quinta-feira, outubro 04, 2007

BUBER, LAING, HELIO PELLEGRINO, MUNIZ SODRÉ, HELONEIDA, JAYME GRIZ & TRELA FAROLA


TRELA FAROLA - Gente! Quanto mais evito enxergar a sujidade do tolote no ventilador, mais o salpicado dos excrementos atinge em cheio a minha parcimônia. Nossa, é tudo saindo pela bosteira no ribombar dos borborígmos mais insuportáveis, virando cada escândalo carvernoso de chega num saber onde vai parar a corda-de-guaiamum. É uma inhaca triste! E o pior: é que parece que é só isso o que se sabe fazer neste país! Santa cloaca parideira dos FabosOra, para quem vive entre a pedra do estilingue e o espatifado da vidraça, Deus nos ouça e tenha piedade de nós. Isto é, se houver algum deus que aguente esta carapuça. Eu mesmo duvido que exista até algum deus possível depois de tantos milênios abstrusos de rebuliçoRealmente, é muita indignação mediante certas regalias. É desatino demais. Por isso, eu mesmo vou largando meu bestialógico aranzel insurgente como quem tomou um tonel de água de chocalho díscolo. Pudera mesmo, para quem é desprovido de talento - porque nunca fiz educação física e com a estatura de um tamborete de zona que tem um proeminente calombo embaixo da caixa dos peitos, mais a bunda batida feito a greia mais popularmente conhecida por cu de mochila seca, cambitos zambetas segurando o corpo como que reinando entre os assimétricos, uma cara inchada dos porres homéricos das noitadas indômitas, uma feiúra ocrídia de nordestino abufelado e profissionalmente excluído optante pela informalidade, e pronto pro que der e vier -, ora, tô só cantando o partido alto esperando quando é mesmo que será que Deus dará. Só restou duvidar. Vou, mesmo assim, escapando, resistindo. Quando mando mail sou agraciado com a pecha dum tal de spamer. Se escrevo algo, sou acusado de emitir turpilóquios de coprólogo; se não faço nada, pago o pato assim mesmo. Nem mel, nem cabaça; nem oito, nem oitenta: perdido no diâmetro da vida afolosada. Então, se é assim dou um fungado para cuspir fora e sigo adiante teimoso. Por isso, já recebi muitos pêsames pela audácia. E quanto mais me confronto com a injustiça mais tenho a impressão que sou eu quem parece mais que tem a mãe do juiz para uma torcida como a do Flamengo. Desaforo, não aguento, nem na cara nem nada. Só resta estudar telepatia para ver se dar para entender a natureza humana. Sacanagem? A porra! Vou reclamar sempre do estelionato dos políticos, da carestia no Brasil, da jogatina dos Fabos; vou cuctucar a ferida da falta de vontade política de se governar para o povo brasileiro; vou me ingicar com os privilégios judiciais que escondem as maracutaias mais transparentes já flagradas; vou repudiar a cara lisa dos pipoqueiros da farsa nacional; vomitar nos conluios da falcatrua; e, se não morrer do coração, vou tomar uma bicada boa para desopilar o juízo malcriado. Pois não me vejo representado pelo Congresso Nacional nem por nenhuma casa legislativa. Muito pelo contrário, é aí que vejo tirado tudo que é meu e que tenho direito dado de mão beijada a não sei quem. Não me vejo identificado com o Executivo, muito menos com nenhum órgão da Administração Pública, vez que só me fazem sentir enrolado, excluído, injuriado e preterido. Tudo só nos atendendo para vasculhar o bolso, ó! Não me vejo assistido ou garantido pelo Judiciário onde o dinheiro fala mais alto e tudo funciona pelo acordo em detrimento de todos os meus direitos. Parece mais que só quem pode levar prejuízo na lata sou eu. Não posso confiar na Polícia porque desde Thomas Moore que ela é arisca. A saúde serve mais para que eu morra, tudo numa maca imunda e esperando atendimento desde o milênio passado. A moradia reduzida ao que sobrar no cemitério. Enfim, se olhar direitinho, a gente só tem mesmo que ficar: e é, é? Aí a gente chora. Nisso tudo, a gente vai pelejando num salto mortal, dando murro em ponta de faca, topada na quina do paralelepípedo, estropiado nas filas do cadê, pegando bigu na primeira escapulida do azarão, torcendo para não estar no lugar errado, segurando a onda para não passar do ponto nem pegar o bonde andando - já que eu erro que só a porra o tal do alvo. E ficar nessa do: diga lá! Mas, cá pra nós, a coisa tá que só vento brabo que nem pode acender vela alguma para alumiar o pau da venta perdida. Agora mesmo o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral - MCCE anunciou que nos últimos anos foram cassados 623 políticos. Só? Na vera, se o STF levar na moral a questão entre os mandatos e os partidos, esse numero duplica de uma hora para outra, né não? E quantos mais deveriam ser cassados em nome da JUSTIÇA SOCIAL, hem? Pois é, enquanto isso a gente amarga. Pudera e pudera, segundo a Unesco, temos o maior índice de reprovação escolar da América Latina. Pra mim, acho que é muito mais de pior que a expectativa do MEC, não sendo só 30% de analfabetos funcionais. Por isso pergunto: e o resto em que faixa de incientes ficam, hem? Não dá para tolerar as tramoias nas estatísticas oficiais, muito menos o cacóstomo dos políticos soltando seus coprólitos e suas estórias para boi-dormir, cheio das farofas e prontos pro embate eleitoral. Só. Vade, retro! Parafraseando Sérgio Porto, dá FECAMEPA: Festival de Cagadas Melando o País! Ao invés do Samba do Crioulo Doido, é o Brega da Farra dos Lesa-Patria,versáteis e plurais de se achegarem com hits diversos nas paradas da corrupção, de num ver nem o rastro dos libelos virados palimpsestos engavetados na vassalagem judiciária. Santo vitupério! Menoscabo mais sem-vergonha! E o que é pior: é pura pirataria oficial. U-ru! Êta, noisis!
Aos patrícios indignados, vamos aprumar a conversa & tataritaritatá! Bié, bié, glup, glup. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. E veja mais aqui.


PENSAMENTO DO DIA - A solidão significa a possibilidade de você se saber sozinho, que ninguém é responsável por você, que o outro é o outro e você é você. Diferente de ser solitário: aquele que recusa o mundo, que recusa o outro. Pensamento do jornalista, sociólogo, professor e tradutor Muniz Sodré. Veja mais aqui.

DO DIÁLOGO E DO DIALÓGICO - [...] Aquele qe estuda sem a intenção de agir, melhor seria que nunca fosse criado. Aquele cuja sabedoria ultrapassa suas ações a que se parece? A uma árvore com muitos ramos e poucas raízes: um vento qualquer a arranca e derruba. Mas aqueles cujas ações ultrapassam a sabedoria a que se parece? A uma árvore com poucos ramos mas muitas raízes. Mesmo que todos os ventos do mundo viessem a soprar sobre ela, não se moveria. Os ensinamentos são mais importantes porque eles engendram ações. [...]. Trecho extraído da obra Do diálogo e do dialógico (Perspectiva, 1982), do filosofo, escritor e pedagogo israelita Martin Buber (1878-1965). Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

O EU DIVIDIDO - [...] O indivíduo que é internado e recebe o rótulo de “paciente” – e, de modo específico, de “esquizofrênico” – sofre um aviltamento de sua condição existencial e legal plena enquanto agente humano e pessoa responsável, e torna-se alguém não mais possuidor da sua própria definição de si,m incapaz de manter aquilo que é seu e impedido de arbitrar quem irá encontra ou o que irá fazer. Seu tempo deixa de ser seu, e o espaço que ocupa não é mais o de sua escolha. Depois de ser submetido a uma cerimonia de degradação, conhecida como exame psiquiátrico, é destituído de suas liberdades civis ao ser aprisionado numa instituição totalmente fechada conhecida como hospital de “doentes mentais”. De maneira mais completa e mais radical que em qualquer outro segmento da nossa sociedade, ele é anulado enquanto ser humano [...] A experiência e comportamento que recebem rótulo de Esquizofrenia é uma estratégia especial que uma pessoa inventa para viver uma situação insuportável [...]. Trechos extraídos da obra O eu dividido (Vozes, 1987), do psiquiatra escocês Ronald David Laing (1927-1989).

CULTURA & SEXUALIDADE – [...] A cultura é o esforço humano para lançar pontes sobre o abismo. É preciso criar, a partir da falta. É preciso, pelo trabalho e pela linguagem, organizar o mundo humano e domar a natureza. Vejamos, por exemplo, o que se passa com a sexualidade. Para o ser humano, a sexualidade não é instinto – é pulsão. Ela não traz, em si mesma, uma prévia – e harmoniosa – garantia de ordem. Antes de orientar-se para para o mundo, ela se deleita com o fantasma. Para que o desejo possa servir à espécie e ao esforço civilizatório, ele precisa ser institucionalizado, através de uma gramática que o estruture. O Édipo – descoberta nuclear de Freud – é esta gramática do desejo. Através da interdição do incesto, a família se institui, ao mesmo tempo que se constituem as relações de parentesco e as possibilidades de aliança entre os grupos humanos. O Édipo – modelo fundamental de instituição – insere, na espessura da sexualidade, sob a forma da Lei do Pai, a falta, a cárie, a carência que nos constitui: castração simbólica. [...]. Trecho de Instituição, linguagem, liberdade, extraído do livro A burrice do demônio (Rocco, 1989), do psicanalista e escritor Hélio Pellegrino (1924-1988).

O PARDAL É UM PÁSSARO AZUL - [...] As lágrimas lhe escorriam pelo rosto. Eu queria me refugiar em seus braços, mas tinha vergonha, e medo. Vergonha da minha carne feminina, medo  que ele pensasse que eu queria lhe impor meu corpo de fêmea: “Sempre se ofereceu a mim, como uma puta”. [...] João me beijou o pulso, depois me puxou para ele, eu o segurei pelas costas, seu rosto era um plano quente e molhado, os lábios úmidos e salgados. Ele me provou pela boca, gravemente, e engoli um pouco da sua saliva morna. E aí a minha fraqueza aumentou, comecei a escorregas pelas grades, suando frio, fui caindo. João arreou a porta que estava apenas encostada. – Eu quero, sim, Calunguinha – disse ele, e eu estava deitada no catre e suas mãos me abriram a blusa. Esforcei-me por abotoá-la, gelada de medo. Temia as comparações, não tenho a carne seca e fibrosa dos rapazinhos. Receava que a nossa ternura morresse naquele momento, temia ver o desapontamento surgir depois, o fundo dos seus olhos. Mas já o cheiro dele me envolvia, aquele cheiro do meu amor em sua carne que era um pouco de nicotina e outro tanto de apreensão e confusos pressentimentos. A penugem do seu peito me roçava o rosto e ele tinha a boca quente e úmida; os bicos dos meus seios se liquefaziam dentro dela como grãos de romã. Eu tinha as coxas pesadas, não queria me entregar. Seu rosto tenso me parecia coberto por uma máscara de experiências desconhecidas, inconfessáveis, mas de repente a máscara se rompeu, ele tinha o rosto dos dezessete anos, em Jaçanã, a face do meu menino, meu carneirinho de açúcar... abri-lhe o meu corpo, agora ele estava entalado entre paredes aveludadas, esforçava-se por subir por elas; subia e escorregava, seus lábios iam ficando lentamente gelados à medida que o momento do orgasmo se aproximava. Eu continuava amedrontada, o medo não passou nem mesmo que lhe veio um orgasmo tão forte que me bateu no ventre com a força de um soco e tive a impressão de que um favo de mel se rompia no fundo da minha barriga. Ele deixou cair o rosto no meu peito. [...] Ao meu homem. E havia aquele suor que escorria do corpo e se colava aos meus seios, aquele sorriso infantil de triunfo e ternura, o gemido que ele me deixara dentro da boca, a barba, o esperma. Como uma convalescente depois de uma doença grave, senti imediatamente o sono invencível. Queria dormir encostada ao peito de João, acordar com meu corpo restituído, com todas as minhas feridas cicatrizadas. Então ele me ensinaria como devo amar ao meu homem. [...]. Trecho extraído da obra O pardal é um pássaro azul (Civilização Brasileira, 1975), da escritora, teatróloga e jornalista Heloneida Studart (1932-2007). Veja mais aqui.

FECUNDAÇÃO - A Terra, ressequida de sol, / nervosa, esgotada, / aguarda inquieta as próximas chuvas, / a semente fecundante dos céus. / Eis que, num dado momento, / após um longo verão / o céu, escuro e congesto, / baixa tanto e tanto sobre a Terra / que quase se pode tocá-la com a mão./ Faz-se um silêncio morno e pesado... / há um estremeço no ar: / e os dois amantes ; - Céu e Terra - / de súbito, / se entrelaçam num grande ato de Amor... / Após, / chuvas torrenciais e abundantes / molham o ventre fecundo da Terra arquejante! / o Céu, agora, / está calmo, / sereno e manso, / tranqüilo e distante... E a Terra, úmida e feliz!... / E mais uma vez, / o ventre da Terra cresceu, / se avolumou e entumeceu / e toda ela se encheu de frutos e flores! / Mais uma vez, / a Terra, / e tudo o que nela vive e palpita, / tudo o que nela vive e se agita, / se renovou e nutriu dos frutos de seus amores! / Depois do milagre do Amor, / numa paisagem de arrebol, / como no alvorecer dos tempos, / um hino celestial ecoou / e a vida na Terra continuou!... Extraído da obra Rio Una: poemas (Diário da Manhá, 1951), do poeta, jornalista, economista e folclorista Jayme Griz (1900-1981). Veja mais aqui, aqui e aqui.


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