quarta-feira, dezembro 17, 2008

LIVIA GARCIA-ROZA, CHARLOTTE BRONTË, HELEN FRANKENTHALER, NICOLE GARCIA, NGUNGU ROSSANO, ANSELMO & ORIENTAÇÃO SEXUAL


Eu não me ressinto de ser uma pintora feminina. Eu não exploro isso. Eu pinto.
A arte da pintora estadunidenser Helen Frankenthaler (1928-2011), integrante dos conceitos e movimentos artísticos do Collor-field e do Expressionismo abstrato.

O FRASEADO LUXUOSO DE LIVIA GARCIA-ROZAA cada encontro, um desencontro; e continuamos a nos lançar na falta que nos rodeia. Do sol que foste, guardei a luz. Sou a mulher da minha vida. A escritora e psicanalista Livia Garcia-Roza, é das mais laureadas da atual literatura por possuir uma obra que vai desde Quarto de menina (1995), passando por Meus queridos estranhos (1997), Cartão postal (1999), Cine Odeon (2001), Solo Feminino (2002) e A palavra que veio do sul (2004), entre outros, todos com selo recomendados pela Fundação Nacional para o Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), afora ser reconhecida como uma das maiores escritores brasileiras da atualidade. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS - A vida é muito curta para ser gasta nutrindo animosidade ou registrando erros. Sabe-se muito bem que é dificílimo erradicar preconceitos dos corações cujos solos nunca foram revolvidos ou fertilizados pela educação: preconceitos crescem ali firmes como erva daninha entre pedras.
Pensamento da escritora britânica Charlotte Brontë (1816-1855).

ALGUÉM FALOU: Liberdade de arbítrio é o poder de conservar a retidão da vontade pela própria retidão. Pensamento do filósofo medieval Anselmo de Cantuária ou Aosta (1033-1109), fundador do escolaticismo que exerceu influência sobre a teologia ocidental e famoso por criar o argumento ontológico par a existência de Deus e a visão da satisfação sobre a teoria da expiação.

O ADVERSÁRIO - O drama de mistério O adversário (2002), dirigido pela atriz e diretora francesa Nicole Garcia, conta a história de um marido médico e extremoso pai que mantem uma relação igualmente afetuosa com os seus pais e de proximidade e respeito com os amigos por dezoito longos anos quando todos acreditaram que fosse assim. O filme problematiza o mundo do trabalho que é negado pela própria estrutura social do mundo da financeirização, quando o emprego e a profissão tendem a ser desefetivados, uma metáfora da contradição do sistema capitalista.

UM POEMA - Quem És Tu, Moçambicana? / Do norte de Moçambique vislumbro-te, / mulher que julga o mundo / através de uma foto indefesa. / Moçambicana coberta desse pigmento / que provem da terra, / pareces o que jamais no meu mundo existiu. / Esse pano que levas na cabeça, / é para te proteger do sol por demais quente? / Ou é para transpareceres / os costumes do teu místico local? / Estátua imóvel no silêncio vivo, / olhas-me desafiando-me, / para onde me queres levar? / Olho-te... / procurando saber que omites / com o teu olhar sábio, / procurando encontrar parecenças / comigo na tua expressão, / desejando sentir aquilo / que só tu me podes dar. / Mãe, avó, sábia, feiticeira, / protetora, simples mulher, / quem és tu mulher revestida / pela magia da nossa Mãe? Poema do poeta lusangolano Nelson Ngungu Rossano, que edita o blog Caminhos dos Versos.



A ORIENTAÇÃO SEXUAL NO ENSINO FUNDAMENTAL   A Lei nº 9.3394/96 que compreende a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB, dispõe nos seus artigos sobre a educação e a preocupação com o exercício da cidadania e o pleno desenvolvimento do educando que articula vários aspectos, como: a saúde, a sexualidade, a vida familiar e social, o meio ambiente, o trabalho, a ciência, dentre outros indispensáveis à formação integral do indivíduo, destacando no artigo segundo: "Art. 2º A educação, dever da família e do estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho". A LDB e os Parâmetros Curriculares Nacionais preocupam-se, portanto, com o objetivo principal da educação na construção da cidadania. Nesse sentido, a LDB, coaduna-se com o que postulam os Parâmetros a respeito da sexualidade, uma vez que estes a concebem como parte integrante na formação do educando em todos os níveis de aprendizagem. Isto quer dizer que, a partir de 1996, as escolas passaram a contar com a proposta inovadora em termos educativos, notadamente os PCN´s, elaborados pelo Ministério da Educação com apoio de diversos especialistas, sendo de grande utilidade não só para implantação dos conteúdos de sexualidade e saúde reprodutiva, mas também na discussão de princípios democráticos como a dignidade da pessoa humana, a igualdade de direitos, a participação e a co-responsabilidade social (Brasil, 1997). Assim, a proposta é a de que os temas meio ambiente, ética, pluralidade cultural, trabalho e consumo, educação sexual, devam ser tratados de forma transversal, isto é, poderão ser abordados a qualquer momento e por todas as disciplinas (Brasil, 1997). Neste documento, a sexualidade é tratada como algo que faz parte da vida e da saúde de todas as pessoas e que se expressa do nascimento até a morte, relacionando-se com o direito ao prazer e ao exercício da sexualidade com responsabilidade, englobando as relações entre homens e mulheres, o respeito a si mesmo e ao outro e às diferentes crenças, valores e expressões culturais existentes numa sociedade democrática e pretendendo contribuir para a superação de tabus e preconceitos que ainda existem no contexto sociocultural brasileiro e que, de alguma maneira, dificultam o exercício da cidadania (Brasil, 1997). Assim, o tema da Educação Sexual foi dividido nos seguintes blocos de conteúdo: Corpo - Matriz da Sexualidade; Relações de Gênero e Prevenção das DST/Aids. Sendo assim, Os PCN´s (Brasil, 1997) citam que a Orientação Sexual deve ser abordada  de duas formas, quais sejam: dentro da programação, por meio dos conteúdos, ou seja, transversalizados nas diferentes áreas do ensino; e extra programação, sempre que surgirem questões relacionadas ao tema. Desse modo, os blocos de conteúdos propostos para o Ensino Fundamental abarcam três eixos fundamentais que devem nortear toda e qualquer intervenção do professor ao abordar o tema em sala de aula, que são: O corpo: matriz da sexualidade, tratado como um todo integrado em suas funções biológicas, afetivas, perceptivas e de relação social; as relações de gênero, no sentido das representações sociais e culturais construídas a partir da diferença biológica dos sexos; a prevenção às Doenças Sexualmente Transmissíveis/AIDS, com ênfase na prevenção e na saúde, e não nas doenças, a fim de não vincular a sexualidade à doença ou à morte. Esses conteúdos apresentados pedagogicamente flexíveis, de forma a abranger as necessidades específicas de cada turma, a cada momento. Para tanto, o documento propõe que a relevância sociocultural deva ser um critério de seleção dos conteúdos e que os professores, ao abordá-los nas escolas, levem em consideração as dimensões biológicas, culturais, psíquicas e sociais, pois sendo a sexualidade uma construção humana, esta se encontra marcada pela história, pela cultura, pela ciência, assim como pelos afetos e sentimentos, expressados com singularidade em cada sujeito (Brasil, 1997). Nesse sentido, o trabalho denominado pelos Parâmetros Curriculares Nacionais de Orientação Sexual (Brasil, 1997), visa preencher lacunas nas informações que as crianças e jovens apresentam, proporcionando informações atualizadas, do ponto de vista científico, dando-lhes a oportunidade de formarem opiniões do que lhes é apresentado, desenvolvendo atitudes coerentes com os valores que eles elegerem como seus, ampliando os conhecimentos a respeito da sexualidade humana, combatendo tabus, preconceitos, abrindo espaços para discussões de emoções e valores, elementos fundamentais para a formação dos indivíduos responsáveis e conscientes de suas capacidades. Os PCN’s (Brasil, 1997:120) mostram que o trabalho de Orientação Sexual pode ser desenvolvido desde quando a criança entra na escola, ou melhor, desde a alfabetização e se desenvolve ao longo de toda a seriação escolar. Na verdade, não existe uma faixa etária pré-determinada para que se desenvolva esse trabalho, pois as manifestações da sexualidade infantil ocorrem desde muito cedo e são inerentes ao desenvolvimento humano. Suas expressões mais freqüentes acontecem na realização de carícias no próprio corpo, nas curiosidades sobre o corpo do outro, nas brincadeiras com colegas, nas piadas, entre outras. Essas manifestações também ocorrem no âmbito escolar e é necessário que a escola, enquanto instituição educacional, posicione-se clara e conscientemente sobre as referências e limites com os quais deve trabalhar as expressões da sexualidade da criança. Conforme Nunes & Silva (200:51/2) Não é necessário despejar um caminhão de informações à criança . Porém, o que não pode ser justo é não satisfazer suas curiosidades com franqueza à medida que elas forem surgindo. É importante conversar com as crianças numa linguagem que elas dominem e que possam entender.(...) Enfim, é necessário ter respeito à sexualidade infantil, o que significa respeitar a criança como um ser humano completo em capacidade de amar. A proposta defendida pelos PCN’s (Brasil, 1997) para o Ensino Fundamental visa contribuir para que crianças e jovens possam desenvolver e exercer sua sexualidade com prazer e responsabilidade, visando à promoção do bem-estar sexual, pautando-se sempre pelo respeito por si e pelo próximo, buscando garantir a todos direitos básicos, como: saúde, informações e conhecimento, elementos indispensáveis na formação de cidadãos responsáveis e conscientes de suas capacidades. A Orientação Sexual como tema transversal proposto pelos PCN’s deve ser entendido como um processo de intervenção pedagógica, cujo objetivo é transmitir informações, problematizar questões e ampliar o leque de conhecimento e opções referentes à sexualidade, incluindo posturas, ideologias, crenças e tabus, propiciando debates e discussões a ela relacionada, para que o próprio aluno escolha seu caminho (Brasil, 1998). Os Parâmetros apontam uma transformação na prática pedagógica, pois rompem a limitação da atuação dos educadores às atividades formais e ampliam um leque de possibilidades para a formação do educando (Brasil, 1997). Portanto, a Orientação Sexual destinada ao Ensino Fundamental que os PCN’s denominam de Orientação Sexual, busca preencher lacunas nas informações que as crianças e jovens apresentam, proporcionando informações atualizadas do ponto de vista científico, dando-lhes a oportunidade de formarem opiniões do que lhes é apresentado, desenvolvendo atitudes coerentes com os valores que eles elegerem como seus, ampliando conhecimentos a respeito da sexualidade humana, combatendo tabus, preconceitos, abrindo espaços para discussões de emoções e valores, elementos fundamentais para a formação de indivíduos responsáveis e conscientes de suas capacidades (Brasil, 1997). Assim sendo, o trabalho de Orientação Sexual constitui um processo formal e sistemático, o que envolve um espaço no currículo escolar. Isto quer dizer que como todo e qualquer processo educativo apresenta efeitos e resultados demorados, muitas vezes só são observados em longo prazo (Pauliv, 1999). Desta feita, cabe à escola abrir um canal para o debate permanente com crianças e jovens acerca das questões relacionadas à sexualidade, como bem explicita o próprio PCN (1997:122), vez que esse tipo de trabalho exige planejamento e intervenção por parte do profissional de educação, pois não deve limitar-se à veiculação de informações de caráter puramente biológico, ou preventivo, no que se refere somente ao controle das doenças sexualmente transmissíveis, abuso sexual, gravidez e outros inconvenientes sociais, mas, do contrário, devem incluir um questionamento mais amplo sobre o sexo e seus valores, seus aspectos preventivos para o indivíduo como forma de exercício da cidadania. Desta forma, deve-se salientar que a participação dos pais também é fundamental no processo de Orientação Sexual, pois incentiva o processo de co-responsabilidade. O fundamental é desenvolver um trabalho educativo positivo de valorização humana, mesmo que limitado o seu alcance, através de uma intervenção pedagógica adequada que possibilite a todos, capacidades de escolhas. Com isso, a Orientação Sexual na escola deve ser trabalhada de forma contínua e integrada, uma vez que seu estudo remete à necessidade de se recorrer a um conjunto de conhecimentos relativos a diferentes áreas como: História, Antropologia, Sociologia, Biologia, Psicologia e outras mais. Além disso, ela deve ocorrer num âmbito coletivo, diferenciando-se de um trabalho individual de cunho psicoterapêutico (Pauliv, 1999). Assim, a escola, neste sentido,  na observação de Gaddotti (2000:41) "(...) precisa atuar num cenário policultural numa época de globalização da economia e das comunicações, de acirramentos das contradições inter e intrapovos e nações, época do ressurgimento do racismo e de certo triunfo do individualismo" necessitando, portanto, de uma educação, uma ética e uma cultura da diversidade. Tal colocação chama a atenção para que nesse contexto global, duas dimensões, a seu ver,  devem ser destacadas, dentre as quais, a dimensão interdisciplinar, experimentando a vivência de uma realidade global que se inscreva nas experiências cotidianas do aluno, do professor e do povo, articulando o saber, o conhecimento, a vivência, a escola, a comunidade, o meio ambiente, que é o objetivo da interdisciplinaridade traduzida na prática por um trabalho escolar coletivo e solidário; e uma dimensão internacional, engajando as crianças e adolescentes para viver no mundo da diferença e da solidariedade entre diferentes, preparando o cidadão para participar de uma sociedade planetária, sendo local, como ponto de partida, internacional e intercultural como ponto de chegada (Gadotti, 2000). Assim, a escola precisa fazer a síntese entre continuidade e ruptura em relação à cultura de massa, partindo para respeitar a identidade cultural das crianças e adolescentes populares (Gadotti, 2000). Neste sentido, Zabala, (2002) defende a idéia de que os educadores devem oferecer um ensino significativo e dinâmico para seus alunos, a partir de um prática interdiciplinar, pois, se a educação é o meio para promover e conduzir as pessoas a um maior e melhor conhecimento da vida, e para o desenvolvimento de maiores habilidades, no sentido de resolver problemas, não se pode acomodar e comungar com situações onde o aluno busca apenas a capacitação ou a formação para o trabalho, ou para a ascensão a níveis cada vez mais elevados de formação, sem interesse real por uma aprendizagem integrada acerca dos vários saberes escolares. É a partir disso que Zabala (2002:39) defende que: Em síntese, podemos dizer que, ao organizar os conteúdos de aprendizagem e ensino, podemos partir de modelos nos quais não existe nenhum tipo de relação entre os conteúdos das diferentes disciplinas (multidisciplinaridade); de modelos nos quais se estabelece algum tipo de relação entre duas ou mais disciplinas (interdisciplinaridade) e, inclusive, de modelos nos quais a aproximação ao objeto de estudo realiza-se prescindindo da estrutura por disciplina (metadisciplinaridade) e cujo desenvolvimento didático é abordado sob um enfoque globalizador. Neste caso, a multidisciplinaridade é um conceito que pode ser compreendido como aquele que considera organização do ensino e a prática pedagógica exercida na educação tradicional. Neste contexto a organização dos conteúdos ocorre de forma independente, ou seja, não há relação entre os conteúdos e as diferentes disciplinas (Zabala, 2002). Já a pluridisciplinaridade é um termo que aponta para relação entre disciplinas mais ou menos afins. Enquanto que a interdisciplinaridade pode ser compreendida como a relação entre duas ou mais disciplinas e que referenda a transferência de conceitos de uma disciplina para outra podendo ainda proporcionar a formação de um novo conjunto de conceitos, portanto, de um novo corpo disciplinar (Zabala, 2002). No caso da transdiciplinaridade esta é conceituada por Zabala, (2002:28-33) como o “grau máximo de relações entre disciplinas, de modo que chega a ser um integração global dentro de um sistema totalizador”. Ou seja, permite uma interpretação unificada do conteúdo trabalhado e explica a realidade sem fragmentá-la. E mais, de acordo com Zabala (2002: 28): “Nessa ação, para conhecer ou realizar alguma coisa, o estudante precisa utilizar e aprender uma série de fatos, conceitos, técnicas e habilidades que têm correspondência com matérias ou disciplinas convencionais, além de adquirir uma série de novas atitudes”. Finalmente, a metadisciplinaridade é compreendida como uma abordagem que não referenda nenhuma relação entre as disciplinas, ou conteúdos. Cada disciplina se desenvolve isoladamente das demais que compõem o currículo escolar. (Zabala, 2002). Dessa forma, a Orientação Sexual oferecida pela escola deve abordar as diversas mensagens transmitidas pela mídia (TV, revistas, rádio etc.), família, amigos, escola e sociedade, auxiliando o aluno a encontrar um ponto de auto-referência por meio da reflexão. Enfim, objetivo geral de um trabalho de Orientação Sexual é permitir que crianças e adolescentes entendam a sexualidade como um aspecto positivo da vida humana, propiciando-se a livre discussão de normas e padrões de comportamento em relação ao sexo e o debate das atitudes pessoais frente à própria sexualidade (Pauliv, 1999) Sendo assim, o papel da escola é o de promover debates entre os alunos, fornecendo informações claras e objetivas. A função da escola não é dizer o que é “certo” ou “errado”, mas preparar o aluno para discriminar o que é biológico, o que vem da cultura, das classes sociais a que pertence, levando-o a assumir responsabilidades. Cabe, portanto, aos pais se posicionarem claramente sobre o que consideram importante para seus filhos. Os Parâmetros (Brasil, 1997), deixam claro que a função da escola é transmitir informações e problematizar questões relacionadas à sexualidade, contribuindo para o desenvolvimento de atitudes e valores baseados nos direitos humanos, nos relacionamentos de igualdade, no bem-estar social e no respeito entre as pessoas. É com essa intenção que os PCN’s (Brasil, 1997:123) prescrevem: (...) Se a escola que se deseja deve exercer uma ação integradora das experiências vividas pelos alunos, buscando desenvolver o prazer pelo conhecimento, é necessário que ela reconheça que desempenha um papel importante na educação para a sexualidade ligada à vida, à saúde, (...) que integra as diversas dimensões do ser humano. Assim sendo, a função da escola é a de complementar o que o aluno traz de casa, suprir lacunas, combater preconceitos e rever conceitos distorcidos. É com esse pensamento que Sayão (1997:100) comenta que: “(...) Não há dúvida alguma de que a escola desempenha um função na educação sexual de seus alunos. O grande problema é que os seus representantes diretos entre os jovens, os professores, nem sempre se dão conta disso em suas ações individuais e/ou coletivas.” A escola é um espaço que formaliza o conhecimento, promove e facilita a aprendizagem sobre o mundo. Ela é um espaço de convivência social, amorosa e emocional seja da criança e/ou do adolescente, onde permanecem grandes partes de suas vidas.
PAPEL, O PERFIL E A PRÁTICA DOCENTE NA ORIENTAÇÃO SEXUAL – A prática pedagógica tem sido requerida pelas exigëncias atuais que seja desenvolvida com competëncia e qualidade, objetivando a integração e a inclusão. Com isso, entende-se que o professor é o sujeito do processo de produção do conhecimento e uma referência para o aluno, tendo em vista o seu papel na construção do conhecimento, na formação de atitudes e valores do futuro cidadão que se forma dentro de uma sala de aula. Neste tocante, é importante que o docente esteja desenvolvendo o exercício constante de reflexão e o compartilhamento de idéias, sentimentos e ações, acompanhado do aprimoramento e atualização dos seus conhecimentos e formação, que seja capaz de se conceber como agente de mudanças do contexto social, com uma atuação comprometida com as condições da escola e com a qualidade de sua formação acadêmica, evitando os efeitos insatisfatórios das práticas docentes perante a complexidade e impulsionando a busca de novos saberes que, ao se cruzarem podem emitir sinais para a melhor compreensão da escola e da prática nela realizada (Reato, 2001). Nesta tarefa, o professor vai enfocando o processo de desenvolvimento com o objetivo próprio do processo de reconstrução e reconstituição da experiência, caminhando na direção da melhoria do processo permanente da eficiência individual. É preciso, então, entender que a prática do professor, embora individual, sempre estará carregada das condições político-sociais e institucionais, acompanhada sempre da compreensão do contexto, numa visão mais ampla e alargada que deve estar presente na reflexão sobre sua prática, além de seus esforços objetivando uma mudança de prática individual que se articule com a mudança de sua situação profissional. Assim, à medida que reflete sobre a sua ação, sobre sua prática, sua compreensão se amplia, ocorrendo com análises, críticas, reestruturação e incorporação de novos conhecimentos respaldando o significado e a escolha de ações posteriores, sempre com o questionamento intrínseco de se saber por que ensina, para que ensina, para quem e como ensina, ou seja, o professor precisa refletir sobre os objetivos e as conseqüências do seu ensino desde a formação, robustecido das qualidades essenciais na capacidade de solidarizar-se com os educandos, a disposição de encarar dificuldades como desafios estimulantes, a confiança na capacidade de todos de aprender e ensinar, conhecendo os educandos, suas expectativas, cultura, características e problemas e suas necessidades de aprendizagem, buscando conhecer cada vez melhor os conteúdos a serem ensinados, atualizando-se constantemente. Mediante isso, é preciso que professor tenha sempre em mente a necessidade de refletir permanentemente sobre sua prática, buscando os meios de aperfeiçoá-la, com uma especial sensibilidade para trabalhar com a diversidade, favorecendo a autonomia dos educandos, estimulando-os a avaliar constantemente seus progressos e suas carências, ajudando-os a tomar consciência de como a aprendizagem se realiza. Em sua prática, é preciso que se mantenha altivo e flexível na condução de discussões,  tornando-se relevante os aspectos de levantar problemas e questões desafiantes que levem o grupo discutir e trazer à tona às informações contidas na aula; recuperando conhecimentos, assuntos e temas já vistos em etapas anteriores, fazendo conexões entre informações e conceitos; estabelecendo relações com outras áreas de conhecimentos; contrapondo as hipóteses diferentes dos alunos, fazendo com que eles defendam seu ponto de vista e argumentem a favor dele utilizando textos e materiais que sirvam de fonte para intermediar a discussão; trazendo e comparando hipóteses iniciais apresentadas pelos alunos com as informações posteriormente pesquisadas e analisadas nos diversos materiais pesquisados;  apresentando e analisando o mesmo fenômeno ou fato a partir de diferentes interpretações ou pontos de vista; fazendo generalizações procurando articular diversas informações; problematizando para que os alunos possam apresentar novas hipóteses. Assim sendo, conforme Aquino (1997), Vitiello (1997) e Suplicy et al (1999), não existe uma exigência profissional específica para alguém exercer o papel de orientador sexual. No entanto, esses estudiosos acreditam que a escolha mais adequada tem sido o próprio professor ou professora, de preferência aquele ou aquela que tenha maior empatia pelo aluno e que esteja em sintonia com a sua linguagem, de tal forma que seja capaz de exercer autoridade com afetividade e não com autoritarismo. Isso leva a entender que é o professor que convive com seus alunos, muitas vezes diariamente, que conhece a forma como vivem em grupo, seus conflitos etc. Não é necessário, assim, que seja um professor de Ciências, pois se tratando da sexualidade, o conhecimento do corpo é importante, mas insuficiente para  mudança de práticas e atitudes. Além disso, não garante que o professor de Ciências tenha atitude e postura para ser um bom Orientador Sexual. O que deixa como importante é que este professor ou professora tenha abertura e receptividade como os alunos e interesse pelo tema. É necessário portanto, que o educador ou educadora ao trabalhar a Orientação Sexual na escola tenha capacidade de rever sua postura e seus conhecimentos constantemente. Isto porque o orientador sexual é acima de tudo um educador que observa e reflete para o grupo as diversas opiniões para que cada indivíduo se torne capaz de ser sujeito de seu desenvolvimento emocional e sexual. Neste sentido, Vitielo (1997:104), coloca que: O professor ideal é aquele que normalmente é o mais procurado pelos alunos para um conselho, ou um esclarecimento, qualquer que seja a disciplina que ele habitualmente ministre, pois, o simples fato de ser alvo de confiança dos jovens, já demonstra possuir credenciais que o capacitam para exercer a atividade de educador sexual devendo apenas ser adequadamente treinado. Deve ainda estar ele bem adequado com sua sexualidade, tendo a coragem de desafiar seus próprios tabus e preconceitos, reconhecendo suas próprias falhas. Nesse sentido, o orientador sexual ideal é aquele que está aberto para questionamentos e predisposto a mudanças, a escutar o aluno, reconhecendo seus limites, pois estes deverão ser encorajados a expressar suas idéias e opiniões sem ter que dar depoimentos pessoais. Nesta mesma direção Ribeiro (1990:33) observa que: O orientador sexual, por sua vez, deverá ter uma formação específica e distinta, de maior duração, envolvendo aspectos desde conhecimentos teóricos a serem transmitidos, até a aquisição de atitudes positivas e sadias em relação à sexualidade, sua própria e de outrem, e da capacidade de tratar com naturalidade as questões que serão abordadas. E o critério de seleção indispensável é que o ‘candidato’ esteja interessado na temática e se sinta à vontade para falar de sexo.  Desse modo, as principais características do professor facilitador do trabalho de Orientação Sexual são: disponibilidade em lidar com o assunto e o compromisso de estar atualizado com as informações referentes à sexualidade, bem como sobre os recursos a serem usados pelos alunos. Por esta razão, o educador deve garantir o respeito às diferenças, que é condição fundamental na viabilização do trabalho de Orientação Sexual. Além disso, é preciso garantir a ética no trabalho por parte dos alunos e do professor; bom senso; facilidade em dirigir dinâmica de grupo; desejo por conhecimento do assunto; bom relacionamento com os alunos e tranqüilidade em relação à sexualidade são algumas das condições necessárias ao orientador. Nesta mesma linha, Suplicy et al (1998:33) observa que: O papel do educador não é de impor a conformidade a um determinado tipo de padrão de comportamento, mas sim o de proporcionar novos conhecimentos, estimular o questionamento do que se sabe e proporcionar o intercâmbio de opinião que levem às decisões individuais. O educador deve propiciar o crescimento através da busca da verdade. Se o educador se propuser a ensinar o “certo” e o “errado” ele se colocará na posição de dono da verdade. Em suma, o que se quer dizer é que qualquer professor ou professora poderá exercer esse papel, desde que tenha abertura receptiva para o grupo e interesse pelo tema, despertando e encorajando o educando a buscar apoio quando necessário e a participar como protagonista de sua própria história.

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