segunda-feira, agosto 06, 2012

ELIZABETH GOUDGE, GYÖRGY KONRÁD, SUE TOWNSEND, PAUL HEYSE, SOPHIE GERMAIN, MOEBIUS, LITERÓTICA & FECAMEPA

 

A arte do artista francês de história em quadrinhos Jean Giraud (1938-2012), também conhecido pelos pseudônimos de Moebius e Gir. Veja mais abaixo.

 


PARÊNTESIS LUXURIOSOS - (ou, meu navio a sorte inventa...) (...sim, eu posso estar louco de pedra rasgando o senso e a lucidez mas tenho a palavra de Goethe ao dizer que quem contempla a beleza humana, a nada de mal se expõe e que, por isso, está em harmonia consigo e o mundo. Estando, então, só, comigo e na noite em que os desejos afloram e ardem no aflogístico da paixão, onde os ombros carentes e desencontrados buscam braços solícitos, querências vadias, conexões dos dias e noites vazias, metades nômades ancoradas na distância. Ziguezagueando, assim, entre luzes e sons estonteantes fazia-se festa revolvedora de íntimos e fantasias. Jamiroquai alfinetando quereres, loucuras e remelexos sensuais, bulindo com a minha pasmaceira, acendendo-me a vida distante, perdida. Assim fervia. Girava. Girava mais que o globo do salão em fantasias psicodélicas colorindo meu universo insone e marasmódico. Parece mais que perdera a minha fatia de felicidade e presenciava a dos outros. Quê se dera comigo? Penar de amor para sempre, será? Nem Pomona, nem ninguém. Minha maldição? O desinfeliz de tudo? Ah! Que seja. Infincar-me no dissabor não resolveria nada, melhor entrar na dança e no compasso de Jamiroquai que convidava a um universo oculto onde um barco protótipo das antigas navegações, atravessava o recinto expondo cabeças de carneiros que se encontravam no pedestal onde uma mulher seminua com um cetim argênteo e brilhoso ao lado de outras completamente nuas com asas de abutre e máscara de falcão. Ah! O aroma de um perfume agradável permeava o ambiente e inebriava a minha alma. Tudo muito multicor, irisando minha indolência. Isso e o desfile de famélicas, oxigenadas, vampiras; gelfas magricelas; lívidas fadas bisonhas; airosas ebrifestivas; garbosas amásias; divas, peruas e peiticas; vitalinas ariscas, leigas vestais; papas-hóstia, heroínas, malvadas e resignadas eram nada mais que Nefertitis ou Valquírias de minhas alucinações; Nereidas ou Cibeles profanando minhas crenças pagãs; Sekhmets ou Bastets que ferviam meu sangue; Cleópatras ou Deméteres lisonjeiras; Reas ou Dalilas da minha fome; Gês ou Madalenas de minha gula sedenta; Iemanjás ou Isis da minha cobiça desenfreada; Joanas D’Arc ou Mirians dos meus onirismos luxuriosos; Lucrécias Bórgia ou Mayas da minha satisfação ininterrupta; Pagus ou Shing-Moos da minha concupiscência; Helenas ou Aditis dos meus queimores sexuais. Ou eram Eríneas, Parcas, Moiras, Harpias que imolavam meu ser sedento. Era essa, será, uma artimanha de Perséfone, a minha Mata Hari que sabia do meu fígado lacerado, minha loucura insone, meu clamor irremediável, meu querer preterido no desfile das Esfinges saborosas que decifravam-me ou devoravam-me, e a minha amartia: um verso feito de palavras que não se dizem do amor. Sabia. Era o amor e me vi ao lado de uma linda Arlene Cockburn, exuberante e faceira. Olhos grandes me fitavam. Silente, risível. O álcool subtraíra a timidez e dera-me ânimo de enfrentá-la. Falamos, desdizemos. Ela sussurrou inquirições inaudíveis e eu paspalho me ria de nada entender. Puxou-me num canto e me contou da vida, dos sonhos, dos fracassos, de como perdeu a virgindade, suas lembranças e seus medos; que um príncipe encantado jamais cruzaria sua vida e coisas mais outras assim. Ouvi, e como diz o ditado anônimo: um arqueiro habilidoso atira uma flecha de cada vez. Preferi ouvi-la. Era interessante vê-la delatar seus mistérios, me fiz por entender, solidário. Nisso, tudo é lícito em meu querer, não há pecado que invalide a paixão. Principalmente quando nas minhas querências insaciáveis ela surge mágica turífera na minha nutriz adoração, caminhando letífica e deslumbrante na noite solitária, pesunhando a minha alma e o meu desejo arvense de séculos sedentos, trazendo a cajila e a súbita surpresa de vê-la toda na sombra insuspeitável que se insinua do nada, mais deusa que ignóbil fantasia, mostrando-se inteira na penumbra da minha loucura, enquanto se inclina esguia e nua na minha frente, empinando o seu calipigio arrebitado como quem vai apanhar algo de nada no chão, eu restando bocejo, ptialogogo, capitoso, boca cheia, espectador persistente, ao perceber seu feitiço à mostra naquele rabilongo par de glúteo redondo e carnudo, farta e generosa, obsidente imagem acendendo minha intimidade louca para o coito, caligrante que me faz vivo e permanentemente viril, rendido ao seu encanto múltiplo de deusa transcendente. Eu não seria nada nem poderia ser nada se na minha maluca profanação não sacralizasse a beleza inigualável de um corpo de mulher: a maravilha do próprio deus desnudo. Esta sim, a maiuêutica do menino, a heurística real, o inegável saber-se vivente. Sim, eu me emancipo e sei que o coito para Schopenhauer é o sinal da constante existência da vontade de vida, o que eu não desdigo, comprovo ao vê-la desinibida, um lindo sorriso nos lábios, um brilho estonteante nos olhos, carançuda, os lábios grossos pintados a batom vermelho vivo, um diadema gracioso no cabelo, uma fita de seda preta amarrada no pescoço, uma nudez linda e pura como se fosse uma dançarina do Talmude - eu, extasiado como Hesíodo diante da figura de Gaia com seus amplos seios, base segura para sempre oferecida a todos os seres vivos na sua bela arquitetura que se realça e a quem exalto sua graça e venero devotado e juro que não é nenhum sofisma da ignorância de causa. Ambiciono sua beleza, quero porque quero ser seu Urano, minha doce Gaia, com a minha ganância fálica no seu furor vaginal, ou no empanturrar-me no seu sedal, com a mônada da apetição, numa ebuliente orgia de nossa perversão alucinante jorrando no gozo de nossa união envolvida pela lei da queda dos corpos de Galileu e solidários e prontos e felizes. O seu prazer odoro invade-me as entranhas, incendeia-me os nervos.; o meu prazer tremula suas bases, abalos sísmicos no seu entregar-se inteira e soberana proporcionando que eu seja um menino adulto que sempre será menino e incréu do que se fizer fora de nossa entrega...) ©Luiz Alberto Machado. Direitos Reservados. Veja mais aqui e aqui.

 


DITOS & DESDITOS - A maioria das verdades fundamentais da vida parecem absurdas da primeira vez que as ouvimos. Em 99 vezes, de 100, afirmar que uma coisa não pode ser feita é falta de vontade de a fazer. Em tempos de tempestade, de indecisão e desolação, um livro já conhecido e amado faz melhor leitura do que algo novo e não experimentado… nada é tão acolhedor e companheiro... Pensamento da escritora inglesa Elizabeth Goudge (1900- 1984).

 

ALGUÉM FALOU: Importa pouco quem primeiro chega a uma ideia, em vez do que é significativo é quão longe essa ideia pode ir... Pensamento da matemática, física e filósofa francesa Sophie Germain (1776-1831), que contribuiu como pioneira para o teoria dos números e da elasticidade, tornando-se ganhadora do prêmio da Academia Francesa de Ciências. Veja mais aqui.

 

ALGUÉM MAIS FALOU: Você toma uma série de pequenos passos que você acredita, pensando que talvez você vai tratar isso como uma provocação perigosa. E então você espera. Se não houver reação, você tira outro passo: a coragem é apenas um acúmulo de pequenos passos. Pensamento do escritor húngaro György Konrád (1933-2019).

 

DIÁRIO SECRETO – [...] Há apenas uma coisa mais chata do que ouvir os sonhos de outras pessoas, e isso é ouvir seus problemas. [...]. Trecho extraído da obra The Secret Diary of Adrian Mole, Aged 13 3/4 (Harper Teen, 2003), da escritora inglesa Sue Townsend (1946-2014), primeiro volume da série de comédia ficcional que integra os títulos Adrian Mole na crise da adolescência (1982), As confissões secretas de Adrian Mole (1985), Os anos amargos de Adrian Mole (1993), Adrian Mole na Idade do Cappuccino (1995), Adrian Mole e as armas de destruição em massa (2004) e Os diários perdidos de Adrian Mole (1999-2001). A sua obra foi adaptado para o teatro em 1984, musicada por Ken Howard e Alan Blaikley, também para a televisão numa série e projetos para o cinema.

 

CAMINHO PARA CASA - Há uma casa no jardim, / fresco por um bosque aberto. / em todas as minhas viagens / Eu tenho saudades da minha casa / onde doce soou / O canto dos pássaros, / como riso floral ao redor! / como nós partimos / subindo- / Agora estou com medo de voltar / Na casa há apenas um, / tão alto e arejado, tão brilhante e puro / qualquer raio de sol / a casa o mata às pressas. / que som engraçado / canção infantil, / não havia canto sem jogos; / lá encontrei meu descanso / para o último dia- / Agora não há nenhuma porta para eu abrir. / Um nome veio para a casa / Longe de todos os lábios e continuou, / tinha uma violência maravilhosa, como uma palavra mística. / em cada boca / um sorriso, / que nome de primavera- / cale-se agora / Ordem fantasmagórica, / e quem disser, pare de rir. Poema do escritor alemão e Prêmio Nobel de Literatura de 1910, Paul Heyse (1830-1914).

 

A arte do artista francês de história em quadrinhos Jean Giraud (1938-2012), também conhecido pelos pseudônimos de Moebius e Gir.



TOLINHO & BESTINHA – A dupla pulhenta, Tolinho & Bestinha, aprumou a vida e arranjaram uma lavagem de roupa arretada: cabo eleitoral do Zé Peiúdo. A priori não era mico, vez que a empreitada tinha parecência de coisa séria porque o candidato era locutor do principal serviço de autofalantes da cidade, considerada a melhor emissora de rádio da esquina, e o melhor é que era apoiado pelo então prefeito da localidade. Tinha topete para amealhar sucesso, oxe, se tinha. Não fosse de última hora, o chefe do executivo municipal arribar com a trouxada toda da coloiada e capangada pras bandas doutro mais promissor no pleito eleitoral. Resultado: a dupla maloqueira já estava há quase três meses sem ver a cor do dinheiro.

- Ei, Zé Peiúdo, quêdi a nossa bufunfa, hem? Tamo três mêis sem alegria na algibeira.

Chegaram de venta fumaçando na lata do Zé Peiúdo que de candidato a prefeito quase eleito, descera a ladeira para uma duvidosa campanha à vereança, prometia mundos e fundos milionários pra ambos. E tome lero alugando os apaideguados. O cara era bom de papo e ajeita aqui, saracoteia ali, tudo certo, vamos indo, quando os desconfiados deram fé da roubada e tascaram retirada de campo com dedo em riste no pau da venta do enrolador:

- Quem vive de promessa ou é político ou é santo! -, repugnaram a promessa.

No meio do teitei com muito masmasmas gaguejado e um monte de blábláblá, os dois resolveram bater a porta na venta do cara, desmanchando a costurada já feita e, ao invés de continuarem pedindo voto pro cara, começaram a manchar a reputação do sujeito na maior queimação de filme. A esculhambação comeu no centro. O clima ficou quente. Mas quem era doido de sozinho enfrentar os dois? Zé Peiúdo picou a mula não antes fazer uns estragos no comércio local com valsas intermináveis e no bolso duns achegados que ou avalizaram papagaios no banco, ou deitaram cédulas emprestadas.

- Num disse!? O cara nunca pagou nem promessa a santo! -, largaram escárnio Tolinho & Bestinha pras incrédulas vítimas do conto do vigário.


CONSEQUENCIAS INUSITADAS: NO TOBA! – A fuga do Zé Peiúdo deixou meio mundo de gente a ver navios. Afredo Bocoió mesmo que havia vendido o voto dele pro cara, agora estava no prejuízo, razão pela qual, se infincou no meio da rua gritando: - Vendo meu voto! Quem quer comprar? Vendo meu voto!
Eis que nessa hora vai passando Mamão que não tinha nada a ver com a cor-da-chita, não era candidato nem porra nenhuma e ficou azoado com a gritaria. Na verdade, Mamão andava era azuretado porque não molhava o biscoito há quase uma semana; E quando viu aquela presepada, atinou: - Vou comê o cu desse cara.

E foi.

- Tu é canidato, Mamão?

- Sô.

- Canidato a quê?

- Veriadô.

- Ôba! Vendi meu voto.

Tudo acertado e quando Afredo se descuidou para se animar, Mamão arrastou-lo pelas orelhas pra trás duma moita, sacudiu o cara no chão, puxou-lhe as calças, mirou a bunda branquela, segurou o cacete já duro e aprumou no procto do rapaz. Só se ouvia os berros dele que mais parecia que era aquela cena dos negões na Bonitinha, mas ordinária.
Concluído o serviço, saiu Mamão resmungando pra multidão que arrodeava a cena:

- Pronto! Já votei cum meu caraio no cu desse fresco! Agora ele vai ficá mudo pur uns dia.


ÓIA, ESPIAZé Corninho foi outra vítima desperançada do Zé Peiúdo que se evadiu no maior corujão pra lugar incerto e não sabido.
Depois que se sentiu tapiado e levado umas gaias boas do enrolão, Zé Corninho viu por água abaixo o desejo de ter um carro de mão novinho em folha. Aí ele não se conteve e arreou a lenha descascando o desafeto, numa gritaria medonha no meio da rua. Eis que uma das suas distintas esposas de plantão gritou:

- Cala boca, corno da gaia mole, tu num é gato pra tê sete vida, desgraçado!


REVESTRÉS – Foi por causa da enrolança do Zé Peiúdo que o Biritoaldo também saiu da toca e cheio dos quequéos largou ideia:

- Não voto mai em fidaputa nenhum! Nem voto nem vendo meu voto! Agora quero é anulá meu voto! Vou anulá meu voto!

Disse tudo isso e, depois, encostou-se a um poste, arriando ronco solto na bebice dele.




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