ALÔ, CONGRESSO NACIONAL, OUÇA QUEM O ELEGEU!
DESENCONTROS DE
ONTEM, REENCONTROS AMANHÃ – Entre as coisas
que aprecio fazer nas horas de ócio é olhar pra trás e mangar dos meus
disparates. Desde os memoráveis tempos aborrecentes de interrogação ambulante
que sou até hoje, graças a Deus, de rimar nada com coisa alguma, de não
ambicionar ser artista de TV ou capa de revista - embora andasse todo cheio das
pregas, venta empinada e sempre folgado, todo espalhado e violando os limites
do maniqueísmo ou do que fosse -, diversão de gente imatura, reconheço, porque
nunca fora domesticado para integrar panelinhas, nem catequizado para professar
fé ou lógica de natureza alguma. Exatamente, por isso, quase uma fraude, tal
erva daninha na condição de inimigo a ser combatido, sem causa nem animal de
estimação, eu sempre me dera disposto ao altruísmo. Pelo menos fui honesto
comigo e ao que me propunha fazer, não escondendo de ninguém a patética jactância
dos meus critérios duvidosos, sempre apostando em trunfos que não passavam de
travessuras e risadagens, quando não deselegante e indiscreto usurpador da
paciência alheia, radical em minhas tolices. Mesmo assim, depois da profusão
assombrosa dos meus trocentos fracassos, procurava todo mundo para comemorar –
cadê? Tudo desabado. Tiveram todos muita paciência comigo, sou grato, acho que
relevavam meus desatinos. Mais sei que aguentaram além da conta, algumas ou
tantas e muitas sucumbiram às antipatias que se esgarçaram das amizades às
mórbidas indiferenças – de boas intenções o inferno já estava pra lá de
sobrecarregado. Evidente que eu deveria ter culpa no cartório. Quanto mais
tentava acertar, mais emporcalhava: sempre metia as mãos pelas pernas - vai ser
desorientado assim na casa da peste, doido! Pudera, no frigir dos ovos, nunca
fizera nada digno de nota, tudo construído na minha incapacidade extravagante em
manter vínculos e convívios. Uma ou outra que se diga lá de qualquer coisa. Optei
por ser estrangeiro auto-exilado na solidão, convivendo na penumbra dos meus
porões. Contudo, ao reencontro com qualquer dos sobreviventes, viro festa de
dia da padroeira, dentes mordendo as orelhas. É muito bom rever as pessoas. Exemplo
disso, foi ter reencontrado indagora o poetamigo e professor Gleidistone Antunes da Silva, quem eu conheci
alguns trinta anos atrás, então radialista Tony Antunes, quando dividíamos atividades
numa emissora da terrinha. Todo esse tempo depois, batemos papo, atualizamos as
novidades e retomamos o contato, razão pela qual destaco seu trabalho na imagem
desta. Até um tanto entusiasmado com isso, ouso dizer aos de ontem e de sempre,
da minha alegria de revê-los e de sonharmos juntos na construção de um mundo
melhor paratodos. © Luiz Alberto Machado.. Veja mais aqui.
Há muito tempo que saí de casa, há muito tempo que caí na
estrada
Há muito tempo que eu estou na vida
Foi assim que eu quis e assim eu sou feliz
Principalmente por poder voltar a todos os lugares onde
já cheguei
Pois lá deixei um prato de comida, um abraço amigo
E um canto pra dormir e sonhar
E aprendi que se depende sempre de tanta muita diferente
gente
Toda pessoa sempre é as marcas das lições diárias de
outras tantas pessoas
E é tão bonito quando a gente entende que a gente é tanta
gente
Onde quer que a gente vá
E é tão bonito quando a gente sente que nunca está
sozinho
Por mais que a gente pense estar
É tão bonito quando a gente pisa firme nessas linhas que
estão
Nas palmas de nossas mãos
É tão bonito quando a gente vai à vida nos caminhos onde
bate
Bem mais forte o coração
O coração, ah! O coração.
Caminhos do coração (EMI-Odeon, 1982), do
saudoso cantor e compositor Luiz Gonzaga
Júnior, o Gonzaguinha (1945-1991). Veja mais aqui e aqui.
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DESTAQUE: AUGÚRIOS DA INOCÊNCIA
Ver um mundo num grão de areia,
E um céu numa flor do campo,
Capturar o infinito na palma da mão
E a eternidade numa hora.
Um tordo rubro engaiolado
Deixa o céu inteiro irado…
m cão com dono e esfaimado
Prediz a ruína do estado…
Ao grito da lebre caçada
Da mente uma fibra é arrancada.
Ferida na asa a cotovia,
Um querubim, seu canto silencia…
A cada uivo de lobo e de leão
Uma alma humana encontra a redenção.
O gamo selvagem acalma,
A errar por aí, a nossa alma.
Se gera discórdia o judiado cordeiro,
Perdoa a faca do açougueiro…
A verdade com mau intuito
Supera a mentira de muito.
É justo que assim deva ser:
É do homem a dor e o prazer;
Depois que isso aprendemos a fundo,
Seguros podemos sair pelo mundo…
O inquiridor, que astuto se posta,
Jamais saberá a resposta…
O grito do grilo ou uma charada
À dúvida dão resposta adequada…
Quem duvida daquilo que vê
Jamais crerá, sem como e porquê.
Se duvidassem, sol e lua
Apagariam a luz sua.
Soltar tua ira pode ser um bem,
Mas bem nenhum quando a ira te retém…
Toda noite e toda manhã
Alguém para a miséria está a nascer.
Em toda tarde e toda manhã linda
Uns nascem para o doce gozo ainda.
Uns nascem para o doce gozo ainda,
Outros nascem para uma noite infinda.
Passamos na mentira a acreditar
Quando não vemos através do olhar,
Que uma noite nos traz e outra deduz,
Quando a alma dorme mergulhada em luz.
Deus aparece e Deus é luz amada
Para almas que na noite têm morada,
Mas com a forma humana se anuncia,
Para aqueles que vivem nas regiões do dia.
Augúrios da inocência (poema,
1803) / The Greatness - Satan watching
the Caresses of Adam and Eve (pintura, 1808), extraídos do livro Poemas do manuscrito Pickering / Os Portões
do Paraíso (Antígona, 1996), do poeta, pintor e gravador inglês William Blake (1757-1827). Veja mais
aqui, aqui, aqui e aqui.
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