quarta-feira, abril 30, 2008

MIQUEL MARTÍ I POL, CAGLIOSTRO, MEL BROOKS, MARQUES REBELO, MÁRCYA HARCO & SOLIDÃO




A arte de Marcya Harco. Veja mais abaixo.

SOLIDÃO - Se um dia eu tivesse a canção, uma apenas seria o bastante. E se a tanto chegasse à paixão pelos alto-falantes, há tempos que eu não sei. Ah, há o hesitante teibei, eu sei por que não ganhei tudo que a vida me deu, nem perdi nem me iludo, só aconteceu. É tudo muito medonho, até quando o sonho se foi e valeu por todas as vozes que são minhas e guardo sozinho às braçadas, das guerras perdidas, felicidade roubada, e eu nada mais sei, mais nada. E calado, todas as vozes sou eu gritando xexéu na barra do dia, todos os risos são meus na alegria, todas as dores são minhas quando vivo à tardinha aos escombros, todas as sombras do que vivi, nem me assombro. Sobrevivi e meu canto é a minha carne em postas e dissolvida em gemidos, em versos decomposta, trapos reduzidos, o sabor na resposta da iguaria que sou eu, que é a minha poesia que acendeu, pronta para ser servida na mesa posta, despida, exposta, aniquilada, e só sou eu e o amor, nada mais que sobrou, nada mais, só sou eu e mais nada. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui & aqui.


DITOS & DESDITOSTodas as religiões são iguais e a intolerância religiosa é desprezível. O poder só deve ser usado para o bem do mundo e não para a gratificação da curiosidade ociosa. Não posso falar positivamente com relação ao lugar onde nasci nem dos pais de quem nasci. Aquele que tem conhecimento sobre a morte conhece a arte de dominá-la. Pensamento do ocultista, alquimista, místico e maçon italiano Alessando, Conde Cagliostro (1743-1795). Veja mais aqui e aqui.

ALGUÉM FALOU: Toda pessoa famosa é meio decepcionante na vida real, porque ninguém consegue ser a essência editada de si mesmo. Pensamento docineasta e ator estadunidense Mel Brooks. Veja mais aqui e aqui.

LAPA – [...] Não para que volte a ser a Lapa, simplesmente para que não desapareça de todo sob a picareta da urbanização. [...] E sejam suficientemente poderosos, para impedir a larga avenida projetada e que já sacrificou tantas ruas, becos e vielas desrespeite a pedra e a dignidade da Lapa, onde o Rio de Janeiro cresceu e viveu tão intensamente. [...]. Trechos extraídos de conto das Melhores crônicas de Marques Rebelo (Global, 2009), do escritor e jornalista brasileiro Marques Rebelo (1907-1973). Veja mais aqui e aqui.

POEMA - Não peço grande coisa: / poder falar sem disfarçar a voz,/ caminhar sem muletas, / fazer amor sem ter de pedir licença, / escrever num papel sem pautas. / Ou então, se parecer demais: / escrever sem ter de disfarçar a voz, / caminhar sem pautas, / falar sem ter de pedir licença, / fazer amor sem muletas. / Ou então, se parecer demais: / fazer amor sem ter de disfarçar a voz, / escrever sem muletas, caminhar sem ter de pedir licença, / poder falar sem pautas. / Ou então, se parecer demais… Poema do poeta espanhol Miquel Martí i Pol (1929-2003).


MUSA DA SEMANA: MARCYA HARCO

UM POEMA


Amar-se
e ia arco onde o ar nos olhos são luas, sóis e laços
dos palhaços que amo em você
a ver no poema que clamo e é feito em ser
o seu jeito lindo de luz a valer de si
e seduz o amor e só
e tudo que há de bom e do melhor.

Amar-se ar como a pele do amor
o calor do granito no forno onde o grito é brasa que morno
queimando já somos o que for em flor no rito do amor.

Ah, mar
se ar como eu venero e padeço e faço quarteto de lá em Cy
se havia amar era florar no ermo sem fim
como até viver a sonhar de mim para ser
só para você e amar,
amar você.

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. In: Primeira Reunião. Recife: Bagaço, 1992.




Marcya Harco é italiana da Sardenha e brasileira de São Paulo. Ou como ela mesmo diz: “Sou uma e sou tantas”. É atriz, mímica e locutora. Também ministra cursos e workshops de mímica e teatro. Estudou teatro com Berta Zemel e Wolney de Assis (Teatro-Escola Procênio), Gabriel Vilela, Maria Helena Lopes, Bete Lopes, Paulo Yutaka, Walderez de Barros, entre outros. Direção teatral com José Renato e Clóvis Garcia. Mímica e clown com Zambo Chacon, Laurent Decol, Denise Namura, Bete Dorgan, Gabriel Guimard e Mariano Pattin. Estudou dança com Jane Blauth, Dagmar Dornelles, Mariana Muniz, Renata Melo, Denilton Gomes, Sankai Juku, Tica Lemos, entre outros. História da arte com o prof. Gilson Pedro (Scriptorium de Arte). Realizou cursos de preparação vocal com Glorinha Beuttenmuller, Eudóxia Acuña e Theophil Mayer. Curso de locução para tv pelo Senac- SP. Além disso, ela realizou em 2002 um show solo de mímica no “Garoto Xuxu” no programa “Disney Cruj” do SBT e participou como artriz em Ô, Coitado, seriado de TV-SBT, além de filmes, como o longa O Candidato de Ricardo Pinto e Silva, fotos publicitárias como modelo para os fotógrafos Sergio Duarte, Fernando Durão, Lucien Clergue, Kazuô, Luís Crispino, Vitor Amatti, Gui Paganini, Rui Mendes, J. R. Duran, Trípoli, Cláudio Puglieshi, Gui Weber, Mauri Granado, Gisela Callas, Miguel Costa Jr., Moura, Marcio Scavone, Marcos Magaldi, Silvana Tinelli, Fabio Cabral, Roberto Cecato, Mikas, Álvaro Élkis, Sergio Mós, Hélio di Thadeu, Ricardo Zweker, entre outros.




Marcya Harco é fundadora da Cia. Lúdica, uma companhia teatral fundada em São Paulo há 13 anos e com um trabalho que mescla elementos de diversas linguagens, estilos e gêneros teatrais na elaboração de suas montagens. Absurdo, épico, popular, teatro de rua, teatro físico, circo, palhaço, mímica, pantomima, desenho animado, cinema mudo são algumas das fontes da Lúdica usando a diversidade. A companhia conta com espetáculos, entre outros, no repertório:


Em Busca da Boneca Azul – peça teatral de de Paulo Drumond e Marcya Harco.


A Poesia Secreta de Andréia (de Paulo Drumond). Foto de Fabio Medeiros.


Os Sons Devem Ser Agarrados no Vôo pelas Asas!.




Ela é uma mulher que gosta de mímica, teatro, ficção científica, ufologia, animais e comida Vegan. Ela treina Box, bike e alongamento. E está engajada na luta contra a crueldade com os animais.


Marcya Harco é Véia Líria.


Marcya Harco é Tulipa.

Esta a nossa homenagem a esta linda mulher e atriz: Marcya Harco.


VEJA MAIS:
MUSA DA SEMANA




Veja mais sobre:
A vida de cada um de nós, Italo Calvino, William Blake, Gilberto Mendes, Gil Vicente, Peter Greenaway,Francesco Hayez, Lambert Sigisbert Adam, O terapeuta & o Shaman aqui.

E mais:
Platão, Toninho Horta, Albert Sánchez Piñol, Amos Gitai, Helena Yaralov, Paul Helleu, Ricardo Cabus, Aracaju, Biritoaldo, Fronteiras, Cidadania & Direitos Políticos aqui.
As trelas do Doro: no fuzuê da munheca aqui.
Aprumando a conversa, Poetas dos Palmares, Fecamepa, Vapapu & Big Shit Bôbras aqui.
Proezas do Biritoaldo: Quando o urubu tá numa de caipora, não há pau que escore: o de debaixo caga no de cima aqui.
Segura a onda, Fecamepa, Acharam a Vapapu & piadas despropositais aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Leitora Tataritaritatá!
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CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA

Paz na Terra
Recital Musical Tataritaritatá - Fanpage.
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terça-feira, abril 29, 2008

CANETTI, JOSÉ PAULO PAES, HUGH LACEY, WENGER, HISTÓRIA ZEN & A PINGUELUDA



A PINGUELUDA - Arte: Ísis Nefelibata - Luiz Alberto Machado - Judilinho - leia-se Doro -, era doido carne, osso, alma e mais possuídos e despossuídos pela Francisquinha, uma matutinha quase-vesga das grotas, que pela sua brejeirice faceira roubara a bússola do seu coração.
O bocó que inventara um novo nome para se esconder das trapaças que já cometera a fole, estava tão apaixonado de pagar mico adoidado varando noites e dias em sua sofrência por conquistá-la de qualquer forma, nem que fosse na marra, fazendo de tudo para chamar-lhe atenção no meio da sua doidera. E ela nem, nem.
Vôte, o cabra se ouriçava, perdia o prumo, dava cambalhotas na rodagem, amorcegava cata-côrno, dava pirueta na bicicleta entronchada, debulhava chavecagem descabida, enrolava santos e desafetos, tudo para conseguir, nem que fosse de longe e por um instantinho de nada, pelo menos, um biquinho de riso da danada.
- Vixi, Maria! Que nega mais sestrosa! -, era ele de-noite quando busuntava arquitentando planos para envolvê-la na maior das lábias.
Francisquinha ali, pura no seu vestindinho afolosado e bem curtinho de chita, de ver-se a cada alvoroço desengonçado aquele cheirinho de fruta boa inebriando a alma dele, mostrando a caçolinha branca apregada nos fundilhos quando a saia tremulava ao vento e atravessava suas perninhas sedosas e escondidas intimidades.
Eita! Aquilo mexia com todo acorçôo do Judilinho.
Flagrando aquilo, o abestalhado corria para lugar incerto e não sabido, matar a sua sede numa bronha de mais de hora mergulhado na imaginação de foder a alma da danida.
- Venha, Francisquinha! Pelamor de Deus, venhaaaaaaaaa!
Como se arriava de ficar um tempão se refazendo depois de todo galado, causava ainda mais vexame para se esconder, pois que ninguém visse o seu estado detratável de tão melado pelo queijo acumulado de tempos sem molhar biscoito com vivalma perdida. Pois o cara enfrentava de tudo: greve de furunfada da mulher, das mocréias todas e rejeitado por toda mulher vivente no planeta.
Um dia lá, espia só, inventaram um casamento matuto com gente vindo das brenhas mais distantes e escolheram, depois de muito puxa-e-encolhe, para noivos do casório festeiro, Judilinho e Francisquinha. Justo os dois.
Era de mentirinha, mas ele já viajava na maionese como se fosse a mais absoluta verdade. Levou a sério mesmo. Ela nem se tocava com os ardís dele.
Cerimônia enrolada, abençoados no matrimônio, se danaram na festança da quadrilha, só no anavatu, anarriê, olha a cobra, debaixo da ponte, os homens cumprimentam as mulheres, e patati patatá, passear.
Ôxe, nessa hora, Judilinho aproveitou, saiu pela brincadeira fazendo todo tipo de mesura. Francisquinha se ria toda.
Ai ele sai da roda, passeia por longe, até adentrar uns grotões distantes, ela só se abrindo toda, ingênua, com a risível macacada dele.
Depois de se enfiarem dentro do mato, Judilinho se fez de levar um trupicão, esfregando a venta na rodagem de arrancar-lhe um samboque feio, espirrando sangue. Ela estatelou-se, rindo-se desbragadamente. Como se riram.
Depois ela no calor de sua matutice, coitada, pegou da saia e ficou limpando o sangue na venta dele, enquanto Judilinho ficava conferindo a tufa que se sobressaia da caçola.
Ôxe, Judilinho aproveitou-se.
- Francisquinha, deixa eu desembuchar uma apertura que me consome pru dento!
- Ige, como ele tá todo conversadô de prosa! -, disse ela maneirinha na maior risadagem.
- Oia, Fracisquinha, cê num sabe, mas eu tenho uma gastura que me remoi o tempo todo, d'eu quage endoidá de veizi por vosmicê!
- Cuma é? Fala, endoidado!
Coitada, nem sabia da astúcia dele.
O lazarento deitou moda de paixonite aguda da bestinha ficar se mangando fácil.
Era loa descabida que se juntar no mundo todas as asneiras ditas e meladas ali naquele instante num dá para se baldar o tamanho da lorota que ele soltou, a ponto de Francisquinha, na hora agá, interagir com a zoada frouxa, provocando nela um mijadeiro brabo do sujeito ir aparar na cuia das mãos. Ela se rindo. Quase que o mijo abre um rombo no terreno de tão abundante.
Ali ajoelhado, com as duas mãos encuiada entre as pernas dela, ele foi subindo, subindo, subindo até apalpar sua xiranha. Ela estremeceu-se toda.
O arteiro nessa hora, foi providente:
- Tô aparando procê num se mijá facilmente.
- Ih!
- Vou fazê uma reza prá alumiá seu caminho.
- Ih!
- Feche os oios.
- Ih!
- Fique assim de ôio fechado, pensano na salvação do céu. Nessa oração vô fazê cum que o céu ilumine a sua vida e vancê fique rica, famosa e para sempre bonitona!
O cabra mais fuleiro começou dizendo um dialeto inventado, aproximando mais das preciosidades dela, encostando a mão devagarinho quando topou com uma saliência.
- Vôte! Que droga é nove?
O apaideguado foi levantando a saia da menina, fazendo o maior bulício, removendo a calcinha dela e constatando um pinguelão maior que a pêia dele!
- Nossa! Essa tem pinguelo avantajado mermo, maior que a minha peia, visse? S'eu me abestaiar, ela é que me come!
Ôxe! O danado num pôde nem encostar no pitôco que ela foi logo se desmanchando na maior tremedeira e com todos os ais e uis de gozo precoce.
Judilinho foi sabido, foi logo soltando o colchete do vestido, desnudando-a, beijando seu ventre, seus seios, ela agoniada, impando, toda meladinha, ele se aproveitando disso, lubrificando bem a bucetinha dela para enfiar-lhe, finalmente, o mondrongo duro nos seus guardados.
Antes, porém, por conferência e bolinagem, foi enfiando o dedo devagarinho e buliçoso, deslizando na caverna molhadinha, entrou a mão, escorregou o braço, topando numa fundura sem fim.
- Danou-se! Isso não é um lascão de boceta, é uma cacimba bem funda! Essa é mais arrombada que boca de canhão!
No enfiado que fizera, o cabra quase viu o dedo sair pela boca da menina.
A coitada só se ria e chorava, deitada a se contorcer no chão com as pernas abertas, a cheba à mostra, as mãos na cabeça, nuazinha, arreganhada, sendo possuída pelo ajegado que aproveitava a peia perdida no afolosado, gozando exultante nos seus guardados, só saltando fora depois de quase se ver enfiado todo naquela areia movediça que chupava ele todo para dentro dela.
- Eita, gota! Essa mulé quage que me ingoli todo? Sai-te!
Foi aí que, enquanto ele se ajeitava para vestir suas calças, fugindo da safadeza, ela frustrada de tudo, largou uma dedada no furico dele, do tocado ficar sentindo a injetada a bulir na sua tripa gaiteira.
Ôxe, Doro que não era achegado naquilo, deu um salto solto no ar ocasionando o maior remexido no seu bucho, da cólica desenterrar bosta velha na maior caganeira.
- Cagão! -, acusou ela depois que se sentiu preterida pelo marmanjo.
Dedada essa providencial demovendo a prisão de ventre do seboso Judilinho que fabricava um monturo de bosta bastante proeminente.
- Isso num é um home! É um cagado de gente arrodeado de merda por todos os lados! Fui!

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.


DITOS & DESDITOSQuem é mestre na arte de viver distingue pouco entre o trabalho e o seu tempo livre, entre a sua mente e o seu corpo, a sua educação e a sua recração, o seu amor e a sua religião. Dificilmente sabe o que cada coisa vem a ser. Persegue simplesmente a sua visão de excelência em qualquer coisa que faça, deixando aos outros decidir se está trabalhando ou se divertindo. Ele pensa sempre em fazer ambas as coisas juntas. Pensamento Zen. Veja mais aqui.

COMUNIDADE DE PRÁTICA – [...] Uma comunidade de prática é uma intrínseca condição para a existência de conhecimento, não apenas porque ela providencia um suporte interpretativo necessário para dar sentido à sua herança. A participação na prática cultural na qual qualquer conhecimento ocorre é um princípio epistemológico de aprendizagem. A estrutura social de sua prática, suas relações de poder, e suas condi-ções para legitimação definem possibilidades para a aprendizagem. [...] Trecho extraído de Communities of practice: learning, meaning, and identity (Cambridge University Press, 1998), do educador suíço Étienne Charles Wenger, com a perspectiva social da aprendizagem nos seguintes princípios: a aprendizagem é inerente à natureza humana; consiste na primeira e principal habilidade para negociar novos significados; é, fundamentalmente, experimental e social; transforma identidades e constrói trajetórias de participação; significa lidar com fronteiras; é uma questão de energia social, poder, alinhamento e engajamento; envolve uma ação recíproca entre o local e o global. O autor descreve três importantes dimensões dessas comunidades: domínio - as pessoas se organizam em torno do domínio de conhecimento que lhe dê um sentido de iniciativa conjunta e as mantenha unidas; comunidade - as pessoas funcionam como uma comunidade, mediante relacionamentos de confiança e engajamento mútuo que atam fortemente o grupo numa entidade social; e prática - as pessoas se capacitam na sua prática de desenvolvimento de um repertório e pelo compartilhamento de recursos - tais como ferramentas, documentos, rotinas, vocabulários, símbolos e artefatos - que incorporam o conhecimento acumulado pela comunidade. Esse repertório fundamenta futuras aprendizagens, sendo esses graus de participação definidos como: grupo principal - um grupo pequeno de pessoas cuja paixão e envolvimento energiza a comunidade de prática; participação completa (membro total) - indivíduo reconhecido como praticante e que define a comunidade; participação periférica - pessoa que pertence à comunidade, mas com grau menor de envolvimento, tanto por ainda ser considerada novata, como por não ter muito compromisso pessoal com a prática; participação transacional (ou ocasional) - pessoa de fora da comunidade que, ocasionalmente, interage com ela, visando receber ou fornecer serviços. Não é, necessariamente, membro da comunidade; acesso passivo - uma ampla diversidade de pessoas com acesso aos artefatos produzidos pela comunidade, como, por exemplo, suas publicações, seus sites na web ou suas ferramentas. Por sua vez, as comunidades de prática podem ser caracterizadas por apresentarem as seguintes dimensões: empreendimento conjunto; envolvimento mútuo; e repertório compartilhado pelos seus membros sobre o modo de realizar as atividades, no qual os recursos são comuns, sejam rotinas, sensibilidade, artefatos, vocabulário e estilos.

DIALÉTICA & COGNIÇÃO - [...] No momento atual, as práticas de controle da natureza estão nas mãos do neoliberalismo e, assim, servem a determinados valores e não a outros. Servem ao individualismo em vez de à solidariedade; à propriedade particular e ao lucro em vez de aos bens sociais; ao mercado em vez de ao bem estar de todas as pessoas; à utilidade em vez de ao fortalecimento da pluralidade de valores; à liberdade individual e à eficácia econômica em vez de à libertação humana; aos interesses dos ricos em vez de aos direitos dos pobres; à democracia formal em vez de à democracia participativa; aos direitos civis e políticos sem qualquer relação dialética com os direitos sociais, econômicos e culturais. [...] Trecho da obra Da ciência cognitiva à dialética (Discurso, 1999), do filósofo e professor australiano Hugh Lacey. Em outra obra do autor Valores e atividade científica (Discurso, 1998), ele observa que: [...] Num sentido importante, é parte da natureza humana controlar a natureza. O que é distintivo no controle realizado a partir da modernidade é sua extensão, preeminência e centralidade em nossas vidas, o valor superior e virtualmente não subordinado que assume e os esforços intensos para expandir e implementar nossa capacidade de exercê-lo [...] Exercemos controle sobre os objetos quando os submetemos deliberadamente e de um modo bem sucedido ao nosso poder e os utilizamos como meios para os nossos fins. [...] Nenhuma explicação metafísica “profunda” do sucesso da tecnologia é necessária, apenas que o mundo tem se mostrado receptivo às formas de apreensão conduzidas pela estratégia materialista, uma apreensão que progressivamente nos habilita a identificar um número cada vez maior de suas possibilidades materiais [...] Segue-se desta análise que não há boas razões para aceitar que a pesquisa conduzida pelas estratégias materialistas produza um entendimento do mundo tal como ele é – em lugar disso, ela produz um entendimento do mundo sob a perspectiva do valor social de controle da natureza. [...] A presença real da teoria nas ciências humanas pode representar não a redução bem sucedida, mas o sucesso em suprimir o que é caracteristicamente humano (por exemplo, as práticas comunicativas ou a ação informada por deliberação pessoal) em certos espaços por meio da introdução bem-sucedida de controles sobre o comportamento humano – ou seja, por meio da criação de espaços em que os agente humanos comunicativos se tornam, por causa dos limites, opções e controles dos espaços, objetos sujeitos a controle.

LIVROS & PAPEL DE PAREDE – [...] Em casa, eu costumava brincar sozinho no quarto das crianças. Na verdade, brincava pouco, pois me dedicava a falar com o papel de parede. O padrão do papel de parede, com muitos círculos escuros, me parecia gente. Inventava histórias em que eles intervinham, ou lhes contava histórias, ou brincava com eles; nunca me cansava das pessoas do papel de parede, e podia me distrair com elas durante horas. Quando a governanta saía com meus dois irmãozinhos, me agradava ficar só com aquelas figuras. Preferia sua companhia a qualquer outra, em todo caso mais do que a dos irmãozinhos, que sempre provocavam tolas complicações, como as traquinices de Nissim. Quando os pequenos estavam por perto, eu só sussurrava com as pessoas do papel de parede; se a governanta estava presente, contava minhas histórias a mim mesmo, sequer movendo os lábios. Mas quando saíam do quarto, eu esperava um pouco e então me abandonava. Logo começava a animação, que era grande, pois tentava persuadir os personagens do papel de parede a empreenderem feitos heróicos, manifestando-lhes meu desprezo quando se recusavam. Eu os incitava; sentia um certo medo de estar a sós com eles, mas tudo eu atribuía a eles, de maneira que eram eles os covardes. Mas eles também me acompanhavam nos jogos e tinham oportunidade de se manifestarem. Havia um círculo, num lugar especialmente vistoso, que me retrucava com eloqüência própria, e não era uma vitória nada desprezível quando conseguia convencê-lo. Estava no meio de uma dessas altercações quando a governanta inesperadamente voltou e ouviu vozes no quarto das crianças. Entrou de improviso e me apanhou em flagrante, descobrindo o meu segredo; desde então, tive de acompanhá-los nos passeios, pois concluíram que a solidão não me fazia bem. Foi o fim da era de esplendor do papel de parede, mas, persistente, acostumei-me a construir minhas histórias em silêncio, ainda com meus irmãozinhos presentes no quarto. Eu conseguia brincar com eles e ao mesmo tempo com os personagens do papel de parede. Apenas a governanta, que assumira a missão de curar-me dessa tendência maníaca, conseguia paralisar-me, e em sua presença as figuras emudeciam. [...] Comentava com meu pai cada um dos livros que lia. Às vezes ficava tão excitado que ele tinha de me acalmar. Mas nunca me disse, à maneira dos adultos, que os contos eram mentira; sou-lhe especialmente grato por isso; talvez ainda hoje eu os considere verdadeiros. [...]. Trechos de Papel de parede e livros: Passeio à margem do Mersey, extraído da obra A língua absolvida: história de uma juventude (Companhia das Letras, 1987), do escritor e ensaísta búlgaro e Prêmio Nobel de Literatura de 1981, Elias Canetti (1905-1994). Veja mais aqui e aqui.

COISA BOA - Coisa boa / é empinar pipa no pasto. / Para não se perder no infinito, / o olhar se prende no rastro colorido / que o rabo da pipa pinta no céu. / A pipa é só um pontinho / lá longe / em cima da linha do horizonte. / Coisa boa / é a hora do banho / pra eu me fazer de marinheiro / e transformar em mar / a água do chuveiro. / Rodo vira remo, / tapete vira barco, / e o banheiro... / fica um charco! / Coisa boa / é correr atrás / de uma galinha-d’angola. / Ela diz que está fraca, / mas dá uma baita canseira. / Parece que joguei bola / a manhã inteira! / Coisa boa / é descansar num tapete macio / de folhas e grama. / Mastigar um talo de cana, / ouvindo o uivo do vento / e o burburinho do rio. Poema do poeta, ensaísta, jornalista e tradutor José Paulo Paes (1926-1988). Veja mais aqui.




Veja mais sobre:

O caso de Tomé & Vitalina, Hannah Arendt, Stanislaw Ponte Preta, Edward Estlin Cummings, Paul Simon e Art Garfunkel, Irene Ravache, Marcus Vinicius Cesar, Cecília Kerche & Benedito Calixto de Jesus aqui.

E mais:
Fecamepa: quando o furacão dá no suspiro do bandido, de uma coisa fique certa: a gente não vale nada aqui.
Tolinho & Bestinha: Quando Bestinha emputecido prestou depoimento arrepiado aqui.
Onde não tem mata-burro a gente manda ver no trupé & Maíra Dvorek aqui.
Neuroeducação aqui.
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CRÔNICA DE AMOR POR ELA
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CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
 Paz na Terra
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segunda-feira, abril 28, 2008

MARQUÊS DE SADE, SEBASTIÃO UCHOA LEITE, EVELYN FOX KELLER, EDWARD WILSON, LOVELOCK, CLARISSA PINKOLA & BIRITOALDO


XVII

Quando as mazelas dão um nó, vôte! A bunda de fora parece mais tábua de tiro ao alvo.


Munga estava com a barriga pela boca feito um barril de pólvora, toda cheia de enjôos, pantins e extravagâncias. E mais, andava com a cabeça-inchada, já de olhica com as escapulidas e sinal de gualdipiero do marido à mostra de achegamentos a uma quengada avulsa. Eita, isso esborrava o mau gênio dela, pronta para apertar o nó, pegando no pé do Birito do cabra ficar remoendo a ponto de se explodir todo. Não podia ele revidar nada, tinha que respeitar a parida do menino que se sucederia logo logo e não podia meter-se a cavalo do cão para fazer desfeita pra bedeguela, justo agora. Agüentava calado toda ripada de malfazejo que ele estornava de si pro diabo que a carregue prenha num caralho de asa enfiado pelas beiradas do priquito, cu afora, mundo adentro. - Cafajeste! Bunda mole! Você tá com pantim pro lado de rapariga, num tá? O cara ficava branco de susto, prendendo a merda de quase cagar-se todo ali na horinha mesmo de tanto temor. A danada caía pra cima dele com todo bafejo de truculência pelo gogó, cagando raio e se apoquentando como um golpe de estrovenga afiada pra decepar-lhe o pescoço de raiva. Ele, saltando fora da apertura, ajeitava a ocasião arriando mutreta arrumada na sabedoria dele, enquanto gaguejava seu mogilalismo pelas circunstâncias: - Quéquéisso, minha deusa! - Quéquéisso, uma porra! Seu sal tá se pisando, cachorro-da-moléstia! Acompanho todos os centímetros de sua astúcia, maloqueiro, e num brinque comigo não, que mando passar faca nessa trouxa mole que você carrega no meio das pernas, safado! Ah! se mando! - Assim é foda! - Cale-se, aqui quem manda sou eu e tô de olho na sua asa folgada, cabra-safado! Dou-lhe uma petecada de nunca mais você se embeiçar pra banda nenhuma mocréia, sei desgramado. - Não esquenta a orelha, mulher, cê tá co'fio meu no bucho e não vá ter raiva pr'ele num nascer tronxo! Cuidado que raiva mal nascida, mata! - Pois olhe: se você aprontar mais, eu aborto esse desnaturado de você ficar com remorso pro resto da vida! E inda enfeito-lhe o restinho, deixando mais banzo que rodeira estrompada, venha! Venha que verá, seu porra! - Pelamordedeus! - Pelamordedeus uma buceta malavada, seu fresvo! Cê que tá merecendo umas boas lamboradas no toitiço pra ver se desentronxa longo de vez as gaias e fica sentado em cima do cotoco que bota você andejo como a gota. Se aquiete não, viu? Se aquiete, não? Tô só vendo onde o sinhô vai se esborrachar! O cabra triscava, mas findava obediente, botando as mangas de fora no contorcionismo jeitoso da lábia para aplacar a fúria da embestada, enchendo-a de nove horas, mimos, patati e patatá, ela acotovelando-o a cada investida malandra, repulsando sua presença que ele insistente, maior alisado naqueles belos cabelos mal-com-cristo - sabe pixaim brabo, esticado na marra parecendo mais carapuça de dançador de maracatu, talzinho. Ôxe, bote hora amansando a égua irada, bicha ruim de tanger mesmo. E quando conseguia que ela se recolhesse bufando, aproveitava o cochilo e escapulia todo rancatrilha, coxeando, raposeiro pros braços de Ilmena, consolidando uma amigação com cara de duradoura responsa. Com tais acontecimento, o cabra andava enfastiado da Munga, agora mais buchuda e verdadeira garapa azeda, tomando pé da merda que fizera ao cobiçar-lhe pelo empurrão dos safados do Rolivânio e do Penisvaldo, eita, que amigos da onça, hem? Dois desocupados que irião pagar com a mesma moeda, destá. - Eu tava bêbo para querer uma mulher dessas! A mulher dele, mesmo cada vez mais inchada, continuava casquilha, pintada dos pés à cabeça, integrada nos modismos de mini-saia, bustier, aquela pança roliça, beirada dos olhos assombreadas, rouge na cara, batom forte nos beiços, bolofote feito trubufu enjeitada, voltas e voltas de ouro no pescoço, pulseiras nos braços e nas pernas, teara nos cabelos, brincos extravagantes, um piercing na unha do dedo mindinho, uma tatuagem na testa da cheba, cada unha pintada de uma cor diferente, e o pior: aos prantos por se ver despossuída das formas que lhe adornavam, praguejando contra aquele que viria nascer para destrambelhar-lhe o corpo. Ôxe, ele se arrepiava com as ofensas dela. Mas que ele estava presepeiro, estava: emancebado com Ilmena, Ilvete, no descarte, flerte forte pra cima da gostosona da banca que permanecia indiferente às suas investidas e até uma morena potiguar ele passou a pica, vôte! Foi mesmo. Tudo isso sem contar com as xambregadas anônimas que resultava em picadas esquecidas pela cachaçada. Mais tivesse fácil, ora. Tava solto na boraqueira e por cima de todos os catabís. Tudo isso aguçava o sexto sentido da Munga que sentia algo mexer nas extremidades da sua testa. Ôxe, ela abominava! - Se esse safado tiver me enfeitando, mando capá-lo! Eu juro por deus e por todos os santos dos céus e infernos que deixo esse cabra capado se ele andar me fazendo de besta e me botando chapéu de touro! Mas, tá! Vou ver só o bilau dele arriado num cemitério de buceta! Birito chega quase tinha um troço quando ela insistia em cortar-lhe o pingulim. Gaia, não, isto ele já se conformava. Desconfiado mesmo, defendia seu patrimônio e diminuindo nas pinotadas. Já pensou - meditava ele - ficar sem o dicomer de sempre? Tá doido! Muita quenga vai chorar! Ô, se vai. E quando a ameaça se abatia sobre ele, o juízo se apertava de deixá-lo deslocado uns oito dias de aperreio. E com isso não conseguia empinar o papagaio nem com Ilmena, muito menos com Ilvete, nem com ninguém. Brochava mesmo. Murcho e atarantado aquilo o perseguia como uma maldição. Eita, porra! Era aí que ele enchia o tampo de ficar melando a venta num concurso de mijo ao alvo, concurso, aliás, que ganhava sempre. Fosse que lonjura fosse, o bicho enchia bem a bexiga, se carrregando todo, ficava pelas últimas de aperto no mijatório e na hora agá, largava o jato nariz acima até alcançar o alvo demarcado. Isso que fazia ele se esquecer um pouquinho de suas desditas. E quando dava um branco, daqueles de se perder idéia, ficava absorto de nem piscar os olhos, dando de pensar na família, no pai, na mãe que não via há tempos, a tia Nevinha, seu incesto esperançoso; a Ternência, vizinha gostosona que tomava banho nua toda tarde no quintal e que ele brechava na maior punheta se lascando todo; o tio Nestoldo que devia estar de cu pra cima em alguma veneta da cachaça; a Zefinha Dentuça, nega boa para xambrego em noite perdida; a Chica Doida, a sua velha e irremovível paixão que ainda martelava dentro bem fundo do peito; a Ilmena, a Ilvete, a gostosona da banca; a moreninha potiguar que era uma priquituda gemia doida quando era enfiada por sua pêia; a Munga que já fora um pedaço de mal caminho, agora um tonel de ruindades; tudo repassava ligeiro causando-lhe nostalgia. Eram bundudas coloridas, peitudas linguarudas, bucetudas assanhadas, cuzudas embestadas, chuponas maloqueiras, quengas, trastes fudedoras de todos os tipos desenhando seus devaneios mais prazerosos. Perdia-se nas paisagens dos seus pensamentos, era cada imagem uma mais bonita que a outra, menos quando Munga aparecia nelas, a ponto dele fazer esforço brabo pela desaparecência de qualquer insinuação de num querer mais pensar em nada nem ficar delirando à toa. O tempo vai correndo e uma penca de acontecimentos foram tragicamente afunilando a vida dele. Ilmena engravidada também agora pegava cada vez mais no seu pé, enciumada com a debandada dele pro lado da irmã dela. A gostosona da banca já tava no papo mas não conseguia sufragar porque Ilmena estava vigilante, pronta para desviar sua rota da safadeza com ela. A moreninha potiguar também embuchou. Foi. Um embuchamento geral! Tudo barriguda pelos beiços. Apareceu mais umas duas mocréias que se diziam prenhas dele. Vixe! Esse cara além de fabricante de bosta, também fabrica além de merda um bocado de bronca. Foi aí que o cabra se aperreou, ora, seria alguma praga de barrigudice? Só sendo, assim de uma hora pra outra: a mulher, a amante, as quengas, tudo emprenhada de seus pisoteios. Para variar um pouco mais no panorama, até a polícia andou desbaratando uns pontos de venda dele na periferia e o cara já se escondia corrido por alguns lugares incertos e não sabidos, descobrindo numa cagada dessas da vida que o sogro resolveu desmantelar a vida dele. Lá vinha de novo o redemoinho da urucubaca para sua banda. O quê? É, é isso mesmo. Ernestinildo queria enfiar-lhe nuns duzentos e cinqüenta palmos de chão adentro, coberto mais de concreto armado. Nossa! O vento ruim soprava de novo pro seu lado. - Vou tomar banho de sal grosso! Vou me benzer dez vezes! Ôxe! O cabra mergulhou nas mandingas pra sair da ziguizira. E o negócio mais se embananava a sua volta, tornando cada situação mais que insustentável: insolúvel. O cara estava afundado na boceta de Pandora mesmo. Fugia de capangas do sogro, da polícia, da mulher, das amantes, dos credores, de tudo. Era cada carreira da língua ficar uns três metros de palmos pra fora da boca. Para onde se virava era uma tonelada de bronca que despencava nos seus costados, deixando o sujeito mais doido que barata tonta. Certa tarde dias depois, deitando chavecada pra cima da gostosona da banca que já estava zanolha e molhadinha doida para foder, foi surpreendido por Chica Doida que fincou-lhe voz de prisão no meio da lata. Eita, porra! A policial vinha acompanhada de um verdadeiro pelotão, pronta para recolher o abilolado no xadrez. - Você agora vai ver o sol quadrado, bicho safado! Quero ver a sua contravenção lá, preso feito um bandido. Chica não sabia, mas estava fazendo o jogo do sogro que queria ver-lhe longe do neto que já estava para rebentar. Trancafiado numa cela, o bicho vegetou hipnotizado porque justo o seu primeiro amor que remoía no coração desde sempre, trazia-lhe para a privação do mundo ao invés de encher-lhe de vida e prazer. Ele não conseguia conciliar o karma da sua vida, fincando a desmontar toda esperança que ainda insitia um fiapinho besta no seu coração. - Tô vendo, viu? -, era aquela voz do outro mundo marcando presença na cela. - Tais vendo porra nenhuma! Sai-te, satanás! Sai-te, capiroto! A gritaria dele chamou atenção do delegado e dos policiais, imaginando-se dele estar variando do juízo mesmo. Foi preciso Chica Doida entrar com uns coices brabos, enfrentá-lo à base de cascudos e tapa-olhos, dele derreter-se todo da munhecada que ela plantou nos seus maluvidos, deixando-o com a cara e o toitiço redondo de inchado. - Quero ver agora esse jeito de doido pra minha banda! -, replicava ela, batendo uma mão na outra, tirando a sujeira do cabra. Mais de mês depois, o bicho foi arrancado do mofo por causa de uma intervenção de Munga que num queria que o filho nascesse de um presidiário. O sogro, a contragosto, interferiu no assunto e mandou soltá-lo, atendendo aos caprichos da filha. Não antes, contratar sicários para dar cabo da vida dele depois do nascimento do seu neto. Um verdadeiro inferno astral se fazia perene na vida do sujeito. Dali mais uns dias, era aniversário dele: 29 de fevereiro. Nem se lembrava porque nunca comemorava, só de quatro em quatro anos, ou seja, uma vez lá na vida. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.  



DITOS & DESDITOS - A vida é abundante na Terra e quase todos os gases quimicamente reativos têm suas principais fontes e seus principais escoadouros na biosfera. A atmosfera é um dispositivo biológico, uma parte e uma propriedade de Gaia. Nesta hipótese, o ar não deve ser considerado como uma parte viva mas, antes, como um componente essencial mas não-vivo de Gaia, que pode ser modificado ou adaptado de acordo com as necessidades. Assim como a pelagem de um visão ou a concha de um caramujo. Pensamento do premiado cientista britânico James Lovelock. Veja mais aqui.

MULHERES & CIÊNCIA - [...] a presença corriqueira de mulheres em posições de liderança e autoridade na ciência ajudou a erodir o sentido de rótulos tradicionais de gênero no próprio campo em que trabalhavam, e para todos os que estavam trabalhando nesse campo. Como já disse, é um momento tremendamente excitante na biologia. Como na sociedade. E, pelo menos em parte, devemos agradecer ao movimento das mulheres. O feminismo da “segunda onda” foi um dos movimentos sociais mais fortes dos tempos modernos (talvez especialmente nos EUA). E as mudanças que ajudou a realizar foram enormes. [...]. Trechos de Qual foi o impacto do feminismo na ciência? (Cadernos Pagu, 2006), da física, escritora e ativista estadunidense Evelyn Fox Keller. Veja mais aqui.

CONSILIÊNCIA - [...] A cultura é criada pela mente coletiva, e cada mente por sua vez é o produto do cérebro humano geneticamente estruturado. Gene e cultura estão, portanto, inseparavelmente ligados. Mas a ligação é flexível, em um grau ainda na maior parte não medido. A ligação também é tortuosa: os genes prescrevem regras epigenéticas, que são as vias e regularidades neurais no desenvolvimento cognitivo pelas quais a mente individual se constitui. A mente cresce do nascimento à morte absorvendo partes da cultura existente disponíveis para ela, com seleções guiadas por regras epigenéticas herdadas pelo cérebro individual. Como parte da coevolução gene-cultura, a cultura é reconstruída a cada geração coletivamente na mente dos indivíduos. Quando a tradição oral é suplementada pela escrita e arte, a cultura consegue crescer indefinidamente e pode até cobrir gerações. Mas a influência determinante fundamental das regras epigenéticas, sendo genética e inextirpável, permanece constante. Alguns indivíduos herdam regras epigenéticas que lhes permitem sobreviver e se reproduzir melhor no ambiente e cultura circundantes do que indivíduos que carecem dessas regras, ou que pelo menos as possuem em menor grau. Mas isso significa, através de várias gerações, que as regras epigenéticas mais bem sucedidas se disseminaram pela população junto com os genes que prescrevem as regras. Em conseqüência, a espécie humana evoluiu geneticamente por seleção natural no comportamento, tanto quanto na anatomia e fisiologia do cérebro. A natureza da corrente genética e o papel da cultura podem agora ser melhor compreendidos nos seguintes termos. Certas normas culturais também sobrevivem e se reproduzem melhor do que normas concorrentes, fazendo a cultura evoluir em uma trilha paralela à evolução genética e geralmente muito mais rápida. Quanto mais rápido o ritmo da evolução cultural, mais frágil a conexão entre gene e cultura, embora nunca se rompa totalmente. A cultura permite um rápido ajuste a mudanças no ambiente através de adaptações finamente sintonizadas, inventadas e transmitidas sem uma prescrição genética precisa correspondente [...]. Trechos extraídos da obra Consiliência – a unidade do conhecimento (Campus, 1999), do entomologista e biológico estadunidense Edward Osborne Wilson, renomado cientista reconhecido por seu trabalho nas áreas de ecologia, evolução e sociobiologia. Veja mais aqui.

UM PAUZINHO, DOIS PAUZINHOS – [...] um velho está à morte, e chama a familia para perto de si. Ele dá um pauzinho curto e resistente a cada um dos seus muitos rebentos, esposas e parentes.“Quebrem o pauzinho“, determina ele. Com algum esforço, todos conseguem quebrar seus pauzinhos ao meio. “É isso o que acontece quando uma pessoa está só e sem ninguém. Ela pode ser quebrada com facilidade“. Em seguida, o velho dá a cada parante mais um pauzinho. “É assim que eu gostaria que vocês vivessem depois que eu me for. Juntem seus pauzinhos em feixes de dois ou tres. Agora, partam esses feixes no meio“. Ninguém consegue quebrar os pauzinhos quando eles estão em feixes de dois ou mais. O velho sorri. “Temos força quando nos juntamos a outra pessoa. Quando estamos juntos, não podemos ser quebrados“. Extraído da obra Mulheres que correm com os lobos: mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem (Rocco, 1994), da escritora e psicóloga Clarissa Pinkola Estés. Veja mais aqui e aqui.

A PUDICAO sr. Sernenval [...] desposara havia poucos anos a filha de um dos seus antigos confrades, de mais ou menos vinte e quatro anos. Nada havia de tão viçoso, tão roliço, tão gorducinho e branco quanto a sra. Sernenval [...] com diversos encatos físicos, tinha um defeito capital no espírito... uma pudidicia insuportavel, uma devoção exagerada que ao marido impossibilitava persuadi-la de aparecer em suas reuniões sociais. [...] As coisas estavam nesse estado quando um antigo amigo Sernenval, de nome Desportes, chegou de Nancy para vê-lo, e para concluir, ao mesmo tempo, alguns negócios que tinha na capital. [...] Serneval abraça o amigo, e só conversam sobre prazeres.[...] quanto esse negócio dos prazeres do labrego de Lutércia, diz a seu amigo que ele queria, com efeito, jantar com prostitutas. [...] Soa a hora; nossos dois amigos chegam à casa de sua encantadora alcoviteira; um boudoir, onde reina apenas uma luz tênue e luxuriosa, guarda a deusa, lugar onde Desportes vai oferecer em sacrificio. [...] Oh meu amigo, experimenta, rogo-te, por mais havituado que estejas às belezas de Paris, estou bem seguro de que me confessarás que nunca alguma outra valeu, a teus olhos, o preço desta aqui. [...] os dois amigos mantêm-se de pé para a poder observar mais, e a princesa passa com altivez. Pelos céus, - Sernenval transtorna-se quando reconhece sua mulher – é ela... é essa pudica que, não ousando descer dos seus aposentos por pudor diante de um amigo de seu esposo, tem a impudência de vir se prostituir em tal casa. – Miserável, exclama, furioso... [...]. Trechos do conto extraído da obra Contos libertinos (Imaginário, 1997), do escritor libertino francês Donatien Alphonse François de Sade, mais conhecido como Marquês de Sade (1740-1814). Veja mais aqui e aqui.

DOIS POEMASPRECISAMOS: de inteligências radar / e sonar / para captação de formas. / A poesia é um repto. / Não / (necessariamente) / um conceito. / Uma identificação de ecos / por onde o ininteligível / se entende. METASSOMBRO: eu não sou eu / nem o meu reflexo / especulo-me na meia sombra / que é meta de claridade / distorço-me de intermédio / estou fora de foco / atrás de minha voz / perdi todo o discurso / minha língua é ofídica / minha figura é a elipse. Poemas do poeta, ensaísta e tradutor Sebastião Uchoa Leite (1935—2003)




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CRÔNICA DE AMOR POR ELA
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