quarta-feira, fevereiro 01, 2006

THIAGO DE MELLO, HERÓDOTO, FRANCESCA MARCIANO, KENNETH BURKE, ASSASSINOS DO FREVO, TAO DO AMOR DE JOLAN CHANG & A MULHER NA ANTIGUIDADE

DANÇA ELA NUA NO MEU CORAÇÃO – Lá vem ela que chega o prazer as coxas na sainha esvoaçante a me fazer caçador do seu sexo rente ao meu desejo priapico que a quer inteira dançarina deslizando sobre o meu corpo priápico que a envolve rodopiante toda insinuante saliente pro meu prazer mais que esperado e ela rebola ginga de lado a lado ombros aos meneios e eu almejo todo o seu recheio como quem vai dizimá-la canabalizada na minha gula furiosa e ela é toda sestrosa dançando indiferente enquanto eu imprudente me aposso de toda sua candura repleta de luz e suor nossos corpos é um só enquanto ela altiva se faz que nem liga nem sabe o que acontece na minha rede ela tece toda lubricidade ela é minha cidade meu planeta universo e eu sinto o seu sexo molhado ao toque dos medos e sei seus segredos é gozar pra valer ela quer é viver atravessada por minha lança enfiada toda e sem causa removo as alças os seios são meus e a calcinha por mim removida ela agora é nua e toda vertida só pra mim e pra ser meu amor numa noite sem fim. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

QUEM SABERIA PERDER
Desde pequeno eu estou por aqui
Na mesma vida que sempre aprendi bicho de rio e de mato
Peixe criado em lagoa
Voa tristeza, voa vento, voa tempo, voa
O cavaleiro na estrada sem fim
O contador de uma história de mim
Vivo do que faz meu braço
Meu braço faz o que a terra manda
Voa tristeza, voa vento, voa tempo, voa
Mas qual de nós não carrega no peito um segredo
De amor escondido
Diga quem nunca levanta de noite querendo de volta o perdido, ôuô, ôuô
Quem saberia perder? ôuô, ôuô
Quem saberia perder?
Música de Sá & Guarabira, interpretada por Ivan Lins.

PENSAMENTO DO DIA – [...] Para cada poeta que se tornou poeta após malograr nos negócios, existem pelo menos mil homens de negócios que se tornaram homens de negócios após malograr na poesia [...]. Trechos extraídos da obra Teoria da forma literária (Cultrix, 1979), do filósofo e teórico da literatura estadunidense Kenneth Burke (1897-1993). Veja mais aqui.

A MULHER NA ANTIGUIDADE - [...] cada mulher nativa do país, deve ir ao templo uma vez na vida e lá entregar-se a um homem estranho [...] Ela não tem permissão de voltar para casa, enquanto um homem não lhe atirar uma moeda de prata no regaç e levá-la para fora, a fim de que se deite com ele. [...] À mulher não cabe o provilégio de escolha – tem que acompanhar o primeiro homem que lhe atirar o dinheiro. Após jazer com ele, seu dever para com a deusa foi cumprido e  ela pode ir para casa [...]. Mulheres altas e agradáveis logo conseguem voltar para casa, mas as feias permanecem bastante tempo no templo, antes de preencherem as condições exigidas pela lei. Algumas delas fchegam a ficar lá durante três a quatro anos [...]. Trechos extraídos da obra Histórias (70, 2015), do geógrafo e historiador grego Heródoto de Halicarnasso (485-420aC), reunindo nove livros que compreendem uma tentativa de sistematização do conhecimento e das ações humanos ao longo do tempo. Veja mais aqui, aqui e aqui.

AMOR & SEXO TAOÍSTA NA ANTIGUIDADE - Há dois mil anos atrás, ou talvez bem antes que isso, os médicos taoistas chineses já vinham escrevendo livros honestos, explícitos, sobre amor e sexo. Esses livros não eram libidinosos, nem tampouco auto-reflexivos pois fazer amor era, para os taistas, algo necessário à saúde física e mental, e também ao bem-estar de homens e mulheres. E atendo-se a esta filosofia, muito enfatizavam as habilidades sexuais e tudo faziam para aperfeiçar a maerstria sensual do homem. A produção literária e artística ilustrava técnicas sexuais. Todo marido que conseguisse desfrutar de intercursos sexuais freqüentes e prolongados estaria melhor posicionado que um marido apenas jovem e bonito. Para os médicos taoistas, fazer amor era parte da ordem natural das coisas. O sexo era para ser desfrutado, saboreado e, além disso, era considerado salutar, um protetor da vida. [...] Trecho extraído da obra O Taoismo do amor e sexo (Artenova, 1979), do filósofo e sexólogo chinês Jolan Chang (1917-2002). Veja mais aqui.

CASA ROSSA – [...] Era 1977, o auge do movimento estudantil na Itália, mas eu não estava mais interessada na Revolução. Por essa época, meus amigos do colegial tinham se transformado em sérios ativistas políticas, e em grande parte partilhávamos um único credo. Tínhamos assumido para nós a dor do planeta inteiro e estávamos comprometidos com sua cura. [...]. Trecho extraído da obra Casa Rossa (Record, 2005), da escritora, roteirista e atriz italiana Francesca Marciano. Veja mais aqui.

DIÁRIO DE UM BRASILERO - O brasileiro convive bem com o escândalo moral. / Os ladrões infestam os salões de luxo, / os Bancos estouram, os banqueiros / são cumprimentados com reverência, / o Presidente do Congresso chama o senador / de bandido, sim senhor, vossa excelência. / O Presidente diz pela televisão /que "é preciso acabar com a roubalheira / nos dinheiros públicos". / As pessoas das cidades grandes / vivem amedrontadas, qualquer / transeunte pode ser um assaltante. / As meninas cheiram cola. Depois / vão dar o que têm de mais precioso / ao preço de um soco na cara desde ntada. / O brasileiro convive com o escândalo / como se fosse o seu pão de cada dia, / com uma indiferença letal. / Como se dormir na casa com um rinoceronte, / mas rinoceronte mesmo, / fosse a coisa mais natural do mundo, / chegando a cheirar a camélias. / O povo, um dia. / Do povo vai depender / a vida que vai viver, / quando um dia merecer. / Vai doer, vai aprender. Poema extraído da obra De uma vez por todas: verso e prosa (Bertrand Brasil, 1996), do premiadíssimo poeta amazonense Thiago de Mello. Veja mais aqui.

OS ASSASSINOS DO FREVO – Doro não tem mesmo o que fazer. Mesmo que eu escreva duas massarocas raçudas de volume, daquelas ruins até de apalpar ou carregar no sovaco, não dá vencimento para suas presepadas. Razão porque ele é chamado de bacharel das chapuletadas, um perfeito aprontador de situações vexatórias,chega dele mesmo, de vez em quando, ficar ruminando: - O qui mermo qui fiz na vida? -, perigosa dúvida, porque se ele alinhar as idéias, enquadrá-las no senso, virgem, vai ser estrondo maior que a zoada da explosão do Colúmbia. Se dá, ôxe, vira feriado nacional. Bote fé.
Outra coisa: existe nesse mundo de coisas, uma coisa mais estranha que nome de bandas e de conjuntos musicais? Pior os das tradicionais! Lembram? E as de frevo? Ôxe, é cada nome estrambólico rebuscado no barroquismo ou da religiosidade, ou da milicagem, ou das dores de cornagem que dá cada uma risadagem, ora.
Eu mesmo já vi todo tipo desses nomes, alguns tão impronunciáveis como de gostos duvidosos, fazendo confusão até para dizê-los, senão apelidá-los da forma mais intuitiva que se possa imaginar, vez que, normalmente, servem para ser ditos de trás pra frente ou da forma como aprouver que dar na mesma.
Pois bem, dia desse, próximo dos festejos carnavalescos, vem de ocorrer a pulha. E, como se sabe, nas províncias das brenhas nordestinas, o carnaval é uma das quatro festas do ano que não se pode passar em branco, senão, que será da quaresma? E sai cada geringonça de batucada, como o bloco dos cornos, dos viados, dos metidos a besta, dos ofendidos, disso e daquilo.
Viva o carnaval! E, para os gaiatos, é hora da mangação, porque tem gente que tira a máscara, vestindo a fantasia que, na vida real, sempre quis se camuflar. Isso sem contar com as prefeituras que armam o maior escarcéu, proporcionando o circo da maior enrolança.
Foi numa hora dessas que Doro, naquelas das suas periclitantes fases, sempre inventa de socorrer algum desavisado. E foi. Resolveu em cima da bucha:
- Contrata o Mané Preto!
- Tá doido, rapaiz. Quero lá matá meu povo!
Doro nem se apertava, tinha uma saída na hora, sempre.
- Espie, entonse eu tenho uns mininos, inducadíssimos, qui tocam de uvido, de beiço, de chute, de carcanhar, de cabeça prá baixo, de quairquer jeito. Arrisolve o probrema em dois tempo!
- Ah! esses é do bom. Quero assim, qui sejam versátis.
- Sem bronca, conte na conta do arresolvido.
O contratante foi na onda, viajou na maionese. E Doro tome providência. Chamou junto o Nego Beba, maior capitaneador de fascínoras e enrolões, e convocou o maior pega-na-rua.
- Arrisolvido, vô trazê os maió dos meió dos tocadores: Os Assassino do Frevo!
- Vumo cuntratá-los todos, hospedá tudo num hoté dos bom e arrumá os cara prá fazê um carnavá nunca visto! O que s´a precisa?
- 50% adiantados dos cachê.
- E quanto qui é?
- Cents réis.
- Quanto?
- Me dá aí o qui tivé no bolso, qui tá arresolvido.
Ôxe, Doro embolsou a grana e saiu para providenciar os músicos da orquestra. Saiu de casa em casa, ninguém aceitava tocar por migalhas. Foi um aperreio. Até que Nego Beba resolveu entrar em ação de mesmo e convocou uma trupe da pesada para tirar o amigo do aperto. E assim, conseguiram reunir depois de muito suadeiro, uma orquestra de verdade - quer dizer, no dizer deles.
O instrumento que não tinha, foi afanado naquela horinha e já fechava o negócio como feito. Ensaiaram dias seguidos, isso sem contar com as reclamações dos vizinhos e intervenções da polícia, que transferiam, à força, o local dos ensaios. Sem contar com o flagrante e prisões de foragidos que se encontravam nas buscas com mandado de prisão e tudo para trancafiar o cercado no xadrez.
Por causa disso, deram de ensaiar no meio dos matos, senão, não sobrava um sequer. Até Doro que possuía a folha limpinha, já andava como suspeito nas desconfianças das diligências judiciais.
Repertório definido, tudo nos pontos, segundo eles próprios, fizeram um ensaio geral que não teve mais fim.
Aí, na véspera do rebuceteio, chegaram as figuras distintas. Quando o contratante olhou, num acreditou.
- Isso s´apareci mai um bando de marginá!
- Calma, doutô. Os mininos são fino, tudo inducado na Suíça. Tudo sangue bom. Ninhum nunca caiu nas fraqueza. Tudo decente. Pode crê.
De soslaio, duvidou daquilo. Nem cego passaria batido, vendo que aquilo tinha o forte teor de golpe. Mas, destá, já que tá dentro, deixa; para quem está no prejuízo, era a hora do mandar ver prá crer.
- Ói, doutô, num pricisa nem hoté, eles queri é drumir por aí mermo.
Claro, para comerciante, quanto menos gastar melhor. Ele gostou da idéia e ficou só com a responsabilidade do cachê. Mais nada. Já que havia adiantado os 50% apalavrados em espécie, o restante ficaria só para depois do rebuliço. Pronto.
- Beleza.
Pois foi. No outro dia de manhã. Estavam os músicos - se é que se pode chamar aqueles trastes de músico -, tudo a postos, hora marcada pontualmente, tudo uns malabanhados cada qual com o seu instrumento na mão, prontos para descer a ladeira e arrancar a mundiça da cama, logo cedo.
Quando Doro deu o sinal, o frevo pipocou solto. O povo se acordou com o zoadeiro, minha nossa, o negócio entronchou de vez. Era a orquestra descendo e o povo avolumando atrás, no maior pulado. Até a polícia seguia a frevância. E tome Vassourinhas prá cima e prá baixo.
Doro, coitado, até pensou:
- Eita, inté a puliça tá guardando nossos artista!
A afinação não era aquela coisa que se dissesse assim das mais condizentes, mas a barulhada que fazia era ensurdecedor. E frevo quando toca, num tem quem num bote para pular na maior pipocada, até defunto levanta.
Assim, foi. Desceram a ladeira, arrodearam o mercado, quebraram no cemitério, seguiram pela prefeitura, voltaram pela beira do rio, pararam na igreja da matriz e... e... e... sumiram. O povo pulava, mas cadê os músicos? Nem sinal deles! O que foi que houve? Doro se perguntava, o povo tudo doido pronto prá pular uns dez dias encarreados, a polícia correndo tudo, meio mundo de querelante com o delegado para apurar o desaparecimento de móveis e utensílios das residências, casas arrombadas, veículos furtados, nego sem carteira, mulheres sem roupa, maior varredura nas posses locais causando um pandemônio sem precedentes!
Nossa, será? Pois é.
Quando Doro deu por si, o mais inocente da orquestra, possuía uma ficha corrida na penitenciária com quilômetros de delitos.
No desconto, o mais santo havia roubado a própria mãe. Os demais, roubo, furto, latrocínio, assalto, sequestro, homicídios vários.
Quando Doro instou Nego Beba, ele berrou:
- Rapaiz, ocê me botô numa inrascada das braba! Quage qui sô preso por suspeita e conivença!
- Ora, os minino chamam delegacia de hoté e sordado de garçom. Cê quiria o quê?
- Tocadores dos bons.
- Minchou.
- E agora? O hômi vai m´imprensar!
- Joga um lero no toitiço dele. O povo pulou ou num pulou?
- É...
Depois de meio mundo de depoimentos, explicações, esclarecimentos, Doro e Nego Beba foram liberados pelas autoridades policiais. E o melhor: com os 50% acertados no bolso.
- É si pinotaru, tão feito! Num vieru nem buscá os outro 50% do cachê. Assim, também, seria demais também. Esse eu embolso.
E foi. Ainda hoje Doro num pode ver mal encarado que o sangue some e ele escapole.
- Ora, eles fizeru a feira na casa do povo, pra quê queri mai dinhêro? Ôxe, defendi o meu que tumbém sô f´i di Deus. ©Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.

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CRÔNICA DE AMOR POR ELA
REFREGA

Nua, esgalga, à espera
Do que sou nas leiras dela,
verga inteira na trela e ela galga fera,
Às sacudidelas da nossa ferga.

(LAM)
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CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
LAM na TV Gazeta de Alagoas
Recital Musical Tataritaritatá
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