quinta-feira, agosto 13, 2015

RIPOLL, SABETTI, SANTAELLA, KAIGE, ROBERT-FLEURY, MARCUS VIANA, GIORGI & PSICRODRAMA.

VAMOS APRUMAR A CONVERSA? COÁGULOS, COÁGULOS - Era uma vez, Era uma vez. Era uma vez duas três vezes, mais provável que nenhuma na inexistência do flagra do minuto preciso na minha vida inexata na hora em ponto! Era uma vez. Era uma vez. Era uma vez duas três vezes, mais provável que a justiça num pote encarcerada, mais provável que a remissão da lágrima na face lavada! Mais provável que nenhuma porque foi pingando na veia, escorrendo pela biqueira do peito, pela cumeeira dos sonhos evaporando desejos que findavam sangrando as ruínas do meu tempo, do meu tempo caótico, do meu tempo patético, do meu tempo dilacerado! Eu escondo em meu peito as ruínas do meu tempo! Esse tempo apoliptico, megalomaníaco, irrespirável, fantástico de horror. Cheio de pantins, frescuras, teréns, loucuras!´Feito uma semente num invólucro das possibilidades improváveis no meio de flâmulas matemáticas de signos secretos e farsantes e alusões absurdas! Sou apenas dois braços de espera no suor redimido porque da morte já arrastei ferros e o mundo é apenas as minhas mãos enterradas no blusão, o sonho estiado e a alegria transferida para alhures. Em meu peito não cabe o pacto da pátria desfeita a terra acumulada e o homem obliterado a sujar as mãos na carne da terra e na paixão dos limites jamais alcançados pela ambição dos sentidos enquanto a lama da boca sugere traduzir amor, a boca de aço sugere traduzir amor engolindo desejos, sugere traduzir amor debulhando prazeres como o se o desejo esganasse miragens e é verdade porque o coração quer dizer verdades ou meias e não sabe o que dizer diante dessa tragédia toda. Em meu peito não cabem jamais as síndromes da China, dos afegãos, dos bancos e das cabeças! Não cabem as claques de merda pros oligopólios em alcatéias transnacionais com seu delirium-tremens do consumo no meio de uma economia falida emergindo sobre o sangue dado como aquele da escravaria açucarocrata que adoçava e adoça a boca dos festeiros enquanto a minha dor desmedida, enquanto a minha dor comungada é repisada e vira graúda criando coágulos por todo o meu corpo! E que me esfolem e me esganem pelos metros profundos dos infernos dessa terra porque mesmo assim ainda continuo a erguer cantos sobre este mundo porque das torneiras citadinas jorram sangue inocente adubados nas terras perdidas por hectares infames que só afugentam quem dela vive e morre de fome no meio de outro sonho perdido na pulsação das turbinas e outra coisa com uma marcha escabrosa de botas que guardam o patrimônio dos ricos com lesões homicidas quando outro é o meio do meio-dia e a indigência e outras são as pastilhas de carbono e o frio asfixiante da febre. Já nada é suportável neste tempo de lama e podridão e nada vale a pena e vale a pena tragar o hálito dos alicates grosseiros e compartilha da fome dos órfãos de El Salvador e da dor das mães da Praça de Mayo e dos flagelados da seca e da exclusão social do Brasil mundializado para furor inadimplente de assalariados e estornados das promessas não cumpridas de todas as políticas de mentira! Avante, pra onde? Já não mendigo a vida pelos infortúnios, mazelas, porqueiras nem a devoção cega das crenças mutiladas nem da vil matéria lânguida e escassa espremida no dia-a-dia sarcófago de totens de sempre e tabus de nada! Eu vou com meu corpo cheio de holocaustos e cataclismas e o punhal da vida me avassala e maldigo a terra ficam as sombras vãs que atormentam minha sanidade e os meus desejos remendados na alegria mal-assada com os recheios fugazes que findam na dor, mas se a dor não traz nada, parafraseando Gregório, é porque enfim leva tudo e deixa a mão espalmada ao jugo da palmatória da vida! Eu vou com a chuva que explode lá fora onde a cidade sustenta seus fantasmas que pulam nas praças ruas avenidas e becos e bares e vidas sem no entanto se furtarem a pelo menos aprumarem a vida dos seus fiéis lambe-botas enquanto eu me embriago na chuva coletando os segredos dos rios com sua correnteza mansa escondendo o alvoroço do fundo e tudo encharca o meu país enxaguando essa terra embebida de sangue e suor, enxertada de sangue e suor e se dana como uma pólvora guardada no peito com o mísero crepúsculo que traz a noite e a vida já se foi pela janela e só resta cigarro e bebida e a loucura de se embriagar engolindo a ocasião inteira! Era uma vez. Era uma vez duas três vezes, mais provável que nenhuma na sóbria ou na lúcida vontade de se perder na metafísica do espaço no meio da prismática reluzência da catarse e na carismática inocência da poesia úmida lavando a estatística do cansaço que só consegue seguir aonde vai dar dali pra diante no ignoto mudo da urdidura do vácuo. Era uma vez. Era uma vez duas três vezes, mais provável que nenhuma e sobre este mundo erguer cantos, sim! Em meu canto há minha maldição, eis o meu suor, a minha maldição: as lajes, a comunhão, o inusitado, o paradoxal, o álcool, o beijo molhado, o adeus, o agasalho, a mão meiga, a dor amedrontada, a culatra, a pulsação, o medo e a agonia. Assim me foi concedido. (Coágulos, coágulos – Primeira Reunião. Recife: Bagaço, 1992). Veja mais aqui, aqui e aqui.


Imagem: Jeune femme, do pintor francês Joseph-Nicolas Robert-Fleury (1797-1890)


Curtindo Sete Vidas, Amores e Guerras (2004), do violinista, tecladista e compositor Marcus Viana.

O PRINCÍPIO DA TOTALIDADE – O livro O princípio da totalidade: uma análise do processo da energia vital (Summus, 1991), do psicólogo estadunidense Stephano Sabetti, aborda temas como a história da energia no oriente e no ocidente, rumo à física da energia vital, totalidade e energia, radiações energéticas, medicina e psicoterapia, o processo da energia vital, entre outros assuntos. Da obra destaco o trecho: [...] Nossa era é perfeita para uma confrontação com o nosso comportamento paradoxal. Somos constantemente confrontados com nossa necessidade de permanecer em conflito entre nossos corpos e emoções, em nossos relacionamentos sociais e em nossa contenda política – todas essas divisões da totalidade. [...] Dizemos desejar a paz. Portanto, por que sempre criamos problemas para nós mesmos e para os outros? E por que pensamos que essa paz é unicamente um assunto político, exterior às nossas lutas pessoais? Poderíamos gastar nossos fundos destinando-os à pesquisa em medicina holística, o que beneficiaria pacientes e produtores de drogas, e tratamentos compatíveis com as pessoas – porém em geral não o fazemos. Poderíamos construir maquinas mais silenciosas, menos irritantes e ecologicamente mais holísticas – mas em geral não o fazemos. Esse holimos é possível se de fato o quisermos. Temos de decidir se queremos continuar sendo parte do problema da doença, ou nos tornarmos part da solução da totalidade. Não podemos fazer ambas as coisas. A totalidade é um caminho claro do espirito que busca uma reunião com uma completude eterna. [...] Especialmente agora, nesses tempos de divisão e isolamento, precisamos de pioneiros dispostos a ver a totalidade na vida e a viver de acordo com seus preceitos, embora os outros talvez não entendam esse caminho. Falta de aceitação não deve importar. Se vivermos plenamente em vez de brincar com a fantasia e as ideias sobre a totalidade, nosso caminho será claramente demarcado. A totalidade é a mensagem de nossa antiga jornada que temos de trazer à luz repetidas vezes. Ela exige a nossa atenção AGORA. Veja mais aqui.

UM PÓS-HUMANISMO ILUSIONISTA – No livro Linguagens líquidas na era da mobilidade (Paulus, 2007), a professora e pesquisadora Lucia Santaella, aborda a questão do pos-humanismo ilusionista, da qual destaco o trecho seguinte: A par de todas as instâncias de positividade que a internet apresenta, ela também se constitui em terreno fértil para a proliferação de ideologis obscuras e superficiais. Quando se trata de um tema como o pós-humano, prenhe de instigações complicadas, não é de estranhar que a internet abra o flanco para expansão de interpretações impregnadas de misticismo, que compreendem o humano como um estágio transitório na evolução da inteligência. Na sequência dessa evolução, o pós-humano significaria a superação das fragilidades e vulnerabilidades de nossa condição humana, sobretudo do nosso destino para o envelhecimento e a morte. Tal superação seria atingida pela substituição de nossa natureza biológica por uma outra natureza artificialmente produzida que não sofreria as limitações e constrangimentos de nosso ser orgânico, hoje obsoleto. A meu ver, além de simplista, reducionista, essa compreensão é ilusionista. Embora professe a ideia de uma evolução do ser humano biológico para um ser liberto dos limites do orgânico, falta a esse tipo de compreensão justamente uma visão mais clara do próprio evolucionismo e também do desenvolvimento antropológico da constituição simbólica do ser humano [...] Embora, de fato, a condição pós-humana e arevolução biotecnológica que ela implica estejam colocando a humanidade diante de dilemas éticos inéditos, é preciso reconhecer que a separação pressiposta entre a evolução biológica e a evolução tecnológica pode ser improcedente. Se partimos do pressuposto de que ambas as evoluções são inseparáveis [...] a atual aceleração tecnocientífica não representa outra coisa senão o terceiro ciclo evolutivo do homo sapiens. Diante disso, longe de ser determinada apenas pelos sonhos de onipotência humana, a condição atual pode estar inscrita no prohrama genético da espécie humana, um programa que não é determinista, mas imprevisível, pois incorpora o acaso, e teve inicio quando o humano se constituiu como tal, um ser paradoxal, natural e artificial ao mesmo tempo, pois a fala, que faz do humano o que ele é, desnaturaliza-o, coloca-o, de saída, fora da natureza. É justamente essa desnatureza congênita que a evolução tecnocientifica atual está nos fazendo exergar retrospectivamente [...] Veja mais aqui, aqui e aqui.

GRITO ANUNCIAÇÃO, CANÇÃO DE AGORA – No livro Ilha difícil – antologia poética (Leitura/INL, 1968), da poeta, pianista e militante comunista Lila Ripoll (1905-1967), destaco inicial o seu poema Grito: Não, não irei sem grito. / Minha voz nesse dia subirá. / E eu me erguerei também. / Solitária. Definida. / As portas adormecidas abrirão / passagem para o mundo / Meus sonhos, meus fantasmas, / meus exércitos derrotados, / sacudirão o silêncio de convenção / e as máscaras de piedade compungida. / Dispensarei as rosas, as violetas, / os absurdos véus sobre meu rosto. / Serei eu mesma. Estarei / inteira sobre a mesa. / As mãos vazias e crispadas, / os olhos acordados, / a boca vincada de amargor. / Não. Não irei sem grito. / Abram as portas adormecidas, / levantem as cortinas, / abaixem as vozes / e as máscaras — / que eu vou sair inteira. / Eu mesma. Solitária. / Definida. Também o poema Anunciação: Voam-me pássaros em torno, / numa ciranda sem motivos. / A estrada é fria. / Estou de branco. / Brilha uma estrela em minha mão. / Revoam pássaros em torno. / Meu ombro esquerdo vai ferido. / Medrosos passos vão levando / a fina sombra do meu corpo. / Volteiam folhas, / dança o vento / e a gaze clara do vestido. / Minha cabeça vai pendida / e há uma estrela em minha mão. / Que estranho o caminho andado, / de branco, na estrada fria, / por entre pássaros voando, / por sobre flores caindo / e o ombro esquerdo sangrando. / O mar canta em meus ouvidos / e a Montanha inacessível / estende ramos de paz. / Passam âncoras e cruzes / e há uma estrela em minha mão. / Por que me levam de branco, / na fria estrada de pedra, / com este ombro sangrando, / entre perfumes e asas? / Que anunciam essas cruzes? / Essas âncoras partidas? / Esses pássaros revoando? / E essa estrela em minha mão? / Quem me leva e para onde / com essa estrela na mão?. Por fim, o poema Canção de Agora: Ontem meu peito chorava. / Hoje, não. / Também cansa a desventura. / Também o sol gasta o chão. / Estava ontem sozinha, / tendo a meu lado, sombria, / minha própria companhia. / Hoje, não. / Morreu de tanto morrer / a pena que em mim vivia. / Morreu de tanto esperar. / Eu não. / Relógios do tempo andaram / marcando o tempo em meu rosto. / A vida perdeu seu tempo. / Eu não. / Também cansa a desventura. / Também o sol gasta o chão. Veja mais aqui.

PSICODRAMA – O livro Psicodrama: inspiração e técnica (Ágora, 1992), organizado por Paulo Holmes e Marcia Karp, trata de temas acerca do psicodrama clássico, psicodrama intrapsíquico, métodos dramáticos para jovens com dificuldades graves de aprendizagem, psicodrama com uma família reconstruída, técnicas psicodramáticas com jovens vitimas de abusos sexuais, tratamento com internação de um adulto vitima de abusos sexuais, psicodrama grupanalítico para adolescentes problemáticos, questões de terapia ambiental, psicodrama como contribuição para o tratamento de um caso de anorexia, o psicodramatista e o alcoolista, o uso de técnicas dramáticas com filhos adultos de alcoolistas e co-dependentes, psicodrama com delinquentes graves, psicodrama com terapeutas, entre outros assuntos. Da obra destaco o trecho seguinte: [...] A reivindicação de Jacob Levy Moreno, de que um procedimento verdadeiramente terapêutico não pode ter um objetivo menor que o todo da humanidade, não é uma reivindicação modesta. Ela advem claramente de um homem que acredita que o desenvolvimento do psicodrama era muito mais que o desenvolvimento de um instrumental de especialista para ser usado na clinica ou em salas de aula. Sendo tão importante o uso no cotidiano do método, Moreno sabia que estava criando algo maior – uma filosofia de vida -, um método de vida, na realidade. Trata-se de um método baseado na constatação de que a humanidade não é uma unidade social e orgânica. Continuamente emergem tendências entre as diferentes partes dessa unidade que, por vezes, as une, e em outras, as separa. [...] Veja mais aqui.

FAREWELL MY CONCUBINE – O filme Farewell My Concubine (Adeus, Minha Concubina, 1993), dirigido pelo cineasta chinês Chen Kaige, é uma adaptação do romance escrito pela escritora chinesa Lilian Lee, contando a história depois do fim da Revolução Cultural, em 1977, quando dois homens da Ópera de Beijing, um com trajes femininos e outro vestido como um rei, enquanto uma mulher anda com uma criança nos braços em um mercado chinês quando é interpelada por um outro homem que tenta falar e ela o rejeita e uma série de cenas entrecortam a trama que explora o efeito da política turbulenta da China durante a metade do século XX dos que trabalha na ópera pequinense. O filme foi premiado no National Bord of Review (1992), Palma de Ouro em Cannes (1993), no BAFTA (1993), no Mainichi Film Concours (1993), Globo de Ouro (1993), Los Angeles Film Critics Associaton (1993), Cesar Awards (1994), entre outros. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
Esculturas do escultor e professor Bruno Giorgi (1905-1003).


Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do programa SuperNova, a partir das 21hs, no blog do Projeto MCLAM, com a apresentação sempre especial e apaixonante de Meimei Corrêa. Para conferir online acesse aqui.

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