quinta-feira, março 07, 2013

ANITA BROOKNER, DEREK WALCOTT, JORGE DE LIMA, HALLIE BROWN, JOLY & GEORGE STEINER

 

COLOCANDO O ASSUNTO EM DIA – UMA: GREVE DE SEXO ACABA COM PATRIARCALISMO – Esta sim deveria ser a arma principal de todas mulheres para acabar de vez com o patriarcalismo. Exemplo é o que não falta: na Grécia Antiga, Lisístrata tornou-se protagonista da comédia homônima de Aristófanes, encenada no Brasil como “Greve de Sexo” porque o nome dela significava aquela que dissolve o exército. O que ela fez para tal? Ora, os homens – como até hoje! – só queriam viver de guerra todo dia. Aí, ela juntou a mulherada e sapecou na lata deles: Ou acaba a guerra ou não tem mais sexo! Como é? Isso mesmo: ou lá ou loa! E aí?. Ué, qual homem são vive sem mulher: Veja detalhes da história aqui e aqui.

 


DUAS: TOME OUTRA DE FRINEIA EM PLENO SÉCULO XX – Sabe do caso de Frineia? Não? Então confira aqui e aqui. Pelo visto está provado: a história se repte. Senão, vejamos: o ano é o de 1983, o local Tampa Bay, Flórida, nos Estados Unidos. Muita lei regulatória e um tipo prefeito achou por bem de ajustar com a câmara de vereadores a proibição de nu explícito nos tantos bares de strippers da localidade. Certa noite uma denúncia rolou nos ares de que mulheres estavam mostrando mais do que deviam pelo permitido. Dois policiais atendendo aos reclamos e, lá chegando, encontraram três jovens de bunda pra cima. Foram enquadradas por indecência e levadas ao tribunal. O advogado delas sugeriu ao juiz permissão para que as meninas dançassem para que se conferisse a insolência. Não obteve permissão. Sugeriu que se fotograsse, então, para conferir a imoralidade. Aí o juiz David Demers permitiu desde que fossem fotografadas diante dele. Pois foi, em plena corte! Isso mesmo diante do magistrado, uma delas então, não teve dúvidas, virou-se de costas, ficou de quatro e mostrou tudo pro juiz. Prontamente o fotógrafo Jim Damaske saltou na hora e, prontamente, bateu a chapa! Click! Provaram que a calcinha cobria tudo, não havia nada explícito. Estava tudo conferido e, por por causa disso, as moças foram inocentadas, livrando-se do xilindró pela acusação de indecência, ou atentado ao pudor. Tudo certo, mas para mim, não vi, não vale. Mesmo alegando de antemão que, na minha lei, elas nem seriam presas, muito menos julgadas. Ora, ora. Convenhamos, gente!

 


TRÊS: SÓ AS MULHERES SALVARÃO ESTE PAÍS! – E digo mais: do jeito que as coisas vão, só as mulheres mesmo para ensinar pra todo mundo o que é delicadeza, cuidado, altruísmo e solidariedade! A macharia está perdida, só no arrumadinho, ajeita aqui, maracutaia ali. Pois bem: dia desse mesmo eu li que mulheres nuas protestavam contra presidente mexicano! Sim, isso mesmo! Cinco mulheres ficaram nuas dentro da Câmara dos Deputados, na capital mexicana, alegando que se despiam para desnudar o governo! As nudistas se manifestaram nuas com capuzes negros em nome do Comitê Nacional Civil para a Revogação de Mandato do então presidente, Felipe Calderón, por meio de uma consulta nacional, por conta do assassinato de mulheres em em Ciudad Juárez, às presas de consciência, às estupradas pelo Exército em operações de combate às drogas e às que são proibidas de abortar. Precisamos é de um movimento deste no Brasil. Por isso digo: só as mulheres salvarão o Brasil. Melhor dizendo: o planeta! E vamos aprumar a conversa!

 


DITOS & DESDITOS - A dignidade do homo sapiens é precisamente essa: a percepção da sabedoria, a demanda do conhecimento desinteressado, a criação de beleza. Fazer dinheiro e inundar as nossas vidas de bens materiais cada vez mais trivializados é uma paixão profundamente vulgar e inane. Pode ser que, de modos agora muito difíceis de discernir, a Europa venha a gerar uma revolução contra industrial, assim como gerou a própria revolução industrial. Pensamento do professor e crítico literário francês George Steiner (1929-2020).

 

ALGUÉM FALOU: É o cultivo de nossas próprias naturezas que visamos e não a imitação da natureza do outro. Os poderes de nossa própria mente devem ser extraídos. Pensamento da educadora, escritora e ativista estadunidense Hallie Quinn Brown (1849-1949).

 

DIÁLOGO INFERNAL - [...] Aqueles que acreditam falar sua língua estariam falando a minha; aqueles que acreditam estar atuando em seu partido estariam atuando no meu; aqueles que acreditam estar marchando sob sua bandeira estariam marchando sob a minha. [...]. Trecho extraído da obra The Dialogue in Hell between Machiavelli and Montesquieu: Humanitarian Despotism and the Conditions of Modern Tyranny (Lexington, 2003), do escritor francês Maurice Joly (1829-1878).

 

LAGO HOTEL - [...] Boas mulheres sempre acham que é culpa delas quando alguém está sendo ofensivo. Mulheres más nunca assumem a culpa de nada. [...] Uma mulher deve a si mesma ter coisas bonitas. E se ela se sente bem, ela parece bem. Você está errado se pensa que não pode viver sem amor. Eu não posso viver sem ele. Não quero dizer que entrei em declínio, desenvolvi sintomas estranhos, tornei-me uma caricatura. Quero dizer que não posso viver bem sem ele. Não posso pensar, agir, falar, escrever ou mesmo sonhar com qualquer tipo de energia na ausência de amor. Sinto-me excluído do mundo dos vivos. Fico frio, como um peixe, imóvel. eu implodo. Minha ideia de felicidade absoluta é sentar em um jardim quente o dia todo, lendo ou escrevendo, totalmente seguro sabendo que a pessoa que amo voltará para casa à noite. Toda noite. Eu não sou um romântico. Eu sou um animal domesticado. Eu não suspiro e anseio por exibições extravagantes de paixão, pelo grande caso, o mundo perdido para o amor. Eu sei de tudo isso e sei que isso te deixa sozinho. Não, o que eu desejo é a simplicidade da rotina. Um passeio noturno, de braços dados, com bom tempo. Um jogo de cartas. Hora de conversa fiada. Preparar uma refeição juntos. [...]. Trechos extraídos da obra Hotel du Lac (Vintage, 1995), da escritora e historiadora britânica Anita Brookner (1928-2016).

 

UM POEMA - Chegará o momento \ em que, com júbilo, \ você se cumprimentará chegando \ à sua própria porta, em seu próprio espelho \ e cada um sorrirá com as boas-vindas do outro \ e dirá: sente-se aqui. Comer. \Você amará novamente o estranho que era você mesmo. \ Dê vinho. Dê pão. Devolva seu coração \ a si mesmo, ao estranho que o amou \ por toda a vida, a quem você ignorou \ por outro, que o conhece de cor. \ Retire da estante as cartas de amor, \ as fotografias, os bilhetes desesperados, \ descasque a sua própria imagem no espelho. \ Sentar. Festa em sua vida. Poema do escritor santa-lucense e Prêmio Nobel de Literatura de 1922, Derek Walcott (1930-2017).

 



O GRANDE CIRCO MÍSTICO

Jorge de Lima


O médico de câmara da imperatriz Tereza – Frederico Knieps resolveu que seu filho também fosse médico, mas o rapaz fazendo relações com a equilibrista Agnes, com ela se casou, fundando a dinastia de circo Knieps de que tanto se tem ocupado a imprensa.

Charlote, filha de Frederico se casou com o clown, de que nasceram Marie e Oto. E Oto se casou com Lily Braun a grande deslocadora que tinha no ventre um santo tatuado.

A filha de Lily Braun – a tatuada no ventre quis entrar para um convento, mas Oto Frederico Knieps não atendeu, e Margarete continuou a dinastia do circo de que tanto se tem ocupado a imprensa.

Então, Margarete tatuou o corpo sofrendo muito por amor de Deus, pois gravou em sua pele rósea a Via-Sacra do Senhor dos Passos. E nenhum tigre a ofendeu jamais; e o leão Nero que já havia comido dois ventríloquos, quando ela entrava nua pela jaula adentro, chorava como um recém-nascido. Seu esposo – o trapezista Ludwig – nunca mais a pôde amar, pois as gravuras sagradas afastavam a pele dela e o desejo dele. 
Então, o boxeur Rudolf que era ateu e era homem fera derrubou Margarete e a violou. Quando acabou, o ateu se converteu, morreu.
Margarete pariu duas meninas que são o prodígio do Grande Circo Knieps. Mas o maior milagre são as suas virgindades em que os banqueiros e os homens de monóculo têm esbarrado; são as suas levitações que a platéia pensa ser truque; é a sua pureza em que ninguém acredita; são as suas mágicas em que o simples dizem que há o diabo; mas as crianças crêem nelas, são seus fiéis, seus amigos, seus devotos.
Maria e Helene se apresentam nuas, dançam no arame e deslocam de tal forma os membros que parece que os membros não são delas. A platéia bisa coxas, bisa seios, bisa sovacos. Marie e Helene se repartem todas, se distribuem pelos homens cínicos, mas ninguém vê as almas que elas conservam puras. E quando atiram os membros para a visão dos homens, atiram as almas para a visão de Deus.
Com a verdadeira história do grande circo Knieps muito pouco se tem ocupado a imprensa.


JORGE DE LIMA. Nasceu em União dos Palmares (1893-1953), Alagoas. Fez Medicina em Salvador e se formou no Rio de Janeiro. Foi deputado estadual pelo Partido Republicano, em 1926. Também vereador pela União Democrática Nacional, no Rio de Janeiro. Publicou seu primeiro livro em 1915, “XIV Alexandrinos”. Assumiu a cátedra de Literatura da Universidade do Brasil e Universidade Católica, em 1949.
Segundo Assis Brasil, trata-se de um poeta de linhagem parnasiana e simbolista que passaria pelo Modernismo com a sua fase nordestina, experimentando o romance de sabor surrealista. E, ainda, segundo Assis Brasil: “Uma experiência poética vasta, tumultuada, com momentos de alto nível expressivo. Já foi comparado a Camões e Fernando Pessoa, pelo sentido cósmico de sua poesia. Após algumas incursões de cunho nacionalista, reflexo do movimento modernista, Jorge de Lima volta a um tipo de poesia imagística, subjetiva. Invenção de Orfeu representa o melhor de sua criação, um poema caótico para alguns, ou neobarroco, mas de densa beleza em muitas de suas passagens”.
O critico Wilson Martins assinala que “Realmente, Jorge de Lima é um poeta, como Cassiano Ricardo, impregnado de reminiscências literárias e, por isso mesmo, um pouco mimético. (...) na poesia de Jorge de Lima, há, por surpreendente que pareça, uma certa incapacidade de expressão propriamente poética: tanto nos poemas nordestinos e modernistas, quanto nos da restauração da poesia em Cristo, que seguirão a 1935, é sensível o ritmo prosaico (que ele procura dissimular com arbitrárias rupturas de verso) e a elocução editorializante, descritiva. Vindo do parnasianismo (parnasianismo aliás limitado no tempo e na técnica), Jorge de Lima parece haver compreendido o verso livre como simples disposição caprichosa das linhas na página e no poema; por isso mesmo, poemas de composição rítmica mais regular, como Essa Negra Fulô, revelam-se desde logo nitidamente superiores. Na terceira fase de sua carreira poética, que Tristão de Athayde denomina de mística, e que é a última no período modernista, Jorge de Lima abre um curioso tipo de poesia religiosa (que é, por definição, e não pode deixar de ser, proselitista): a poesia religiosa ligada ao hermetismo poético (ou, ao contrário, à simples exposição prosaica em que as jaculatórias e o fervor tomam o lugar da matéria poética)”.
Nelson Werneck Sodré dele fala: “(...) a importância da contribuição poética de um Jorge de Lima. Das três fases da sua atividade, realmente, no plano da poesia, a inicial e parnasiana, a regionalista e a final e religiosa, foi a segunda aquela em que a influencia modernista se mostra em toda a sua grandeza, a que assinala a posição do poeta alagoano em nossa literatura. A capacidade de transpor poeticamente os motivos nordestinos para a arte literária jamais seria tão perfeitamente realizada. O virtuosismo parnasiano, a que voltaria, sob outra forma, na última fase, o autor dos Poemas Escolhidos, ficaria inteiramente superado com a reconstituição, em saborosos versos livres, dos padrões e costumes, cuja marca estava presente numa região caracterizada do país. As tentativas para traduzir a inquietação social do tempo, como aquelas de Oswald de Andrade, mais significativas pelo que representavam como sintoma do que como realização, davam mostra do muito que restava à literatura explorar na realidade brasileira”.
Para Oliveiros Litrento, “Ao lado de Carlos Drummond de Andrade e Cassiano Ricardo, é um dos três grandes poetas do modernismo brasileiro. Poeta de múltiplas dimensões (...) No poema, em que a imitação não se confunde com plágios, a linguagem do mito desde às regiões abissais da criatura humana. O homem, condenado ao martírio por conseqüência do pecado, luta pela sobrevivência de sua parcela divina. E desta luta colossal entre o anjo e o demônio derramam-se versos. O poema, em cada estrofe e em cada canto, entoa em coro a insatisfação do homem que jamais se libertará de sua existência telúrica, angustiada e trágica. Esta, a grande mensagem de Invenção de Orfeu, o maior poema cancioneiro de todo o modernismo”.
Também Claufe Rodrigues assim se expressa: “Além de poemas, Jorge de Lima também escreveu romances ao logo de toda a sua carreira, entre os quais “Calunga” e “Guerra dentro do Beco”. Em 1952, publicaria a sua obra mais aclamada, “Invenção de Orfeu”, epopéia em dez cantos, na qual utiliza os recursos apreendidos em uma vida inteira dedicada à literatura”.

BRASIL, Dicionário prático de literatura brasileira. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1979.
LIMA, Jorge de. Anunciação e encontro de Mira-Celi. Tempo e eternidade. A túnica inconsútil. Rio de Janeiro: Record, 2006.
LITRENTO, Oliveiros. Apresentação da literatura brasileira. Rio de Janeiro/Brasília: Forense-Universitária/INL, 1978.
MARTINS, Wilson. A literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1967.
SODRÉ, Nelson Werneck. História da literatura brasileira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1976. 
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