um homem de talento para comandar suas tropas, resolveu nomear Lu governador militar da região ameaçada. Lu conseguiu, não sem dificuldades, desbaratar os invasores. Depois mandou edificar, nos pontos estratégicos, três grandes cidades fortificadas. A população da fronteira, liberta do pesadelo da invasão, ergueu uma estela de mármore sobre o monte Kiu-yen, em honra do vencedor. De volta à Corte, Lu foi cumulado de favores imperiais que faziam empalidecer a inveja dos seus colegas. Gozava ele de alto conceito perante a opinião pública e era benquisto pelo povo. Dentre os que se consideravam mais prejudicados pelos êxitos de Lu, estava o primeiro-ministro. Este não descansou enquanto não deitou a perder seu impertinente rival. Conseguiu, por meio de intrigas e calúnias, comprometer-lhe o prestígio. O efeito dessa campanha desmoralizadora não tardou a fazer-se sentir. Lu foi destituído de seu alto posto e enviado para uma região distante, no cargo de simples prefeito. Três anos depois, voltava à Corte para ali desempenhar funções de secretário permanente do Imperador. Mais tarde, foram-lhe confiados graves assuntos de Estado, passando ele a exercer funções de membro do Conselho Imperial. Viu-se, assim, no centro do poder, durante dez anos. O país prosperava e Lu gozava da reputação de bom ministro. Quis a fatalidade que tais êxitos provocassem de novo o ciúme dos invejosos. A todo preço, procuravam os confrades de Lu perdê-lo, dessa vez definitivamente. Acusaram-no de conivência com um general rebelde, cuja guarnição se havia sublevado na região fronteiriça, O Imperador assinou um mandato de prisão e os oficiais e guardas da prefeitura conduziram Lu para o cárcere, como se fosse um reles criminoso. Consternado, humilhado, Lu pressentia o pior. Ao partir, chorou amaramente diante da esposa: - Eu tinha um teto nos campos de Chang-tong, e possuía terras férteis, mais do que suficientes para viver. Por que não me contentei com isso? Eis agora a que ponto cheguei. Quem me dera poder novamente vestir as roupas grosseiras de camponês e poder passear alegremente! Ai de mim, que tal nunca mais me será consentido... Dito isso, Lu puxou da espada e tentou cortar o pescoço, mas a mulher deteve o braço. Os demais acusados de conspiração foram condenados à morte e executados. Graças a uma intriga de eunucos, Lu logrou escapar à pena capital, mas foi exilado para Huantcheú. Passaram-se muitos anos. A inocência de Lu foi finalmente provada diante do Imperador. Este mandou restituir àquele o cargo de secretário de Estado, juntamente com o título de Duque de Yen-ru. Daí por diante, o soberano passou a cumulá-lo de favores excepcionais e ele nunca mais conheceu reveses. Lu tinha conco filhos. Todos eram dotados de grande talento e ocupavam altas funções no governo. A felicidade do velho Lu era ainda aumentada pela presença de uma dezena de netinhos. Estava ele, pois, no apogeu da prosperidade e das honras; sua carreira de homem de Estado ia pra mais de conquenta anos. Por duas vezes, no longo trajeto, conhecera o exílio e a mais tenebrosa desgraça. Mas quis a sorte que, depois de cada queda, encontrasse meios de levantar-se e de reaparecer no cenário governamental. Fatigado pela idade, solicitava ao imperador, com insistência, a reforma, mas em vão. Acabou por cair doente. Médicos celebres, remédios preciosos, nada foi negligenciado para tentar sua cura. Apesar disso, a morte aproximava-se rapidamente. Na véspera do trespasse, Lu endereçou uma mensagem de adeus ao Imperador, vazada nestes termos: "Eu, vosso humilde servidor, era, de origem, um simples estudante de Changton, não tendo outra ocupação senão o trabalho nos campos. Quis o acaso que eu pudesse aproveitar-me dos altos destinos do Império e ascendesse à hierarquia dos magistrados. O receio de mostrar-me indigno de vossa bondade celeste, ou de ser inútil ao vosso reinado tão cheio de sabedoria, não me consentiu gozar qualquer repouso no decurso de toda a minha vida. Tal pensamento me atormentou dia e noite. Eis-me agora, no limiar da morte. Amanhã, as horas e os diascessarão, para mim, seu curso. Octogenário, por que deveria eu lamentar a sorte destes nervos e ossos desgastados até a última fibra? Mas, contra minha vontade, tenho que deixar para sempre vosso grande reino com um sentimento de infinita devoção e de reconhecimento." No dia seguinte, o Imperador lhe concedeu a seguinte resposta: "Dotado de virtudes incomparáveis, fostes-me um colaborador de primeira ordem. Graças ao vosso devotamento, meu reino floresceu. Até há poucos instantes, julguei que vossa doença fosse passageira. Quem haveria de crer que fosse ter tão graves consequencias? Exprimo-vos minha compunção e ordeno ao general da cavalaria imperial, Kao, que me represente junto à vossa cabeceira. Cuidai bem de vós mesmo por amor de mim, vosso amo, e fazei por nutrir a esperança de um pronto estabelecimento!" Nesta mesma tarde, Lu expirou. O jovem Lu acordou. Espreguiçou-se. Olhou em torno de si e constatou que ainda se encontrava na pousada, estendido sobre a esteira. A seu lado, o velho taoísta continuava sentado, taciturno e imóvel. O milho do estalajadeiro não estava de todo assado. O cenário não mudara.  Por longo tempo, o jovem permaneceu pasmado, inconsolável. Depois, agradeceu ao taoísta, dizendo-lhe: - Tudo quanto diz respeito ao caminho que leva à honra ou à humilhação, aos ensejos de prosperidade e miséria, às razões de êxitos e de reveses - acabo eu de experimentar, segundo creio. Compreendo tudo agora. Pois conseguistes, mestre, dissipar-me as ilusões. Vossa lição será para sempre lembrada. Saudou muitas vezes o Pai Li, encostando a fronte no solo. Depois, foi-se embora. Veja mais aqui e aqui.

A ILIADA – O poema épico grego A Ilíada (sec. VIIIaC), do poeta Homero, é constituída de 15.693 versos em hexâmetro datilico divididos em 24 cantos e narrando os acontecimentos ocorridos no período de pouco mais de 50 dias durante o décimo e último ano da Guerra de Troia, em que Agamemnon, chefe do exército, ultrajou a Aquiles, o mais valente dos Gregos. Irritado, o herói retirou-se à sua tenda sem pretender mais com bater. Os Troianos, notando a sua ausência, tomaram coragem, atacaram o campo do s Gregos ficando os navios destes em risco de serem queimados. Aquiles, apesar da inação a que votou-se, consentiu que Pátroclo, seu amigo, se revestisse de suas armas e guiasse suas tropas contra os Troianos. Pátroclo tendo sido morto por Heitor, o implacável filho de Peleu jurou vingar a morte de seu amigo, e combatendo de novo ornado de novas armas, que a pedido de sua mãe Vulcano havia preparado, investiu contra Heitor, e imolou-o, aos manes de Pátroclo. E depois de haver insultado os restos mortais de seu inimigo, entregou-os a Príamo, pai de Heitor que os pedira ao herói. Da obra destaco o techo do Livro I - Canta-me, ó deusa, do Peleio Aquiles / A ira tenaz, que, lutuosa aos Gregos, / Verdes no Orco lançou mil fortes almas, / Corpos de heróis a cães e abutres pasto: / Lei foi de Jove, em rixa ao discordarem / O de homens chefe e o Mirmidon divino. / Nume há que os malquistasse? O que o Supremo / Teve em Latona. Infenso um letal morbo / No campo ateia; o povo perecia, / Só porque o rei desacatara a Crises. / Com ricos dons remir viera a filha / Aos alados baixéis, nas mãos o cetro / E a do certeiro Apolo ínfula sacra. / Ora e aos irmãos potentes mais se humilha: / “Atridas, vós Aqueus de fina greva, / Raso o muro Priâmeo, assim regresso / Vos dêem feliz do Olimpo os moradores! / Peço a minha Criseida, eis seu resgate; / Reverentes à prole do Tonante, / Ao Longe-vibrador, soltai-me a filha.” / Que, aceito o preço esplêndido, se acate / O sacerdote murmuraram todos; / Mas desprouve a Agamemnon, que o doesta / E expele duro: “Em cerco às naus bojudas / Não me apareças mais, quer ouses, velho, / Deter-te ou retornar; nem áureo cetro, / Nem ínfula do deus quiçá te valha. / Nunca a libertarei, té que envelheça / Fora da pátria, em meu palácio de Argos / A urdir-me teias e a compor meu leito. / Sai, não me irrites, se te queres salvo.” / Taciturno o ancião treme e obedece, / Busca as do mar flutissonantes praias. / Ao que pariu pulcrícoma Latona / Afastando-se impreca: “Arcitenente, / Ouve, Esminteu, que Tênedos enfreias, / Crisa proteges e a divina Cila, / Se de festões colguei teu santuário, / Se de cabras e touros coxas pingues / Te hei queimado, compraze-me os desejos, / A tiros teus meu choro os Dânaos paguem.” / Febo, a tais preces, arco e aljava cruza, / Do vértice do céu baixa iracundo; / Vem semelhante à noite, e a cada passo / Tinem-lhe ao ombro as frechas. Ante a frota / Suspenso, a farpa do carcás descaixa, / Terrível o arco argênteo estala e zune: / Moles primeiramente a cães e a mulos, / Depois com vira acerba ataca os homens, / De cadáveres sempre a arder fogueiras. / As tropas dias nove asseteadas, / Ao décimo as convida e ajunta Aquiles; / Inspiração da bracinívea Juno, / Que seus Dânaos morrer cuidosa via. / Ele, em pinha o congresso, velocípede / Se alça e diz: “A escaparmos, julgo, Atrida, / Retrocedermos errabundos cabe: / Peste os nossos consome e os ceifa a guerra. / Eia, adivinho, arúspice, ou de sonhos / (Jove os envia) conjector se inquira, / Que explique a ofensa do agastado Febo: / Se a votos e hecatombes lhe faltamos; / Se, para desarmar-se, olor de assados / Cordeiros nos reclama e nédias cabras.” / A seu lugar tornou. De áugures mestre, / No passado e presente e porvir sábio, / Surgiu Calcas Testórides, que a Tróia / Por influxos de Apolo as naus guiara, / E concionando exordiou prudente: / “Mandas-me, ó caro a Júpiter, o agravo / Do grã frecheiro expor. Aqui prometas / Com braço e voz cobrir-me: o fel eu temo / Do amplo-reinante que domina os Graios; / E ao fraco se um monarca ódio concebe, / Cose-o e concentra, enquanto o não sacia. / Tu me assegura.” — “Afouto, brada Aquiles, / Vaticina. Por Febo, a Jove grato, / A quem rogas e oráculos te ensina, / Nenhum, desfrute eu vivo o térreo aspecto, / Nenhum violentas mãos te porá, Calcas; / Nem que seja Agamemnon, que entre Aquivos / De mais prestante e augusto se ufaneia.” / Anima-se o bom velho: “Sacrifícios / Nem votos pede Apolo; em nós o ultraje / Punindo vai do Atrida, que ao ministro / O livramento rejeitou da filha; / Nem grave a destra poupará castigos, / Se não reverte a jovem de olhos pretos, / Sem resgate ou presente, ao pai querido, / Remetendo-se a Crisa uma hecatombe. / Com isto por ventura o deus se aplaque.” / O áugur mal se abancava, o rei soberbo, / Senhor pujante, merencório ergueu-se: / Raiva as entranhas lhe intumesce e afuma, / Cintila a vista em brasa; esguelha a Calcas / Tétrico cenho: “Desastroso vate, / Nunca essa boca aprouve-me: o teu ponto / É pregoar desditas; nem palavra / Nem obra tens que preste. Agora os Dânaos, / Pena-os Febo em vingança da retida / Criseida em quem me inflamo, a quem pospunha / Clitemnestra gentil que esposei virgem, / Que não lhe cede em garbo, engenho e prendas. / Pois mais convém, liberta a restituo; / Sadio o anseio, não padeça o povo. / Mas preparai-me um prêmio; eu só dos Gregos / Dele excluído ser não me é decente; / O meu, testemunhais, me foi roubado.” / Controverte o Peleio: “Vanglorioso / Avidíssimo Atrida, que outra paga / Exiges dos magnânimos Aquivos? / Por dividir ignoro onde haja espólio; / Partiu-se o das cidades saqueadas; / Hoje um novo sorteio é repugnante. / Ao deus concede-a; recompensa triple, / E quádrupla terás, quando o Satúrnio / Derrocar nos outorgue a excelsa Tróia.” / Retorque o rei: “Se és bravo ó divo Aquiles, / Com dolo e subterfúgios não me enganes: / Possuis tua cativa, eu perco a minha; / E impões que de perdê-la me contente? / Meu peito satisfaçam de igual prenda / Os liberais Aqueus; senão, teu prêmio, / De Ulisses ou de Ajax, trarei comigo: / Amargará quem for. Sobrestejamos / Nisto por ora. Ao pélago deitemos / Negra nau bem remada, que transporte / A hecatombe e Criseida esbelta e linda. / Um dos cabos, Ajax, o egrégio Ulisses, / Idomeneu comande-a, ou tu Pelides, / Tremendíssimo herói, para que Apolo / Nos tentes granjear com sacrifícios.” / “Ah! como, o vulto fecha e estronda Aquiles, / Vulpina alma sem pejo, a teus acenos / Há quem marche a conflitos e emboscadas? / Não vim bater os valorosos Teucros / Por queixa pessoal: corcéis nem reses / Me furtaram, nem agros destruíram / Da altriz guerreira Ftia; entre nós muita / Serra medeia opaca e o mar sonoro. / Viemos, cão protervo, para em Tróia / A Menelau e a ti lavar a nódoa. / Alardeias, ingrato, e nos desprezas; / Audaz cominas arrancar-me a escrava, / A dádiva de Aqueus por tantas lidas. / Caia Ílion famosa: embora o peso / Da guerra em mim carregue, o mais opimo / Quinhão terás; com pouco eu volte a bordo / Sem boquejar, de choques fatigado. / A Ftia me recolho e os meus navios, / Já que aviltas a mão que de tesouros / A fome te fartava: eu te abandono.” / “Foge, Agamemnon replicou-lhe, foge, / Se é teu prazer; que fiques não te imploro: / Honram-me outros, e em Júpiter confio. / Dos reis alunos dele és quem detesto; / Só respiras discórdias, rixas, pugnas. / Tens valor? agradece-lho. Os navios / Recolhe e os teus; nos Mirmidões impera: / Não te demoro; esse rancor desdenho. / Priva-me de Criseida Febo Apolo: / Em nau minha esquipada vou mandá-la. / À tenda hei de ir-te mesmo, eu to previno, / Tomar-te a elegantíssima Briseida; / Sentirás em poder como te excedo, / E outrem se me antepor e ombrear trema.” / Chameja o herói, no hirsuto peito volve / Se de ante o fêmur desbainhe o estoque / E por entre os Aqueus lho embeba todo, / Ou se o furor no coração reprima. / Já meia espada a cogitar sacava: / Eis da alva Juno, que os escuda e preza, / Por ordem Palas desce, e aos mais invisa, / Atrás o aferra pela flava coma. / Volta-se ele espantado e a reconhece / Pelo medonho olhar, e sem demora: / “A que vens ó do Egífero progênie? / A assistir aos convícios de Agamemnon? / Pois to declaro, e conto já fazê-lo, / Tem de acabar a vida esse orgulhoso.” / E a déia olhicerúlea: “Vim, de acordo / Com Juno albinitente, amiga de ambos, / Comedir-te e amansar. Anda, em palavras / Tu desabafa, a lâmina embainha. / Por esta injúria, to predigo certo, / Inda haverás em triplo insignes prêmios. / Sê-nos pois dócil, a paixão modera.” / “Cumpre, o fogoso torna-lhe, é cordura / Mesmo irado curvar-me a tais preceitos [...]. Veja mais aqui e aqui.

A GAIVOTA – A peça teatral A Gaivota (1896), do médico, dramaturgo e escritor russo Anton Tchekhov (1860-1904), narra os conflitos de um jovem escritor em que os os personagens criam uma ligação direta com o espectador ao mesmo tempo em que apresenta uma visão profunda de uma sociedade cada vez mais vulnerável aos males existenciais, representando uma harmonia estética natural, algo incompatível com a frustração encarada pelo personagem central da trama. Da obra destaco o trecho do Ato I: (A AÇÃO SE PASSA NA PROPRIEDADE DE SORIN. ENTRE O TERCEIRO E O QUARTO ATOS TRANSCORREM DOIS ANOS) PRIMEIRO ATO (UM TRECHO DO PARQUE NA PROPRIEDADE DE SORIN. A AMPLA ALAMEDA QUE, PARTINDO DA PLATÉIA, CONDUZ AO INTERIOR DO PARQUE EM DIREÇÃO A UM LAGO, ESTÁ INTERROMPIDA POR UM ESTRADO IMPROVISADO, ONDE SE REALIZARÁ UM ESPETÁCULO TEATRAL DOMÉSTICO, DE MODO QUE O LAGO FICOU TOTALMENTE OCULTO. À DIREITA E À ESQUERDA O ESTRADO ESTÁ CERCADO DE ARBUSTOS. ALGUMAS CADEIRAS E UMA MESINHA. O SOL ACABA DE SE PÔR. NO ESTRADO, ATRÁS DA CORTINA, ENCONTRAM-SE IAKOV E OUTROS CRIADOS. OUVEM-SE TOSSES E MARTELADAS. PELA ESQUERDA IAKOV E OUTROS CRIADOS. OUVEM-SE TOSSES E MARTELADAS. PELA ESQUERDA APARECEM MACHA E MEDVEDENKO, DE VOLTA DE UM PASSEIO) MEDVEDENKO – Por que a senhora se veste sempre de preto? MACHA- Estou de luto pela minha vida. Sou infeliz. MEDVEDENKO – Por quê? (Após um momento de reflexão) Não entendo... A senhora tem boa saúde; seu pai não chega a ser rico, mas é um homem de posses. A minha vida é bem mais difícil que a sua. Recebo vinte e três rublos por mês, e ainda descontam uma parte para a aposentadoria, e mesmo assim não ando de luto. (Sentam-se) MACHA – Não se trata só de dinheiro. Também o pobre pode ser feliz. MEDVEDENKO – Na teoria sim, mas na prática a realidade é outra: em casa somos eu e minha mãe, mais duas irmãs e um irmão menor... Para um salário de apenas vinte e três rublos. E precisamos comer e beber, não é?! E precisamos de chá e açúcar?! E eu preciso de tabaco?! Aí é que está! MACHA (dirigindo o olhar para o estrado) – O espetáculo vai começar logo. MEDVEDENKO – Sim. A atriz principal é Zarêtchnaia e a peça foi escrita por Konstantin Gavrilovitch. Os dois estão apaixonados e hoje suas almas vão se unir no anseio comum de reproduzir a mesma imagem artística! Porém entre a minha alma e a sua não há pontos de contato. Eu amo a senhora e não consigo ficar em casa, a vontade de vê-la faz com que ande todos os dias seis verstas na ida e seis na volta, e encontro apenas indiferença. É compreensível. Em lugar de posses, tenho, isso sim, uma família numerosa... Quem vai querer se casar com um morto de fome? MACHA- Besteira!... (Cheira rapé) Seu amor me comove, mas não posso retribuí-lo, aí está. (Oferece-lhe a caixinha de rapé) Sirva-se. MEDVEDENKO – Não quero. (Pausa) MACHA – O ar sufocante, à noite com certeza teremos uma tempestade. O senhor passa o tempo todo filosofando, ou falando sobre dinheiro. Em sua opinião, não existe desgraça maior que a pobreza, ao passo que a mim parece mil vezes mais fácil andar de trapos e pedir esmolas do que... Mas o senhor não iria compreender isso... (PELA DIREITA, ENTRAM SORIN E TREPLIOV) SORIN (apoiando-se numa bengala) – O campo não foi feito para mim, meu caro, com certeza nunca vou me acostumar a ele. Ontem fui dormir às dez horas e hoje, às nove da manhã, acordei com a sensação de que, de tanto dormir, os miolos tivessem grudado no crânio, e coisa e tal. (Ri) E depois do almoço, sem querer peguei no sono de novo, e agora me sinto todo quebrado, parece um pesadelo, afinal de contas... TREPLIOV – Pois é, você devia viver na cidade (Repara em Macha e Medvedenko) Por favor, senhores, serão avisados quando começar, agora não podem permanecer aqui. Tenham a bondade de se retirar. SORIN (A Macha) – Maria Ilínitchna, por gentileza, peça a seu pai que mande soltar o cachorro, ele uiva o tempo todo. Minha irmã passou de novo a noite em claro. MACHA – Fale o senhor mesmo com meu pai, eu não direi nada a ele. Não me queira mal! (A Medvedenko) Vamos! MEDVEDENKO (A Trepliov) – Então, mande nos avisar quando estiver para começar. (Os dois saem) SORIN- Isso quer dizer que de novo o cão vai ganir a noite toda... Pois então, nunca me senti à vontade no campo. Às vezes tirava vinte e oito dias de férias e vinha aqui para descansar e coisa e tal; mas logo me aborreciam tanto com tantas besteiras, que tinha vontade de fugir já no primeiro dia. (Ri) Na hora de ir embora daqui sempre estava muito contente... Mas, agora estou aposentado, não tenho para onde ir, afinal de contas... Goste ou não, tenho que ficar morando aqui... IAKOV (A Trepliov) – A gente vai tomar banho, Konstantin Gavrilovitch. TREPLIOV – Está bem, mas dentro de dez minutos devem estar em seus lugares (Consulta o relógio de algibeira) Vai começar daqui a pouco. IAKOV – Sim, senhor. (Sai) TREPLIOV (olhando o estrado) – Isso que é teatro! O pano de boca, o primeiro bastidor, o segundo bastidor, depois um espaço vazio. Nenhum cenário! A vista se abre direto para o lago e o horizonte. Subiremos o pano às oito e meia em ponto, no momento em que surge a lua. SORIN – Magnífico! TREPLIOV – Se Zarêtchnaia se atrasar, é claro que todo o efeito vai se perder. Ela já devia esta aqui. O pai e a madrasta a vigiam tanto que para ela escapar de casa é tão difícil quanto escapar de uma prisão. (Ajeita a gravata do tio) Seu cabelo está desgrenhado e também a barba. Não seria mal apará-los. SORIN (cofia a barba) – Esta tem sido a tragédia da minha vida. Desde jovem sempre tive o aspecto de um bêbado empedernido e coisa e tal. As mulheres nunca gostaram de mim. (Senta-se) Por que minha irmã anda tão mal-humorada? TREPLIOV – Por quê? Por que está entediada (Senta-se ao lado) Está com ciúme. Hostiliza a mim, a representação e até mesmo a peça, porque não ela quem se apresenta e sim Zarêtchnaia. Nem conhece a peça e já a odeia. SORIN (rindo) – Você está imaginando coisas... TREPLIOV – O simples fato de que, neste pequeno palco o sucesso será de Zarêtchnaia já a deixa aborrecida (Consulta o relógio) Minha mãe é um caso psicológico. É talentosa, isso é indiscutível, é inteligente e é capaz de se emocionar lendo um livro, sabe de cor e salteado toda a obra de Nekrasov, cuida dos enfermos como um anjo. Mas se atreva a elogiar a Duse diante dela! Deus o proteja! Deve-se elogiar apenas a ela, escrever apenas sobre ela, entusiasmar-se e ovacioná-la por sua extraordinária interpretação na Dama das Camélias e em O torpor da vida, mas como aqui no campo não dispõe desse tipo de drogas, ela se aborrece e se enfurece, e todos somos seus inimigos e os culpados de tudo. Além do mais, é também supersticiosa, assusta-se com três velas, com o número treze... E é avarenta: tem setenta mil rublos no banco em Odessa, tenho certeza disso. Mas experimente pedir-lhe dinheiro emprestado: ela começa a chorar. SORIN – Você pôs na cabeça que a peça não agrada à sua mãe e já está nervoso, é isso... Fique calmo, sua mãe adora você! [...] Veja mais aqui, aqui e aqui.


FROM DUSK TILL DAWN – O filme de horror From Dusk till Dawn (Um Drink No Inferno, 1995), dirigido por Robert Rodriguez e escritor por Quentin Tarantino, conta a história de dois irmãos assassinos tentando chegar ao México e, no meio do caminho, sequestram um pastor e seus dois filhos. Ao passarem pela fronteira, eles param em um estranho bar de motoqueiros e a trama toda se desenrola a partir daí. O filme ganhou diversos prêmios, como o Saturn Awards de Melhor Filme de Terror e o de Melhor ator (1996); o MTV Movie Awards (1996), de melhor ator e o Festival de Cinema Fantástico de Amsterdam como Melhor Filme de 1996, recebendo, também, inúmeras outras indicações em diversos prêmios. O destaque do filme vai para a atriz e produtora mexicana Salma Hayek que se torna o ponto forte e a mais representativa figura de todo filme, consagrando-se, por isso, um dos símbolos sexuais dos anos 1990. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
Imagens: Vigée, de Le Brun (1855-1842) & Madame du Barry (Nude Reclining by the Sea), do pintor Gustave Courbet (1819-1877), ambas em homenagem à cortesã francesa e amante do rei Luiz XV, Madame du Barry (1743-1793).

Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do programa Crônica de Amor, a partir das 21hs, no blog do Projeto MCLAM, com a apresentação sempre especial e apaixonante de Meimei Corrêa. Em seguida, o programa Mix MCLAM, com Verney Filho e na madrugada Hot Night, uma programação toda especial para os ouvintes amantes. Para conferir online acesse aqui.

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