domingo, abril 29, 2012

JOAN DIDION, OLGÁRIA MATOS, ALEX POLARI, TURETTA & LITERÓTICA



ALVOROÇO – Imagem: Los amantes, art by Oscar Sir Avendaño - Quando essa menina se volta felina e apronta outra vez, como sou seu freguês badala 12 horas. Dá prumo e é agora: doze vezes enlaçado, doze vezes amarrado pro seu capricho. É quando eu viro bicho doze vezes encarnado, doze vezes atrepado pronto pro ataque. Ela finge no baque e começa o festim, efígie querubim nua e descalça, pronta pra valsa, ciranda, cirandar. Ela me faz o seu par com beijos esmeraldas numa dança sagrada em meu corpo fadado. Sacode de lado, ajeita e desajeita, mais se espreme, mais se estreita, ela faz vulto. Aí que emerge o tumulto vergando seu dengo. Virando com jeitos, levando no peito e na raça. É quando possessa, com graça, quer que apareça quebrando a vidraça. E me sacaneia. Ainda esperneia e tudo se escancara. Ela enche a cara fica bicada, leva a minha picada, festa no meu sabugo. Ela não dá refugo nas pernas bambas. Ela quer mais samba embaixo do chuveiro – maior suadeiro! Eu me aproveitando. Tudo se esborrando doze vezes profanada, de restar estirada e ainda me colhe e tudo recolhe, doze vezes vingada com todas as honras, doze vezes aclamada no maior fausto, evento tão lauto, pra filha de rei. Seu querer é lei. E cavo sua terra, quanto mais ela berra, eu revolvo arando e sua carne azarando pra abafar o estrondo. Só resta os escombros dela ficar louca, de findar quase rouca de gritar que quer mais. É muito demais, sacudida de gestos, esfolando seus restos, me arranhando as costas, recolhendo as postas do que restou de mim. E não tem mais fim, mais furto, mais roubo, mais sigo no arroubo, dela se sacudir. E sem ter pronde ir, ela tem minha tocha que mais firme se arrocha como seu corcel alado. É quando o bocado ela chega ao demais, ela goza até a paz de arrear debruçada sobre o meu cajado. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui, aquiaqui.

 


DITOS & DESDITOS - Muito me preocupa essa tendência, talvez mundial, da redução de todos os ramos da vida à questão econômica. O padrão do raciocínio e do pensamento fica sendo o da autoconservação, da produção, do trabalho e do desemprego... quer dizer, as questões propriamente políticas ficam confundidas com as questões econômicas, e a tradição do espaço público, portanto, de um mínimo de espaço garantido de igualdade, onde todas as diferenças possam dialogar, um espaço que independa de poder aquisitivo, de religião, de raça, de preferências ideológicas... isso está tendendo a desaparecer nessa indiferenciação de uma igualdade abstrata no mercado consumidor. Acho que isso reduz o debate político e reprime o pensamento. Por outro lado, e correspondente a isso é o ascenso do populismo, quase que em nível internacional, e com isso você tem também uma fusão da sociedade, e o único fator de coesão fica sendo a aquisição de bens materiais. Eu acho que isso enfraquece a vida espiritual da sociedade e o exercício do pensamento. Pensamento da filósofa Olgária Matos.

 

ALGUÉM FALOU: Os jovens cresceram sem conhecer a dura realidade de outras partes do mundo, com crises econômicas e políticas, desemprego, e revoluções. A conjunção benéfica de fatores manteve os jovens americanos isolados em um casulo infantil. Quando converso com estrangeiros sobre a nova geração americana, eles me dizem que um americano de 20 anos age como se fosse um adolescente de 14 anos em seus países. A razão para escrever blogs é falar de si mesmos. A razão para ter um site em uma rede social, falar no celular ou enviar mensagens é manter contato com os amigos. Se usassem essas ferramentas para conhecer mais sobre artes ou História, seria ótimo. Mas o americano de 16 anos não está interessado em História ou política. O americano de 16 anos só está interessado em outros americanos de 16 anos. Não interessa o que aconteceu há 60 anos, na Segunda Guerra Mundial, só o que ocorreu há 15 minutos, na cantina. Não querem saber quem foi Napoleão. Só querem saber do melhor jogador da escola ou da líder da torcida. A falta de contato com os adultos impede os jovens de crescer. Pensamento do professor Mark Bauerlein, autor da obra The Dumbest Generation: How the Digital Age Stupefies Young Americans and Jeopardizes Our Future - Or, Don't Trust Anyone Under 30 (Jeremy Tarcher/Penguin, 2008).

 

FILHA DA DOR - Um dia, eles me levaram para um lugar que hoje eu localizo como sendo a sede do Exército, no Ibirapuera. Lá estava a minha filha de um ano e dez meses, só de fralda, no frio. Eles a colocaram na minha frente, gritando, chorando, e ameaçavam dar choque nela. O torturador era o Mangabeira [codinome do escrivão de polícia de nome Gaeta] e, junto dele, tinha uma criança de três anos que ele dizia ser sua filha. Só depois, quando fui levada para o presídio Tiradentes, eu vim a saber que eles entregaram minha fi lha para a minha cunhada, que a levou para a minha mãe, em Belo Horizonte. Até depois de sair da cadeia, quase três anos depois, eu convivi com o medo de que a minha filha fosse pega. Até que eu cumprisse a minha pena, eu não tinha segurança de que a Maria estava salva. Hoje, na minha compreensão feminista, eu entendo que eles torturavam as crianças na frente das mulheres achando que nos desmontaríamos por causa da maternidade. Fui presa e levada para a Oban. Sofri torturas no pau de arara, na cadeira do dragão, levei muito soco inglês, fui pisoteada por botas, tive três dentes quebrados. Éramos torturadas completamente nuas. Com o choque, você evacua, urina, menstrua. Todos os seus excrementos saem. A tortura era feita sob xingamentos como ‘vaca’, ‘puta’, ‘galinha’, ‘mãe puta’, ‘você dá para todo mundo’… Algumas mulheres sofreram violência sexual, foram estupradas. Mas apertar o peito, passar a mão também é tortura sexual. E isso eles fizeram comigo. Eles também colocaram na minha vagina um cabo de vassoura com um fio aberto enrolado. E deram choque. O objetivo deles era destruir a sexualidade, o desejo, a autoestima, o corpo. Depoimento da socióloga e professora Eleonora Menicucci de Oliveira, a respeito da sua prisão em 11 de julho de 1971, em São Paulo (SP). Veja mais aqui e aqui.

 

ALBUM BRANCO - [...] Contamos histórias para poder viver [...] Um lugar pertence para sempre a quem o reivindica com mais força, lembra-o de forma obsessiva, arranca-o de si mesmo, dá forma, torna-o, ama-o tão radicalmente que o refaz à sua própria imagem... [...]. Trechos extraídos da obra The White Album (Farrar, Straus & Giroux Inc, 2009), da escritora e jornalista estadunidense Joan Didion (1934-2021), narrando sobre eventos diversos, entre eles a cultura de massa, as jornadas obscuras da família Manson, o surgimento dos shoppings e a fundação dos Panteras Negras, entre outras, refletindo sobre o absurdo e a paranoia que marcaram os anos 1960 e 1970, entre outros assuntos, um mosaico jornalístico e ensaístico do cotidiano americano de uma época fundamental para os Estados Unidos e o mundo.

 

SOBRE NOSSAS COMPANHEIRAS NOS AMAREM - Elas compõem um imenso partido / de elos partidos, correntes quebradas / partidas sustadas, idas sem volta. / Elas estão presas a uma liberdade forçada / e às vezes retornam a esses muros / quando as luzes da cidade / apenas se extinguem. / Cada uma delas traz em si uma marca: / o conhecimento que o espelho não reflete / o amor semiclandestino do corpo que não sua / o gemido da carícia que se esconde. / Cada uma delas traz em si um medo / de grade que fraciona os orgasmos / do cadeado que divide as sensações / do outro que floresce no próprio luto / daquele que espreita no antigo leito / do reverso da moeda da própria sorte. / Cada uma delas conhece uma dúvida: / da vida anterior que não se repete / do teor imprimido aos novos passos / da espera que continua sendo essencial. / Elas têm dúvidas sobre a liturgia / dos corpos sacramentados pelos anos / das penas excessivas com que os tribunais / condenam nossas ereções inúteis / das garantias necessárias por uma dedicação difícil. / Elas têm toda a razão em suprir a carência / de sexo e de projetos / mas sabem no fundo / que o maior sentimento possível / mora numa enxovia / sombria e úmida. Poema do poeta Alex Polari de Alverga.

 

A arte do fotógrafo italiano Angelo Raffaele Turetta.

 

 


PROGRAMA DOMINGO ROMÂNTICO – O programa Domingo Romântico que vai ao ar todos os domingos, a partir das 10hs (horário de Brasilia), é comandado pela poeta e radialista Meimei Corrêa na Rádio Cidade, em Minas Gerais. Confira a programação deste domingo aqui. Na edição deste 29/04 do programa Domingo Romântico, comandado pela radialista e poeta Meimei Correa, comemorando o Dia Internacional da Dança e, amanhã, o Dia Nacional da Mulher, apresentará Zubin Metha & Richard Strauss, Elis Regina, Belchior, Jozi Lucka, Monsyerrá Batista, Nana Caymmi, Marina Lima, Fernanda Cunha, Simone, Paula Lima, Joe Cocker, Jamiroquai, Steve Wonder, Luiz Melodia, Marcus Vianna & Marília Abduani, Marcus Caffé, Lucinha Guerra, Benito de Paula, Duke Ellington, Queen, Bon Jovi, Nella, Sonia Mello, Paulynho Duarte, Vinicius Cantuária, Bee Gees, Shalamar, João Pinheiro, Ibys Maceioh, Rosane Duá, Erasmo Carlos, Joyce, Geraldo Azevedo, Lenine, Luiz Alberto Machado, o especial 21 anos sem Gonzaguinha (1946-1991) & muito mais aqui.



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