quinta-feira, abril 26, 2007

CERVANTES, LIMA BARRETO, CAXANGÁ, SAINKHO, KANDINSKY, CAGNACCI, RISTORI & CLARA SAMPAIO.



CAXANGÁ - Escravos de Jô jogavam caxangá, tira, bota, deixa o Zé Pereira ficar. Guerreiros com guerreiros fazem zigue, zigue, zá”. Nasce o dia e a criança sorri de alegria com a vida nas mãos. O coração na primavera parece quimera feita de sol, onde brincam arrebóis em sonhos coloridos entre bemóis e sustenidos que são exibidos na cantiga da infância como a fragrância de tudo reunido. Vem à tarde e o menino já é um rapaz com os olhos iguais aos que viram no mundo. E vão lá no fundo dos que veem agora, muito embora não vejam de tudo. Quando falam, são mudos. Quando riem, desnudos. E devem acordar. Preferem singrar solidões mais noturnas, usurpando as dunas de tudo alcançar. Cai à noite e já homem feito se acha perfeito, é de hoje e nada sabe. Não quer que desabe sua arquitetura e toda aventura suspira no tempo, audaz nos tormentos e inquietações. São mais solidões seguindo a pisada, segue a estrada escorraçada da terra. Emperra e desanda, peleja de banda entre farpas e mesquinharias. Ferve em demasia, enganando a esperança. Alcança faíscas e chamas onde inflama a fúria, a ira, o alarido. Está mais perdido e ao se adiantar, não avança. Ao recuar, mais se cansa. Quando volta, não há mais saída. E retoma na lida, nada divisa, não há direção. Quando então se madruga é hora de recomeçar, rearranjar o destino e a sina. É quando desatina e se estende nos céus, desvela os seus véus na mais longe das terras. E se encerra no mais largo dos mares, penando pesares, com as forças exaustas. O que há de nefasto, o que há de perverso, são espelhos reversos e olha para trás. Dar a mão à criança, ao menino e ao rapaz, refazendo o homem que jaz de mãos dadas com a vida, quando tem por guarida só a comunhão para ver que a vida está na palma da mão. (Luiz Alberto Machado). Veja mais aqui e aqui.

Imagem: Allégorie de la VanitéAllegory of Vanity, do pintor do Barroco italiano Guido Cagnacci (1601-1682).

 Curtindo o álbum Naked Spirit (Amiata Records, 1998), da cantora russa Sainkho Namtchylak. Veja mais aqui.

EPÍGRAFEEntre o sim e o não de uma mulher, eu não me atreveria a colocar uma ponta de alfinete, frase recolhida da obra Dom Quixote de La Mancha (El ingenioso Hidalgo Don Quixote de La Mancha, 1605), do escritor espanhol Miguel de Cervantes y Saavedra (1547-1616). Veja mais aquiaqui.

ABSTRACIONISMO – O Abstracionismo ou arte abstrata, ou, ainda, arte não figurativa, é a tendência preponderantes nas artes plásticas, decorrente de três casas imediatas: a necessidade que emerge no artista de expressar-se livremente, a transformação da vida social em consequência da revolução industrial e cientifica, e o conhecimento da estrutura matemática das obras de arte antigas, submetidas à analise racional que buscava descobrir as leis permanentes da estética. Foi Vassili Kandinsky um dos primeiros pintores abstratos modernos e o primeiro teórico da nova arte abstrata, abordando em seu livro Sobre o elemento espiritual na arte (1912), o problema da aproximação do Abstracionismo moderno com as formas ornamentais do passado. Observa que, ao cortar todos os laços com a natureza, a arte abstrata tende a tornar-se apenas decorativa, a menos que suas formas e cores sejam ditadas por uma real necessidade interior. Para ele, o artista sempre pretendeu expressar essa necessidade, mesmo quando utilizava a figura. Depois, aos poucos, foi-se libertando da natureza e aproximou-se da essência da arte, que é espiritual. Lidará, a partir de então, com formas e cores que são os seres de um mundo ideal. Toda cor, para ele, encerra uma força ainda mal conhecida mas real, e toda forma tem um conteúdo interior de que ela é apenas a manifestação exterior. nessa nova etapa da arte, o artista se defronta com alguns perigos: o de cair num ornamentalismo superficial ou na vulgaridade de uma arte fantástica. Superando tais limitações, atingirá ou a abstração pura, mesmo geométrica, ou o realismo puro, uma espécie de fantástico mais profundo e concreto. Ambas as possibilidades proviriam de uma mesma raiz: a necessidade interior. Veja mais aqui.

A MATEMÁTICA NÃO FALHA - No livro Bagatelas (Romances Populares, 1923), do escritor Lima Barreto (1881-1922), encontro a narrativa A matemática não falha, da qual destaco o trecho a seguir: [...] a fazer os tímidos e delicados de consciência não suportar sem os mais atrozes sofrimentos morais a dura obrigação de viver, respirar a atmosfera deletéria de covardia moral, de panurgismo, de bajulação, de pusilanimidade, de falsidade, que é a que envolve este ou aquele grupo social. Veja mais aqui.

ODE À MÁ POESIA – Encontro no blog De música, luar e sentimento - A realidade densa, a consciência tensa, a felicidade imensa, a imaginação furtiva a suave tentativa de ser Clara ou Luísa, da poeta Clara Sampaio, o poema Ode à má poesia: Sinto decepcioná-los, leitores / mas a culpa não é toda minha. / Se escrevo mal, culpo a vida. / Que me fez de muita preguiça /e pouco jeito com poemas. / / Tentei ser sensível, / atacar de boêmia, / condenar a sociedade hipócrita, / não deu. / Critiquei os políticos, / a atual conjuntura econômica, / os assaltos, a violência, / tampouco. / Meu Deus,será que sou mesmo tão ruim? / Faço Vinícius se revirar no túmulo, / Leminsky, Drummond, todo mundo, / gritarem de asco e pavor? / Ah, que gritem! / Desistir não vou! / Creio eu que de amador, / todo mundo tem um pouco. / (principalmente no começo) / Sirvo-me da licença poética pra justificar: / erros, / falta de criatividade / e pouco senso estético. / Má poetisa que sou, / enfiarei goela abaixo (dos amigos) / muitos clichês baratos / e outros tantos ditados gastos. / Não hesitarei em provê-los de histórias bregas / e rimas óbvias, como estas: / Para fechar com chave de ouro, / ode à ela que ao nascer do dia / me trouxe um tesouro que é a alegria! / Ode a tão somente o que é belo / seja na forma do meu texto banguelo, / ou em forma de má poesia! Veja mais aqui.

MARQUIZE - A célebre atriz dramática italiana Adelaide Ristori (1822-1906), frequentemente referida como Marquise, era filha de atores ambulantes e fez sua primeira aparição no teatro aos catorze anos como Francesca de Rimini, de Silvio Pellico. Aos dezoito anos interpretou Maria Stuart, da peça de Friedrich Schiller, tornando-se membro da companhia de Sardenha e da companhia ducal de Parma durante algum tempo. Em seguida representou Myrrha, de Vittorio Alfieri e, depois, estrelou a adaptação italiana de Medea, de Montanelli. Ela foi aplaudida por diversas plateias europeias e dos Estados Unidos, atuando na obra Elisabeth, de Paolo Giacometti. Por fim, editou o livro de memórias, Estudos e Memórias, publicado em 1888, mantendo correspondência e relações com o Imperador D. Pedro II do Brasil, resultando na publicação do livro Uma amizade revelada (FBN, 2004). Veja mais aqui.

THE TALENTED MR. RIPLEY – O drama e suspense The Talented Mr. Ripley (O retorno do talentoso Ripley), realizado por Anthony Minghella, conta a história de um certo homem que possui um dom incomum, sendo capaz de imitar, com perfeição, a assinatura, a voz, o modo de se mexer, ou seja, tudo de cada pessoa. Graças a um casaco emprestado, conhece um empresário que lhe oferece mil dólares para ir à Europa trazer de volta o seu filho. Ele aceita a oferta e termina por desfrutar da boa vida e da amizade dele da sua namorada, tornando-se hóspede de ambos. Entretanto, desconfianças pairam sob o passado de Ripley, criando situações contrárias aos seus interesses, o que o leva a matar o rapaz e assumir a sua identidade. O destaque do filme vai para a atriz estadunidense Gwyneth Kate Paltrow. Veja mais aqui.



Veja mais Fecamepa & a História do Brasil, Iangaí, Esteatopigia, Ari Barroso, Plácido Domingo, Miguel Paiva & G. Graça Campos aqui e aqui.

PESQUISA MUNDIAL - Uma questão de significados....A ONU resolveu fazer uma grande pesquisa mundial. A pergunta era:"Por favor, diga honestamente qual sua opinião sobre a escassez de alimentos no resto do mundo". O resultado foi desastroso. Um total fracasso. Os europeus não entenderam o que é "escassez". Os africanos não sabiam o que era "alimentos". Os argentinos não sabiam o significado de "por favor". Os norte-americanos perguntaram o significado de "resto do mundo". Os cubanos estranharam e pediram maiores explicações sobre "opinião". E o congresso brasileiro ainda está debatendo o que é "honestamente". Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
Todo dia é dia da atriz estadunidense Gwyneth Paltrow.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Veja aqui e aqui.

quinta-feira, abril 05, 2007

CONCEIÇÃO EVARISTO, SIMONE WEIL, BEAUVOIR, KOLLONTAI, ZEKTIN & EMMA GOLDMAN!!

 
CRÔNICA DE AMOR POR ELA - Nada merece mais a nossa gratidão que o ventre materno, seja ela simples dona de casa alagoana ou uma resignada do mosteiro de Argenteuil. Decerto todos nós passamos pelo canal de parturição. Nós, vivos ou mortos, já viajamos nove meses na aeronave do ventre, dependentes da ternura materna até termos a consciência do oxigênio e da vida. Nada seria interessante se não fosse o poder da concepção que elas carregam no ventre, seja ela secretária executiva de Natal ou trabalhadora de Orange. Nada é mais admirável que a fecundação quando tudo se faz de prazer atravessando a zona pelúcida para gerar filhos da vida, adubados pelo carinho e a ternura da maternidade, seja de uma simples balconista de Terezina ou aquela de Guaratinguetá de Di Cavalcanti. Admirável é a sua anatomia, o seu design belo de recipiente do amor e do prazer, seja ela gueixa de Kioto, Aprés le l bain de Degas ou vendedoras de frutas da Martinica. Ou mesmo a de Unamuno no banho, ou costureira do mercado de Abi Djan. Que seja amada como uma simples rendeira de Aracati, ou mestiça do Gabão; ou tuaregue do Níger; ou ticoqueira da cana-de-açúcar. Que seja amiga mesmo como camponesa nordestina ou do milharal do Haiti. Ou mesmo uma cachorrona sexy, maluca pauleira, fatal miss ou sedutora perversa. Que seja malandra, dócil ou abestada, ou quitandeiras do Recife, prostitutas de Brasília ou a executante de alaúde de Caravaggio. Sempre serão belas mesmo que seja uma simples jovem turca, ou esquimó da Groenlândia ou, mesmo, a Garota de Ipanema. Sempre serão exuberantes mesmo na simplicidade daquela das colinas de Chittagong em Bangladesh ou aquela lavadeira de Portinari. Ou uma nativa birmanesa, ou aquela marabá de Rodolfo Amoedo. Ou mesmo a colhedora de chá do Ceilão ou uma linda índia Kamayurá. Ou, ainda, Le bain au serail de Theodore Chasseriau. Pode ser uma humilde tecelã de seda em Bali ou operária de qualquer montadora de São Bernardo do Campo. Ou a nômade Fars, ou humilde verdureira da feira de Caruaru. Pode ser uma dedicada vendedora de cosméticos de Aracaju ou Nu à contre jour de Bonnard. Ou uma Diana de Lee Falk, ou a Danae de Rembrand. Pode ser uma teimosa da vida ou Fleurs de la prairie de Maillol ou humilde enfermeira de um hospital de João Pessoa. Pode ser uma adolescente eterna sonhadora ou a estudante de Anita Malfati ou uma nativa das ilhas Trobriand, ou a Vênus Anaduomene de Ingres ou As Artes de Van Gogh. Que seja musa dos escritores, poetas e compositores ou mesmo uma perdida nas veredas da vida, ou Vairumati de Gaugin, Vênus de Brozino ou a que carda lã no Nepal. Seja a Bovary de Balzac ou a dedicada submersa entre marido e filhos. Ou a Nu de Modigliani ou uma passageira de Olinda; seja a mãe de Almada Negreiros, ou de Gorki, ou Valentina de Guiido Crepax. Seja ela Velta, ou Lôra Burra, a Vênus de Urbino de Ticiano ou Léda Atomique de Salvador Dali; ou femme de frisant de Toulouse-Lautrec; ou uma da cadeira de David Lingare. Mas também que seja ela Safo, louca, aguerrida ou desgarrada. Que seja uma sumidade intelectual ou muçulmana de Oman, mestiça de Cuenca, mulata do Rio de Janeiro ou mesmo estabanada andrógina da noite na paulicéia desvairada. Seja mesmo o que for: a “Mulher” de Geraldinho Azevedo & Neila Tavares, ou mesmo “Todas elas juntas num só ser” de Lenine & Carlos Rennó, ou tantas outras grandes e anônimas mulheres deste planeta, aqui só gratidão. Obrigado por existirem. Esta a minha homenagem, MULHER. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.Veja mais aqui.

A POESIA DE CONCEIÇÃO EVARISTO
 
A noite não adormece
Nos olhos das mulheres
A lua fêmea, semelhante nossa,
Em vigília atenta vigia
A nossa memória.
A noite não adormece
Nos olhos das mulheres
Há mais olhos que sono
Onde lágrimas suspensas
Virgulam o lapso
De nossas molhadas lembranças.
A noite não adormecerá
Jamais nos olhos das fêmeas
Pois do nosso sangue-mulher
De nosso liquido lembradiço
Em cada gota que jorra
Um fio invisível e tônico
Pacientemente cose a rede
De nossa milenar resistência.
Poema da escritora Conceição Evaristo. Veja mais aqui.




SIMONE WEIL – “De entre os seres humanos, apenas conhecemos completamente a existência daqueles a quem amamos”. A escritora, mística e filósofa francesa Simone Weil (1909 – 1943), tornou-se operária de uma montadora automobilística para escrever sobre o cotidiano dentro das fábricas. Ela lutou na Guerra Civil Espanhola ao lado dos republicanos e na resistência francesa em Londres, sendo, posteriormente impedida de retornar à França. É autora dos livros A condição operária e outros escritos sobre a opressão (Paz e Terra, 1979), A gravidade e a graça (1986), Espera de Deus (ECE, 1987), Pensamentos desordenados acerca do amor de Deus (ECE, 1991), Aulas de Filosofia (Papirus, 1991), O enraizamento (Edusc, 2001), Opressão e liberdade (Edusc, 2011), A fonte grega (Cotovia, 2006), entre outras obras. Veja mais aqui.

SIMONE DE BEAUVOIR – “Como quer que seja, uma volta ao passado não é mais possível nem desejável. O que se deve esperar é que, por seu lado, os homens assumam sem reserva a situação que se vem criando; somente então a mulher poderá viver sem tragédia. A escritora, filósofa existencialista, ativista política, feminista e teórica social francesa Simone de Beauvoir (1908-1896), exerceu influencia substancial no existencialismo e na teoria feminista, autora de diversos romances, ensaios, biografias, autobiografia e monografia sobre filosofia, política e questões sociais. É autora do livro O segundo sexo (1949), um ensaio filosófico que analisa detalhadamente acerca da opressão sofrida pelas mulheres, tornando-se um tratado fundamental do feminismo contemporâneo. Veja mais aqui.

EMMA GOLDMAN – “Aos que ousam o futuro pertence. A anarquista e ativista libertária lituana Emma Goldman (1869-1940), é autora do livro da sua autobiografia Living my life (1931), e da obra O individuo, a sociedade e o Estado e outros ensaios (1940 - Hedra, 2007), que trata acerca da defesa da liberdade do individuo criticando a submissão ao pode estatal e a militarização estratégia dos Estados Unidos. Veja mais aqui e aqui.

CLARA LEMLICH"O fabricante tem voto; os chefes têm votos; os capatazes têm votos, os inspectores têm de votos A menina que trabalha não tem voto Quando ela pede para ter um edifício em que ela deve trabalhar feita limpa e segura, os funcionários não.. temos que escutar. Quando ela pede para não trabalhar longas horas, eles não tem que ouvir... Até os homens no Legislativo em Albany representá-la, bem como os patrões e os capatazes, ela não vai conseguir justiça; ela não terá condições justas é por isso que a mulher trabalhando agora diz que ela deve ter o voto”. A ativista comunista e líder da revolta de 20 mil, uma greve em massa de trabalhadores da indústria de vestuário estadunidense em 1909, Clara Lemlich (1886 - 1982), dedicou sua vida à campanha pelo voto feminino, pelos direitos do consumidor, na defesa dos desempregados e dos idosos. Veja mais aqui.

ALEXANDRA KOLLONTAI - A líder revolucionária e teórica do marxismo russso Alexandra Kollontai (1872-1952), foi militante ativa na Revolução Russa de 1917 e teve atuação marcante entre as mulheres trabalhadoras em 1898, após abandonar o marido e a vida privilegiada de riqueza. Ela é autora de obras como Base social da questão feminina (1908), A nova mulher (1918) e A moral sexual (1921), entre outros livros publicados. Veja mais aqui.

CLARA ZETKIN - A política comunista alemã Clara Zetkin (1857-1933), militava junto ao movimento operário e se dedicava à conscientização feminina. Ela fundou e dirigiu a revista Igualdade, que durou 16 anos (1891-1907). Em 1910 participou do II Congresso Internacional de Mulheres Socialistas, em Copenhague, quando propôs a criação de um Dia Internacional da Mulher e indicando o dia 8 de Março, para lembrar operárias mortas num incêndio em Nova Iorque em 1857.. Em 1915 ela fez uma conferência sobre a mulher, refletindo sobre a situação da mulher no seu tempo. Veja mais aqui.



Veja mais Frineia, Euclides da Cunha, Ana Terra, Federico Fellini, Amedée Ernest Chausson, Jean-Léon Gérôme & Antonio Parreiras aqui e aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Imagem: A partida (1981 - Acrílico e colagem sobre madeira), da pintora Tereza Costa Rego. 
Veja aqui e aqui.
  Arte: Derinha Rocha
Vamos aprumar a conversa & tataritaritatá