sábado, março 05, 2016

FANDANGO DO VAI QUASE NUM TORNA


FANDANGO DO VAI QUASE NUM TORNA

Luiz Alberto Machado

De gole em gole ali estavam aboletados não só o Divaniço, um empolado católico, todo entroncado, metido a besta, perturbador nato que quando se lavava numa pirocada saía dando tudo o que era seu e o que não era - só não dava o frosquete porque não era permitido pela religião dele, arrotava -, achegado a putas e petas nas horas vagas e a um conluio entre o trambique e a agiotagem.

Do lado dele o Gulu, óculos no pau da venta, olhos apertados, tomador de muitas e boas, doido por mulher perdida, douto de leituras várias nas horas de ócio, puxador compulsivo do tabaco que enodoava os dedos, beiços e pulmões encardidos, além de achegado a pitar de outras ervas daninhas perseguidas pelo opróbrio popular.

Na outra cabeça da mesa o Carneirinho, que era outro letrado, óculos à La John Lennon, mascando chicletes sempre, correto, avantajado, feições alouradas e destruidor de famas pelo peculiar escárnio, carregando uma hérnia que mais parecia uma lata de queijo do reino entre as pernas e uma perseguição medonha para descobrir os pais biológicos que o abandonara em tenra idade.

Também o Gonçalo, esse nem fede nem cheira, dominado pela mulher, cuidador dos filhos, só faltando dar o de mamar para eles, mangador e maria-vai-com-as-outras, possuidor do cacoete mais intrigante de todos: o de amolegar as intimidades e depois ficar cheirando os dedos - pantim desgraçado esse, reclamavam.

Outro da recada era o Mô Desentoado, esse desinfeliz tinha o poder de trucidar tímpanos com sua viola num acorde de sol e solfejando a melodia da toada em si bemol, cheio das pregas como que abafando num show, com sua mínima diferenciação entoada mais popularmente conhecida por desafinação braba, caçula predileto da mãe, num dava um prego numa cocada mas que pelo paparicado dos pais era o mais afortunado do grupo, o mais cheio de nove horas e pabulagens.

Também o Selenito, magricela astuto, mentiroso de dar dó, peiticando com tudo e acometido de uma rouquidão que dava a impressão de que se estivesse numa câmara de hélio comprimido, ou seja, imitando Pato Donald para insultar a pacutia dos outros.

Essa a trupe dos tomadores, todos bebericando descompromissadamente numa manguaça desenfreada desde das dez horas matutinas sem se dar conta da hostilidade das águas na vez dos afogamentos. Glup! Era água que passarinho não bebe entrando pelo nariz, pelos ouvidos, pelos buracos todos do corpo. Isso até umasoras! Era uma sede de não haver que saciasse. Vai beber assim no raio que o parta!

E como já se aproximavam os festejos natalinos, eles estavam, como sempre, numa confraternização antes da hora. Bastava um motivo, pronto, uma comemoração. Se não tivesse motivo algum, arranjavam na hora.

Como sempre adiantados que só disco de embreagem deslizando, jingle bell, jingle bell, acabou papel, não faz mal, não faz mal, limpe com meu pau. Ora, assimétricas toleimas duma congregação de proscritos. Os caras já bebiam por nada, avalie, e quando comemoravam era mais que boca aberta nas cataratas de Nova Iguaçu e não dando vencimento para sede tamanha. Num sei como as tripas do bucho aguentavam tanto.

A discussão começara logo cedo para ver quem pagaria a conta. O liseu estava brabo, se bem que nossos diletos pinguços não se encontravam desempregados, mas que por via de cachaçada diária, gastavam a mais da conta. E como gastavam. Num tinha mês que resistisse, quando o salário chegava num dava nem dez dias. Tavam mais liso que sabão em asfalto novo.

- A gente devia de receber por semana o salário de um mês! -, reclamou Mô Desentoado. -, logo quem dizia isso, o mais folgado de todos, ensaiando uma xêxada no dono do estabelecimento comercial.

A trupe bebarrona tinha lá seus locais prediletos, mas este mês estava com o saldo estourado nos fiados dos botequins, décimo terceiro parcelado, gratificações suspensas e só chegaram ali por convite do Zé Sapinho que inaugurara o bar há poucos dias e recepcionaria aqueles inveterados bebedores para avaliação de sua empreitada e de braços abertos prontos para a crucificação. Tum! E era quiquiqui, cacacá. E tome mais.

Zé Sapinho abrira a exceção ao conceder-lhes baterem o centro no primeiro prego - olhe só que risco de xêxo; prego não, grampo de linha férrea; xêxo, o quê? Um jorge no coitado do dono, de trocar pinto por fuga de papa-léguas. E: nunca mais!

Pois bem, lá estavam eles, pedindo tira-gosto aos tantos numa prova ao paladar de saborear seu tempero, de passoca injeitada às iguarias ineivadas. Isso sem contar com as bebidas várias a julgarem da procedência e originalidade da sua adega, de café com coca cola a champanhe importada. Mais música ambiente conforme o gosto deles que interrompiam tantos discos a outros mais receptivos em detrimento de outros noutras mesas, isso no xote, no frevo, no maracatu, lambadas, bossas, axés, baladas, cheganças, marujadas, cirandas, cornagens e mungangas. Quer dizer: deitavam e rolavam assanhados, esfuziantes e dono das ventas.

- Meu, quem vai bancar essa conta? -, interrogou Gulu.

- A gente deixa no prego, depois paga, num tem serviço de proteção ao crédito que me iniba! -, finalizou Divaniço, agora mais posudo que antes: - E se inventassem uma serasa para botequim, hem? A gente tava f-u-fu-d-i-di-d-o-do!


Lá pelas três da tarde já exigiam que Sapinho suspendesse o atendimento de outras mesas, ficando ao dispor exclusivo deles. E pela atenção meteram elogios aos condimentos apimentados das comidas servidas, ingeriram cachaça de todas as qualidades, música de todos os gostos e, depois, calaram o maestro agulha e deram de começar sua própria batucada. Esquindô-dô-dô! Os bombos se arrepiaram!

"Truléu, léu, léu,
truléu da Marieta,
que nós somos marinheiros
dessa Nau Catarineta...”

E navegaram no mar dos copos por todos os oceanos possíveis, remando a bombordo rumo a que lugar imaginário, alhures. Melados, buscavam dragões mitológicos nos seus delírios, refaziam roteiros de antigos navegantes em suas ousadias, de vento em popa, atravessando tormentas até alcançarem a placidez das águas no copo beiçado e lambido que esperava enxutinho por outra talagada de três dedos. Que latitude então bordejavam abandonando as costas insulares e continentais? Que longitude poderiam seguir uma hora seguindo a observação da Estrela Polar. Noutra, seguiam sempre pela esquerda da Ursa Maior. Por conveniência da perdição de todos, anuíram de seguir a constelação do navio dos argonautas. A direção da venta e pronto. Era cada curva do nego ficar zonzo só com a imperícia, imagine.

Mais para as tantas noite adentro encontraram uma garrafa e no interior dela uma carta de suicida. Choraram, lavaram a alma e a culpa. Arrepiaram-se. Divaniço de agora como oficial condecorado Capitão de Mar-e-Guerra da nau, aboiava o cardume que se lhe seguia, acompanhado de Gulú, com o violão, que se tornara o Comandante, Carneirinho, com uma gaita, o Cirurgião-mor, Mô Desentoado, segurando um chocalho ritmado era o Vassoura Zelador proibido de emitir qualquer pigarro ou som gutural - desafinava até na tosse; e Selenito, batucando em sua disritmia capenga, era o Ermitão. Os outros ou quem quisesse, seriam mouros e vassalos deles.

Começaram com ubá dum casco de pau cavado na maior tiranada. Daí foram se transformando até num transatlântico, tamanha a invencionice deles. E cruzaram com canoas, pranchas, garoupeiras, lanchas, alvarengas, pirogas, bacuçus, - eita, u-ru! - vaticanos, baleeiras, vigilengas, gambarras, galeotas, - segura o tombo, doido! - baligiras, veleiros, balsas, serradores, palhabotes, saveiros, - "quem te ensinou a nadar? Foi, foi, marinheiro, foi os peixinhos do mar!" - batelões, galés, botes, cruzadores, - "assassinaram o camarão!" - barcaças, caravelas, boieiras, escaleres, fragatas, - "o meu navio também flutua nos verdes mares de norte a sul!" -  pelotas, burrinhas, paquetes, cabritas, navios, canhoneiros, - "o mari é lindo, a noite é bela, desfralda a vela, remar, remar!" - fragatas, petroleiros, oceanográficos, clíperes, rebocadores, cargueiros, - "como pode o peixe vivo viver fora da água fria, como poderei viver sem a tua companhia!" - quebra-gelos, geleiras, igarités, caçoeiras, -  "nem que eu bebesse o mar encheria o que tenho de fundo..."-  oiates, perus, chatas, jangadas, igaras, gambarras, piperis, cochas, catraias, - "o barco virou, tornou a virar, foi por causa..." - faluas, cúteres, almadias, catamarãs, escunas...

- Para onde será que vai todo mundo?

- Todos vão, quando não, para o vai não volta!!

E era meio mundo de coisas aparecendo na hora como o quadrirreme de Dias de Siracusa, mais os minoanos de Creta, os fenícios que iam para a Cornuália atrás de estanho, os vikings para a Groenlândia, icebergs imensos ajudando no queimor da pinga, submarinos militares, as bujarronas no gurupé das jangadas dos pescadores, o incêndio do bergantim na fuga do pirata Lancaster, o Padre Roma iniciando uma revolução, mestre Joaquim dando fuga aos negros escravos na jangada Juriquiti, as galeras de Antígono e Demétrio, o tenente João das Botas defendendo a ilha de Itaparica e derrotando a esquadra portuguesa do general Madeira - vivaaaa! Era o barco de Ptolomeu VI, Chico da Matilde na Liberdade, o mestre Filó acenando, o mestre Jerônimo mangando, o Roche-fort, o galeão das Cruzadas com os santos fajutos de Cristo, o Couronne bretão, o Royal-Louis de Toulon, o Sans-Pareil, o Clipper, o Santa Maria de Colombo nas beiras do Mundo Novo, o Great-Republic e tome mais. Não parou por ai. Bordejaram mais. Encontraram a paz universal de Kublai Khan, os estudantes do Profissional List of Rio Grande do Sul Marine Molusk e os da Lista Preliminar dos moluscos marinhos de Alagoas, epidemias de escorbuto, um cruzeiro de usineiros que sonegaram impostos e se riam da leseira da população, o pirata Jean Ango, o Jacques Custeau em suas pesquisas ultramarinas, El-Rei Dom Sebastião encantado ouvindo o choro dos sacrificados que velavam a sua ressurreição, o mundo de Artur Conan Doyle, o naufrágio do Titanic, uma manifestação dos sem-terra agora jogados na água; eita! Era o ataque de corsários furiosos a um bem perto, mais o velho de Hemingway, os piratas Durguay-Trouin, Jean Bart, Francis Drake, John Wawkins e Henry Morgan, as canções de Dorival Caymmi, os deputados corruptos de todas as assembleias legislativas dando tiro pelo flagrante, o Aaron Manby, o Rhadamanthus, o Otto Mahn, o Uss Tritão, o Clermont, o Comet, o Sirlus, o Great-Western, o Britânica, o Mauritânia, o Lusitânia, o Olympic, o United States, o Queen Elizabeth, o France, o Cristóforo Colombo, o Leonardo da Vinci, o Bismark, o Enterprise, o Savannah, o Holland, o Nautilus, o Triton, o George Washington, o Batiscafo, o Hidrodeslizador Hovercraft, a importação do cedro do Líbano, os capitães da areia de Jorge Amado, as trocas de mercadorias com a biblos fenícia, a vinda da escória portuguesa para o Brasil, a nau dos vivos em petição de miséria clamando a Deus por uma salvação, a dos mortos que se safaram das broncas naturais da vida; e ainda pensavam que estavam no Sea Diver ou no Conshelf, homenageando São Pedro, invocando o santo José de Ribamar e São Sebastião para não naufragar.

Gulu, mais espremido que nunca, pois já havia lido o Milhão, o livro de Marco Polo, cidadão de Veneza, chamado Milhão, onde são narradas as maravilhas do mundo, vinte e quatro anos pelo Oriente e questionava quando será que o homem fará domicílio nas águas porque a terra poluída e degradada não lhes dará razão alguma mais para moradia? Que os latifúndios avarentos expulsariam, que os poderosos excluiriam, que a fome e a desgraça afugentariam, que os impostos e o custo de vida desterrariam, que a impossibilidade de vida na crosta terrestre os transformaria em aquanautas incólumes das desigualdades do planeta terra que se transformaria para os pobres e desvalidos em água. Deu em nada. Escaparam todos os acontecimentos entre os dedos, fazendo os outros, ouvidos de mercador. E o La Jolla? Pulmões ou guelras? Para quem leva porrada assim mesmo, melhor tentar mergulhar, num é, não? Ou se afoga ou morre pisoteado. Qual? Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Ou nada ou nada.

Gulu ainda insistia com a voz engrolada, sem saber que raciocínio concatenar, falando do compasso da Navigare, a Carta Pisana, as tabelas de Amálfi, do quadrante, do astrolábio, do sextante, que giroscópio então? Que bússola?

- Eu não sou peixe pra viver na água! Mas que aqui em cima, na crosta terrestre, a coisa tá braba, tá! -, sentenciou o afônico Selenito.

- Já pensou a gente chegar o tanto de viver em menos de metro quadrado? -, Mô Desentoado contrapôs: - morreria tudo sufocado, num era não?

- Vocês estão com muita pacutia, isso sim! -, reclamou Divaniço.

- Eu que vou mergulhar gente! -, pulou na água Gonçalo. E mergulhou na fundura, no meio de vegetais marinhos e plânctons, buscando o búzio dourado das ilhas Fidji. Inútil, já tinha mais de mil atrás disso. Homem ao mar! Quase morre afogado num fosse a intervenção de todos.

Carneirinho puxou a rede, desmalhou peixes e eis que veio um molusco que Gulu já trazendo consigo um galão de álcool na busca de conchas, aprofundou seus conhecimentos de malacologista, ampliando seu rol de culturas inúteis como a de interpretar sonhos enigmáticos, decifrar charadas e trava-línguas, buscas cosmogônicas de registros acásicos, primórdios teocráticos e teológicos, o que determinava seu ateísmo voluntário por descrença que qualquer religião valha mais que uma bosta fedida.

- "Venho deitar uma loa, que andei té agora estudando!"

Selenito, fanhoso e debilitado pelo excesso de álcool ingerido, se segurava no mastro real da embarcação, fingindo traquete, com três ou quatro vergas, a bandeira do Brasil num dos dois mastaréus, tendo todos os estais, brandais, ovéns, o nome Nau Catarineta escrito na proa, orgulhoso de se ter a oportunidade de estar numa verdadeira La Nave Va.

- Que broa boa!

- "Não falo em broa, parvo, senão em loa que é louvor!" - frisou emputecido Gulu.

- Essa não é a Nau Catânia não, viu gente? -, zombou Carneirinho com uma só virada de copo, vira, vira, vira, vira, vira, vira, vira, vira, vira, virou!

- "Quando meu mestre me manda correr nau pela proa, vem-me logo na lembrança as mulheres que são boas!" -, fez munganga rouca Selenito.

Uma grande lamparina de folhas-de-flandres, a querosene e de morrão grosso à prova de vento, acesa nos mastros, iluminava os intrépidos navegadores que surrupiavam o vernáculo. Esqueceram que quando se estar no mar não se assobia, nem se canta, nem se conversa para não despertar a fúria do mar em ondas altas e espumantes. Só se reza, salvando-se de batalhas como a de Alcácer-Quibir. Quando vão a vento, vão à vela; quando para, vão de vara ou zunga. O certo é que fugiam das corredeiras e dos pés-de-vento. Por enquanto iam a barlavento, mas outra hora se mordiam e já seguiam à sota-vento. Depois à deriva. Bote goladas nisso. Tomavam ora direção a bombordo, mas já adernavam a estibordo. Foi aí que a carranca da proa deu três gemidos, sinal de maus presságios. Ficaram atentos.

- Governa o leme, homem! -, gritou Selenito. Desouviam. O proeiro e o bico de proa se agarravam aos cabos de espeques para melhor equilíbrio no mar. E cantaram assim mesmo, molhados até a última encarnação.

- "Marinheiros somos, marujos do mar, nós que de longe viemos para vos vir festejar!"

Eis que um estranho folgado, daqueles arregueiros que invadem a cachaçada dos outros, simpatizando dos três tempos e sapateado, adentrou na nau deles no maior arrego. Estavam tão embevecidos com seus acordes que nem tavam nem aí praquele que se dava já por Gageiro no meio da troça.

- O rei mouro quer nos foder a alma! -, berrou o Gageiro.

- Êêêêêêêê! Tirar o tiruléu! -, todos em coro!

- Ê boi do cu cagado! -, sentenciou Divaniço Capitão.

- Tiruléu, léu, léu!

- "Aqui viemos Deus Menino, vosso festejo formar; uma cruel, longa história nós viemos relatar."-, relatou o Capitão: - "rema quem rema, bravo marinheiro! Quem não rema não ganha dinheiro!"

- Rema pra mim, rema pra tu, quem não rema direito, vai tomar no cu!

- "Estamos prontos para pelejar e navegar convosco sobre as ondas do mar!" -, fecharam todos.

E tomaram cada qual o seu lugar com trejeitos e rapapás nos enfrexates laterais. O gageiro inquieto nas enxárcias, depois na verga do velacho, ou no mastro do traquete ou no mastro da mezena, um bicho arisco e estradeiro. Veio então a fome. De tudo já comeram, acabaram todos os mantimentos. Verdadeira inanição assolada. Foi quando tiveram a ilustre ideia dos antropófagos. Pelo jeito iam comer uns aos outros. Aplacando os canibais, o Gageiro botou ordem na casa. Botaram no jogo da porrinha quem seria a vítima sacrificada para saciá-los. Era a sorte, quem fosse que fosse. O Gageiro comandava a organização da pugna. E vieram chamas, palpites nos palitinhos. Vieram todos de lona, revogaram tudo e olhe que o blefe foi dos altos. De novo. O Mô Desentoado foi o primeiro a ficar de fora. O Gulú estava esperto, adivinhou o palpite certo, eximindo-se. Carneirinho foi na medida, escapuliu. Gonçalo, numa cagada, ficou na lateral. Selenito escapou fedendo. Divaniço, o comandante, era o desafortunado. Então, como último pedido, solicitou ao Gageiro que subisse no mastro a ver se avistava salvação. Os outros já com língua lambendo os beiços esperavam imolá-lo vivinho.

-  Avisto terras de Espanha, areias de Portugal! -, cantou o Gageiro!

- Gageiro, pela minha salvação, dou-te a filha que tenho, todas as moedas do bolso e quantas quiseres mais!

- Não quero nada, quero a tua alma!

- Vôte?!?

- Quero a tua alma, apenas.

- É o tinhoso, gente!

- Sou regatão, negocio vidas nas águas.

Todos estremeceram. Ficaram assustados, cada qual encostado nas bordas do navio. Era um fedor de enxofre da porra!

- Não adianta, é você que eu quero!

- Não vou vender minha alma ao diabo, nunca! -, e benzeu-se ininterruptamente.

- Seu destino está traçado, vou levá-lo por bem ou por mal!

- Eu sou jovem ainda, não mereço agora morrer!

- É agora ou nunca!

- Se tenho opção, prefiro nunca!

Divaniço sem saída pulou dentro do mar e eis que um anjo salvou-lhe a vida. O sangreiro velho espirrava na sua cara. Ele notou nas mãos que seu rosto estava enxaguado. Rárárárárá! - riam-se todos.

- Outro tombo desses, tu perde a vida desgraçado. Como é que o cara fica bêbo de dar um cochilo no copo de quase morrer afogado? © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

 A arte do pintor do Modernismo brasileiro Cícero Dias (1907-2003). Veja mais aqui e aqui.

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CRÔNICA DE AMOR POR ELA
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JUDITH BUTLER, EDA AHI, EVA GARCÍA SÁENZ, DAMA DO TEATRO & EDUCAÇÃO LINGUÍSTICA

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