AMANHECER
Longe vai quase inaudito canto
Restou ausente o que se foi
O mundo aos ombros, tudo é presente
E, no entanto, abolidas certezas e precisão
Enterram o que ontem em mim se fez
Mas não desfez as unhas que cavei a terra
E se assemelha a voz à lua
E se resume a rua vaga
E se espelha quem não continua
Afeto impune que não se afaga
O peso da solidão, intrusa veemente da noite
Somente o meu exílio, comparsa da desolação
Celebro a vida e renasço quando muito
Sou a cidade alvoroçada aos meus pés
Tudo é fortuito e quase, quando ao invés
O dia nasce e é talismã às minhas mãos.
© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja
mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá apresenta o
Revellon de Ano Novo com Marlos Nobre, Egberto
Gismonti, Hermeto Pascoal, SporkFrevo Orquestra, Yes, Elba Ramalho, Gênesis,
Lenine, Beto Guedes, Milton Nascimento & muito mais. Para conferir é só ligar o
som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA – [...]
Em sua imaginação ou na realidade, o
individuo moderno parece necessitar de uma sensação de poder para superar um
desespero interior decorrente da experiência de ser importante como uma criança
e impotente como um adulto. Mas é uma ilusão acreditar que o poder é capaz de
resolver os complexos problemas humanos. A irrealidade do mundo moderno é sua
fé no poder. [...] Com sufiente
poder, ele pode controlar seu destino e determinar sua própria sorte. [...]
Reconhecemos que o nosso conhecimento, o nosso saber, é sempre incompleto, que
o nosso poder será sempre insuficiente para afetar o nosso destino, que somos
mortais. Permite-nos dizer: “não sei”. E permite-nos a empatia para com outros,
pois adminitimos as características que nos são comuns como seres humanos.
Reconhecendo e aceitando os nossos limites, tornamo-nos verdadeiras pessoas,
não narcisistas. [...]. Trechos extraídos da obra Narcisismo: negação do verdadeiro self (Cultrix, 1983),
psicanalista e psiquiatra M. D., Alexander
Lowen (1910-2008). Veja mais aqui.
CULTURA PÓS-MODERNA - [...] na
cultura pós-moderna, a própria ‘cultura’ se tornou um produto, o mercado
tornou-se seu próprio substituto, um produto exatamente igual a qualquer um dos
itens que o constituem. [...]
O pós-modernismo é o consumo da própria produção de mercadorias como processo [...] Os
pós-modernismos têm revelado um enorme fascínio justamente por essa paisagem
degradada do brega e do ‘kitsch’, dos seriados de TV e da cultura do Reader’s
Digest, dos anúncios e dos motéis, dos lateshowse dos filmes B hollywoodianos,
da assim chamada paraliteratura [...] entender o pós-modernismo não como um estilo,
mas como uma dominante cultural: uma concepção que dá margem à presença e à
coexistência de uma série de características que, apesar de subordinadas umas
às outras, são bem diferentes [...] A
produção estética hoje está integrada à produção das mercadorias em geral: a
urgência desvairada da economia em produzir novas séries de produtos que cada
vez mais pareçam novidades (de roupas a aviões), com um ritmo de turnover cada
vez maior, atribui uma posição e uma função estrutural cada vez mais essenciais
à inovação estética e ao experimentalismo
[...] a obra de arte [...] é agora um saco de gatos ou um quarto de
despejo de subsistemas desconexos, matérias primas aleatórias e impulsos de
todo tipo [...]. Trechos extraídos da obra Pós-modernismo: a lógica cultural do
capitalismo tardio (Ática, 2002), do
crítico literário e teórico estadunidense Fredric
Jameson. Veja mais aqui.
FOLHA DA AMARGURA - Poeta é preso em flagrante sorriso: Neste sábado
pela manhã, a tropa de elite do mau humor, fortemente armada, conseguiu prender
o poeta Augusto, 44, que estava sorrindo, sem autorização, deliberadamente em
mais uma manhã terrivelmente ensolarada. Acusado de Idiota, o poeta foi
enquadrado na lei nº777, denominada "Tristeza não tem fim" e
imediatamente levado ao Departamento das caras amarradas, no Centro das Mágoas,
em São Paulo. O Poeta Augusto tinha acabado de
acordar e saiu para uma pequena caminhada, cheio de alegria, conforme
testemunhas, e começou a sorrir para todos que estavam em sentido contrário,
literalmente, Foi aí que foi abordado por uma viatura que fazia ronda no local.
Antes de fugir trocou olhares sem maldades com a tropa do mau humor e saiu em
disparada pela Rua Esperança. Depois da perseguição com troca de insultos, não
por parte do poeta, ele foi preso em flagrante, ainda com duas ou três risadas
que iria usar mais tarde. Ao ser interrogado Augusto não entregou quem lhe
havia fornecido a alegria, e ainda revelou, de forma risonha e irônica, que ele
era o dono da boca. O mau humor confirmou sua prisão temporária por 30 dias, e
que no final da tarde o poeta será transferido para o presídio de solidão
máxima, enquanto aguarda o julgamento. O Secretário Geral das mesquinharias,
Coronel José Bicudo Guerra, 98, informou em entrevista coletiva que o governo
vai investir pesado na luta contra o bom humor, e que dentro de dois ou três
anos vai erradicar a alegria do país. Da redação: vira-lata das ruas. Extraído da obra Literatura,
pão e poesia (Global, 2011), do poeta Sérgio
Vaz.
ESTÂNCIAS – Tua dor, Du
Périer, será acaso eterna, / e a tortura e a aflição / que te incute na mente a
amizade paterna / sempre aumentá-la-ão? ] A desgraça da filha, ao túmulo
descida / por um transe comum, / é alguém Dédalo ao qual tua razão perdida /
não ache fim algum? / E sei de que fulgor lhe estava a infância plena / e não
ouso tentar, / infortunado amigo, aliviar-te a pena / com só a desdenhar. /
Mas... pertencia ao mundo, onde as mais belas coisas / têm vida curta e vã; /
e, rosa, ela viveu o que vivem as rosas:/ uma breve amanhã. / Suponhamos porém
que, ouvidos teus lamentos, / lograsse ela alcançar / longa vida e adiar seus
últimos momentos, / que iria ela lucrar? / Teria, pensas tu, mais ditosa
acolhida / na celeste mansão, / ou veria abrandado o pesar da partida / e os
vermes do caixão? / Não, não, meu Du Périer, porquanto assim que a Parca / alma
e corpo separa, / desaprece a idade antes de entrar na barca / e toda o tempo
para. / Não te canses portanto em inúteis lamentos, / recupera a razão. / Devota-lhe
o melhor dos teus bons pensamentos, / põe de lado a aflição. / É um costume bem
justo, eu sei, em meio à agrura / o aflito coração / nas lágrimas buscar, para
a sua amargura, / paz e consolação. / Mesmo quando separa a sepultura os seres
/ que natura ajuntou. / Um bárbaro será quem falte a tais deveres / ou um
monstro o gerou. / Mas, não buscar consolo e dentro da memória / seu desgosto
encerrar, / não é odiar-se a si para alcançar a gloria / de a outrem amar? / A
mim já me atingiu esse flagelo / duas vezes fatais, / e duas vezes pude à razão
submetê-lo / sem me abater jamais. / Não que não sinta, eu, que o túmulo possua
/ o que caro me foi; / mas acidente tal, que a ninguém excetua, / justo é que
não ecoe. ; Mais que outra condição, tem a morte rigores / que não há conjurar;
/ a cruel tapa o ouvido aos nossos vãos clamores / e nos deixa gritar. / O
pobre em seu casebre, onde cobrem esteiras, / sujeita-se-lhe às leis; e a
guarda do que Louvre assegura as porteiras / não salva os nossos reis. / Murmurar
contra ela e esgotar a paciência / erro é, que não se impõe; / querer o que
Deus quer, eis a única ciência / que em repouso nos põe. Poema do poeta francês François de Malherbe (1555-1628), conhecido como “pai da luxúria”. Veja mais
aqui.
A POESIA DE ADMMAURO GOMMES
A poesia do poeta e professor Admmauro
Gommes é autor de diversas obras
poéticas e organizador de obras reunindo estudos literários e
sociolingüísticos, além de participar de antologias poéticas. Atua como
professor de Teoria Literária e Literatura Brasileira
na Faculdade de Formação de Professores da Mata Sul (FAMASUL), é especialista
em Língua Portuguesa pela FAFIMA (Maceió) e já ocupou o cargo de Secretário de
Educação em diversos municípios. Veja a poesia do autor aqui, aqui & aqui.
Veja mais:
&
A ARTE DE RENATA
DOMAGALSKA
A arte da pintora
polonesa Renata Domagalska.