segunda-feira, outubro 29, 2007

ANA CRISTINA CÉSAR, JORGE DE LIMA, ARISTÓTELES, GOMBRICH, LAJOLO, MELLO JÚNIOR, WENDY ARNOLD, PLENILÚNIO, LITERÓTICA PREVISÕES DO ANO

 
A arte da pintora neozelandesa Wendy Arnold.
  
PENSAMENTO DO DIA - [...] Nossa dupla natureza, posta entre a animalidade e a racionalidade, encontra expressão naquele mundo geminado do simbolismo, com sua voltária suspensão da incredulidade. [...] Trecho artraído da obra Arte e ilusão: um estudo da psicologia da representação pictórica (Martins Fontes, 1995), do historiador da arte austríaco Ernest Hans Gombrich (1909-2001).

MUNDO DA LEITURA – [...] Ninguem nasce sabendo ler: aprende-se a ler à medida que se vive. Se “ler livros” geralmente se aprende nos bancos da escola, outras leituras se aprendem por aí, na chamada escola da vda: a leitura do voo das arribações que indicam a seca [...] independe da aprendizagem formal e se perfaz na interação cotidiana com o mundo das coisas e dos outros. Como entre coisas e tas outros incluem-se tambpem livros e leitores, fecha-se o circulo: lê-se para entender o mundo, para viver melhor. Em nossa cultura, quanto mais abrangente a concepção de mundo e de vda, mais intensamente se lê, numa espiral quase sem fim, que pode e deve começar na escola, mas não pode (nem costuma) encerrar-se nela. Do mundo da leitura à leitura do mundo, o trajeto se cumpre sempre, refazendo-se, inclusive, por um vice-versa que transforma a leitura em pratica circular e infinita. Como fonte de saber e de sabedoria, a leitura não esgota seu poder de sedução nos estreitos círculos da escola. [...] Trechos de Do mundo da leitura para a leitura do mundo (Ática, 1993), da ensaísta, pesquisadora, crítica literária, escritora e professora universitária Marisa Lajolo.

MUDANÇA TECNOLÓGICA – [...] Quando alguma mudança tecnológica [...] se anuncia, é comum que se crie certa comoção e que partidos se formem: há aqueles que refutam o novo denunciando suas falhas e inconsistências, reivindicando as qualidade do antigo; há outros que aderem apaixonadamente ao novo, considerando as críticas como ressentimento dos reacionários. E há finalmente aqueles que tentam entender o novo e quais são suas implicações no cotidiano de nossas vidas. [...] Escrever é registrar conhecimentos, formatar sensações, criar novas modalidades de entendimento, reinventar o mundo valendo-se da combinação infinita de poucas letras. Ler é atualizar o que foi escrito, mas não todo o conteúdo; quando lemos, nos apropriamos apenas de uma parte do texto; ao conteúdo apreendido, juntamos outros que vagamn nos desertos da memória, interpretamos e reinterpretamos o material apreendido e, ao finaldeste movimento [...] estaremos diante de um outro texto, recortado, dobrado sobre si, modificado. [...]. Trecho de O ebook e a revolução da leitura (Revista do Livro, 2002), do professor, editor e doutor em Comunicação Social, José de Mello Júnior.

O GRANDE DESASTRE AÉREO DE ONTEMVejo sangue no ar, vejo o piloto que levava uma flor para a noiva, abraçado com a hélice. E o violinista, emque a morte acentuou a palidez, despenhar-se com sua cabeleira negra e seu estradivárius. Há mãos e pernas de dançarinas arremessadas na explosão. Corpos irreconhecíveis identificados pelo Grande Reconhecedor. Vejo sangue no ar, vejo chuva de sangue caindo nas nuvens batizadas pelo sangue dos poetas mártires. Vejo a nadadora belíssima, no seu último salto de banhista, mais rápida porque semvida. Vejo três meninas caindo rápidas, enfunadas, como se dançassem ainda. E vejo a louca abraçada ao ramalhete de rosas que ela pensou ser o pára-quedas, e a prima-dona com a longa cauda de lantejoulas riscando o céu como um cometa. E o sino que ia para uma capela do oeste, vir dobrando finados pelos pobres mortos. Presumo que a moça adormecida na cabina ainda vem dormindo, tão tranqüila e cega. Ó amigos, o paralítico bem com extrema rapidez, vem como uma estrela cadente, vem com as pernas do vento. Chove sangue sobre as nuvens de Deus. E há poetas míopes que pensam que é o arrebol. Extraído da Obra Poética (Getúlio Costa, 1950), do médico, escritor, tradutor e pintor Jorge de Lima (1893-1953). Veja mais aqui.

POEMATenho uma folha branca / e limpa à minha espera: / mudo convite / tenho uma cama branca / e limpa à minha espera: / mudo convite / tenho uma vida branca / e limpa à minha espera: / Eu penso / a face fraca do poema / a metade da página partida / mas calo a face dura / flor apagada no sonho / eu penso / a dor visível do poema / a luz prévia dividida / mas calo a superfície negra / pânico iminente do nada. Poema extraído de Inéditos e dispersos (Brasilense, 1991), da escritora e tradutora Ana Cristina César – Ana C. (1952-1983). Veja mais aqui.

A ARTE DE WENDY ARNOLD
A arte da pintora neozelandesa Wendy Arnold.

LITERÓTICA


O PLENILÚNIO DO AMOR - (OU OS ARQUÉTIPOS DE LUCIAH) - Quisera eu, qual Tagore insone jardineiro, profanar por inteiro na penumbra da tua reclusa noite o teu riso luzidio esplendoroso, um riso salvador de rara beleza. E nesse riso ver-me viajor escravo com os sabres do meu desejo e a lança de hóspede invasor por teu decote sedutor e por todos os teus aposentos a serviço dos teus quereres e com palavras doces ao teu ouvido na alcova que irradia o azeite perfumado do teu leito. E todos os meus afazeres serão te servir, qual devasso Jung para empreenderes novas conquistas, enquanto revolvo todos os teus mantos de noiva vestal na festa nupcial. E sob os teus véus carregados de segredos eu me atreverei a ver-te toda nua na tua introversão e a povoar teus sentimentos e pensares para cobri-la e protegê-la com os meus beijos no plenilúnio dos teus seios. E vou recolher o orvalho de tua carne sedenta nas gemências dos teus quereres e como galardão tomarei para mim o que me deres qual mendigo que recolhe a oferta altruísta a explorar todos os ângulos, faces e lados de tua natureza alquímica. E assim farei emergir a lua nascente dos teus pés, para que eu proceda na tua individuação, alcançando o ouro do teu ser como Paracelso na libação do teu poder enérgico nos estremecimentos de fêmea no cio. E nos arrepios da tua púbis eriçada pecaminosa e forjada no calor da volúpia, empunharei meu dardo inexoravelmente rijo para sentir o eflúvio da flor do teu sexo, da rosa da tua vulva com todas as tuas experiências primordiais. E assim romperei tua noite cabalística por todas as mandalas emergentes do teu fogo inextinguível que brotará da febre inquietante para iniciar-me na saga de Eros e Tanatos, até sabê-la na viagem noturna do teu mar de Vênus e a descobrir das sombras dos teus temores e furores mais envolventes. E na madrugada gnóstica o meu fervor ibérico estará a postos para desvendar tuas mitologias mais estrepitosas e para o deleite de tua mais completa entrega insular. E quando o sol invadir os teus aposentos matutinos, beijarei tua carne, lamberei tua pele e te revirarei de bruços para cobrir-te do tornozelo às costas com a exploração de suas mais recônditas cercanias. E vou untar todo teu corpo com meu sêmen enquanto meu sexo percorre se esfregando por toda tua geografia e as minhas mãos inquietas e obscenas estarão no teu ventre a buscar do fogo e do sol a nascer do teu prazer e de todos os teus rios e mananciais. E até que te tenhas por inteira totalmente lambuzada pelo visgo do meu sexo, te entornarás ajoelhada com os punhos na minha oferenda e falará no meu falo, e nele fará flauta entre os lábios para exprimir dulcíssimas canções até que a minha serpente se torne prateada com a tua saliva. E que o veludo da tua língua e o calor da tua boca se fartem e me tenham sob o teu domínio a se irrigar de mim com o que há de explodir da minha mais frenética catarse até inundá-la corpo inteiro com minha seiva a escorrer-te até o ventre minado. E te apalparei para que minha sede cunilíngua te invada por toda hospedaria vespertina do teu gozo e te traga os encantamentos movediços e velozes das tuas raízes famintas com todos os folguedos dos meus desejos imorais no teu cântaro e nos teus viçosos caminhos. E quando o teu inspirador crepúsculo ensaiar uma nova entrega serei coroado com um novo gozo que me entronizará no prêmio da tua extroversão com todo o suspiro de tua voz no sonho interminável a repousar no teu infinito mistério. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui e aqui.

LITERÓTICA - O AMOR MAIS QUE DE REPENTE – (Imagem do pintor hiper-realista Juan Carlos Manjarrez.) Ela surgiu de repente com seus lábios carregados de paixão. E beijou-me pela primeira vez como se fosse nunca mais. Nem deu tempo para eu me dar conta de nada. Fui pego de surpresa, pudera, andava cabisbaixo com as desandadas da vida. A sua boca envolveu-me por inteiro, abarcou toda minha dimensão. E só me restava corresponder àquele momento de extrema satisfação. Jamais podia prever. E aconteceu como quem chegava pra ficar, a incendiar meus nervos, vísceras e alma. Arrepiado, senti o prazer do seu hálito a se apoderar de mim com toda fúria da sua tesão. Logo suas mãos percorreram minha intimidade e alcançou-me o membro rijo, agora por ela afagado e agarrado com carinho jamais sentido. Conferi-lhe as curvas com as minhas mãos errantes até alcançar-lhe o ventre, invadindo por baixo da saia, entre a calcinha a ter-lhe a vulva úmida entre os meus dedos, completamente apalpada pela minha mais louca sede de prazer. Contornando o meu sexo com as suas hábeis mão provocadoras, eu a lhe sentir a profundidade deliciosa de sua vagina requerente a me dizer de tudo o que é gozo e quereres. Dali, só as vestes no chão, ela com todas as poses de sua nudez e o orgasmo por salvação. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.

LITERÓTICA - A PAIXÃO DE ARISTÓTELES – Impossível conciliar ciência e coração. Há sempre a exigência de vinte e quatro horas de dedicação integral, por isso, não como manter uma convivência pacífica entre a Filosofia e a paixão, ambas são irreconciliáveis. Viver esse conflito é por demais doloroso, não há como colocá-los num mesmo balaio. Ou se mantém com a frieza do racional de forma obstinada nos objetivos, ou se entrega às raias da paixão cegamente. Ambos não se misturam. Por isso, a vida é inexorável: ninguém tem a capacidade de sair da zona de conforto para entender o labirinto. Não consigo projeção com minhas ideias, sou mais que ignorado, quando não ridicularizado. Além do mais, não sou belo aqui, só se valoriza a beleza física e atlética. Queria ascender na vida pública, mas não sou nada nessa cidade-Estado. Só há aceitação para Isócrates com os sofistas com suas explanações sobre a virtude e a pólis, seus seguidores, oradores, persuasão, retórica. Ou só se aceita a vigência do mestre Platão e a base da ação política, a investigação científica e a matemática. Ademais, só ouço Eudoxo falar de prazer e é o que todo mundo quer: somente ser feliz, nada mais. E que essa felicidade venha sem esforço, caída do céu e para se viver bem bom. Minha vida virou de pernas pro ar. Não tenho mais nada, nem o fundo do poço consigo enxergar, quanto mais perspectiva de saída. Se falo alguma coisa, não me entendem; sou preterido por todos, até a mulher que amo, me rejeita. Todos só ouvem o dizer platônico. Como ter tranquilidade para enfrentá-lo? Como ter firmeza para enfrentar a turba descrente? Na minha cabeça um conflito impera: a Filosofia e a mulher que amo. E isso me persegue desde Estagira e me sinto carregado com todas as lembranças as quais quero me libertar. Não havia mais espaço pra mim em Calcídica, como também agora em Atenas. Sou dúplice: helênico e macedônio ao mesmo tempo, ninguém entende. Sou apenas um estrangeiro aonde quer que seja, aqui, ou ali, ou alhures. Por isso, sou meteco aqui, apenas um estudioso que precisa de paz para pensar, isolado. Preciso ir para Assos, mas não tenho nem disposição para me locomover, quanto condições para andar noitedia mundo afora. Vinte anos em Atenas e nada por resultado, todas as coisas daqui já não me fazem mais bem. Preciso ir para Assos, lá posso ser melhor entendido no reino de Hérnias, apesar da sua tirania preponderante. Preciso de paz mas como consegui-la se minha cabeça quer o mundo e a Filosofia, e o meu coração clama por uma mulher que me recusa e que preciso dela, preciso saciar meus desejos, preciso amá-la e que ela me ame para que eu tenha paz e possa filosofar. Não consigo raciocinar com tudo isso. A peripatética se atrapalha com o meu desejo latente por ela, a necessidade que tenho dela para me reorganizar por inteiro, para apaziguar meu corpo e minha carne. Sem ela, o mundo não dá trégua. E pelo constante enfrentamento, estou sem forças, esvaziado, não consigo concatenar as ideias no meio desses embaraços todos. Ela poderia ser condescendente. Mas não e por isso não me concilio com a escolha de Espeusipo para o lugar do mestre na Academia. Ah, não há conciliação. Nada se concilia em mim, a dor do abandono. E ela que povoa todas as minhas ideias e pensamentos insiste em me repulsar, não me aceita, e eu aqui ardendo, precisando de paz e descanso nas suas sedutoras carnes. Preciso concluir os Tópicos, os argumentos sofísticos, a metafísica, a Ética a Nicômaco, a Poética, enfim, estou enlouquecendo, preciso prosseguir com meus estudos, não consigo, tudo é tão difícil. Perguntaram-me pela Poética, não sei mais, a única poesia que eu sei é quando ela se entrega nua a mim para fazermos nossa tragicomédia real, no teor mais profundo do gozo de todos os orgasmos. Mas nem isso tenho mais, estou desamparado, caindo em queda livre. Eu a quero e ela me rejeita, não posso conviver com isso. Ela só me dirige impropérios, enquanto eu preciso levantar a barra do seu vestido, vê-la a nudez deliciosa e empurrar-lhe meu desejo carne adentro, até me saciar e recobrar os sentidos para retomar a vida. Ela conseguiu arruinar minha cabeça, acabar comigo, me deixar no chão. Ela me tira do sério e me deixa doido varrido. A indiferença dela me queima e me causa desnorteios. Eu só tenho a ela, o meu porto seguro, a minha âncora, a única segurança. Ela não me quer, acho que me tem por imundo ou com alguma enfermidade contagiosa. Ah, não há compreensão, pra todo lado infelicidade, ofensas e insatisfação. E mesmo que tente compreender, é infelicidade demais, não dá para viver tolhido com essas situações aversivas. Mas vou lá vê-la, preciso senti-la de perto, seu perfume, isso me acalmará para poder colocar a cabeça no lugar. Ah, lá está ela, na cozinha, ocupada com o almoço, vestido curtinho colado no corpo quando se remexe nos afazeres e vivo todo o seu encanto de sempre. Atrevo-me e dou-lhe um cheiro no cangote. E ela: - Sai-te! Tento alcançar-lhe os seios e ela me acotovela inflexível. Tento beijar-lhe, ela obsta, não me quer. Sua recusa deixa meu pênis em estado de ereção. Ah, eu quero. Encosto na parede e fico a fitar-lhe o equipamento corpóreo. Ah, ela é a ninfomaníaca para minha satiríase. E mesmo intolerante não deixa de ser sedutora. Ah, preciso dela! É quando me vem a cabeça de colocar minha mão entre as suas pernas, subindo pelo joelho e ela espremendo minha mãos aos gritos de não, alcanço-lhe entre as coxas até alcançar o encontro delas com sua vagina úmida sobejando seus prazeres com meu toque e ela insistentemente não. Tomo-lhe a buceta na mão, apalpo e seguro, acaricio sua vulva com o dedo anular e fico, ao mesmo tempo que acarinhando toda sua intimidade, contornando o clitóris até senti-la aos gemidos, ronronando feroz, e com a minha outra mão levanto as vestes e vejo a bunda nua e aprumo meu caralho e basta tocar a glande no bico da sua priquita, ela já esmorece trêmula e rendida num paroxismo de se descabelar toda em misto de atitude de aplacar minha investida e de, ao mesmo tempo, querer-me sem saber o que fazer. E logo enfio-lhe lenta e comedidamente a pica na cavidade vaginal, centímetro a centímetro até alcançar-lhe toda a profundidade e lentamente retirando e voltando, deslizando o cacete nela num vai e vem gostoso e comedido, até senti-la aos zis gozos do orgasmo explodir e ela arrear sobre a pia e lá ficar rebolando e saracoteando no meu pau, a ponto de quando já quase escapulindo do seu sexo, ela agarrá-lo, comprimindo-o, a dizer-me: - Ah, agora que ele vai ele ver... e assim agarrada no meu membro puxa-me até o quarto, deitando-me carinhosamente para logo se acercar do meu ventre, jurando: - Ah, agora ele me paga... e começa a acarinhá-lo e a lambê-lo ternamente por toda extensão, a beijá-lo e a sugá-lo, dizendo manhosamente: - Gosto do gosto gostoso do suco dessa pica. Ela é linda, maravilhosa! E depois fica esfregando a ponta da minha peia na palma da sua mão, ao mesmo tempo em que lambe e beija todo cabo, causando-me arrepios de prazer. E assim vai demoradamente até que depois de muito chupar meu cacete, resolve cavalgá-lo por gratificação. E monta e trota e dança como na sela com meu caralho enfiado na buceta, até ter novos e zis gozos de se arrepiar por inteiro e depois arriar resfolegante de lado. – Venha -, chamou-me – agora quero gozar com esse caralho no cu, vai! Vem! Não me fiz rogado e torei-lhe o caneco, enfiando com força até ejacular inteiro e probo naquele ânus deliciosamente demais. Ah, que delícia! Agora eu que arfava caindo pesado na cama. Ela insaciável, monta nas minhas costas e fica relando o pinguelo na minha coluna vertebral. Roça grunhindo como louca, gozando. Até que tomo respiração, pego-lhe pelas pernas às minhas costas, ela na minha cacunda, roçando a buceta nas minhas costas e nós saímos nus pelas ruas festejando nosso mais extraordinário gozo. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.


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AS PREVISÕES DO DORO

TOURO (21 de abril – 20 de maio) -Considerações prévias: as minhas diletas amigas taurinas que são gente fina de Terra, da cor verde, protegidas pelo arcanjo Anael e por Oxum, possuem uma distinção especial, pois, andam com um disco de ouro como o símbolo solar e a força da vida invisível sobre sua cabeça e que, por isso possuem uma mediunidade aguçada, uma sintonia estreita com o cósmico, uma vidência peculiar, sorte no jogo e na vida e muito mais. Não duvide.

Este ano, segundo a barafunzada toda do Doro, será promissor para elas desde que não toquem fogo no estopim, não dêem moleza pra urucubaca nem vacilem à toa. Será um ano bom para mudar de cidade, de casa, de marido, de trabalho, enfim, ótimo para mudar de tudo: de cara, de jeito, de você mesma! Aproveite e faça uma taurina nova em você.
À guisa de ilustração, é preciso remontar aos tempos mitológicos da Grécia antiga, quando Zeus botou os olhos grandes sobre Europa, a sua paquera da ocasião. O insaciável deus caprichou na dose da sedução e, dominado pela paixão, fez-se transformar num robusto touro branco para conquistá-la com todos os ardis. Resultado: ela resistiu, resistiu, resistiu e consentiu. E se atrepou nele, sendo submetida ao seu domínio na Ilha de Creta. Tradução: boniteza pode não ser o valor da vez, mas que ajuda um pouquinho a enganar os bestas, ajuda. Então, não alivie na beca e não arreie na figura do modelito, mantenha a pose e mande ver.
Em março, você estará pior que brinquedo de vudu: plantando bananeira de cabeça pra baixo e só esperando a espetada do tridente. A essa altura do campeonato estará tudo na lona. Por isso é preciso ter fé! Um dia a coisa muda provando heraclitamente que ninguém se banha no mesmo rio duas vezes, mas se lasca duas vezes no mesmo prego, né?
Em maio, você saiu do inferno astral e está entrando na roda da fortuna. Por isso, se embeque toda de verde, dê um charme na esperança e faça 3 desejos mas não pense que é gênio da lâmpada, não, viu? Quando fizer os 3 desejos, feche os olhos e faça uma oração: O salmo da Anja Maldita das Desprevenidas. Conhece? Essa oração é indispensável para o seu dia-a-dia.
Em julho, você terá surpresas agradáveis. Também outras nada interessantes. As primeiras receba com muita algazarra, toda estonteante e feliz. As segundas, não dê lá tanta importância, mas não despreze de todo. É que no meio dessas nada salutares surpresas pode vir um dos principais tesouros que lhe atormenta noite e dia: aquela paixão avassaladora pode chegar assim como quem não quer querendo e pimba na gorduchinha. Se isso acontecer, não fique babando, dê uma de Jair Rodrigues: “Deixe que digam, que pensem, que falem, eu não tô fazendo nada, você também, que tal bater um papo assim gostoso com alguém”.
Em setembro, a primavera vai exigir de você que mantenha sempre vestida e apresentada da cor verde. Agora, com um detalhe: sempre tenha cobre em seu poder. Em todos os sentidos. Não confie em ninguém, só no seu cobre, viu?
Por fim, em novembro, é chegado a hora de você se livrar de todas as suas neuras. E isso aproveite a primeira chuva do mês e saia correndo até se ensopar todinha, ficar encharcada mesmo. Quando isso ocorrer, depois procure uma viela, se ajoelhe no canto esquerdo e reze a oração das Onze Mil Virgens Abandonadas. Conhece? Essa reza é forte e livrará você de todas as neuras possíveis e imagináveis.

AMOR: Você que é romântica e fiel, apegadas às coisas materiais, Júpiter influenciará seu comportamento sentimental este ano, ou não, depende. Isto quer dizer que será um ano de sexo, sexo e sexo. Quer mais? Terá. É só mandar o parceiro tomar catuaba e tudo as mil maravilhas. Por isso sua sensualidade estará à flor da pele e você se exibirá com os talentos que lhes são peculiares. Cuidado: o que tem de lobo e lapiau por aí lambendo os beiços por você, não está no gibi. Saiba distinguir um melepeiro dum sem-vergonha, os dois dão na mesma, viu? Todo homem calça 40. Mas voltando ao que interessa, este ano se aproveite da lua, todo seu charme estará nas luas novas. Toda vez que a lua nova aparecer, aproveite. Use e abuse sem o menor pudor. Principalmente quando Mercúrio atravessar Vênus e você ficará mais fatal e insaciável ainda. Nada demais, satisfaça o seu ego. Uma dica: no dia 14 de maio, dia da deusa Ísis, faça uma faxina e prepare o recinto todo cor-de-rosa, isso: cama, mesa, banho, tudo arroseado. Se o seu procto for da mesma cor, você é a sortuda do milênio. Se não for, vai esconder a sorte e outras coisas na buzanfa para poder dar certo. Mas tendo ou não tendo, depois de arrosear o ambiente, coloque incensos de rosa, ramalhetes de flores e pétalas por todo assoalho, acenda uma vela de sétimo dia na cor lilás e comece a pregação com todas as orações que você souber do sincretismo todo. Quanto mais diversificadas forem as orações, mais sua sorte será contemplada. Mas tem um detalhe: enquanto você reza terá que ficar ajoelhada sobre dois lacraus vivos. Se quando terminar todas as orações você ainda estiver vivinha, salve, você alcançou a graça e terá o parrudo mais lindo do pedaço. Do contrário, babau, né? Se não fizer essa simpatia, terá só 12 anos de azar, viu? Ih, ferrou, hem?

Imagem: Achille et Briseis, de Agostino Carracci.
TRABALHO: você que é trabalhadora, forte, determinada, possui uma resistência incrível (só não invente de mergulhar e provar que fica mais que todo mundo submersa, viu? É que tem um detalhe: você pode bater as botas com água por todo lado, viu? Você é ilha por acaso? Então!), é sólida, estável e segura de si, beleza pura, só tem uma coisinha: como você não procura atalhos, é orgulhosa de si, paciente e segura, então, saia bem na fita. Isto quer dizer que você precisa melhorar sua imagem porque você é tida como esnobe e achegada aos bens, posses, prazeres, confortos, coisas e à concretização de suas idéias. Isto deixa claro que tem uma porrada de gente doida para lhe foder a caveira, botar maior caroço no seu angu e queimar seu filme com a maior melequeira. Então é chegada a hora de você dar uma de Tribalista: “Eu sou de ninguém, eu sou de todo mundo e todo mundo me quer bem”. Como já disse: quando a tetéia solta as pregas do furico assim de bobeira, a vasilha ruim abre do pau e tudo é só um ré-pra-trás. Só há uma saída: dê baixa na paquera. E logo. Isso mesmo: bronqueou tudo caiu, filhota! Quando a lua minguante do mês de maio estiver no auge, faça um shekinah para Anael. Quando estiver pronto, faça uma infusão de água benta morna com pitadas de espirros. Então, apodere-se de um cristal e invoque Anael com incenso de Jasmim, uma vela verde, uma reza forte – aquela: Oração da Maria que se foi e não voltou, conhece? -. Sendo que no final você deve fechar deitada com as pernas e braços pra cima umas 2 horas mais ou menos, enquanto repete a reza 250 vezes. Feito isso, você terá que fazer uma oferenda à Nanã com um buquê de flores verdes meladas de mel e cuspe – isso mesmo, você vai derramando o mel nas flores e na sua língua, depois de babar bem muito, cospe o mel com a saliva sobre o buquê para dar mais química ao troço todo -, e à meia-noite, corra para o litoral e jogue na praia acompanhada de uma oração da Salomé das 30 mil virgens, conhece? Você deve estar arrumada toda de verde: maquiagem, vestido, meias, sapatos, uma marciana ambulante. Na hora que sacudir o buquê no mar, reze forte e bem alto e repetidas vezes até amanhecer o dia. Feito isso, prepare o laço: o emprego será seu pro resto da vida. Um alerta: sempre tenha todo jogo de cintura além daquela rebolada provocativa e salutar, viu?

SAÚDE: o ano será tranqüilo no tocante à saúde, só que você deve ficar atenta a algumas enfermidades bestas que podem arrear na sua cacunda, como erisipela, tuberculose, meningite e aids. Coisa besta, logo resolvível. É só você apertar mais nos vínculos afetivos. Uma sugestão: acumpuntura. Isso mesmo, de preferência alternativa, como aquela: você pega dois alicates, bota cada um em cada bochecha e depois sai enfiando alfinetes pela cara. Uma coisa asseguro: você vai ficar linda de morrer. Faça isso em outras partes que você quer que tenha realce no seu corpo. É só usar de dois alicates e um punhado de alfinete e, pronto, estará tudo resolvido. Bunda pequena? Ora, faça o teste e veja como vira um pandeirão de neguinho cair babando. Outra coisa: o seu inferno astral vai recrudescer quando Marte pipocar pras bandas de Plutão, é que você terá o ganhador aberto e tudo será só partir pra galera. Enquanto isso se mantenha tranqüila, ninguém vai morder sua mordomia. Mas saiba: o paraíso não é aqui, mas o Haiti pode ser sim. Veja o lado bom das coisas ruins também.

VIDA: Na vida este ano será daquele insosso, mas prometendo virar o teitei da rocha-choque. Apesar de você ser uma pessoa amiga, generosa, aconchegante, que dá bons conselhos e tem bom coração, é do bem, ama profundamente, se expressa emocionadamente, não vá pensando que você será sempre a Penélope Charmosa salva pela Quadrilha da Morte a cada investida do Tião Gavião e seus comparsas, os irmãos Bacalhau. Nada disso. É chegada a hora de você estufar o peito, matar nas coxas e bater pro gol, afinal, ninguém é de ferro né? Também, por ser determinada, é menos divertida por ser propensa a temperamentos e acessos de raiva ferozes. Então, libere-se urgentemente das neuras, sorria mesmo da sua própria desgraça e encare de frente o tiziu da urucubaca: quem sabe ele não traga aquela sorte desejada, hem? Não se esqueça de fazer a simpatia da virada do ano e de votar em mim para prefeito nas próximas eleições, senão eu lasco uma praga em você de ficar com 15 anos de atraso, viu? Assinado, Doro. Veja mais as Trelas do Doro.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
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CANTARAU TATARITARITATÁ
 Recital Musical Tataritaritatá - Fanpage.
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