sexta-feira, fevereiro 15, 2008

ANAÏS NIN, KHAYYAM, CÂMARA CASCUDO, BENTHAM, FLORIANO TEIXEIRA, SCHIRATO & FECAMEPA



 
A arte do pintor, desenhista, gravador e cenógrafo Floriano Teixeira (1923-2000).


FECAMEPA E A INDEPENDÊNCIA DE QUEM?- Imagem: O grito do Ipiranga, de Pedro Américo (1888). -  Então, pessoal, vamos ao teitei. Tataritaritatá! Pois é, tudo no Brasil é um embolado de coisas, maior cantiga de grilo: o tempo todo. Tanto é que se a gente for buscar a causa de cada coisa, com certeza, vai se deparar na causa da causa da causa da causa da causa e a última que se imagine que seja, será inacessível de se chegar de tão emaranhada que chega a ser. Eita! Quer dizer que a corda-de-guaiamum do enganchamento de tudo com todas coisas, traz só a comprovação de que tudo aqui é empurrado com a barriga do desdém e, depois estatelado num amontoado da gota, fica enrolado de tuim de num ter quem obre o milagre de desatar o nó. Arre, égua! Oxente, bichim! Para entender o advento da dita independência do Brasil, é preciso voltar um pouquinho mais no tempo, nas antecedências. Pois é, em antanho, desde que a família real chegou no Brasil que uma banda dos aquinhoados, a do centro-sul, vivia de paparicado e gozando das benesses. Mas a outra do Norte e Nordeste e demais regiões não alcançadas pelas mordomias, comia o farelo do pão que o diabo amassou. E o pior: pagando a conta e o pato. Pode? Além disso, um processo de recolonização se desenvolvia entre os invasores aqui aboletados, que azoadamente metiam mãos pelas pernas, com seus requintes fedorentos provocando o aumento dos para sustentá-los no luxo, tudo para cobrir as despesas da Corte e marcando a exploração e opressão que os portugueses da nova Lisboa deixavam rolar. E, com isso, a insatisfação se espalhava como praga ruim de todo mundo querer se ver livre de Portugal loguinho e já, gerando um antilusitanismo que nasceu na Guerra dos Mascates e vinha remoendo por dentro. Indubitavelmente, isso vai dar na revolução de 1817 que ocorreu por causa do declínio da cana-de-açúcar, da influência da maçonaria, das idéias liberais, da independência das colônias espanholas na América do Sul e dos Estados Unidos. A insurreição finda na proclamação da república de Pernambuco, com governo provisório abolindo impostos, elaborando uma constituição assentada na liberdade e igualdade para todos perante a lei. Maior espalha-brasa vai se estendendo pelo Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. Tome pé. No meio disso, eis que surge o combate entre as tropas do rei e os insurretos, durando dois meses de rasga-bucho, misturando reações anti-revolucionárias que vieram com tropas da Bahia, juntamente outras oriundas de Alagoas, Paraíba e Rio Grande Norte, reprimindo dura e violentamente simpatizantes e suspeitos, até todos os líderes estarem dominados e condenados à morte. Findada, todos os rebeldes executados e todos os aliados foram brindados com a distribuição de benesses, incluindo Alagoas que até então pertencia a Pernambuco, agora passava a ser a Capitania de Alagoas. Há de convir que a bronca não só estava restrita ao espaço nordestino, uma vez que havia uma briga de foice nas altas esferas do palácio real, que envolviam 3 correntes que deixavam D. João VI zarolho e mais doido que cego em tiroteio: uma que era a favor do conluio com a Espanha, outra que exigia a volta do rei e, aindoutra, dos que pensavam em derrubá-lo do trono. Inclusive, ele já desconfiava que o filho e o conde dos Arcos tramavam destronar-lhe. Aí a sinuca-de-bico: ou adotava a constituição espanhola, ou dava um nó e empenava a coisa por aqui. Deixava. Acontece que a farra acontecia dos dois lados. De um, os baba-ovos na festança provocando o povo que queimava os bonecos dos que se opunham a permanência do rei, nascendo, então, a tradicional festa da malhação de Judas em pleno sábado de aleluia; na outra ponta, os sabidos lusos se aproveitavam enquanto os outros se estranhavam nas mesquinharias da luta pelo poder e esvaziavam os cofres públicos e do Banco do Brasil. Afanagem braba mesmo! Como a coisa ia mais para nem lá, nem loa, o fuzuê deu, então, na revogação da constituição espanhola com uma porretada de rei sendo instituída a regência confiada ao príncipe, para que ele arribasse se mandando com o rabinho entre as pernas de regresso a Lisboa, levando seus 3 mil cortesãos dilapidadores que rasparam todo dinheiro - calcula-se que 50 milhões de cruzados —, ouro e diamantes do Brasil, deixando lisas até as caixas de fundos de caridade e beneficência. O Banco do Brasil, cré cré, espatifou-se, tei bei! Sifu. Iiiiiih! O liseu brilhava, hehehehehehe! O cenário dava conta da independência de toda América espanhola contra o Absolutismo, enquanto entre nós, a coisa seguia o continuísmo com a monarquia constitucional. O pior é que a coisa estava mais para zona mesmo, porque em Minas, havia o sonho de uma república sem lei nem escravos, talqualmente aquela idealizada por Tiradentes. Na Bahia, outra sem desigualdade de classe ou raça, com os sonhos dos alfaiates sacrificados em 1799. Em Pernambuco, o sonho dos patriotas de 1817 com a emancipação política de justiça social. E no Maranhão que havia se desvinculado do governo geral, seguido depois pela Bahia e pelo Pará, a coisa andava mais para lá que para cá. Era sonho que não era brinquedo. Mas o negócio pegava fogo! Para embananar tudo, um decreto das Cortes de Portugal, em 1821, determinava a abolição da regência e o imediato retorno de D. Pedro a Portugal, exigindo a obediência das províncias a Lisboa e a extinção dos tribunais do Rio de Janeiro. Era a recolonização iminente. Êpa! Assim não dá, fala sério! Vem, então, o Clube da Resistência que advoga a permanência do príncipe que, enfim, decidiu desobedecer às ordens das Cortes e permanecer no Brasil: era o Fico. E ficou mesmo. Bem ou mal, vai crescendo o movimento para que o país não se sujeite a retroceder à condição colonial. A coisa engrossa, pois, de um lado, está os Andradas; de outro, o Feijó e as catilinárias antiandradinas. O pau come. Bafafá medonho. Até chegar no dá, ou desce. E D. Pedro foi ficando no meio da união entre os proprietários rurais fluminenses, paulistas e mineiros, ao lado dos burocratas e comerciantes portugueses e brasileiros, para ir rolando até dá no que deu. Aí o pau cantou e a 6 de gosto o Brasil estava independente de Portugal com o manifesto do príncipe regente dirigido aos governos e nações amigas. Isso por causa de uma caganeira da peste que lhe assou o procto e deu nos nervos. E em 7 de setembro, uma data ilustrativa, a coisa, pelo menos, não virou conversa para boi dormir. Mas pra enrolança, deu. Tudo foi se arrumando truculenta e acidentalmente até 12 de outubro de 1822, quando D. Pedro, de saco cheio e mordido do porco, foi aclamado e em 1º. de dezembro do mesmo ano tornou-se o primeiro imperador do Brasil. Foi trupé. E teve guerra ainda. É, foi a guerra da independência que prosseguiu até 1823, com apoio da Inglaterra (por que será, hem?), comandada por dois veteranos das campanhas de libertação da América espanhola: general Pedro Labatut e almirante Cochrane. O buruçu engrossa no meio da pacutia, dando com o rompimento entre os Andradas e D. Pedro que, virado na gota, dissolve a constituinte e vira o cão chupando manga. Aí, fodeu Maria-preá, né? Bem, a coisa vai mais ou menos desembestadamente, mas vai. No frigir dos ovos, essa independência mesmo só serviu sabe para quê? Afinal, conforme Caio Prado Júnior, a independência fora não mais que "arranjo político", implicando numa acirrada luta social. Além de, ainda, ser vista como fruto mais de uma classe que da nação tomada em conjunto, ou seja, obra do compromisso entre o conservadorismo da aristocracia rural e o absolutismo do príncipe. E, também, como anotou a historiadora Isabel Lustosa, serviu mesmo para cumprir um acordo assinado com uma cláusula secreta onde o Brasil saldava as dívidas de Portugal com o pagamento de 1,4 milhão de libras esterlinas à Inglaterra. Eita, independenciazinha cara da praga, hem?! Foi com isso que eles devolveram pra gente a chacota de que chapéu de otário é marreta! Mas vamos à República, aprumando a conversa & tataritaritatá, tá?!!!! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.


PENSAMENTO DO DIAA natureza colocou a humanidade sob o governo de dois mestres soberanos: a dor e o prazer. Compete somente a eles apontar o que devemos fazer, assim como também determinar o que não devemos fazer. Pensamento do filósofo e jurista Jeremy Bentham (1748-1832).

PENSAR & FILOSOFAR – [...] Essa atitude de espanto, de impulso para compreender melhor, de perguntar, de questionar fundamentalmente, nos conduz ao exercício de filosofar. Isto é filosofar: perguntar, questionar, não parar diante do evidente e do simplesmente óbvio. Ir além, ir além da aparência fenomênica dos fatos. Ir além com a certeza de encontrar a verdade, a essência das coisas, o ser... A filosofia não teria espaço num mundo onde todas as coisas nos parecessem evidentes, onde nada nos causasse espanto, onde tudo fosse “muito natural”. Provavelmente não sofreríamos a angústia do desconhecido, mas também não sentiríamos o prazer de desbravar. Se o mistério nos assusta, nos amedronta, nos intimida muitas vezes, nos deixa ansiosos justamente pelo desconhecido de que está carregado, é ele também quem nos atrai, nos convida a ir além, nos estimula a descobrir, a desvendar, a conhecer. [...]. Trecho extraído da obra Iniciação à filosofia (Moraes, 1987), da professora Maria Aparecida Rhein Schirato.

AS TRÊS CIDRAS DE AMOR - Um príncipe andava a caçar quando encontrou uma velha carregando, a gemer, um molho de varas, tão pesado que ia caindo pela estrada. O príncipe parou e pediu à velha que o deixasse ajudar, e levou o feixe de varas até uma encruzilhada onde a velha se despediu e lhe deu três cidras, maduras e belas, dizendo que só as abrisse perto dágua corrente. Vai o príncipe e, tendo sede, cortou uma fruta e logo lhe apareceu uma moça bonita como os amores, pedindo água: — dê-me água que morro! Não havia água e a moça encantada desapareceu. O príncipe ficou triste e muito para adiante, apertando-lhe a sede abriu a segunda cidra e viu outra moça ainda mais linda que a primeira, pedindo de beber: — dê-me água que morro! Não havia água por perto e a segunda moça desapareceu. O príncipe resolveu suportar a sede até o rio onde sentou-se à margem e cortou a última cidra. Surgiu uma moça muito mais formosa que as duas. — Dê-me água que morro! O príncipe, não tendo com que a tirar do rio, já enchera seu chapéu e lho deu. A moça bebeu, suspirou e disse que estava desencantada. O príncipe estava sem acreditar nos olhos e não podendo levar a moça, porque estava sem roupa, deixou-lhe a capa para cobrí-la e mandou-a subir a uma árvore que ficava mesmo à beira do rio. Correu quanto pode para o palácio afim de trazer roupa para quem ia ser sua mulher. Quando o príncipe foi embora, veio uma escra-va i negra do palácio buscar agua. Baixou-se para o rio e viu o rosto da princesa refletido- nágua; pen-sando que era o próprio, sacudiu o cântaro nas pedras, espatifando-o: — Uma moça com uma cara tão linda carregando água? Não pode ser! A moça, escondida no galho da árvore, desatou a rir e a negra, levantando a vista, descobriu-a: — Ah! E’ a senhora que me fez quebrar meu cântaro? Desça para cá; quero pentear-lhe os cabelos. A moça, inocente como era, desceu e deitou-se perto da negra, pondo a cabeça no regaço da escrava. Depressa a negra, que sabia feitiçaria, tirou um alfinete envenenado do vestido, e enterrou-o na cabeça da moça que, imediatamente, se tornou numa pombinha e saiu voando por aí fora. Depois a negra subiu para a árvore e ficou como se fora a princesa. 0 príncipe voltando encontrou aquela preta feia e foi perguntando quem era e onde estava sua noiva. A negra respondeu que a noiva era ela mesma, que ficara escura por que o sol*a queimara. O príncipe acreditou e levou a negra, de carruagem, para o palácio, mandando preparar as festas para o casamento. Um jardineiro reparou que todas as tardes voava uma pombinha pelo jardim, pousando num galho. Uma vez, estando a olhá-la, a pombinha perguntou: — Que faz o príncipe Com sua senhora? O jardineiro respondeu: — Ela ri e êle chora! Três vezes a pombinha voltou e repetiu a can tilena. O jardineiro foi contar ao príncipe o que vira e este mandou armar um laço bem feito para pegar aquele passarinho encantado. Quando a pombinha voltou para o galho onde estava armado o laço, perguntou: — Que faz o príncipe Com sua senhora? O jardineiro respondeu: — Ela ri e êle chora! A pombinha deu um suspiro e ia voando mas embaraçou-se no laço e ficou presa. O jardineiro levou-a ao príncipe que a achou linda e querendo agradar, passou-lhe a mão pela cabecinha e encontrou a cabeça do alfinete. Puxou-o e logo que o alfinete saiu a princesa apareceu como era, muito bonita, alva e loura. O príncipe só faltou morrer de alegria, apressou logo o casamento e mandou rasgar a negra por quatro cavalos bravos. Extraído da obra Os melhores contos populares de Portugal (Dois Mundos, 1944), do historiador, antropólogo, advogado e jornalista Luís da Câmara Cascudo (1898-1986). Veja mais aqui.

DELTA DE VÊNUS – [...] Caro colecionador: odiamos você. O sexo perde todo seu poder e magia quando se torna explícito, mecânico, exagerado, quando se torna uma obsessão mecanicista. Torna-se uma chatice. Você nos ensinou, mais do que qualquer pessoa que conheço, o quanto é errado não misturá-lo com emoção, ânsia, desejo, luxúria, lampejos de pensamento, caprichos, laços pessoais, relacionamentos mais profundos que mudam sua cor, sabor, ritmo, intensidade. Você não sabe o que está perdendo com o exame microscópico da atividade sexual e a exclusão dos aspectos que são o combustível que a inflama. O aspecto intelectual, imaginativo, romântico, emociona. É isso que dá ao sexo texturas surpreendentes, transformações sutis, elementos afrodisíacos. Você está reduzindo seu mundo de sensações. Você o está fazendo murchar, definhar, drenando o sangue dele. Se você nutrisse sua vida sexual com todas as excitações e aventuras que o amor injeta na sensualidade, seria o homem mais potente do mundo. A fonte do vigor sexual é a curiosidade, a paixão. Você está assistindo a essa pequena chama morrer por asfixia. O sexo não floresce na monotonia. Sem sentimento, invenções, variações de humor, nada de surpresas na cama. O sexo deve ser misturado com lágrimas, risadas, palavras, promessas, cenas, ciúme, inveja, todos os condimentos do medo, viagens ao exterior, novos rostos, romances, historias, sonhos, fantasias, música, dança, ópio, vinho. Quanto você perde com esse periscópio na ponta de seu sexo, quando poderia desfrutar de um harem de maravilhas distintas e nunca repetidas? Não existem dois cabelos igais, mas você não nos deixará gastar palavras na descrição do cabelo; não existem dois odores iguais, mas se nos estendermos nisso você gritará: corte a poesia. Não há duas peles com a mesma textura, e nunca a mesma luz, temperatura, sombras, nunca o mesmo gesto; porque um amante, quando estimulado por um amor verdadeiro, pode percorrer o conjunto de séculos de doutrina amorosa. Quanta amplitude, quantas mudanças de idade, quantas variações de maturidade e inocência, perversidade e arte... Ficamos sentados durante horas e nos indagamos qual é a sua aparência. Se você bloqueou seus sentidos para a seda, luz, cor, odor, caráter, temperamento, a esta altura você deve estar completamente encarquilhado. Existem tantos sentidos menores, todos afluindo como tributários para o fluxo do sexo, nutrindo-o. somente o pulsar unido do sexo e do coração pode criar êxtase. [...]. Trecho extraído de Delta de Vênus (Artenova, 1978), da escritora francesa Anaïs Nin (1903-1977). Veja mais aqui.

POEMA - Escuta. Podes sondar a noite que nos envolve. / Podes investir contra essa noite... não sairás dela! / Adão e Eva, quão atroz deve ter sido vosso primeiro beijo, / para que nos gerásseis desesperados!Poema do poeta, matemático e astrônomo persa Omar Khayyam (1048-1131). Veja mais aqui e aqui.


A arte do pintor, desenhista, gravador e cenógrafo Floriano Teixeira (1923-2000).




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