quinta-feira, março 07, 2013

MAXINE KUMIN, ANDRÉ BRINK, ADRIANA DIAS, ALVA MYRDAL, PRAMOEDYA, JIN YONG, IZZARD & ANAXÁGORAS


PRA SER DE PAZ QUANDO GUERRA – UMA: LIÇÕES PACÍFICAS – De antemão: sou da paz em qualquer situação. Longe de mim atirar pedras, se eu não puder pacificar, recolho-me insignificante. Esta foi uma lição que tirei dos alfarrábios, quando dei de cara com o que dissera a socióloga sueca e prêmio Nobel da Paz de 1982, Alva Reimer Myrdal (1902-1986): Podemos esperar que os homens entendam que o interesse de todos é o mesmo, o que você espera está na cooperação. Podemos então talvez manter a paz... Minha filosofia de vida é a ética... Essa a cooperação que exercito todos os dias e o dia todo. DUAS: PARA LIDAR COM AS ADVERSIDADES DIÁRIAS – Outra que guardei registrada até hoje foi a do escritor e ativista indonésio Pramoedya Ananta Toer (1925-2006): A vida pode dar tudo a quem procura entender e está disposto a receber novos conhecimentos... Todo bom ensino pode ainda acabar produzindo bandidos maus que não têm nenhum princípio, um resultado ainda mais provável quando o professor também é um bandido... Afinal, a gente precisa aguçar o discernimento. TRÊS: PRA QUANDO ESTIVER PRA BAIXO – Inequivocamente a vida passa com todos altos e baixos, idas e voltas, começos e recomeços, nem sempre tão alto, às vezes relando tudo no chão e coisa e tal. Não adianta esmurrar os ventos, nem pisadas ou pernadas. Coisa interessante foi o que dissera a comediante, atriz e produtora britânica, Eddie Izzard: Quero viver até morrer. Nem mais nem menos... Isto pra mim basta & vamos aprumar a conversa!

 


DITOS & DESDITOS - Um herói não nasce simplesmente, ele é aperfeiçoado nos momentos em que seu amor e lealdade são duramente testados... Nada é impossível a um homem de coração puro e boa vontade... Os céus lançam tempestades inesperadas, as pessoas sofrem infortúnios imprevistos... Meus caros amigos, como diz o ditado: há que ter sempre coração honesto e os deuses não esquecer; pois se as más ações não forem punidas, o mal irá crescer... Pensamento do escritor chinês Jin Yong (Louis Cha Leung-yung – 1924-2018).

 

ALGUÉM FALOU: Ao se repetir algo indefinidamente, o objetivo não é apenas criar fanatismo ou alienação, é que as pessoas parem de pensar e refletir sobre o que estão repetindo... Trata-se da ameaça por parte de negros, imigrantes, povos nativos, mulheres, judeus, gays, deficientes físicos, que estão ocupando os lugares ‘naturalmente dos brancos’. O discurso é que o branco está sendo morto pelo casamento inter-racial, pela adoção de crianças negras por brancos, pelo desejo das mulheres brancas por negros e uma infinidade outras justificativas. Qualquer um que tente ocupar este lugar do branco tem que ser eliminado... Pensamento da antropóloga e ativista Adriana Abreu Magalhães Dias (1970-2023), militante pelos direitos de pessoas com deficiências, que dedicou seu trabalho com estudos sobre ascensão da direita neonazista no Brasil e no mundo.

 

UMA ESTAÇÃO BRANCA SECA - [...] Eu nunca estive tão perto da morte antes. Por um longo tempo, enquanto eu estava deitado tentando clarear minha mente, eu não conseguia pensar de forma coerente, consciente apenas de uma terrível e cega amargura. Por que eles me escolheram? Eles não entenderam? Tudo o que eu passei em nome deles foi totalmente em vão? Realmente não valeu nada? O que aconteceu com a lógica, significado e sentido? Mas me sinto muito mais calma agora. Ajuda a se disciplinar assim, anotando para ver no papel, tentar pesar e encontrar algum significado nisso. Prof Bruwer: Existem apenas dois tipos de loucura contra os quais devemos nos proteger, Ben. Uma delas é a crença de que podemos fazer tudo. A outra é a crença de que não podemos fazer nada. Eu queria ajudar. Certo. Eu quis dizer isso com muita sinceridade. Mas eu queria fazer isso nos meus termos. E eu sou branco e eles são negros. Achei que ainda era possível ir além de nossa brancura e negritude. Achei que estender a mão e tocar as mãos no golfo seria suficiente por si só. Mas entendi tão pouco, na verdade: como se boas intenções da minha parte resolvessem tudo. Foi presunçoso da minha parte. Em um mundo comum, natural, eu poderia ter conseguido. Mas não nesta era perturbada e dividida. Posso fazer tudo o que posso por Gordon ou por dezenas de outros que vieram até mim; Posso me imaginar no lugar deles, posso me projetar em seu sofrimento. Mas eu não posso, nunca, viver suas vidas por eles. Então, o que mais poderia resultar disso senão o fracasso? Quer eu goste ou não, quer eu queira amaldiçoar minha própria condição ou não – e isso só serviria para confirmar minha impotência – eu sou branco. Esta é a verdade pequena, final e aterrorizante do meu mundo quebrado. Eu sou branco. E porque sou branco, nasci em um estado de privilégio. Mesmo que eu lute contra o sistema que nos reduziu a isso, continuo branco e favorecido pelas próprias circunstâncias que abomino. Mesmo que eu seja odiado, condenado ao ostracismo, perseguido e, no final, destruído, nada pode me tornar negro. E assim aqueles que são não podem deixar de suspeitar de mim. A seus olhos, meus próprios esforços para me identificar com Gordon, com todos os Gordons, seriam obscenos. Cada gesto que faço, cada ato que cometo no meu esforço para ajudá-los, torna-lhes mais difícil definir as suas reais necessidades e descobrir por si mesmos a sua integridade e afirmar a sua própria dignidade. De que outra forma poderíamos esperar chegar além do predador e da presa, do ajudante e do ajudado, do branco e do negro, e encontrar a redenção? Por outro lado: o que posso fazer senão o que fiz? Não posso optar por não intervir: isso seria uma negação e uma zombaria não apenas de tudo em que acredito, mas da esperança de que a compaixão possa sobreviver entre os homens. Ao não agir como agi, negaria a própria possibilidade desse abismo ser transposto. Se eu agir, não posso deixar de perder. Mas se eu não agir, é uma derrota diferente, igualmente decisiva e talvez pior. Porque aí eu não vou nem ter mais consciência. O fim parece inelutável: fracasso, derrota, perda. A única escolha que me resta é se estou preparado para salvar um pouco de honra, um pouco de decência, um pouco de humanidade - ou nada. Parece que um sacrifício é impossível de evitar, seja qual for o ângulo que se olhe. Mas pelo menos temos a escolha entre um sacrifício totalmente inútil e um que pode, a longo prazo, abrir uma possibilidade, por mais insignificante ou duvidosa que seja, de algo melhor, menos sórdido e mais nobre, para nossos filhos… Eles vivem. Nós, os pais, perdemos. [...] Trecho extraído da obra A Dry White Season ( Harper Perennial, 2006), do escritor e dramaturgo sul-africano André Brink (1935-2015), autor da frase: No amor, nenhuma pergunta é absurda...

 

DOIS POEMAS - JUNTOS - A água envolvendo \ nos e o por \ do sol é tudo. \ Córregos abrem caminho. \ Convertemos numa \ cidade de cascos partidos \ e verdes dobrões. \ Ó vós, piratas mortos \ escutai-nos! Não há \ salvamento. Tudo que \ conheces é a cor \do quente caramelo. Tudo \ é salgado. Veja como \ nossos olhos migraram \ para o lado alto da colina? \ Agora somos novos \ sussurros e nenhuma crista \ deixa a água cobrir. \ Acontece repetidas \ vezes, eu em \ teu corpo e tu \ no meu corpo. DEPOIS DO AMOR - Mais tarde, o compromisso. \ Corpos reassumem seus limites. \ Estas pernas, por exemplo, são minhas. \ Teus braços levam-te de volta para dentro. \ Iscas de nosso dedos, lábios \ Aceitam seu domínio. \ A roupa de cama boceja, uma porta \ sopra vagamente entreaberta \ e suspenso, um avião \ cantarola descendo. \ Nada mudou, exceto \ havia um momento quando \ o lobo, o famélico logo \ que está fora de si mesmo \ deita-se levemente, e adormece. Poemas da escritora estadunidense Maxine Kumin (1925-2014).

 



ANAXÁGORAS DE CLAZOMENA (500-428 a.C.) - Filósofo, biólogo, astrônomo, físico e matemático grego de Clazomenas, na Jônia, colônia grega na Ásia Menor, Fenícia, de grande tradição no comércio marítimo, que levou para Atenas a filosofia jônica de tendência mecânica e onde fundou, sob os auspícios de Péricles, seu discípulo e protetor, a primeira escola de filosofia da cidade. De espírito prático, foi um dos responsáveis por mudanças fundamentais na matemática do século V a. C, de ter elaborado teorias de indiscutível profundidade, exercer notável influência sobre a filosofia grega posterior a ele e de ter introduzido em Atenas as concepções desenvolvidas pelos pensadores das colônias helênicas. Fiel descendente da escola jônica de Tales, em função de suas opiniões científicas chocarem-se com as concepções religiosas da época, foi preso em Atenas por pregar que o sol não era uma divindade, mas uma grande pedra incandescente e que a lua era uma terra habitada sem luz própria. Foi durante este período que se dedicou com mais ênfase a pesquisa matemática. Julgado por ateísmo, foi posteriormente libertado graças a intervenção de Péricles de quem tinha sido professor, indo morar em Lâmpsaco, na Mísia, até morrer, onde fundou uma escola de filosofia e ganhou muita estima e fama junto a população local. Historicamente de suas idéias foi publicado o primeiro best-seller científico na época, Sobre a natureza. Mais filósofo da natureza que matemático, marcou-se pelo motivo grego típico: o desejo de saber. Descobriu os processos de respiração dos peixes e das plantas, explicou a inteligência dos homens e parece ter dado a explicação correta para os eclipses e acreditava que a matéria era composta de átomos. Morreu no ano do nascimento de Arquitas e um antes do de Platão e um antes da morte de Péricles. Sua obra, cuja interpretação, em parte por causa da escassez de fragmentos, é muito controvertida, pode ser situada na confluência entre a tradição milésia e o pensamento de Parmênides. Com os filósofos de Mileto, sustentava que a experiência sensorial põe o ser humano em contato com uma realidade cambiante, cuja constituição última ele pretendia encontrar. Com Parmênides, afirmava que só o ser é e o não-ser não é, porque ao ser, enquanto totalidade, não se pode acrescentar nem tirar nada. Considerava, em conseqüência, que "nada vem à existência nem é destruído, tudo é resultado da mistura e da divisão". Defendeu também a idéia de que, junto à matéria, existe um princípio ordenador, uma inteligência como causa do movimento , por isso, foi chamado de o primeiro dualista. Platão saudou com entusiasmo essa inovação, mas criticou o filósofo de Clazômenas por fazer uso insuficiente dela. Haveria um número infinito de elementos que Anaxágoras chamou de homeomerias, ou sementes invisíveis, que diferiam entre si nas qualidades. Todas as coisas resultariam da combinação das diferentes homeomerias.
Foi Anaxágoras-(+ ou - 499-428 a. C) um filósofo da escola jônica e o primeiro a se transferir para Atenas, de onde foi banido por considerar o sol uma pedra incandescente e a lua uma Terra, negando a divindade desses corpos celestes. Interessava-se muito por astronomia. Houve um processo que acabou por condena-lo, apesar de ser amigo de Péricles, seu mestre e protegido. Péricles foi um grande líder político. Sócrates que nasceu cerca de trinta anos depois de Anaxágoras também foi condenado. Atenas considerava a novidade, a filosofia, uma impiedade e ateísmo.
Anaxágoras se recusava a prestar culto aos grandes deuses gregos. Era filho de Hegesibuldo. Disse que as coisas corpóreas eram infinitas, e elas pareciam engendrar-se e destruir-se pela combinação e dissolução. No início, todas as coisas seriam infinitas em quantidade e pequenez, pois o pequeno também era infinito. Toda a matéria estava condensada. O ar e o éter são o maior conjunto de coisas. Muitas coisas de todas as espécies são contidas em todos os compostos e sementes. Em tudo há um pouco de tudo. Em cada minúscula partícula, ou semente, há uma parte de todas as coisas, pois todas as coisas são formadas por essas sementes.
Essas coisas se resolviam e separavam pela força e rapidez, a força é a rapidez que produz. E o espírito começou a se mover, e em todo movimento havia uma separação, e as partículas se desdobravam, o espírito sempre é, sempre afirma. O compacto, o fluído, o frio e o sombrio se colocaram onde se formou a terra, e o ralo o quente e o seco forma para longe do éter. As visões das coisas invisíveis são aparentes, a lua reflete os raios de sol, em sua filosofia. E as coisas, que estavam juntas foram separadas por esse espírito inteligente e puro (nous), que ordenava a matéria e se movia, separando os opostos e criando os seres diferenciados. Os graus de inteligência dos seres animados (animais e plantas) dependem da estrutura do corpo em que o nous está ligado sem se misturar. Para Hegel, Anaxágoras foi um sóbrio entre os ébrios. Fundamenta sua crítica dizendo que ele foi o primeiro a dizer que o pensamento é universal, em si e para si, o puro pensamento é verdadeiro. Universal pela noção de causalidade. Essa noção, se não é universal, se não considera a coisa em si, costuma dizer coisas como: a causa da existência do capim é servir de alimento para os herbívoros, e a destes é servir de alimento para os carnívoros, os troncos fluem para determinado lugar, pois estão precisando deles lá e assim por diante.
O nous de Anaxágoras é universal, move-se para diante. Cada idéia é um círculo de si mesma, e o bem universal de sua espécie. O nous é a alma que a tudo move, que liga e separa, uma atividade que põe uma primeira determinação como subjetiva, mas essa é feita objetiva, e assim se torna outra, e de novo esta oposição é sobreposta, assim até o infinito. Isso é dialética. Veja mais aqui e aqui.

FONTES:
ARANHA, Maria Lucia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução à Filosofia. São Paulo: Moderna, 1994.
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Atica, 2002.
MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
PADOVANI, Umberto; CASTAGNOLA, Luis. Historia da Filosofia. São Paulo: Melhoramentos, 1978.
PESSANHA, José Américo Motta (Org). Os pré-socraticos. São Paulo: Abril, 1978.
SOUZA, José Cavalcante. Os pré-socrático. São Paulo: Abril, 1978.
WEATE, Jeremy. Filosofia para jovens. São Paulo - Callis, 1999.




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