segunda-feira, agosto 18, 2008

CORDEL DO ZÉ BREJERO, REBECCA WEST, LYGIA PAPE, ADRIANA LISBOA, HISTORIA DE LAS ORGIAS, PIDONA & LITERÓTICA


QUEM PAGA O PATO DA PIDONA – Donzela só tinha o nome: dava mais entrada de piroca que festa de formigueiro. Aprumada, vaidosa, pidona, era mais exibida que as beldades da teve. Gostava das gaitadas, chega folgava. Brincasse não ela enfeitiçava de cegar o mancebo. Tanto que um broco como o Ramirildo caiu nas suas graças: Esse dá pro gasto. E deu. Desde as paqueras ao namorico sério pro noivado e casório, levava mais toque de arrodeio dela quanto mais duas de quinhentos: Esse eu levo no papo. E levava na lábia e na flauta, às cheufras floridas no quengo dele. Ela lá, dia desse à janela, viu um jeitoso vendedor de patos passando. Assuntou-lhe a braguilha, lambeu os beiços e gritou: Quando o pato, moço? Cinquenta. Tá caro! Faço duzentos nos cinco. Ela ajeitou o decote e o penteado, caprichou na folga e saiu à porta, encostou ao portão do muro, toda saída e empiriquitada, conferindo. O cara logo ficou de olhos esbugalhados com a fartura das suas formas sobrando dentro do vestidinho mínimo: tudo do muito às vistas. E ela: Qual menor preço? Quarenta e cinco. Só quero um pro jantar! E debruçou-se para ver qual escolhia, peitões à mostra de ver-se o umbigo lá no encosto da calcinha rendada. Faça um preço melhor que compro dois! Quarenta. Ah, dá não. Aí ela deu uma rabissaca e saiu tão reboladeira do cabra perder o juízo. Faço dois por cinquenta! Ela voltou-se sedutoramente: Você quer vender não, tá caro! Dou os cinco por cem! Ah, tá melhorando. Voltou-se mais provocante ainda: Deixe ver. Chegou perto, tirou um fino no sujeito dele embebedar-se com o perfume da safadeza. Ela então sacramentou: Só tenho cinquenta! Fechado! Vou buscar o dinheiro e saiu desfilando dele ficar amalucado e gritar: Precisa não, tome! Hem? Aonde quer que coloque os bichos? Venha. Aí o sujeito criou asa, atravessou a entrada e pronto para dar o bote dentro de casa, chega Ramirildo: Êpa! Que é que é isso? Estou comprando patos pro jantar do primo que chega mais tarde, amor. Pra quê tanto pato, ora? Oxe, o primo é doido por pato, se esqueceu? E quanto é? O vendedor ia falando e ela: Os cinco por cinquenta, ia pegar o dinheiro e ele guardar lá dentro os patos. Eu pago, tome os cinquenta, me dê cá e pode ir-se embora, suma! Essa mulher é sabida, esses patos valiam muito mais. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.


DITOS & DESDITOSO mundo é redondo e o lugar que pode parecer o fim também pode ser apenas o começo. Todos sabem que se pode acreditar pouco no que as pessoas falam umas sobre as outras. Mas não é tão amplamente compreendido que se pode confiar menos ainda no que as pessoas dizem sobre si mesmas. Você deve sempre acreditar que a vida é tão extraordinária quanto as músicas dizem. Eu mesma nunca fui capaz de descobrir precisamente o que é o feminismo: só sei que as pessoas me chamam de feminista sempre que expresso sentimentos que me diferenciam de uma pessoa submissa. Se existe um Deus, não acredito que Ele exigiria que alguém se curvasse ou se levantasse perante Ele. Eu tenho muitas vezes a suspeita de que Deus ainda está tentando resolver as coisas e não terminou. É dever da alma ser leal aos seus próprios desejos. Pensamento da escritora estadunidense Rebecca West (1892-1983). Veja mais aqui.

ALGUÉM FALOU: Eu gosto de ambiguidade. Não gosto da arte fechada em si mesma. Detesto verdades absolutas. Pensamento da gravadora, escultora, pintora, professora e artista multimídia Lygia Pape (1927-2004). Veja mais aqui.

CALIGRAFIAS - [...] Um fundo ruborizado na taça. Era tudo o que havia sobrado quando, às cinco e meia, a manhã começou, latejando. Os cachorros da vizinhança incomodavam. Os lábios secos incomodavam. E, de algum modo, naquela manhã o mundo não vingou, devedor de si mesmo. [...] a casa inchada de insônia. Os cachorros da vizinhança doíam [...]. Trechos extraídos da obra Caligrafias (Rocco, 2004), da premiada escritora Adriana Lisboa.


HISTORIA DE LAS ORGIAS - A obra Historia de las orgias (Bolsillo, 2005), de Patridge & Andrés Burgo, conta a história das orgias através dos tempos, começando com as orgias dionisíacas que celebravam a sexualidade humana na Grécia Antiga, os romanos que incorporaram brutalidade, tortura e violência aos famosos bacanais, a exemplo de Calígula; na Na Idade Média, quando alguns papas gostavam de sexo grupal, diz o autor; os aristocratas hedonistas da Inglaterra durante a Reforma, o famoso "Clube da Peruca", da Escócia, e personagens famosos como Casanova e o Marquês de Sade, até chegar ao século 20. Veja mais abaixo Literótica & Proséroticas. 



EU VI O BRASÍ JOGÁ.

Zé Brejêro

Já farto dos prejuízo
Que eu tinha nas prantação
Azuní meus matulão
Num corozin de cavalo
Caminhei seiscentas légua
Dessas qui satanáis maicou
E fui pará no interior
No istado de São Paulo

O póbe do meu quartáu
Num agüentando as caminhada
E eu já cas canela inchada
De tanto assim caminha
Pedí rancho na Senzala
Da fazenda Trêis Maria
E só entonce no outro dia
Me incontrei nas capitá

Bati o mundo e o fundo
Atráz de incolocação
Pru fim bati num portão
Dum palacete granfino
Donde apareceu um gorducho
Cum cara de quem mato
E após cubá-me todo, falou:
“-Qui dezeja seu minino?”

“-Meu patrão cheguei do norte
Um tanto desmantelado
Num tenho no borso um cruzado
Prá móde comprar um pão
Se vormicê pricizá
Dum trabaiadô dispôsto
Aceito com muito gosto
seja qual for a função”

“Entre prá dentro cabôco
Sua graça cuma é?
Vamos bebê um café
Mode adispôis cunversá
Eu preciso de um vigia
De vergonha e de corage
Pra guarda minha garage,
Minha casa e meu quintá”

Ganhei logo a confiança
Daquele bom cidadão
Qui num era mais patrão
Era um pai e um amigo meu
E a cabo de trêis semana
Me falou-me: “Zé Brejêro,
Vô viajar prú instrangeiro
E vormicê vai mais eu”

Veja as coisa cuma é,
Quando Deus qué meu patrão:
Um curumba disgraçado
Qui nunca andou nem de trem
Mitido cum gente de bem
Viajando de avião

E cum distino as Oropa
Pra vê o Brasí jogá
Eu já tinha visto falar
Qui o Brasí era o mió
Mais quando ispiei cum esses óio
Qui a terra hái de cumê
Posso afrirmá sem tremê
Num pode havê mais mió

O patrão mim ensinou-me
O nome dos jogadô
Do bolêro ao centrefó
Ele deu difinição:
O golêro era Girmá
Qui pegava inté pensamento
Djarma era o elemento
Siguro na maicação

O outro beque, o Beline
O falado capitão,
Pelos are ou pelo chão
Num queria brincadeira.
Foimava cum Orlando e Zito
A respeitada barreira

Na ponta isquerda o Zagalo
Topava quarqué parada
E quando dava uma canelada
Era da páia avuá
Perto dele um mulecote
Cunhicido prú Pelé
Esse tando cum a bola nu pé
Pudia comemorá

E o centrefó, o Vavá
Foi na minha opinião
O mais mió jogadô
Tendo os péis do Didi
Aqueles passos bem feito
Levava tudo nos peito
E sempre maicava um gol

Só não posso mi isquecê
Dum caboco meio Zambêta
Qui fazia tanta faceta
Tanta goga e imbraiação
Qui os póbre dos ingrês
Ficava tudo azuado
Uns de cóca outros assentado
E outros cá cara no chão

Cum jogadô dessa maica E aqui fica um consêio
Ninguém pudia perdê Pra num si perdê de vista
E cuma havera de sê Jogadô do Brasí é artista
O Brasí foi campeão E discunhece maicação
E se o patrão entrô na farra Quem inventou aquela taça
O xeleléu nem se fala Faça outra diferente
Isquecemo inté as mala Prú que a qui vêio cá gente
No campo de aviação Ninguém dêxa vortá não.


ZÉ BREJEIRO - Nivaldo José da Silva, mais conhecido como Zé Brejêro, é hoje, um dos poucos cultores da poesia matuta, em Alagoas. Aliando o estilo de seus versos à harmonia da sua forma de declamar, ocupa, com justiça, lugar de realce nos meios literários alagoanos.

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