sexta-feira, março 18, 2016

AMÉM E AMEM!

AMÉM E AMEM, COMO DIZIA NANÁ VASCONCELOS! (Imagem da artista plástica Lucélia D’ Roquet) - Houvera tantos desencontros, a ponto de Delcilda vê-se quase sempre no desamparo, indefesa. Nesses anos todos, tudo se fizera de alegrias efêmeras, descontentamentos perenes. E pra ela tudo isso era injusto, seu quinhão insatisfeito. A vida lhe devia a felicidade e disso, tinha certeza, era credora. Não sabia como. Só sabia de aversões, conflitos, tudo terrivelmente dando errado. Não havia um só momento sequer que não fosse de verdadeiro caos à espreita, derrotas simultâneas, frustrações compulsórias. O que teria feito ela para merecer desenganos, fracassos, não sabia. Só restava a solidão devastadora. Nada mais: o olhar perdido, a vida monótona, sem sentido algum, tudo vazio e insosso. Onde haveria de ter falhado, jamais soubera. Será que não estava lidando direito com seus anseios e relações, não haveria como discernir. Tudo fizera para que a vida fosse um mar de rosas, mas pra ela todos eram escravos da cobiça, do egoísmo. Não havia sintonia, reciprocidade. Não. Ninguém entendia sua dor, muito menos seus quereres. Sentia-se impotente para enfrentar as incompreensões, as feridas abertas, os ressentimentos vigentes, e ninguém jamais lhe dera um aceno de menor que fosse o afeto. Aos que dedicou seu amor, perderam-se. E ela que sempre dera tudo de si, sucumbira aos desastres, desamarrara todos os seus laços afetivos. Ela sempre se viu inteira e plena com tudo e com todos, mesmo com alguns segredos só de seu e de algumas verdades suas inauditas. Tinha de ser assim. Não dá pra ser cristalina em tudo nem com todos, ora. Temia trapaças, traições. Guardava-se de si, jamais desnudar a alma. Nudez do corpo no escuro, encobrindo suas falhas que eram só suas, com seus rangeres de dentes mudos, seus remorsos e ojerizas profundas, seus infernos tenebrosos. Tudo isso era só seu e difícil até de conciliar, compartilhar. Tinha de valer na passagem, longe do espelho. Não queria ser infeliz, apenas amar e ser amada, como se na paixão não houvesse de ter sacrifícios. Queria a vida inteira, como se ela não fosse feita de provas e privações. Queria a felicidade a qualquer custo, como se só ela merecesse essa felicidade. Ah, claro, a dos outros é dos outros, ela só queria a dela, a que lhe cabe, mais nada. Assim, fechou pra balanço! Até que vira naquele instante um olhar amante cruzar seu o caminho. Remoçou na hora, sorriu-lhe a vida. E quando deu o primeiro passo, sabia que de perto nada seria como sonhara, mas arriscou. Havia de ser assim. Do contrário, passaria batida, perdia a hora. O afeto tocou-lhe a alma de quase desvelar-se inteira. Quase. Não fosse a simples menção com um sorriso largo: amém e amem. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui e aqui.

 Imagem: a arte da professora e artista plástica paraibana radicada em Curitiba, Lucélia D’ Roquet.

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CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Imagem da artista plástica Lucélia D’ Roquet.
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